Com apenas 14 anos, Lavínia Fernandes compete com os demais jovens de sua igreja, localizada no Recife, Pernambuco, Nordeste do Brasil, para ver quem consegue trazer mais amigos da escola para os cultos de sábado. Mais de 10 pessoas da sua sala começaram a frequentar a igreja através dela.
“Meus amigos comentam que fiquei mais gentil e feliz depois que me tornei cristã e que eles podem ver Deus em minha vida”, disse a adolescente.
Assim como Lavínia, milhões de outros adolescentes cristãos em todo o Brasil e em outros países da América Latina estão vivenciando algo especial em suas jornadas de fé. Uma pesquisa recente do Grupo Barna revela que a América Latina é o lar de uma “geração conectada e digitalmente capaz”, que está comprometida com a sua fé, engajada com a Bíblia e com fome de aprender mais sobre Jesus.
O grupo Barna entrevistou 3.320 jovens, de 13 a 17 anos, de 21 de julho a 24 de agosto de 2021, em países como Brasil, Honduras, México e Colômbia. Jovens dos quatro países revelaram um entusiasmo e uma paixão por sua fé que são consideravelmente superiores à média global. (O grupo Barna entrevistou 26 países ao redor do mundo para esta pesquisa.) Os adolescentes brasileiros, em particular, mostraram um entendimento especialmente elevado de Cristo e da Bíblia.
Quando questionados sobre o que realmente pensam sobre Jesus, 74% dos adolescentes cristãos brasileiros disseram acreditar que Ele oferece esperança às pessoas, e 60% disseram que Cristo faz uma diferença real no mundo de hoje.
Pouco mais da metade (55%) dos adolescentes brasileiros, porém, acredita que Jesus era Deus em forma humana.
Os adolescentes brasileiros são mais propensos a acreditar nos milagres de Jesus e na sua volta.
O Grupo Barna define os cristãos comprometidos como aqueles que se identificam como crentes e afirmam ter um compromisso pessoal de seguir a Cristo, e os cristãos nominais como aqueles que se identificam como crentes, mas não têm um compromisso pessoal de seguir Jesus. Por estas definições, pouco menos de um em cada quatro adolescentes em todo o mundo é um cristão comprometido, mas entre os entrevistados na América Latina, esse número sobe para 37% – e entre os brasileiros, aumenta ainda mais, atingindo 45%.
A pesquisa também mostra que os adolescentes mais comprometidos e engajados têm maior probabilidade de ter uma experiência significativa de fé. Quando confrontados com a afirmação “A minha relação com Jesus traz-me profunda alegria e satisfação”, 76% dos adolescentes entrevistados em todo o mundo concordaram com veemência, mas este número aumentou para 84% entre os latino-americanos pesquisados.
O número de igrejas evangélicas no Brasil saltou de 17.033 em 1990 para 109.560 em 2019, um aumento de 543%, de acordo com os últimos dados disponíveis. Só em 2019, foram abertas em média 17 novas igrejas evangélicas por dia no Brasil, segundo o pesquisador Victor Augusto Araújo Silva, da Universidade de Zurique, na Suíça.
Há muito um país dominado pelo catolicismo, a chegada de batistas, luteranos e calvinistas ao Brasil, no final do século 19, ajudou a instaurar o início do movimento evangélico aqui. No século 20, missionários dos EUA trouxeram o movimento pentecostal, predominantemente para o Norte e Sudeste do país. Na década de 2030, o número de evangélicos poderá superar o de católicos, segundo projeções do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves.
Para Nathan Zortéa, pastor de jovens da Igreja Videira, em Fortaleza, Ceará, uma congregação no Nordeste do país, os adolescentes brasileiros colhem os frutos de igrejas evangélicas cujo alcance ultrapassa limites socioeconômicos e raciais.
“A desigualdade social que existe no Brasil acaba mostrando aos nossos adolescentes que o evangelho é uma boa nova de justiça e retidão, de um Deus que é por você e não contra você. Nossas igrejas têm desempenhado um papel fundamental em apresentar a esses adolescentes um evangelho que os convida a viver algo novo”, afirmou o líder do A13, ministério que atualmente conta com uma frequência média semanal de mais de mil adolescentes.
Além de estarem muito engajados agora, os adolescentes brasileiros e hondurenhos estão mais motivados a continuar aprendendo sobre Jesus. A pesquisa do Barna mostra que, globalmente, apenas 38% dos entrevistados disseram estar “muito motivados” para aprender mais sobre Cristo, enquanto esse número saltou para 63% na América Latina e quase dobrou no Brasil (73%) e em Honduras (74%).
Para Jacó Adonias, pastor de adolescentes da Igreja Cidade Viva, em João Pessoa, na Paraíba, a Geração Z tem sede das verdades que só o evangelho pode oferecer.
