Quase sempre, quando as pessoas pedem para se envolver em diálogos há muito tempo necessários e evitados sobre injustiça racial, elas lamentam a forma como isso se desenrola na prática. As vozes dos que falam mais alto e não têm disposição de perdoar enchem a arena, enquanto outras ficam à margem, seja por temerem dizer a coisa errada ou porque o problema todo parece muito incômodo ou difícil de lidar.
Não tem que ser assim, diz Isaac Adams, especialmente entre aqueles que se chamam irmãos e irmãs em Cristo. Em Talking about race: Gospel hope for hard conversations , Adams, pastor da Capitol Hill Baptist Church, em Washington, D.C., oferece orientação bíblica e pastoral sobre como falar (e ouvir) a verdade sobre raça em amor. Timothy Muehlhoff, professor de comunicação da Biola University e codiretor do Projeto Winsome Conviction, da Biola, conversou com Adams sobre os segredos para diálogos sobre raça que exaltem a Cristo.
Ao explicar sua motivação para escrever o livro, você afirma: “No início , eu estava decidido a escrever um livro diferente [deste], um livro que desse orientação bíblica e prática sobre por onde os cristãos poderiam começar a combater o racismo”. O que mudou?
Enquanto preparava a proposta do livro, não sabia que surgiria a notícia sobre a morte de Ahmaud Arbery. Isso me fez pensar: Como vamos falar sobre o assassinato dele? Se entendêssemos o problema menor, ou seja, a comunicação disfuncional entre as linhas raciais, entenderíamos o problema bem maior, a saber, o conflito racial que há tanto tempo divide nossas igrejas, nossas comunidades e nossa nação. O livro é, em certo sentido, uma teologia do discurso aplicada ao tema da raça.
Quando olho para o título da sua obra, Talking About Race, posso imaginar muitas pessoas pensando:Não quero falar sobre raça. Isso não leva a lugar nenhum. Vamos acabar sendo feridos e ficando ainda mais divididos. Mas, em seu prefácio, você escreve que entender o colapso da comunicação entre as divisões raciais e os danos resultantes desse problema é não só importante como fundamental para seguir a Jesus. Por quê?
É fundamental porque isso está no cerne do que Cristo fez. Cristo morreu para transformar judeus e gentios em um novo homem. Efésios 2.11-22 não poderia ser mais claro. No entanto, Satanás, desde o primeiro dia, tem procurado desfazer essa obra o máximo que pode. Ele tem interesse em mostrar que nosso discipulado é superficial e falso, encorajando-nos a odiarmos uns aos outros, a nos dividirmos e a ficarmos uns contra os outros. A oração de Jesus é impressionante: que “eles sejam um como nós somos um” (João 17.11). Por quê? “Para que o mundo creia que tu me enviaste” (v. 21). Portanto, há um testemunho evangelístico em jogo em nossa unidade cristã. Se você se preocupa com o evangelismo, precisa se preocupar com o racismo.
Aprecio o fato de você não ter medo de evocar a batalha espiritual. Afinal, era o foco de cerca de 20% de tudo o que Jesus tinha a dizer.
Existem forças demoníacas reais em jogo. Se tão-somente olharmos para o nível da depravação, demonstrado pela injustiça racial ao longo dos anos, acho que é de fato a explicação mais lógica. Se deixarmos de fora o reino espiritual, acho que não estaremos considerando com precisão todos os dados bíblicos que o Senhor nos forneceu. Se assim fizermos, reduziremos o problema a pessoas que não gostam de outras pessoas, ou meramente a carne contra carne.
Como professor de comunicação, estou interessado em suas decisões de comunicação. Na primeira metade do seu livro, você nos fornece seis personagens fictícios envolvidos em uma discussão sobre um caso imaginário de um homem negro de 22 anos que foi alvejado por tiros dados por policiais. Com tantos exemplos do mundo real que você poderia invocar, por que usou esse recurso literário?
Parábolas e histórias compunham uma boa parte do ministério de ensino de Jesus. As histórias permitem que você capte complexidades e áreas cinzentas da vida que vão além de nossas crenças ou ideologias políticas. As pessoas são muito mais do que suas perspectivas raciais. Para além dos rótulos, há toda uma pessoa que é profundamente complexa.
