Na discussão pública entre Donald Trump e Benjamin Netanyahu, quem os evangélicos americanos apoiariam? Uma nova pesquisa sugere que pode ser o israelense.
Realizada logo após o conflito de Gaza, em maio do ano passado, a pesquisa também revela uma lacuna geracional substancial no nível de apoio a Israel e uma falta de impacto dos pastores em seus púlpitos.
E, coincidentemente, os resultados da pesquisa foram lançados logo após os comentários explosivos de Trump.
Em trechos de uma entrevista divulgada recentemente, o ex-presidente criticou o ex-primeiro-ministro [de Israel] por sua declaração parabenizando Joe Biden, após as eleições de 2020.
“Ninguém fez mais por Bibi. E eu gostava de Bibi. Ainda gosto de Bibi ”, afirmou Trump em uma crítica severa repleta de palavras de baixo calão, na qual usou o apelido de Netanyahu. “Mas eu também gosto de lealdade […] Bibi poderia ter ficado quieto. Ele cometeu um erro terrível.”
Netanyahu respondeu com elogios a Trump. Mas, ao sinalizar uma amizade com Joe Biden, ele também honrou a parceria de longa data entre Estados Unidos e Israel.
Durante sua presidência, Trump transferiu a embaixada americana para Jerusalém, reconheceu a soberania israelense sobre as Colinas de Golan e negociou com cinco nações de maioria muçulmana para normalizar as relações com o Estado judeu.
Evangélicos americanos juntaram-se a Netanyahu em agradecimento. Segundo um questionário online, que pesquisou um painel multiétnico de aproximadamente 1 mil cristãos que se identificam como evangélicos ou “nascidos de novo”, 35% deles dizem que se tornaram mais favoráveis a Israel por causa das políticas de Trump. Apenas 11% apoiaram mais os palestinos, enquanto 53% não tiveram nenhuma mudança.
E, no geral, 68% dos evangélicos americanos acreditam que o povo judeu hoje tem direito ao território de Israel, em virtude da aliança que Deus fez com Abraão, que “permanece intacta hoje”. (Cerca de 23% dizem que não sabem.)
A pesquisa, conduzida pelos professores Kirill Bumin e Motti Inbari da Universidade da Carolina do Norte-Pembroke em conjunto com o Barna Group, foi divulgada em 15 de dezembro de 2021, mas realizada em julho desse ano, bem antes de chegar ao conhecimento público o desentendimento de Trump com Netanyahu.
O primeiro-ministro israelense, há 15 anos no cargo, obteve uma avaliação favorável de uma parcela de 74%, com base na proporção de evangélicos que deram a ele uma pontuação de 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Um em cada cinco (22%) deu-lhe a melhor classificação possível.
A pesquisa não incluiu uma comparação direta. Mas dado o fato de que incluiu evangélicos de todas as etnias (59% brancos, 24% negros, 11% hispânicos), os pesquisadores descobriram que o apoio a Biden e a Trump por porcentagem de votos era quase idêntico (42% vs. 40%) — muito embora 49% dos evangélicos acreditassem que a presidência de Biden viria a prejudicar o relacionamento dos Estados Unidos com Israel. Por outro lado, 31% acreditavam que Biden não prejudicaria esse relacionamento.
Da mesma forma, 47% acreditam que a derrota de Netanyahu, como primeiro-ministro, para uma coalizão liderada por Naftali Bennett, prejudicaria o relacionamento de Israel com os evangélicos dos EUA. Apenas 16% acreditavam que não prejudicaria.
Aproximadamente 1 em cada 2 (47%) acredita que Netanyahu melhorou essas relações, em comparação com apenas 16% que não acreditam.
Em termos da relação com os palestinos, os evangélicos americanos reconheceram amplamente a política israelense como “justa”. Questionados sobre como Israel trata os palestinos nos territórios palestinos, 53% dos entrevistados pontuaram o tratamento dispensado por Israel em 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Enquanto apenas 14% disseram que era “totalmente justo”, apenas 19% pontuaram o tratamento dado por Israel em 4 ou menos.
O conflito de 11 dias entre Israel e o Hamas, em maio, na Faixa de Gaza, não alterou significativamente as percepções evangélicas.
Protestando contra a ameaça de despejar palestinos de suas casas, situadas em Jerusalém Oriental, por causa de contratos de arrendamento complexos, o Hamas lançou mísseis contra cidades israelenses. Israel reagiu, afirmando que seus mísseis eram direcionados a alvos militares, muitas vezes localizados em centros civis. De acordo com a ONU, 256 pessoas, incluindo 66 crianças e 40 mulheres, foram mortas em Gaza, ao passo que, em Israel, 13 pessoas foram mortas, incluindo duas crianças e seis mulheres.
