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Morre Jürgen Moltmann, o teólogo da esperança

Após se converter a Cristo em um campo de prisioneiros de guerra, ele tornou-se um renomado estudioso cristão e ensinou que “Deus chora conosco para que um dia possamos rir com ele”.

Christianity Today June 6, 2024
Bernd Weissbrod/picture-alliance/dpa/AP Images / edits by Rick Szuecs

Jürgen Moltmann, teólogo que ensinava que a fé cristã é alicerçada na esperança da ressurreição do Cristo crucificado, e que o reino vindouro de Deus atua sobre a história humana a partir do futuro escatológico, morreu no dia 3 de junho, em Tübingen, Alemanha. Ele tinha 98 anos.

Moltmann é amplamente considerado um dos teólogos mais importantes desde a Segunda Guerra Mundial. De acordo com o teólogo Miroslav Volf, a sua obra foi “existencial e acadêmica, pastoral e política, inovadora e tradicional, fácil de ler e ao mesmo tempo exigente, contextualizada e universal”, pois ele mostrou como os temas centrais da fé cristã falavam às “experiências humanas fundamentais” de sofrimento.

O Conselho Mundial de Igrejas relata que Moltmann é “o teólogo cristão mais lido” dos últimos 80 anos. Martin Marty, um estudioso da religião, disse que seus escritos “inspiram uma Igreja incerta” e “livram as pessoas das mãos sem vida de um passado morto”.

Moltmann era luterano, mas muitos adeptos do evangelicalismo se engajaram profundamente em sua obra. O popular autor cristão Philip Yancey chamou Moltmann de um de seus heróis, e disse, em 2005, que ele havia “trabalhado duro” [para ler] quase uma dúzia dos livros dele.

Os editores da Christianity Today criticaram a teologia de Moltmann, quando a abordaram pela primeira vez, na década de 1960, mas ainda assim elogiaram o seu trabalho.

“Como resultado do livro de Moltmann, ficamos sem palavras”, escreveu G. C. Berkouwer [em um artigo da CT de 1968], “e somos lembrados de pensar e de pregar sobre o futuro numa perspectiva bíblica. Se isso acontecer, todas as interações teológicas deram bons frutos”.

Hoje, os evangélicos que são fundamentalmente críticos das opiniões de Moltmann — e discordam com veemência de um ou outro aspecto —; ainda assim, encontram muita coisa a ser valorizada e com frequência encorajam outros a lê-lo.

“Moltmann foi um ponto de referência constante para mim”, escreveu Fred Sanders, teólogo sistemático da Universidade Biola, na plataforma social X. “No ano passado, ensinei um pouco sobre seu livro O Deus crucificado, e fiquei impressionado com o quanto sua voz ainda é poderosa para os estudantes. […] E mesmo para mim, que estou aqui do outro lado de divergências que permanecem, reler Moltmann significa encontrar, linha após linha, maneiras cativantes de colocar as coisas.”

Wesley Hill, professor de Novo Testamento, disse que discordava de Moltmann “no que parecem ser todas as principais doutrinas cristãs”. No entanto, “poucos teólogos me comoveram, me provocaram e me inspiraram como ele. Sua obra toda gira em torno do Jesus crucificado e ressurreto”.

Moltmann nasceu em uma família não religiosa, em 8 de abril de 1926. Seus pais, segundo ele escreveu em sua autobiografia, eram adeptos de um movimento em prol da “vida simples”, comprometido em levar “uma vida simples e cultivar pensamentos elevados”. Eles moravam em um assentamento de pessoas com ideias semelhantes, numa área rural, nos arredores de Hamburgo. Em vez de ir à igreja, os Moltmann trabalhavam no jardim, nas manhãs de domingo.

Mesmo assim, a família colocou o filho nas aulas de crisma, na igreja estatal local, quando ele atingiu a idade exigida. Isso era visto como um rito de passagem. Moltmann lembra-se de ter aprendido muito pouco sobre Jesus, ou sobre a Bíblia ou a vida cristã. O pastor concentrou suas aulas na tentativa de provar que Jesus não era judeu, mas era, na verdade, fenício e, portanto, ariano, ensinando às crianças a teologia antissemita promovida pelos nazistas.

“Era um total absurdo”, disse Moltmann.

Mais ou menos na mesma época, em outro rito de passagem, Moltmann foi enviado para a Juventude Hitlerista. Embora os uniformes e os hinos o fizessem sentir-se muito patriótico, como lembrou mais tarde, ele era péssimo para marchar e odiava os exercícios militares. Em um acampamento, ele se viu amontoado em uma barraca com dez meninos. A experiência deixou-o com a forte sensação de que gostava de estar sozinho.

Apesar do antissemitismo desenfreado da época, o herói da infância de Moltmann foi Albert Einstein, que era judeu. Moltmann queria ir para a universidade e estudar matemática. Esse sonho foi interrompido pela Segunda Guerra Mundial.

Aos 16 anos, Moltmann foi convocado para servir na Força Aérea e designado para defender Hamburgo com um canhão antiaéreo de 88 mm. Ele e um colega de escola chamado Gerhard Schopper ficavam estacionados em uma plataforma, que fora montada sobre palafitas em um lago. À noite, olhavam para as estrelas e aprendiam sobre as constelações.

Então, os britânicos atacaram. Eles enviaram 1.000 aviões, em julho de 1943, para lançar explosivos e bombas incendiárias sobre a cidade, iniciando uma tempestade de fogo que derreteu metal, asfalto e vidro. Qualquer coisa orgânica — madeira, tecido, carne — foi consumida por aquele mar de fogo. As temperaturas acima de 760 graus Celsius sugavam o ar das ruas, de modo que a cidade soava, segundo um sobrevivente, “como um velho órgão de igreja, quando alguém toca todas as notas ao mesmo tempo”.