“Posso ver no meu ministério o quão verdadeiros são os números apresentados na pesquisa. Conheço adolescentes de 13, 14 e 15 anos que fizeram uma diferença real em suas comunidades e contextos”, disse o líder da Rede Livre, ministério que reúne semanalmente mais de 600 adolescentes. “Sempre incentivo os líderes que temos aqui na igreja a não subestimar o potencial desses garotos e garotas.”
Aumentar o engajamento com a Bíblia entre os jovens é uma área em que os líderes da igreja precisarão investir continuamente seus esforços. Ao todo, embora 85% dos adolescentes estudados na América Latina disseram ter uma Bíblia em casa, um em cada cinco (19%) nunca a usa. Apesar disso, os adolescentes brasileiros e hondurenhos têm em alta conta as Escrituras.
Na América Latina, apenas 12% dos adolescentes cristãos entrevistados disseram que leem a Bíblia todos os dias. No Brasil, 66% disseram preferir ler uma versão impressa das Escrituras contra 33% que leem por meio de um aplicativo em seu smartphone ou tablet.
Além disso, a pesquisa revela que, dentre os cristãos que usam ou possuem uma Bíblia, 67% dos cristãos brasileiros não apenas acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas também mostram um nível mais elevado de envolvimento com a Bíblia do que os crentes de qualquer outro país na pesquisa, em comparação com um total de 59% dos adolescentes latino-americanos. O estudo define “comprometido” como quem tem uma “visão elevada” da Bíblia (acreditando ser ela a Palavra de Deus inspirada e inerrante) e a lê várias vezes por semana.
Aqueles considerados “abertos” à Bíblia são definidos como os que têm uma visão neutra da Bíblia ou os que têm uma “visão elevada” dela e a leem com menos frequência do que os adolescentes engajados com a Bíblia (embora a leiam com mais frequência do que três ou quatro vezes por ano).
Os adolescentes na América Latina são altamente motivados por um sentimento de justiça social; 49% dos cristãos comprometidos e 56% dos adolescentes engajados com a Bíblia são “motivados pela justiça” (este termo refere-se a adolescentes que concordam fortemente com as seguintes afirmativas: que é importante “mudar as condições que causam sofrimento individual” e “proteger o bem-estar de todas as pessoas”; que estão confiantes de que podem “causar um impacto positivo na vida dos outros” e “influenciar outros a promover a justiça e a igualdade”; e que no futuro eles irão “envolver-se em atividades que promovam a justiça” e “trabalhar em colaboração com pessoas necessitadas”.)
Quanto mais os adolescentes estão envolvidos com a Bíblia, mais se sentem motivados a buscar justiça.
É importante destacar que adolescentes brasileiros e hondurenhos também recebem acompanhamento adicional em relação aos estudos bíblicos de líderes familiares e religiosos.
De acordo com o Barna, “Embora os adolescentes geralmente relutem em identificar com precisão as barreiras à leitura da Bíblia (a maioria responde que não há “nenhuma”), os usuários da Bíblia e os adolescentes cristãos na América Latina podem às vezes sentir dificuldade para entender o que leem ou manter o foco no texto”. As dificuldades de concentração também podem estar ligadas ao aumento do uso de smartphones após a pandemia.
(Um relatório de 2022, que analisou dados recolhidos por 46 estudos e envolveu quase 30.000 crianças de vários países, mostrou que a quantidade média de tempo que os adolescentes passam em frente às telas, todos os dias, disparou 52% desde 2020. Houve um aumento de 2,7 horas para 4 horas — uma hora e vinte minutos adicionais de consumo diário.)
Para os líderes, as descobertas do estudo do grupo Barna enfatizam a importância de trabalharem para educar os jovens sobre a necessidade e a relevância da Bíblia. Para o pastor Lucas Nagib, da Igreja Batista da Lagoinha, em Niterói, Rio de Janeiro, um fator que tem levado os jovens brasileiros a se destacarem em relação aos de outros países é o alto comprometimento desses adolescentes em expor sua fé a seus familiares e amigos, por meio de redes sociais.
“Aqui em nossa igreja, acreditamos muito nesta geração e damos a eles muitas oportunidades de crescer e se desenvolver. Temos muitos líderes que são adolescentes e eles fazem total diferença na vida da igreja”, disse o líder do ministério Nexteen, que tem uma frequência semanal de mais de 500 adolescentes.
Lá em Recife, Lavínia também organizou em sua escola um estudo bíblico, que atualmente reúne mais de 40 adolescentes para orar, adorar e ler a Bíblia juntos todas as semanas.
“É uma responsabilidade enorme, porque todos na minha escola estão prestando atenção às minhas ações agora”, disse ela. “Se eles não vão à igreja, quero levar o evangelho onde eles estão.”
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