Enquanto 48% dos evangélicos americanos não relataram nenhuma mudança em sua opinião geral, 26% afirmaram que o conflito aumentou seu apoio a Israel. Apenas 7% afirmaram que o conflito aumentou seu apoio aos palestinos.
Uma maioria (43%) culpa ambos os lados, igualmente. Um em cada três (34%) culpa principalmente os palestinos, enquanto 17% culpa principalmente Israel.
No geral, o relatório, patrocinado pela Chosen People Ministries, organização de judeus messiânicos, observa que “apenas” 50% dos evangélicos americanos apoiam Israel (25% “fortemente”) em sua disputa com os palestinos, os quais, por sua vez, recebem o apoio de 19%. Os 31% restantes não apoiam nenhum dos lados.
Uma pesquisa semelhante, publicada no início deste mês pela Gray Matter Research, identificou 20% dos protestantes evangélicos americanos como pessoas “leais a Israel”, que veem os judeus como “o povo escolhido de Deus” ainda hoje e atribuem alta prioridade a apoiá-los por meio de ajuda assistencial. (Não foi feita uma pesquisa especificamente sobre os palestinos.)
Baseando-se na definição de quatro pontos dos evangélicos por crença, formulada pela National Association of Evangelicals, mas não restringindo sua amostra a evangélicos brancos, como muitas pesquisas fazem, o estudo da Gray Matter encontrou uma divisão quase uniforme entre os evangélicos que acreditam que o apoio assistencial a Israel tem alta prioridade e os que consideram esse apoio de baixa prioridade; a pesquisa também detectou uma divisão uniforme entre os evangélicos que acreditam que os judeus são o povo escolhido de Deus ainda hoje e os que não acreditam nisso.
Essas estatísticas se alinham bem com a pesquisa UNC-Pembroke, que descobriu que 52% dos evangélicos americanos dizem que sua crença religiosa os torna mais favoráveis a Israel. Apenas 8% dizem que ela os torna mais favoráveis aos palestinos, e 40% dizem que ela não afeta sua visão de nenhum dos lados.
É digno de nota o fato de que apenas um terço dos evangélicos americanos afirmam que seu conhecimento do conflito é “moderado” (23%) ou “extenso” (13%). Metade afirma ter conhecimento “limitado” (26%) ou “muito limitado” (26%) do conflito, e 13% afirmam ter “nenhum conhecimento”.
Em termos de política, 41% querem que os EUA apoiem Israel, enquanto 10% querem que os EUA apoiem os palestinos. Cerca de 1 em cada 3 (36%) quer que os EUA permaneçam neutros.
Apesar das críticas generalizadas de que as políticas de Trump, enquanto esteve na presidência, favoreceram Israel, ele consistentemente sustentou que seus esforços foram uma nova estratégia para ressuscitar um processo de paz fracassado.
A pesquisa não questionou os evangélicos sobre quem eles consideram o principal culpado pela falta de paz. Mas, como muitos, Trump inicialmente atribuiu a responsabilidade aos palestinos.
Ele parece ter mudado de ideia.
“Bibi não queria fazer as pazes. Nunca quis”, afirmou Trump para um projeto de um livro em hebraico que trata dos acordos de normalização, lançado na semana passada. “Eu [tinha] pensado que os palestinos eram impossíveis e que os israelenses fariam qualquer coisa pela paz e por um acordo. Descobri que isso não é verdade. ”
A reportagem afirma que Netanyahu surpreendeu a Casa Branca, ao anunciar uma controversa anexação da Cisjordânia, durante a apresentação do plano de paz de Trump. O então embaixador de Israel nos EUA nega a alegação.
Será que a mudança de Trump é semelhante à dos evangélicos americanos mais jovens, os quais estão se tornando menos apegados à nação de Israel, conforme pesquisas anteriores descobriram? Aqueles com 65 anos ou mais têm quatro vezes mais probabilidade de expressar altos níveis de apoio a Israel do que os que têm menos de 30 anos.
No geral, 29% dos evangélicos mais jovens apoiam Israel, enquanto 45% apoiam os palestinos. E enquanto 40% culpam israelenses e palestinos igualmente pelo conflito de Gaza, aqueles que culpam um lado ou outro estão equilibrados. Três em cada dez atribuíram a culpa principalmente a Israel (29%) ou aos palestinos (27%).