A operação — que não tinha como alvo instalações militares nem fábricas de munições, mas sim “o ânimo da população civil inimiga” — recebeu o codinome “Gomorra”, em homenagem à cidade bíblica destruída por Deus em Gênesis 19. Cerca de 40 mil pessoas foram mortas.

Quando o ataque terminou, Moltmann se viu flutuando no lago, agarrado a um pedaço de madeira que partiu-se da sua plataforma de canhão, a qual fora explodida. Seu amigo Schopper estava morto.

Tempos mais tarde, ele descreveria isso como sua primeira experiência religiosa.

“Enquanto milhares de pessoas morriam na tempestade de fogo ao meu redor”, disse Moltmann, “clamei a Deus pela primeira vez: Onde está você?

Ele não obteve resposta naquele dia. Mas, dois anos depois, ele foi capturado na linha de frente e enviado para um campo de prisioneiros de guerra, na Escócia. Um capelão deu-lhe um Novo Testamento que também tinha o livro de Salmos, e ele começou a ler o Salmo 39 todas as noites:

Ouve a minha oração, Senhor;
escuta o meu grito de socorro;
não sejas indiferente ao meu lamento. (v. 12)

Ele leu o Evangelho de Marcos e sentiu-se profundamente atraído por Jesus. A crucificação o deixou sem chão.

“Eu não encontrei Cristo. Ele é que me encontrou”, disse Moltmann mais tarde. “Lá, naquele campo de prisioneiros de guerra escocês, no fosso escuro da minha alma, Jesus me procurou e me encontrou. ‘Ele veio buscar e salvar o que estava perdido’ (Lucas 19.10), e foi assim que Jesus veio até mim.”

Aos 22 anos, quando regressou à Alemanha —– um país em ruínas —– foi para a escola estudar teologia. Os nazistas foram expulsos das universidades, durante a reconstrução liderada pelos americanos, e entre os expulsos estava o teólogo da Universidade de Göttingen, Emmanuel Hirsch, que cantarolava o hino nacional nazista entre as aulas, e certa vez afirmou que Adolf Hitler foi o maior estadista cristão da história do mundo.

Em Göttingen, Moltmann estudou com pessoas alinhadas à Igreja Confessante e que ensinavam a teologia de Karl Barth. Ele escreveu uma dissertação sobre um calvinista francês do século 17, concentrando-se na doutrina da perseverança dos santos.

Enquanto estava na escola, Moltmann se apaixonou por outra estudante de teologia, Elisabeth Wendel. Eles concluíram o doutorado juntos e se casaram em uma cerimônia civil, na Suíça, em 1952.

Depois de se formar, Moltmann foi enviado para pastorear uma igreja em um vilarejo remoto na Renânia do Norte-Vestefália. Ele deu aulas para uma turma de confirmação [crisma] de “50 meninos selvagens” e, no inverno, fazia visitas domiciliares sobre esquis. As pessoas pediam que ele trouxesse arenque, margarina e outros alimentos da loja, quando ele viesse.

“A primeira pergunta que me faziam em todos os lugares era se eu acreditava no Diabo”, lembrava Moltmann, anos mais tarde. Ele ensinava às pessoas que elas poderiam afastar o Diabo recitando o Credo Niceno. Mas não estava convencido de que elas lhe davam ouvidos.

A segunda igreja para onde enviaram Moltmann também foi um desafio. Ele foi mandado para uma pequena aldeia no norte do país, perto de Bremen. Havia ratos no porão da casa paroquial, camundongos na cozinha, e morcegos e corujas no sótão. Cerca de 100 pessoas frequentavam a igreja — mas não vinham todas juntas, nem regularmente. Nas manhãs de domingo, o jovem ministro ficava esperando na janela, perguntando-se se alguém viria à igreja.

No entanto, ele conquistou algum respeito entre os agricultores, por sua habilidade num jogo de cartas chamado Skat, e aprendeu a pregar sermões que se conectavam com as pessoas. Moltmann aprendeu que, se os agricultores mais velhos revirassem os olhos enquanto ele pregava, era porque a sua teologia tinha se distanciado muito das preocupações da vida real.

“A menos que a teologia acadêmica se volte continuamente para esta teologia do povo, ela torna-se abstrata e irrelevante”, escreveu ele mais tarde. “Eu não estava totalmente preparado para ser pastor, mas estava feliz por ter experimentado a vida humana em toda a sua plenitude e profundidade: crianças e idosos, homens e mulheres, saudáveis ​​e enfermos, nascimento e morte, etc. Eu me daria por feliz se tivesse continuado a ser um teólogo/pastor.”

Em 1957, Moltmann deixou o ministério pastoral para ensinar teologia. Ele deu aulas sobre vários tópicos, mas ficou especialmente interessado na história da esperança cristã pelo reino de Deus.

Ao mesmo tempo, começou a se envolver com a obra de um filósofo marxista chamado Ernst Bloch. Moltmann escreveu diversas resenhas críticas dos livros de Bloch, mas achava suas ideias instigantes. Bloch argumentava que a vida caminhava dialeticamente em direção a uma utopia final. Na sua obra-prima de três volumes, Das Prinzip Hoffnung [O princípio da esperança], ele defendia a esperança revolucionária, alegando que o marxismo era guiado por um impulso místico e antecipatório de um cumprimento final.

Embora fosse ateu, Bloch citava frequentemente as Escrituras. Ele dizia que estava tentando articular a “consciência escatológica que veio ao mundo através da Bíblia”.

Moltmann observou que, embora muitos teólogos tivessem escrito sobre fé e amor, havia pouca coisa escrita na tradição protestante sobre esperança. A teologia “abandonou seu próprio tema”, dizia ele, e Moltmann, então, decidiu assumir a tarefa.