Vamos nos concentrar apenas em dois dos personagens. Um deles é Hunter, um homem branco que é membro de uma igreja e o melhor amigo de Darius, um homem negro que é diácono nessa igreja. Enquanto Hunter está preocupado com o tiroteio, Darius está consumindo-se por esse acontecimento e acha difícil até respirar, quando pensa nisso. Como uma pessoa branca, posso me reconhecer em Hunter, pois grande parte do meu privilégio é poder parar de pensar em questões ligadas à raça sempre que eu quiser.
Uma das razões pelas quais é tão difícil falar disso é porque, muitas vezes, meus irmãos e irmãs brancos podem considerar o assunto de maneira abstrata. Testamos ideias; nós as analisamos detidamente e as levamos ao limite, comparando-as com coisas que sabemos serem verdadeiras, o que nem sempre é ruim.
Mas quando você estiver falando com uma pessoa que não é branca, há uma grande chance de que esteja falando com alguém que não pensa em termos abstratos. Deixe-me contar uma anedota rápida. Quando contei à minha mãe que ia pastorear uma igreja em Birmingham, Alabama, ela recuou horrorizada. “Oh, Isaac, eu disse ao Senhor que nunca pisaria naquela cidade, depois do que eles fizeram com aquelas quatro meninas”. Para ela, Birmingham ainda é “Bombingham”, devido à trágica explosão de uma bomba, que ocorreu em 1963, na Igreja Batista da Sixteenth Street [explosão que fez parte de uma série de ataques, especialmente contra pessoas pretas, em retaliação ao Movimento dos Direitos Civis]. Minha mãe tem idade suficiente para ter sido uma daquelas garotas.
Para mim, porém, Birmingham é um lugar bastante acolhedor. Para minha mãe, não é assim. E para cuidar bem dela, preciso olhar não apenas para os meus próprios interesses, mas também para os dela.
Ao tratar do diálogo entre Hunter e Darius, você cita o escritor Lance Morrow: “O mais trágico obstáculo para uma conversa honesta sobre raça na América é o medo”. Hunter tem medo de violar uma lei não escrita que afirma que ele deve sempre ser o aprendiz e os negros sempre os mestres. “Ele sabia que se transgredisse essa lei não escrita”, você escreve, “tudo o que ele dissesse seria usado contra ele”. Para ser honesto, eu mesmo sinto essa tensão, esse medo de não poder entrar no diálogo sobre raça e oferecer minhas opiniões, observações ou até mesmo críticas, porque faço parte da maioria branca.
Eu tento deixar claro no livro que este sentimento é legítimo em certo nível. Certamente não estou dizendo aos brancos: “Sentem-se, calem a boca e ouçam”. No entanto, há momentos em que procurar ouvir e entender pode lhes fazer bem. Não digo isso porque os negros estejam sempre certos. Alerta de spoiler: nós não estamos. Nós também estamos destituídos da glória de Deus. No entanto, não podemos ignorar que as vozes negras foram marginalizadas por muito tempo. Reconhecer esse tipo de assimetria histórica deve ajudar a moldar o diálogo e, talvez, a promover o desejo de ouvir e entender.
O medo de Darius é que, caso ele queira dizer algo sobre o tiroteio, “ele [tem] que dizê-lo perfeitamente — isto é, ele [tem] que falar aquilo nos termos de Hunter”. Ele parece refletir uma objeção comum à civilidade como um conjunto de regras de conversação, criadas pela cultura dominante branca, para manter as perspectivas das minorias sob controle. Isso é meio que usado como uma técnica de silenciamento. Em outras palavras, “Não vamos nos emocionar demais. Não vamos nos irritar. Vamos manter tudo civilizado.”
Observe bem, tanto Hunter quanto Darius têm medos. O simples fato de admitir esses medos já faz algo pelo diálogo. Eu entendo o que as pessoas podem estar dizendo quando descrevem a civilidade como uma mera técnica da cultura da maioria branca. Mas tudo o que sei é que esta Bíblia na minha frente diz que “o servo do Senhor não deve ser briguento, mas deve ser amável para com todos” (2Timóteo 2.24). Não há asterisco que reduza esse “todos” a “todos que compartilhem de minhas simpatias políticas” ou “todos que estejam dentro do meu próprio grupo étnico”.
O fruto do Espírito não é tendencioso do ponto de vista racial. Todo o povo de Deus deve ser amoroso, paciente, bondoso, gentil e fiel. Não quero enquadrar essas coisas apenas em termos de dinâmica de poder ou de inserção cultural, porque a Bíblia transcende a cultura. Ela transcende o tempo. Deus queria que seu povo fosse gentil e amável no primeiro século, e ele quer a mesma coisa no século 21. E eu simplesmente não consigo escapar disso. É por isso que enfatizo, no livro, que a Palavra de Deus é lâmpada para nossos pés e luz para nosso caminho. Não é que eu não ache que estatísticas e análises culturais sejam úteis. Mas precisamos lembrar que existe uma autoridade maior.
