Quando a Artemis 2 decolar, em algum momento no final do ano que vem, quatro astronautas estarão presos em uma cápsula, com o formato de goma de mascar, no topo de uma torre de foguetes mais alta do que a Estátua da Liberdade. O controle da missão fará a contagem regressiva — 10, 9, 8, … — e uma explosão controlada com 8,8 milhões de libras de força irá disparar, lançando os quatro astronautas da costa da Flórida em órbita terrestre alta, onde outro motor, acendendo uma mistura de hidrogênio líquido e oxigênio, os empurrará para além dos limites da Terra, pela primeira vez em mais de meio século.
E Glover, piloto da espaçonave, dirá algumas palavras a Deus.
Ele disse à CT que também ouvirá a Deus, ao prestar atenção à calma quietude em sua mente, na qual ele pode formular seus próprios interesses e desejos, dizendo verdadeiramente: “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.”
“Eu sei que Deus pode nos usar para seus propósitos”, disse Glover. “Quando Jesus estava ensinando os discípulos a orarem, ele usou aquela oração bem específica que todos nós conhecemos: ‘Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome…’ Então, ouça, eu sou um mensageiro do reino de Deus; que a vontade dele seja feita.”
Na segunda-feira, Glover foi designado como uma das quatro pessoas que liderarão o retorno da humanidade à Lua, mais de 50 anos depois que paramos de ir para lá. Os outros membros da tripulação são Reid Wiseman, Jeremy Hansen e Christina Koch, que será a primeira mulher a ir para a lua.
Glover, que tem 46 anos, é capitão da Marinha e voou em missões de combate no Iraque, antes de se tornar piloto de testes, astronauta da NASA e membro da tripulação da Estação Espacial Internacional. Ele se tornará o primeiro homem negro a ir à lua, quebrando uma barreira racial que a agência espacial americana criou, sem explicação, na década de 1960.
Ele também é um cristão comprometido, membro de uma Igreja de Cristo e, ocasionalmente, ensina na escola dominical. Ele levou na bagagem um kit com cálices preparados para a Santa Ceia e uma Bíblia impressa, quando foi para o espaço pela primeira vez, em 2020. Glover mencionou Deus no início e no final de sua declaração, na coletiva de imprensa de segunda-feira, quando a tripulação da missão Artemis 2 foi apresentada.
“Coloquei Deus intencionalmente na frente, no primeiro comentário, e no fim”, disse ele à CT. “É assim que tento viver minha vida também. O começo, o fim e por todo o caminho.”
Se esta missão à lua for bem-sucedida, a Artemis 2 será seguida pela Artemis 3, que pousará na lua e montará um acampamento. Mais astronautas irão em seguida, com planos para desenvolver a infraestrutura e fomentar a ciência que poderá, em breve, permitir que os seres humanos se lancem da lua para Marte.
Glover, ao falar na coletiva de imprensa, imaginou a missão como uma corrida de revezamento, na qual o bastão da descoberta é passado de geração em geração, de tripulação em tripulação, cada vez mais longe no espaço.
A missão Artemis 2, no entanto, não parece ser uma extensão da Apollo 17, de 1972, a última missão à lua, quando os astronautas exploraram a superfície lunar com um rover [veículo de exploração espacial] e fizeram testes sobre os efeitos dos raios cósmicos em ratos. Ela tem mais em comum com a Apollo 8, a primeira espaçonave tripulada a deixar a órbita terrestre baixa. Frank Borman , Jim Lovell e William Anders voaram ao redor da lua para provar que todo o equipamento funcionava, pesquisar a superfície em busca de possíveis locais de pouso e olhar para a Terra, pela primeira vez, a partir desse ponto de vista.
A Artemis 2 também está programada para fazer um sobrevoo — viajando mais de 200 mil milhas para dar a volta na lua, indo cerca de 4.600 milhas para o outro lado, antes que a gravidade os atraía, tracione-os e os aponte de novo para a Terra, para a viagem de volta.
Um jornalista espacial disse: “A tarefa deles é dominar um novo sistema de transporte e voltar para casa, a fim de contar a todos sobre ele”. Isso é verdade, mas “dominá-lo” envolve testar se uma espaçonave que nunca voou com pessoas pode sustentar a vida. Nas palavras da NASA, eles precisam “testar os […] sistemas de sustentação da vida e validar as capacidades e técnicas necessárias para seres humanos viverem e trabalharem no espaço profundo”.
Glover testará especificamente o quão bem a cápsula em forma de goma, a Oríon, pode ser manobrada no espaço sob controle humano.
Enquanto aguardava para saber se seria designado para a missão Artemis 2, porém, Glover descobriu que suas orações se voltavam menos para o que aconteceria no espaço e mais para o que aconteceria na Terra. Ele temia que ser negro fosse algo divisivo.
“Não quero ser divisivo”, disse ele à CT. “Quero representar o povo americano.”
Ele deu um tapinha no emblema da bandeira americana, costurado na manga esquerda. “Eu uso isso”, disse ele, “muito intencionalmente. Assim, orei muito sobre a questão. Mais do que o fato de eu estar ou não na missão, orei sobre como lidar com isso.”