Ele começou a lecionar sobre o tema primeiramente na Universidade de Bonn, e, depois, na Universidade de Tübingen, onde passaria o resto de sua carreira.

Moltmann publicou Theologie der Hoffnung [Teologia da esperança] em 1964. A obra foi recebida com intenso interesse. O livro teve seis edições em dois anos e foi traduzido para vários idiomas estrangeiros. Em 1967, foi lançado em inglês pela primeira vez, e ganhou tanta atenção dos teólogos que atraiu o interesse do The New York Times.

Numa matéria de primeira página, publicada em março de 1968, o jornal noticiou que os debates voltados para a teologia da moda, que falava sobre a “morte de Deus”, tinham sido substituídos por uma discussão sobre a ideia de Moltmann, teólogo alemão de 41 anos, de que Deus “atua sobre a história humana a partir do futuro escatológico”. Citaram isto como palavras ditas por Moltmann: “o cristianismo é escatologia do início ao fim, e não apenas no epílogo”.

O jornal maravilhou-se com o fato de esta “teologia da esperança” ter como fundamento a crença na ressurreição, “algo que muitos outros teólogos consideram hoje um mito”.

Alguns críticos da época, no entanto, temiam que esta ênfase na escatologia ofuscasse a obra de Cristo na cruz. Eles disseram que o foco de Moltmann nas coisas últimas ignorava ou até mesmo minimizava a importância da crucificação.

Moltmann chegou a pensar que havia algo naquela crítica, durante um simpósio sobre a Teologia da Esperança, na Universidade Duke, em abril de 1968. Durante uma das sessões, o teólogo Harvey Cox entrou correndo na sala e gritou: “Martin Luther King foi baleado”.

A conferência rapidamente se desfez, enquanto os teólogos lutavam para voltar para casa, em meio a relatos de tumultos em todo o país. Mas os alunos da Duke — que pareciam não se importar nem um pouco com a teologia da esperança — reuniram-se para uma vigília espontânea no pátio da escola. Eles choraram a morte de Martin Luther King por seis dias. No último dia, estudantes negros de outras escolas juntaram-se aos estudantes brancos, e, juntos, cantaram o hino dos direitos civis “We Shall Overcome” [Nós vamos vencer].

Moltmann, comovido pelo poder transformador do sofrimento, começou a trabalhar em seu segundo livro, Der gekreuzigte Gott [O Deus crucificado]. Foi publicado em 1972, e lançado em inglês dois anos depois.

“A identidade cristã só pode ser entendida como um ato de identificação com o Cristo crucificado”, escreveu Moltmann. “A ‘religião da cruz’[…] não eleva e edifica no sentido habitual, mas escandaliza; e, acima de tudo, escandaliza os “correligionários” do seu próprio círculo. Mas, por meio deste escândalo, traz libertação para um mundo que não é livre.”

Moltmann uniu as duas ideias — o sofrimento de Cristo e a esperança dos cristãos — e isso se tornou o cerne da sua teologia. Ele ensinava que as pessoas deveriam “acreditar na ressurreição do Cristo crucificado e viver à luz de sua realidade e futuro”.

Ou dito de forma mais simples: “Deus chora conosco para que um dia possamos rir com ele”.

Moltmann aposentou-se em 1994, mas continuou a trabalhar com estudantes de pós-graduação por muitos anos. Quando sua esposa morreu, em 2016, ele escreveu seu último livro sobre morte e ressurreição.

Moltmann deixa quatro filhas.

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O número de pessoas que cuidam de idosos só aumenta; elas precisam de apoio espiritual

Seja por vocação, seja pela circunstância, milhares de adultos estão sentindo o peso e o custo de cuidar de parentes idosos.

Christianity Today June 5, 2024
Edits by Christianity Today / Source Images: Getty

Shanoah Bruner está entre a parcela de um quarto dos adultos americanos que integram a chamada “geração sanduíche”, composta por adultos que criam filhos menores de 18 anos e são responsáveis por cuidar dos pais idosos.

Em sua casa, nos subúrbios de Indianápolis, essa mãe de 40 e poucos anos vive com o marido, uma filha pré-adolescente e outra adolescente, a sogra e o pai biológico.

Bruner encara com naturalidade o papel de cuidadora. Ela foi criada em uma família que regularmente abria sua casa para as pessoas e servia sua igreja e a comunidade. Além disso, ela trabalhou em lares para idosos ou pessoas com deficiência; com assistência domiciliar para pessoas com Alzheimer e distúrbios de memória, bem como por mais de 20 anos com enfermagem especializada.

“Eu cresci em um lar cristão onde pessoas significavam mais do que bens materiais”, disse ela. “Então, é assim que eu vejo [essa questão], e é definitivamente gratificante para mim, embora não seja esse o caso para todo mundo.”

À medida que os baby boomers vão chegando ao crepúsculo da vida, eles vão morar com os filhos ou estes os ajudam e lhes prestam cuidados à distância. Sessenta e seis por cento das pessoas que cuidam de idosos são mulheres como Bruner, a maioria delas na faixa dos 45 a 50 anos, e que também trabalham fora de casa.

As demandas específicas desses cuidadores e de seus entes queridos representam para os crentes uma chance de oferecer apoio e a esperança do evangelho. Igrejas, organizações sem fins lucrativos e organizações governamentais e paraeclesiásticas entram com recursos, e indivíduos cristãos podem dar amor de forma pessoal e tangível.

Em 2022, foi publicado o primeiro estudo bíblico específico para cuidadores de pessoas com demência. Algumas igrejas estão implementando workshops para cuidadores. A Caregiving Support Network [Rede de Apoio ao Cuidador] hospeda um programa para “patrocinar um cuidador” e tem até mesmo uma “Oração do Cuidador”.