Você pode pintar um quadro de como seria se perdêssemos o que você acabou de descrever? Como seria se as Escrituras não fossem mais nossa “Estrela do Norte”?
Não precisamos imaginar. Em sua misericórdia, Deus pinta esse quadro para nós repetidamente nas Escrituras. No final de Juízes, é dito que “cada um fazia como bem entendia” (21.25). Depois da Torre de Babel, Deus essencialmente diz: “Quer saber de uma coisa? Vocês todos não querem falar uns com os outros? Vão em frente. E deixem-me mostrar como será.” E é claro que parece uma verdadeira confusão e estão constantemente brigando uns com os outros.
Mas Cristo oferece uma alternativa. Não brigamos mais uns com os outros. Em vez disso, pegamos uns aos outros pela mão — ou pelo menos deveríamos fazer isso. Portanto, eu acho que Babel é uma imagem fantástica sobre como, com frequência, a conversa sobre raça se desenrola. Muitas vezes parece que estamos tentando construir algo juntos, e talvez até algo bom, mas não estamos respeitando o outro. Estamos falando línguas diferentes, estamos frustrados e estamos sob a condenação de Deus. É por isso que tantas pessoas dizem: “Sim, não quero nem falar sobre isso”.
O que eu adoro no seu livro é que você não nos deixa nessa situação. Você entra no diálogo como pastor e oferece conselhos para Hunter e Darius. Vamos começar com Hunter. Você sugere que algo que ajuda é entender que qualquer conversa sobre raça não se dá apenas entre duas pessoas e que devemos “pesar a história”, antes de dizer o que pensamos. Você pode falar mais sobre essas palavras?
Acho que irmãos e irmãs brancos podem involuntariamente — sem intenção maliciosa — abordar essas conversas como se elas estivessem ocorrendo apenas de um para o outro, entre mim e o amigo com quem estou conversando. Na realidade, muitas minorias as enxergam através de uma estrutura diferente. Elas entendem que isso não é só uma conversa entre mim e ti, entre duas pessoas, mas sim entre nossas diferentes comunidades. E estão perguntando como essas comunidades se trataram historicamente.
No livro, falo sobre como quando Darius vê o tiroteio, ele não está apenas pensando em Malachi Brewers, esse personagem fictício que foi morto. Ele está pensando em Walter Scott, em Eric Gardner, em Ahmaud Arbery, em George Floyd. Quando chegamos para essa conversa, estamos todos carregando pesos diferentes. E, se não tomarmos cuidado, podemos nos atrapalhar com esses pesos e deixá-los cair nos dedos dos nossos ouvintes e realmente causar algum dano, especialmente se estivermos ignorando o peso da história.
É por isso que quero encorajar os Hunters do mundo a tentarem pesar a história e pensar: se eu viesse dessa outra perspectiva e minha comunidade tivesse sido tratada assim, eu bancaria apenas o advogado do diabo? Bem, não, você teria uma postura muito diferente. Por exemplo, irmãos e irmãs brancos podem não pretender defender o racismo, mas quando criticam instantaneamente Martin Luther King Jr., parecem estar mais preocupados com King do que com o racismo ao qual ele se opunha.
O que você diz se aplica igualmente à crítica de uma pessoa branca ao Black Lives Matter (por atacar a família nuclear) ou à teoria crítica da raça (por ter raízes marxistas)?
Isso me lembra as palavras de dois ícones dos direitos civis. C. Herbert Oliver lamentou que “o mundo parece estar liderando o caminho na batalha contra os dogmas do racismo”, enquanto Martin Luther King Jr. dizia que, muitas vezes, a igreja tem sido “uma luz traseira […] em vez de um farol” nessa batalha. O que eles queriam dizer é que, muitas vezes, estamos apenas reagindo às coisas, em vez de abordá-las proativamente. E assim, quando irmãos e irmãs brancos fazem críticas ao Black Lives Matter (BLM) ou à teoria crítica da raça (TCR), eu posso ser o primeiro a dizer que essas são críticas legítimas. Mas aqui está a pergunta mais urgente: O que vamos fazer?