Quanto à política dos EUA, 36% dos evangélicos com menos de 30 anos querem que os EUA permaneçam neutros. Israel ocupa uma posição ligeiramente superior no que diz respeito ao apoio dos EUA, com 31%, enquanto 26% querem que os EUA apoiem os palestinos.
A geração mais jovem é consistente com os evangélicos em geral em ver como justo o tratamento que Israel dispensa aos palestinos em seus territórios: 53% deram uma pontuação de 6 ou mais em uma escala de 10 pontos. Porém, mais pessoas escolheram uma classificação “injusta” do que os evangélicos em geral: 25% deram uma pontuação de 4 ou menos.
Embora a idade tenha o maior impacto estatisticamente significativo, não é o único fator correspondente.
Evangélicos que nunca vão à igreja têm 63% menos probabilidade de apoiar Israel do que aqueles que vão à igreja ao menos uma vez por semana. Os adeptos das escatologias pós-milenistas e amilenistas (que compreendem 22% e 33% dos evangélicos, respectivamente) têm 51% menos probabilidade de apoiar Israel do que os pré-milenistas (que compõem 33%). E aqueles com visões positivas dos muçulmanos (34%) têm 27% menos probabilidade de apoiar Israel do que aqueles com visões negativas (19%). (Uma pluralidade de 34% dos evangélicos é neutra.)
Não há relação entre a frequência das declarações pastorais de apoio a Israel e a opinião evangélica em geral. Raça, etnia ou compromisso com a justiça social também não são fatores estatisticamente significativos.
No entanto, os pesquisadores notaram que os evangélicos afro-americanos expressaram os níveis mais baixos de apoio a Israel (37%) e os mais altos níveis de apoio aos palestinos (31%). Entre os evangélicos hispânicos, 40% apoiam Israel e 23% apoiam os palestinos. Entre os evangélicos brancos não hispânicos, 58% apoiam Israel e 14% apoiam os palestinos.
E, enquanto um quarto dos evangélicos americanos dizem que seu pastor fala sobre “a importância de Israel para os cristãos” toda semana (27%) ou uma vez por mês (24%), uma parcela diz que ele fala “raramente” (37%), e 1 em cada 10 diz que “nunca” (13%) fala.
Da mesma forma, uma pluralidade de evangélicos americanos dizem que “raramente” ouvem outros evangélicos falar sobre “a importância de apoiar Israel” (43%), em comparação com aqueles que ouvem toda semana (18%) ou uma vez por mês (23%) ou nunca (16%).
A CT convidou especialistas evangélicos nos Estados Unidos e em Israel para interagir com os resultados da pesquisa:
Robert Nicholson, presidente do Philos Project:
A maioria dos jovens evangélicos ainda acredita nas promessas bíblicas a respeito do povo e da terra de Israel, mas tem dificuldade em pensar no Estado de Israel e por que é necessário defender esse povo naquela terra. Eles não percebem que um país de maioria judaica torna o Oriente Próximo mais pluralista, não menos. Pior de tudo, eles acreditaram na ideia tola de que o apoio a um Estado judeu significa oposição aos palestinos, árabes ou muçulmanos — o que, obviamente, não é verdade.
Os jovens evangélicos, por mais opinativos que sejam, não sabem muito sobre israelenses nem palestinos. Suas opiniões são baseadas em sentimentos viscerais, impressões da mídia, slogans e pressão dos colegas. Poucos passaram algum tempo na região e menos ainda sabem alguma coisa sobre o povo judeu que vá além das histórias da escola dominical com as quais cresceram.
É a ignorância total dos judeus, e também dos palestinos, que produziu os resultados dessa pesquisa. A resposta é educação imersiva e encontro pessoal.
Gary Burge, professor de Novo Testamento no Calvin Theological Seminary, autor de Whose Land? Whose Promise? What Christians Are Not Being Told About Israel and the Palestinians:
As gerações mais jovens veem a justiça social como um aspecto central de sua fé. Apesar do esforço consistente de Israel para moldar a narrativa palestina, quando esta pesquisa é comparada com pesquisas paralelas de apenas 20 anos atrás, os evangélicos estão cada vez mais neutros em suas visões políticas sobre Israel e a Palestina, à medida que as gerações mais jovens percebem que quatro milhões de pessoas mantidas sob ocupação militar por Israel é uma questão moral.