Richard Gentzler Jr., especialista em ministério para adultos idosos, parafraseou a ex-primeira-dama Rosalynn Carter, quando escreveu que existem apenas quatro tipos de pessoas no mundo: os que foram cuidadores, os que são cuidadores atualmente, os que serão cuidadores ou os que precisarão de cuidadores. Em outras palavras, nenhum cristão está isento de participar do papel de cuidar.

“Eu sinceramente acho que há muitas oportunidades para a igreja ministrar às necessidades emocionais desta comunidade, e isso pode significar apenas ser alguém com quem conversar”, disse Bruner. “Alguém que possa apenas ouvir, pois há muitas emoções envolvidas no processo de cuidar dos nossos pais.”

A maioria dos cuidadores são filhos adultos, mas, às vezes, um cônjuge idoso ou um parente distante se vê empurrado para essa posição. Estresse e sobrecarga caracterizam a vida de um cuidador, pois eles frequentemente conciliam trabalho, criação dos filhos e o trabalho extra como motorista dos pais, para levá-los a consultas médicas semanais. Eles também são babás para cuidados domiciliares ou a pessoa de contato (à disposição 24 horas por dia) para lares e clínicas para idosos.

“As estatísticas mostram que os cuidadores têm um índice de transtornos mentais e depressão maior até mesmo do que o dos entes queridos de quem cuidam”, disse Lauren Guynn, diretora-executiva do Shepherd's Center [Centro do Pastor], uma organização sem fins lucrativos para idosos independentes [com capacidade de fazer suas atividades diárias sem precisar da ajuda de terceiros] no Condado de Hamilton, Indiana. “Eles [os cuidadores] têm uma taxa maior de problemas de saúde física […] e estão morrendo mais cedo."

São vários os fatores que levam a uma piora na saúde do cuidador, entre eles a renda menor, ser o único provedor, morar na mesma residência do idoso, intensificação dos problemas de saúde e raça. Cuidadores afro-americanos e latinos são os mais propensos a relatar declínio em seu estado de saúde. Aqueles que cuidam de pais com Alzheimer relatam os maiores níveis de estresse.

Os que tomam conta sozinhos de um idoso, sem nenhuma assistência, são os que se saem pior e, quanto maior o grau de necessidade, disse Guynn, maior o “esgotamento, o estresse e os problemas de saúde do cuidador”.

Estudos mostram que valores religiosos contribuem para a demografia dos cuidadores. A fé cristã de Guynn certamente orienta seu trabalho no Shepherd's Center, onde ela dirige programas que auxiliam cuidadores e idosos, oferecendo aconselhamento, transporte, visitas, jardinagem, atividades sociais e serviços de tutela.

“É colocar a mão na massa”, disse ela. “Se todos nós fizéssemos um esforço para ajudar as pessoas que cuidam de idosos, imagino que isso não impactaria somente a vida desses cuidadores, mas, do ponto de vista do reino, também teríamos um impacto enorme.”

Este trabalho é vital, especialmente porque, como Guynn diz, muitos idosos enfrentam grandes dificuldades pela má qualidade do cuidado que recebem ou pela falta da ajuda de um cuidador. O custo desse tipo de cuidado é uma questão primordial.

Envelhecer custa caro, pois os locais dedicados ao cuidado de pessoas com distúrbios de memória, por exemplo, cobram em média US$ 7.000 por mês [por volta de R$ 35 mil). O Medicaid [programa federal e estadual nos Estados Unidos que ajuda os cidadãos de baixa renda com os custos médicos] não cobre despesas com quarto e alimentação, embora possa ajudar com outros serviços de apoio necessários, como higiene, banho e cuidar dos medicamentos.

Por causa das despesas, muitas famílias não têm escolha a não ser se tornarem cuidadores de tempo integral em casa, ao passo que outras oferecem cuidados a parentes que vivem sozinhos ou em instituições de cuidado.

Bruner não cresceu com seu pai, ela morava com uma tia, que administrava um banco de alimentos, e com o tio, que era capelão na prisão local. Foi esse legado de serviço cristão e sacrifício dos tios que a inspirou a cuidar de seu pai biológico, à medida que ele está envelhecendo.

O pai de Bruner precisa ir a consultas regulares com um especialista em Alzheimer, um neurologista, um urologista, um podólogo e um médico especialista em cérebro e coluna. Cuidar dele e levá-lo às consultas é um trabalho de tempo integral; Bruner e seu marido puseram em oração a decisão de assumir esse cuidado, antes de concordar. Ela se sente afortunada por ter condições de contratar ajuda externa, pois muitos não podem fazer isso.

Durante suas experiências de trabalho como cuidadora profissional de idosos, Bruner disse que viu filhos adultos ficarem amargurados por causa da responsabilidade de cuidar de pais que foram negligentes no passado. Por causa dessa mentalidade e do pesado fardo de cuidar de alguém, o abuso cometido contra idosos é bastante alto.

Para Bruner, cuidar do pai que não a criou é “uma espécie de restauração”. Embora ela veja seu papel como um ministério, Bruner disse que seria bom ter mais programas de apoio a cuidadores na igreja.

Mesmo sem ter programas de apoio dedicados a idosos, Guynn acredita que as igrejas locais são “excepcionalmente qualificadas” para oferecer apoio aos cuidadores.

“Eles só precisam sentir que não estão sozinhos”, disse Guynn. “E eu sinto que a igreja tem uma oportunidade de alcançar pessoas, que teho a impressão de que o diabo está isolando.”

Guynn acha que os cuidadores têm resistência a aceitar o apoio de organizações, mas têm um grau de confiança intrínseca em relação a igrejas. Segundo ela, as pequenas igrejas estão se destacando e fazendo um trabalho exemplar nessa área.