É muito fácil dizer que você é contra algo. Se você é contra a TCR, ótimo, mas como você está lidando com o racismo ou a injustiça racial? Como você está amando seu próximo? É muito mais fácil incendiar uma casa do que construir uma. É por isso que muitas vezes optamos pelo criticismo.
Você também menciona que Hunter deveria liderar com lamento. Você pode definir o lamento e explicar por que ele é importante nas conversas sobre raça?
O lamento é uma queixa a Deus em esperança. Estamos lamentando a realidade caída deste mundo e trazendo-a diante de Deus com esperança, dizendo: “Senhor, isso não está certo”. Quantas vezes vemos estas duas palavras nas Escrituras: Até quando? Às vezes é bom apenas descansar na dor. Acho que o lamento nos traz gentileza e humanidade, o que, por sua vez, pode gerar civilidade. O lamento pode ser maravilhosamente desarmante e poderosamente unificador.
Digamos que eu faça um esforço sincero para fazer tudo o que você recomenda — lembrar a dimensão comunitária das conversas raciais, pesar a história pertinente e começar com o lamento. Sendo assim, você está dizendo que é certo para mim, uma pessoa de maioria branca, intervir e não apenas ser empático, mas também oferecer críticas ou possíveis soluções?
Vou lhe dar a resposta pastoral: depende. Há momentos em que você só precisa sentar e ouvir. E isso vale para os dois lados. Não são apenas brancos ouvindo negros, mas também vice-versa. É a sabedoria de Eclesiastes: há “tempo de calar e tempo de falar” (3.7). Ou, como Paulo sugere, fale apenas “conforme a necessidade” (Efésios 4.29, ESV).
Então, suponhamos que você pesou a história. Você ouviu primeiro. Mas o tiroteio acabou de acontecer. E eu estou confuso. Estou com raiva. Estou triste. Você tem o direito de fazer sua crítica ou sua sugestão? Pode ser. Claro. Mas a vida cristã não consiste em fazer valer nossos direitos. Consiste em colocá-los em benefício dos outros. Então, repetindo as palavras de Efésios 4.29: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas somente aquela que for boa para a edificação, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem” (ESV). Portanto, essa é a lente; esse é o tipo de funil pelo qual você deseja passar sua palavra. Sua sugestão concederá graça a quem ouví-la? Se for conceder, fale. Se não for, cale-se.
Em contrapartida, digamos que já se passaram alguns meses desde o tiroteio. Eu sei que você tem muita instrução e muita sabedoria, então, pergunto: “Tim, o que você acha?” Ou digo: “Estou realmente lutando com isso”. E você diz: “Ei, cara, eu conheço essas dinâmicas. A realidade é que você e eu somos irmãos em Cristo. Posso apenas dar uma sugestão?” E eu respondo: “Sim, por favor, me ajude”. A conclusão é que, se vamos escalar esse monte Everest de conflitos raciais em nosso país, teremos que trabalhar juntos.
Parece que muito do que você está descrevendo se resume a agirmos com graça uns para com os outros, algo que soa tremendamente libertador. Mas serei transparente: não sinto essa graça quando falo de raça, principalmente para uma pessoa de cor. Muitas vezes sinto que vou dizer algo errado — que vou ser insensível, apesar das minhas melhores intenções. Acrescente a isso a possibilidade de eu dizer algo que possa vir a público e causar problemas. Como realmente agir com graça de modo a desobstruir essas conversas?
O ponto de partida é lembrar da graça que foi concedida a você. Embora seja verdade que sua comunidade não tem sido boa para a minha comunidade, preciso lembrar que não fui bom para Deus e, no entanto, ele me perdoou. Deus cancelou a dívida que eu tinha com Ele e a prendeu na cruz em Cristo.
A igreja deve ser um mundo diferente nesse sentido. As regras são diferentes. Consequentemente, eu realmente vou ouvi-lo. Não vou olhar para você apenas como um exemplar da sua etnia, como um homem branco privilegiado. Em vez disso, direi: “Esse é meu irmão em Cristo, antes de ser qualquer uma dessas coisas (se ele for alguma dessas coisas)”. É por isso que não podemos entrar nessa conversa com uma mentalidade de preto versus branco. Na realidade, esta é uma questão de cristão para cristão.
Vamos mudar para o conselho que você dá a Darius. Você diz que ele pode ficar bravo, mas não pode ser rude nem uma pessoa cheia de ódio. Você acrescenta que “os negros podem dizer coisas etnicamente odiosas, assim como os brancos, os hispânicos ou os coreanos também podem dizê-las”. Você pode falar mais sobre isso?