Mas pesquisas como essa geralmente apresentam dois problemas. Em primeiro lugar, os que se “autoidentificam” como evangélicos podem hoje representar apenas aqueles que casaram sua fé com a política republicana, visto que muitos outros evangélicos mais jovens partiram e não estão representados aqui. Em segundo lugar, a pesquisa usa uma linguagem bíblica sobre o “povo da aliança” de Deus, que distorce as decorrentes questões sobre justiça. Quando uma pesquisa é encomendada por uma organização pró-Israel (Chosen People Ministries), é sensato questionar seus resultados.
Danny Kopp, co-pastor da Congregação da Rua Narkis, em Jerusalém:
O próprio enquadramento desta questão nesta pesquisa como algo binário é um reflexo trágico de nossa incapacidade como cristãos de aquilatar a complexidade moral em nossas vidas e nas vidas das nações. A Bíblia tece uma narrativa complexa do chamado único de Deus a um povo específico, os judeus, para demonstrar seu amor universal e seu cuidado imparcial por todos os povos.
É um truísmo misericordioso o fato de que, em toda a narrativa bíblica, todo herói seja imperfeito e nenhum vilão esteja além da redenção. Ainda assim, nós, como cristãos, que deveríamos ser os maiores adeptos da introspecção e da autocrítica, jogamos esse princípio pela janela e estamos ficando cada vez mais conhecidos como os mais primitivos em nossa lealdade cega e inabalável a dogmas políticos e a personalidades.
Os israelenses têm o direito de viver em paz com seus vizinhos, em sua própria nação, enquanto os palestinos merecem apoio em sua busca por uma acomodação política que lhes conceda direitos iguais em sua pátria nacional. Manter uma perspectiva bíblica matizada e elaborada de forma alguma significa que devamos atribuir equivalência moral a erros políticos de ambos os lados, mas significa que nunca podemos perder de vista o chamado de Deus, único, particular e equivalente, tanto para israelenses quanto para palestinos.
Munther Isaac, reitor acadêmico do Bethlehem Bible College e pastor da Igreja Evangélica Luterana de Natal, em Belém:
O preocupante é que muitos evangélicos têm opiniões muito fortes sobre a Palestina e Israel, embora tenham conhecimento limitado sobre a realidade local. O que falta é uma teologia da justiça e da pacificação que não deve depender da visão escatológica de cada um, mas sim do nosso chamado para levar o amor de Deus a todos os povos, como embaixadores da reconciliação.
Os evangélicos, assim como todos os cristãos, devem assumir posições esclarecidas. A pacificação envolve ouvir os dois lados de um conflito, correr riscos e ficar do lado da justiça. Devemos enfrentar o poder com a verdade, mesmo quando isso envolve nosso próprio povo, religião ou nação.
Trump e Netanyahu não foram bons para a paz. Sua abordagem era baseada na lógica da força e do poder, não em verdade e justiça. Estados Unidos e Israel são aliados políticos, e baseiam suas ações no que é melhor para seus próprios interesses políticos. Suas políticas não refletiram o versículo bíblico: “Aja com justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus”.
Michael Brown, judeu messiânico e apresentador do programa de rádio Linha de fogo :
Dada a forma como esses evangélicos votaram, estou agradavelmente surpreso que o apoio a Israel seja tão alto quanto é. Dito isso, a pesquisa confirma uma tendência crescente e preocupante.
Por que isso acontece? Em primeiro lugar, a geração mais jovem não tem memória dos horrores do Holocausto e do nascimento milagroso do Estado de Israel. Para eles, Israel é um agressor que intimida e fere a população palestina. E, como eles têm um coração voltado para a justiça e os oprimidos, naturalmente ficam mais do lado dos palestinos.
Se tivessem uma imagem mais precisa e completa, perceberiam que ter um coração voltado para a justiça significa reconhecer a história agonizante do povo judeu, o grau em que Israel está cercado por inimigos hostis, até mesmo mortais, e o profundo desejo de Israel de viver em paz com seus vizinhos árabes.
Em segundo lugar, como sabemos através da história da igreja, as formas de teologia da substituição, também conhecidas como supersessionismo, abrem a porta para o antissemitismo.
A chave para os cristãos de todas as idades é a educação: que estejam bem fundamentados nas Escrituras, que conheçam a história da igreja e que tenham uma visão completa do conflito. Se o fizerem, reconhecerão a restauração por Deus do povo judeu à sua terra; buscarão justiça para todos; e amarão seu próximo muçulmano assim como amam seu próximo judeu. E, quando Israel errar, como amigos e apoiadores de Israel, eles falarão a verdade em amor.