“Essas igrejas podem ter apenas 100 membros, mas as pessoas lá se conhecem”, disse ela. “Quando alguém faz uma cirurgia, eles levam refeições para a pessoa e sabem se alguém precisa de ajuda para ir ao médico […] Esse senso de comunidade que brota numa igreja pequena naturalmente oferece mais apoio aos cuidadores.”

Esse tipo de ministério ainda costuma ficar a cargo de organizações paraeclesiásticas, que podem arrecadar dinheiro para cobrir os custos e implementar programas específicos para ajudar.

A Caregiving Support Network, fundada em 2022, oferece assistência financeira a cuidadores não remunerados por meio de um processo de inscrição. Rebecca Dowhy fundou a organização depois de ter passado muitos anos cuidando de sua mãe, que sofria de esclerose múltipla.

“Minha saúde física, mental e espiritual sofreu tremendamente nas fases em que passei por esgotamento e depressão”, ela escreveu. “A natureza implacável da deficiência nos forçava a continuar servindo, mesmo sem ter mais nada para dar e sem ter nenhuma maneira de recarregar nossas forças.”

As igrejas podem promover noites de confraternização ou eventos específicos para os cuidadores se reunirem. Em Dothan, no Alabama, a equipe do Respite Care Ministry [um ministério que fornece aos cuidadores serviços de cuidados temporários para idosos], da First United Methodist Church, abriu a Rosemary House [Casa Rosemary], um lugar onde cuidadores de pessoas com perda de memória podem descansar e recarregar as baterias.

“Às vezes, os cuidadores só precisam de alguém para ouvi-los”, disse Katie Holland, diretora do ministério. “Queremos apenas ser um refúgio para eles, onde possam obter apoio, instrução e treinamento.”

A American Heart Association [Associação Americana do Coração] é uma das muitas organizações que incentivam os cuidadores a pensarem no próprio bem-estar, mesmo enquanto cuidam de seus entes queridos. Em um de seus materiais educativos, eles lembram os cuidadores de que eles têm o direito de cuidar da própria saúde, aceitar ajuda, utilizar recursos da comunidade, expressar emoções e cuidar de outras áreas de sua vida.

A Family Caregiver Alliance [Aliança de Famílias de Cuidadores] ajuda os cuidadores a encontrar apoio externo, o qual inclui coisas como gerenciamento dos cuidados, assistência de transporte, grupos de apoio, aconselhamento jurídico e financeiro, ajuda com descanso, opções de creches para adultos e muito mais.

A Gospel Hope for Caregivers [Esperança do Evangelho para Cuidadores], um ministério criado por Marissa Bondurant, incentiva as pessoas a verem o cuidado principalmente como um ministério. Depois de cuidar de sua filha (hoje saudável) com câncer, Bondurant identificou uma lacuna no apoio aos cuidadores cristãos.

“Quando comecei a escrever sobre nossa experiência — sobre algumas das coisas que eram desafiadoras e as maneiras como Deus proveu para nós — nossa história começou a repercutir em ambas as pontas desse espectro do cuidado”, disse Bondurant, que passou de postagens no CaringBridge para um site público.

“Muito disso tinha a ver com a teologia do sofrimento. Acho que as pessoas precisavam ouvir algo que realmente abordasse as questões que tinham em seus corações, e que não fosse apenas esse Band-Aid que a igreja às vezes coloca, como um pequeno curativo com uma carinha feliz.”

Bruner destacou que as igrejas já têm gente que se dedica a orar e a apoiar pessoas com outros tipos de problema, como pobreza, monoparentalidade, vício e divórcio. Ela disse que se dispor a ajudar os cuidadores da mesma forma seria “como uma luz” na escuridão.

Quem já está familiarizado com o ambiente de cuidado diz que o apoio proativo e tangível, levado diretamente para a casa dessas pessoas é a maneira ideal para terceiros ajudarem, pois muitos cuidadores jamais pedirão nem aceitarão ajuda. Eles dizem que os voluntários devem simplesmente aparecer na casa desses cuidadores, levar comida, cuidar do jardim, levar um estudo bíblico para eles ou se oferecer para ficar um pouco com seus pais, para que possam cuidar de outras tarefas que também dependem deles.

“Naquelas situações realmente sombrias e difíceis, ter alguém que ofereça orientação espiritual pode ajudá-los a ver a graça e a encontrar cura”, disse Guynn. “Isso vai ajudá-los a começar a ver que Deus pode transformar essas situações em algo bom e a descobrir como eles podem realmente permitir que Deus trabalhe em suas vidas.”

Ericka Andersen é escritora freelancer e mora em Indianápolis. É autora de Leaving Cloud 9 [Saindo da Nuvem 9] e Reason to Return: Why Women Need the Church and the Church Needs Women [Razão para voltar: Por que as mulheres precisam da igreja e por que a igreja precisa das mulheres].

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O milagre do ouvir

O dom de línguas não foi o único milagre de Deus no Pentecostes. O Espírito também deu o dom de compreendê-las, e assim superou a divisão e o desdém.

Christianity Today June 4, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Unsplash

Línguas de fogo por toda parte. Nesta era barulhenta e furiosa em que vivemos, tempo de protestos e contraprotestos, as palavras já chegam abrasadoras, chamuscantes, escaldantes, picantes.

“Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se”, escreveu Tiago, “pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (1.19-20). Mas poucos de nós — mesmo entre aqueles que seguem a Cristo — parecem acreditar que ouvir, mais do que falar, é o que poderia atender à realidade dos nossos dias.