É claro que as pessoas devem ficar com raiva do racismo, mas devem ficar apenas com o tipo certo de raiva. Há uma razão pela qual Deus diz para que seus filhos se irem, mas “na sua ira, não pequem” (Efésios 4.26). David Powlison, o já falecido conselheiro cristão, apontava que Deus é a pessoa mais irada do universo. Se você pensar sobre isso, é realmente algo impressionante. Ele odeia o pecado. Ele odeia injustiça e opressão. E ele vê tudo isso. Por definição, então, ele deve ser a pessoa mais raivosa do universo, mas sua ira é sempre santa. É sempre justa. É sempre pura. Nossa raiva pode ser justa, mas muitas vezes rapidamente se transforma em uma raiva hipócrita.
Você também menciona a Darius que não há problema em deixar sua igreja predominantemente branca, se ele não confiar mais na liderança ou sentir que ela se tornou irremediavelmente politizada. Mas Paulo não disse que devemos suportar uns aos outros em amor e proteger a unidade a todo custo (Efésios 4.2-3)?
Sinto que há apenas duas opções hoje, com base em como os negros estão tratando uns aos outros: se você ficar em sua igreja predominantemente branca, você é considerado um negro visto como excessivamente obediente ou servil aos brancos.; se você sair, você é considerado um liberal do ponto de vista teológico. Acho que isso é coisa do diabo. Acredito que há razões melhores ou piores para entrar ou sair de uma igreja? Claro que acredito, e falo sobre todos esses motivos no livro. Mas, no final do dia, Jesus não ordenou que você estivesse na Primeira Igreja Batista de Tuscaloosa nem em qualquer outra. Ele ordenou que você fizesse parte de seu povo. E quer que você trabalhe pela unidade.
Achei que poderíamos encerrar esta entrevista com algo fácil… como o racismo estrutural! Honestamente, hesito até em brincar sobre isso com um irmão, pois no Projeto Winsome Conviction descobrimos que, em conversas sobre raça, no minuto em que surge o racismo sistêmico ou estrutural, isso acaba com a conversa. Como você definiria o racismo estrutural e como essa definição deve moldar nossas conversas?
Para mim, o racismo estrutural é um sistema injusto que contém leis, escritas e não escritas, tradições, procedimentos, hábitos formais e informais, e práticas culturais que favorecem indevidamente uma etnia ou uma raça. O racismo estrutural é algo tão insidioso porque pode existir independentemente das intenções individuais. Uma coisa que considero útil nessas conversas é encontrar um terreno comum. Por exemplo, vamos falar sobre a segregação de Jim Crow [série de leis que impunham a segregação racial]. Você chamaria isso de racismo estrutural?
Não encontrei ninguém que responda: “Não, não, não, não, isso não foi estrutural”. No entanto, alguém pode acrescentar rapidamente: “Bem, as placas que diziam “somente para brancos” foram retiradas, então, você não pode dizer que isso ainda exista”. Eu comparo as leis do racismo estrutural a fósforos acesos. O fósforo foi aceso sob a forma de políticas como a de bebedouros só para brancos. Hoje, o fósforo foi apagado. Essas leis estão fora dos códigos legais. Mas o que estou tentando lembrar às pessoas é que a casa ainda está pegando fogo. E a pergunta que nos assombra é: Será que nos acostumamos tanto a olhar para o fogo que isso não nos incomoda mais?
Hoje, muitas pessoas são rápidas em descartar o ideal da graciosidade, e há um apelo renovado por vozes e posturas proféticas. Quais são seus pensamentos sobre esta tendência?
Os profetas são ótimos. Todos somos chamados a falar profeticamente. Os pastores devem falar profeticamente. Portanto, sou grato pelos profetas, mas temo termos reduzido a tarefa profética meramente a confronto e condenação.
Esdras 5.2 fala que “os profetas de Deus” estavam “com” o povo de Deus, na volta do exílio, e “os ajudavam”. Os profetas forneciam consolo e esperança de uma restauração com Deus. Caso contrário, de que serve a condenação? É apenas uma espada nesse sentido. É apenas um martelo. Os verdadeiros profetas são os que dizem: “Receba este martelo para que vocês possam ter a esperança de estar bem com Deus e uns com os outros”.
Traduzido por Mariana Albuquerque
Editado por Marisa Lopes
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