Lisa Loden, co-presidente da Iniciativa Lausanne para Reconciliação Israel-Palestina:
O apoio evangélico a Israel está em constante fluxo, na dependência de eventos atuais e das diversas teologias. Pesquisas são sempre um instantâneo, nunca um corte transversal, e esta pesquisa não é exceção.
Os evangélicos precisam integrar totalmente o aspecto social do evangelho com sua teologia e, em especial, com sua escatologia. São lamentáveis a ignorância dos evangélicos, sua polarização e a falta de interesse ativo no efeito, em tempo real, que o conflito entre Israel e palestinos tem sobre as populações locais.
Os evangélicos brancos dos EUA provavelmente continuarão a apoiar Trump e Netanyahu, cujas visões solidamente favorecem Israel, independentemente do discurso atual e da redução de seus papéis nacionais.
Salim Munayer, diretor-executivo de Musalaha e diretor regional da Rede de Paz e Reconciliação da Aliança Evangélica Mundial:
Por essa pesquisa — especialmente em relação ao conflito recente em Gaza — podemos notar uma tendência, a saber, há uma lacuna crescente entre os evangélicos jovens e os mais velhos. Uma possível explicação são as múltiplas fontes de informação a que os jovens são expostos nas redes sociais.
Também é incrível perceber que, apesar de terem sentimentos muito fortes [a esse respeito], os evangélicos americanos afirmam ter conhecimento limitado do conflito. Em especial quando apenas 10% já viajou para a região para conhecer a realidade local.
Parece que suas opiniões são altamente moldadas pela teologia, por sua visão sobre o Islã e pela participação na vida da igreja.
Gerald McDermott, autor de Israel Matters, organizador das obras The New Christian Sionism e Understanding Jewish Roots of Christianity:
A pesquisa sugere o que muitos de nós temos notado há várias décadas: que os evangélicos estão menos instruídos biblicamente e menos informados sobre o que está acontecendo em Israel hoje. Mais e mais evangélicos não estão cientes, por exemplo, da crença de Paulo na aliança contínua de Deus com o povo judeu (Rm 11.28,29); da sua crença na promessa da terra (At 13.19), e da promessa de Jesus de que um dia Jerusalém o receberá (Mt 23.39; Lc 13.35). Eles também não sabem que mais de dois milhões de cidadãos israelenses são palestinos que desfrutam de educação e de serviços de saúde de nível mundial e não querem viver sob o domínio palestino na Cisjordânia ou em Gaza.
A pesquisa também mostra que o apoio a Israel caiu entre aqueles com menos de 30 anos, mas há surpresas. Enquanto 45% oferecem forte apoio aos palestinos, apenas 29% dizem que Israel é o culpado pelos recentes conflitos em Gaza, e apenas 26% dizem que os EUA deveriam ficar do lado dos palestinos no conflito. Além disso, a maioria dos menores de 30 anos diz que Israel é “justo” com os palestinos que vivem em territórios palestinos.
A recente interação entre Trump e Netanyahu mostra Trump como mesquinho e Netanyahu como um estadista. Acho que a maioria dos evangélicos concordaria.
James Zogby, presidente do Arab American Institute:
Esta pesquisa acompanha as pesquisas que fizemos, que mostram uma mudança significativa nas atitudes dos eleitores mais jovens, inclusive daqueles que se identificam como “nascidos de novo”, em relação a Israel/Palestina. Acreditamos que seja o resultado do acesso a fontes ampliadas de informação.
Esta geração é mais tolerante, mais receptiva e mais inclusiva, e sugiro que seu pensamento está mais em sintonia com a visão de Jesus. Eles veem situações como o conflito entre Israel e palestinos como algo menos preto no branco e têm mais compaixão por aqueles que identificam como vítimas das hostilidades. Portanto, essa mudança de atitude entre os jovens cristãos nascidos de novo não me surpreende em nada.
Dito isso, estou intrigado pelo fato de a raça não ter sido um fator significativo na determinação do apoio a Israel. Em nossas pesquisas, os dois principais fatores na formação de atitudes em relação a Israel são idade e raça.