Nós cedemos à tentação de “pensar que os tempos exigem o uso das armas do inimigo”, como Michael Wear diz em The Spirit of Our Politics [O Espírito da Nossa Política]. Justificamos nossas línguas de fogo como se fossem “simplesmente a maneira como se joga o jogo”, desconsiderando a trilha de destruição que deixamos — os grandes bosques devastados pela fagulha que sai dos nossos lábios (3.5-8).

Claro, não há nisso nada de novo sob o sol. A ira viaja mais rápido por gigahertz do que o mensageiro, embora nossa era não seja a única caótica ou tumultuada. A igreja já viveu coisas piores, principalmente nos perigosos primeiros dias após a ressurreição e ascensão de Cristo.

“[Eu] fui preso […] espancado mais vezes do que posso contar, e estive às portas da morte repetidas vezes”, relatou o apóstolo Paulo sobre seu ministério naquela época. “Fui açoitado cinco vezes com trinta e nove chicotadas pelos judeus, espancado por varas romanas três vezes, apedrejado uma vez […] Tive que atravessar rios, afastar assaltantes, lutar com amigos, lutar com inimigos. Enfrentei riscos na cidade, no campo, no sol do deserto e tempestades no mar, e fui traído por aqueles que eu pensava serem meus irmãos” (2Coríntios 11.23-27, The Message).

Era esse o momento cultural, quando o Espírito Santo veio aos discípulos, em Atos 2, e desencadeou um tipo diferente de língua de fogo sobre o mundo — uma língua que trouxe conexão, edificação e clareza, em vez de divisão, destruição e confusão. É este o legado espiritual que lembramos e celebramos no Domingo de Pentecostes. É um legado a que precisamos nos agarrar de novo, pois o momento que vivemos é igualmente desesperador e precisa dessas graciosas línguas de fogo e desse milagre de compreendê-las, que as acompanhou.

Nas igrejas da minha juventude, qualquer discussão sobre o “vento impetuoso e forte” (Atos 2.2, versão King James) — que soprou naquela sala onde os discípulos estavam reunidos — girava em torno da questão do falar em línguas, em um ou outro sentido. No meu grupo de jovens carismáticos, os anciãos da igreja — que acreditavam na segunda bênção ou no segundo batismo do Espírito Santo — diziam que os adolescentes não poderiam servir na equipe de liderança juvenil se não orássemos em língua da glossolalia, também chamada de línguas. (Eu não falava.)

Enquanto isso, a igreja decididamente não carismática, que eu frequentava nas manhãs de domingo, não falava muito sobre o Espírito Santo. Fazíamos do Pentecostes uma boa lembrança, transformando a aparição do Espírito Santo em uma exposição de museu das mais completas, com delicadas chamas em estilo renascentista oscilando sobre as cabeças de santos plácidos. Talvez as coisas fossem um pouco estranhas naqueles dias, mas nós éramos ordeiros. Razoáveis. Normais e previsíveis. (Essa interpretação tinha a vantagem adicional de acalmar meu ego, me assegurando de que eu não era menos espiritual do que meus colegas do grupo de jovens.)

Apesar de suas conclusões serem muito diferentes, ambas as igrejas partiam da mesma pergunta: Como interpretarmos o milagre das línguas em Pentecostes? O foco nisso [isto é, nas línguas] era tão exclusivo, que foi só na idade adulta que aprendi que houve um segundo milagre no Pentecostes: junto com o milagre do falar em línguas, houve o milagre do ouví-las.

Deus enviou seu Espírito a um mundo afligido pela confusão de Babel, a fim de restaurar a mútua compreensão. O Domingo de Pentecostes marca o milagre do ouvir tanto quanto o milagre do falar [em línguas]. E em nossos dias — quando todo mundo grita e ninguém ouve, quando sabemos muito mais sobre as línguas de fogo escaldante de Tiago do que sobre as línguas restauradoras de Atos — o milagre da comunicação recíproca do Pentecostes é o que o mundo arrasado em que vivemos precisa que a igreja encarne uma vez mais.

Em The Wolf Shall Dwell with the Lamb [O lobo habitará com o cordeiro], um pequeno livro sobre liderança em contextos multiculturais, publicado em 1993, o sacerdote episcopal sinoamericano Eric H. F. Law desvenda esse “milagre da comunicação”, enquadrando o relato de Atos 2 à dinâmica do poder social, econômico e político da época.

Em Atos 2, segundo Law escreve, vemos reunidos dois grupos de pessoas. O primeiro deles são os discípulos, grupo composto em sua maioria por pescadores e trabalhadores da Galileia — que hoje poderíamos chamar de valentões vindos do interior, com seus sotaques caipiras, para completar o quadro. Como aprendemos mais tarde em Atos, os primeiros líderes cristãos, como Pedro e João, eram conhecidos pelos anciãos e escribas judeus como “iletrados e incultos” (Atos 4.13, NASB), enquanto para os invasores romanos, Law diz que os primeiros líderes cristãos “não passavam de outra seita do judaísmo cujo líder havia sido executado”.

O segundo grupo é uma grande mescla de “judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo” (Atos 2.5). Quando comparadas aos discípulos, vemos que muitas das pessoas [desse segundo grupo] eram membros da elite judaica. Alguns deles conseguiam fazer viagens muito longas e caras para Jerusalém. Provavelmente alguns eram saduceus, os aristocratas religiosos que ocupavam assentos no conselho do Sinédrio, tinham influência política e conexões com pessoas poderosas no governo romano. Pode ser que alguns deles até tivessem se juntado ao coro que exigiu que Pilatos crucificasse Jesus, poucas semanas antes.

Em suma, segundo Law argumenta, esse segundo grupo poderia causar problemas para os seguidores de Jesus, e talvez alguns deles já tivessem feito isso. No entanto, foi para esse grupo que o Espírito Santo deu “o dom de ouvir e entender, embora o que era dito pelos discípulos estivesse em outra língua”. Nem todos na multidão pareciam aceitar o dom — afinal, alguns pensaram que os discípulos estavam bêbados (v. 13) —, mas muitos entenderam e ficaram atônitos e maravilhados com o que ouviam (v. 7).