Glover acredita na importância da diversidade e diz que ela é essencial para o futuro da NASA, agência que precisa representar toda a América e as aspirações de toda a humanidade. Mas ele gostaria que alguém já tivesse quebrado a barreira racial. Poderia ter sido Ed Dwight, um candidato a astronauta negro, na década de 1960, que não foi escolhido para nenhuma das missões Apollo. Poderia ter sido Guion Bluford, que se tornou o primeiro homem negro no espaço, em 1983, ou Mae Jemison, a primeira mulher negra, em 1992, se a NASA tivesse ido à lua naqueles anos. Em vez disso, será no século 21, e com Glover.
“Tive uma conversa com meu chefe”, lembrou Glover. “Eu disse: ‘Realmente espero que a NASA não diga: ‘Vamos enviar o primeiro homem negro à lua’. Disse a eles que, se isso acontecesse, eu colocaria as “asas” na mesa. Eu disse isso não porque este não seja um marco importante. Na verdade, é um passo vital a ser considerado pelas agências espaciais dos dias de hoje. Contudo, esta mensagem [de ser o primeiro homem negro a chegar na lua] pode ser divisiva e eu não quero ser divisivo.”
Quando veio o anúncio, pouco depois de Joe Biden se tornar presidente, as palavras usadas foram “primeira mulher” e “primeira pessoa de cor”.
“Não foi exatamente o que eu disse, mas está bem próximo”, disse Glover. “Eles estavam fazendo exatamente o que as pessoas esperavam que fizessem.”
Mas ele decidiu não renunciar. Enquanto orava, ele pensou em como poderia representar a América e, se Deus permitisse, também aumentar o apreço pelo emblema da bandeira americana. Ele pediu que Deus o ajudasse a transitar pela cultura e pela política.
Glover ainda estava nervoso com isso, quando subiu ao palco da estação espacial da NASA, em Houston, na segunda-feira (3). Os outros candidatos a astronauta que poderiam ter sido selecionados para a missão estavam na sala para o anúncio. Será que eles invejariam seu lugar na Artemis 2? Será que menosprezariam seus anos de treinamento e experiência — de 24 missões de combate, 3 mil horas de voo, três pós-graduações, quatro caminhadas espaciais — por causa da cor de sua pele? Suas expressões diriam: ‘Deveria ter sido eu o escolhido’?
“Isso meio que me preocupava, a ideia de subir ao palco e olhar para os rostos dos meus colegas”, disse Glover. “Mas, ao olhar para os seus rostos, pude ver amor e apoio. Isso, para mim, foi a coisa mais significativa do anúncio. Passar pelo dia de ontem [segunda-feira, dia 3] aliviou muito o medo.”
Agora, sete meses antes do lançamento programado, seus pensamentos podem se voltar totalmente para a missão e a lua.
A última vez em que esteve no espaço, disse Glover, ele realmente se sentiu mais próximo de Deus. Não por estar acima do céu, mas porque, como diz Tiago 4.8, quando você se submete a Deus e se aproxima dele, Deus se aproxima de você.
Ler a Bíblia no espaço foi uma experiência poderosa. Glover se lembra de estar na ausência de gravidade, em seus aposentos, na Estação Espacial Internacional, e de ler Filipenses 4. Algumas das palavras eram tão familiares para ele, como o versículo 13, que diz na Nova Versão King James: “Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”. Mas havia outras passagens que ele sentiu como se estivesse lendo pela primeira vez. Como no versículo 12, no qual Paulo escreve: “Aprendi a ter fartura e a ter fome”.
Glover nunca havia notado isso antes. Expressava exatamente como ele se sentia a respeito de si mesmo, de seu treinamento e de sua missão.
“Minha esposa me perguntou se eu estava nervoso, antes de fazer minha primeira caminhada espacial. Eu disse que não, que realmente tinha feito tudo o que podia para me preparar, inclusive orar e ler minha Bíblia. Eu falei a ela sobre esse versículo”, lembrou ele. “Estou satisfeito com meus estudos e minha preparação. Posso ficar tranquilo. Mas também posso estar faminto pelo que vou fazer amanhã.”
Glover espera levar sua Bíblia impressa para o espaço novamente, embora ainda não saiba se isso será possível. Ele também poderia ter as Escrituras em um tablet, o que atende melhor às exigências de peso, mas prefere um livro de verdade.
Ele espera ter fome e fartura novamente, quando chegar a hora. Ainda há muito a ser equacionado para a missão. Os desafios — o perigo — estão surgindo diante dele.
“Sabemos dos riscos de que estamos falando. Este é o primeiro voo desse veículo espacial”, disse. “Meu maior medo — talvez eu ainda esteja processando isso.”
Assim, ele dirá algumas palavras de oração, quando os foguetes da Artemis 2 dispararem e os quatro astronautas decolarem. Ele espera que outros cristãos também orem, quando assistirem ao lançamento; quando acompanharem a missão; quando lerem sobre os planos de retornar à lua e passar por ela, para explorar Marte.
“Orem por nossa tripulação”, disse ele. “Orem pelo equipamento. Orem pela equipe no mundo inteiro que nos apoia nisso. E a missão mais difícil de todas é aquela em que nossas famílias estão prestes a embarcar. Se vocês puderem orar por nossas famílias, será incrível.”
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