Jaime Cowen, ex-presidente da União das Congregações de Judeus Messiânicos:
Eu acredito que o apoio da igreja evangélica a Israel faz parte de uma correção na reconstrução das relações entre a igreja e o povo judeu. Embora a igreja não possa desfazer o tremendo dano causado pelo antissemitismo cristão histórico, percorreu um longo percurso no sentido de derrubar os muros entre cristãos e judeus e pavimentou o caminho para o surgimento do judaísmo messiânico. Portanto, embora as visões que os evangélicos têm do governo e da política contemporânea de Israel sejam incrivelmente ingênuas e, com frequência, unilaterais, isso ainda é melhor do que as injustiças do passado.
Infelizmente, a politização do evangelho nos Estados Unidos afastou muitos jovens, incluindo aqueles que estavam em igrejas evangélicas. É estranho e lamentável como o apoio a Israel é posto lado a lado com a oposição ao aborto, as questões LGBT e a teoria crítica da raça. O apoio a Israel se torna problemático, especialmente à medida que as gerações mais jovens enfrentam injustiças sociais, que incluem a política israelense em relação aos palestinos. A menos que Israel tente com seriedade abordar a questão palestina, o apoio a Israel provavelmente continuará a diminuir.
O apoio a Trump entre os evangélicos é a coisa mais chocante que já testemunhei como crente. Ele era popular entre a maioria dos israelenses, mas prejudicou as relações EUA-Israel ao oferecer apoio americano a qualquer coisa que Israel fizesse. Quanto a Netanyahu, ele nada fez a respeito de um problema que eventualmente deve ser tratado. Embora seus esforços para chegar a acordos com outras nações árabes sejam altamente louváveis, isso não nega o desconforto existente.
Todd Deatherage, diretor-executivo do The Telos Group:
A mudança de atitude dos evangélicos mais jovens em relação a israelenses e palestinos em seu conflito é significativa, mas não surpreendente. Há anos temos visto movimentos dentro de bolsões do evangelicalismo, à medida que mais cristãos tentam centrar novamente sua fé em torno de Jesus e seus ensinamentos e para longe da politização. Quando Jesus está no centro, as formas nacionalistas de cristianismo, como o sionismo cristão, simplesmente não se sustentam.
Essas mudanças de atitude representam uma abertura para os cristãos apoiarem o florescimento mútuo de israelenses e palestinos, ambos os quais merecem doses iguais de liberdade, dignidade e segurança, como portadores que são da imagem de Deus.
E acho que esses números também estão relacionados a outra coisa que estamos vendo: a quantidade crescente de cristãos que buscam justiça e reconciliação de várias maneiras, ao cumprirem a incumbência dada por Jesus a seus seguidores para que sejam pacificadores.
Botrus Mansour, advogado, escritor e líder evangélico em Nazaré:
Lamento que seja limitado grande parte do conhecimento que os evangélicos americanos têm sobre o conflito, como eles próprios admitem. Mas isso tem grande impacto nas políticas americanas que são colocadas em prática. Eles tiveram um grande papel na promoção do sentimento antipalestino que marcou a era Netanyahu-Trump, o que foi ruim para a paz na Terra Santa.
A visão dos jovens evangélicos sobre o conflito é mais justa. Os palestinos são pessoas criadas à imagem de Deus e têm direito à dignidade humana. Eu espero que mais evangélicos americanos orem por eles e ajam como intermediários pela paz.
Mitch Glaser, presidente do Chosen People Ministries e patrocinador da pesquisa:
Estou preocupado com a forma como os evangélicos veem Israel, já que costumam ser os maiores apoiadores de Israel nos Estados Unidos. No entanto, muitas vezes parece que, à medida que a reputação de Israel fica manchada, particularmente entre os evangélicos mais jovens, Israel é considerado um agressor, ao invés de um país que responde à agressão. É necessário desenvolver mais a educação em faculdades, seminários e igrejas locais cristãs. Vídeos, podcasts e mídias sociais devem ser criados para informar ainda mais esses futuros líderes da igreja.
Infelizmente, quando temos uma visão negativa dos outros, sejam eles palestinos ou judeus israelenses, muitas vezes, em vez de amor e missão, há inimizade e falta de paixão em ganhar esses primos abraâmicos para Jesus.
Acredito que a profecia foi cumprida com a criação do moderno Estado de Israel, em 1948, mas Israel ainda não é o que se tornará. Um dia, meu amado povo judeu se voltará para Yeshua, o Messias, conforme prometido pelo profeta Zacarias, e “olharão para mim a quem traspassaram”.
Até lá, oro para que meus companheiros evangélicos tenham uma visão positiva do povo judeu e até cheguem à conclusão de que, em virtude da aliança abraâmica, a terra pertence a eles.
Traduzido por Mariana Albuquerque
–