No Pentecostes, “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios” e trouxe “justiça, santidade e redenção” (1Coríntios 1.27-30). Os fracos, ignorantes e impotentes foram compreendidos pelos fortes, instruídos e poderosos. O caminho normal do mundo foi invertido pelo reino de Cristo, o reino de cabeça para baixo. As línguas de fogo do Espírito trouxeram iluminação, não destruição.

Onde nós — evangélicos — nos encontramos hoje nesta história? Somos os poderosos ou os impotentes? Essa questão é complicada por fatores ligados a raça, grau de instrução e classe, e é central para muitas das batalhas de nossa guerra cultural, pois os mesmos comportamentos e os mesmos medos atuam de forma muito diferente, se vierem de uma minoria acuada, em vez de uma maioria paranoica.

Eu mesma sou de origem branca, rural e da classe trabalhadora. Hoje, meu marido e eu somos sólidos integrantes da classe média, mas eu fui a primeira pessoa da minha família a ir para uma faculdade — e quase não consegui chegar lá, pois deixei de fazer a inscrição para o SAT [um exame feito por estudantes que desejam ingressar no ensino superior], pois não entendia sua importância para entrar em uma faculdade. Minha cidade natal não fica na Galileia, mas é sem dúvida seu equivalente americano.

Conheço e amo muitos evangélicos brancos da classe trabalhadora que constroem a vida em cidadezinhas pequenas e agonizantes, tentando imaginar que futuro seus filhos terão nessas comunidades esvaziadas. Nenhum deles se sente privilegiado nem poderoso, mas todos eles se ressentem de ouvir que são. E, dependendo de onde venha a notícia, essas pessoas — do meu povo — são ofendidas, ou são esquecidas e [ficam] legitimamente ressentidas ou são “ignorantes fantoches fascistas” que representam uma ameaça existencial à democracia americana.

Essas caracterizações conflitantes são, em parte, um problema de comunicação. Falamos e falamos, mas não ouvimos, e em consequência disso não nos entendemos, nem mesmo dentro da igreja. Apontamos os pecados dos outros e nos calamos sobre os nossos pecados (Mateus 7.3). Ignoramos as nuances complexas que estão agindo nas comunidades dos outros e retribuímos amargura com amargura, juntando-nos ao coro de címbalos que retinem (1Coríntios 13.1).

É neste espaço sufocante que a igreja precisa do vento fresco do Espírito Santo. Devemos nos arrepender de todas as maneiras pelas quais nos tornamos “uma igreja que teme mais o poder das circunstâncias culturais e políticas do que teme o poder de Deus”, como Wear afirma. E devemos pedir a Deus que nos ajude, pelo Espírito, a buscar os dois milagres do Pentecostes.

É isso que o momento exige de nós — e isso é verdade, quer tenhamos mais facilidade de nos ver como galileus, quer nos vejamos como seus ouvintes mais sofisticados. Suspeito que não estou sozinha em me ver em ambos os grupos: em certas situações, uma vantagem considerável me é oferecida por causa da cor da minha pele ou do jeito que falo; e em outras, sou uma caipira insegura sobre como transitar pelos corredores do poder. Contudo, em todas as circunstâncias, sou uma seguidora de Jesus, e minha identidade se encontra nele, em humilde submissão ao chamado de Cristo para que eu considere os outros superiores a mim mesma (Filipenses 2.3). Em todas as circunstâncias, devo orar para que Deus me dê o que preciso.

Acho que isso é verdade para todos nós que somos seguidores de Jesus. Às vezes, precisamos do dom de línguas: de uma determinação que nos capacita a ficar onde precisamos ficar, a resistir ao que devemos resistir e a dizer o que precisa ser dito. Mas às vezes precisamos do dom de ouvir, pois Deus nos pede para nos aquietarmos, ouvirmos e domarmos nossa língua.

Algumas vezes teremos poder. Algumas não teremos nenhum. Algumas vezes teremos necessidades. Algumas vezes teremos abundância. Algumas vezes seremos privilegiados e reverenciados. Algumas vezes seremos insultados e desprezados. Algumas vezes precisaremos defender com unhas e dentes aquilo que prezamos. Algumas vezes precisaremos entregar nossa própria vida. Em todas as estações e circunstâncias, porém, teremos o Espírito Santo, sempre ansioso para trabalhar em nós e através de nós para produzir a justiça que Deus deseja.

Carrie McKean é uma escritora do oeste do Texas cujo trabalho já apareceu no The New York Times, The Atlantic e na revista Texas Monthly. Você pode encontrá-la em carriemckean.com.

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Negligência é um pecado que leva à morte

A Bíblia é consistente em condenar o famoso “jeitinho” que causa dano a outras pessoas. No entanto, isso acontece muito.

Christianity Today June 3, 2024
Illustration by Abigail Erickson / Source Image: Getty Images

De acordo com o procurador estadunidense Damian Williams, vários trabalhadores alertaram Finbar O’Neill, empresário do ramo da construção de New Jersey, que o muro que ele construiu não era seguro. Mas O’Neill ignorou os avisos. Pode ser que ele tenha encarado aquilo como um pequeno risco que provavelmente valia a pena correr; mas seus empregados estavam tragicamente certos. O’Neill foi acusado, em agosto de 2023, por negligência criminosa, depois que seu “jeitinho” na construção desse muro se tornou mortal.

Em 2017, a empresa de O’Neill, OneKey, estava construindo apartamentos de luxo multifuncionais ao longo do rio Hudson, em Poughkeepsie. As plantas do local previam que fossem colocados, antes do início da construção, grandes montes de terra para compactar o solo [que não estava propriamente firmado]. Em vez disso, o construtor mandou erguer um muro de blocos de concreto, para escorar uma pilha em um ponto, enquanto a obra começava em um terreno vizinho.

O muro ruiu com o peso da terra, matando um trabalhador, Maximiliano Saban, e ferindo outro. Os documentos juntados pela acusação alegam que O’Neill comprometeu a segurança para acelerar a construção.

Casos de negligência como esse são comuns. Em maio deste ano, no Senegal, ocorreu um incêndio em uma unidade neonatal de um hospital. Onze recém-nascidos morreram. De acordo com a declaração inicial do Ministério da Saúde do Senegal, o incêndio provavelmente foi causado por um curto-circuito elétrico que poderia ter sido evitado — havia problemas na fiação elétrica.

“Este país está doente”, tuitou @samba_massaly, um dos muitos senegaleses que foram para as redes sociais após o incêndio no hospital. “Nossos hospitais se tornaram locais de morte. É muita negligência, muita indiferença e muita falta de respeito!”

Quando pensamos em injustiça, normalmente pensamos em danos deliberados, como roubo, assassinato e outros atos criminosos. Mas os danos por negligência também são formas de injustiça.

A igreja entendeu isso ao longo da história. Pecados por omissão (coisas que deveríamos fazer, mas não fazemos) são tão errados quanto pecados por comissão (coisas que não deveríamos fazer, mas fazemos). Uma visão bíblica em prol da justiça protege contra danos acidentais, bem como contra erros intencionais. E também apoia regulamentações feitas para reduzir esses acidentes.

Muitos de nós enfrentamos a tentação de nos contentarmos com algum trabalho não muito bom ou não muito seguro, seja por pressão de tempo, pelo constrangimento de confessar que precisamos de ajuda ou pela crença de que nosso trabalho meia-boca provavelmente não fará mal a ninguém. Mas ser competente, previdente e cuidadoso não são qualidades que dizem respeito apenas à segurança; elas fazem parte da busca cristã pela santidade.

Nossas intenções importam. Jesus ensinou a seus discípulos que as más intenções, quer sejam postas em prática ou não, são pecaminosas (Mateus 5.22, 28). Mas a falta de motivações más não significa necessariamente inocência. Uma pessoa pode não agir com maldade para com outra pessoa, mas ainda assim ser culpada de causar-lhe dano acidentalmente.

Na verdade, o Israel bíblico tinha toda uma classe de leis que tratavam dos pecados não intencionais (Levítico 4.1—5.18).

Se alguém pecar […], ainda que não o saiba, será culpado e sofrerá as consequências da sua iniquidade. Do rebanho ele trará ao sacerdote um carneiro […]. Assim o sacerdote fará propiciação em favor dele pelo erro que cometeu sem intenção, e ele será perdoado (5.17-18)

A atual aversão da nossa cultura pelo perdão torna difícil pedi-lo, quando não tivemos a intenção de fazer mal. Em Israel, porém, os pecados cometidos por acidente — especialmente quando havia negligência — incorriam em culpa da mesma forma que os pecados cometidos intencionalmente. Ambos exigiam expiação.

Com esse padrão tão elevado de justiça, louvemos a Deus por sua graça na pessoa e na obra de Jesus! Para os cristãos, a lei, em todos os seus aspectos — o que inclui os pecados não intencionais — foi satisfeita na cruz. Os cristãos não estão mais “debaixo da lei” e do seu juízo (Gálatas 5.18).

Mas a lei tem muito a nos ensinar sobre a natureza da justiça e do amor de Cristo pelo próximo (Mateus 22.37-40). E isso inclui lições sobre danos acidentais.

Na legislação moderna, as pessoas são culpadas por acidentes se agirem com negligência. Uma outra distinção normalmente é feita entre negligência simples (como não consertar uma cerca ao redor da piscina) e negligência intencional ou grave (como deixar uma criança pequena sozinha perto de uma piscina). A lei bíblica identifica de forma semelhante diferentes graus de culpa com base no grau de irresponsabilidade.

Deuteronômio 19.1-13 apresenta o princípio da negligência, ao comparar dois casos de homicídio. Num dos casos, uma pessoa morreu em um acidente causado pelo que hoje chamaríamos de negligência simples. No caso que é comparado, uma pessoa foi morta intencionalmente. Cada incidente recebeu um veredito diferente, mas ambos os perpetradores estavam sujeitos à punição.

O exemplo do assassinato deliberado começa com “ficar à espreita dele [de seu próximo], atacá-lo e matá-lo” (v. 11). Essa pessoa fez planos [premeditou sua ação]. Esperou por um momento oportuno. Então, foi em frente com seu plano. Foi um caso direto de assassinato ou homicídio intencional (doloso).

No veredito dessa lei, o assassino intencional deveria ser entregue imediatamente para aquele que vingaria o crime. Ele era culpado pelo derramamento de sangue e estava sujeito à plena punição da lei. Sua ação, motivada por más intenções, condenou-o.

O exemplo contrastante é mais complexo. Nele, um homem mata outro por um descuido acidental. Ele estava cortando lenha, quando a lâmina se soltou do cabo do machado. Uma pessoa que estava por perto foi atingida e morreu.

Foi um acidente, mas o homem que manuseava o machado era responsável pelo cuidado e pelo uso que fazia da ferramenta. Qualquer pessoa que utilize uma ferramenta perigosa deve estar ciente dos riscos que ela oferece (Números 35.17-18). O uso do machado vem acompanhado de certo grau de responsabilidade, especialmente quando há outra pessoa por perto.

De qualquer maneira, o veredito atribui uma dose de responsabilidade sobre quem utiliza o machado. A família da vítima estaria em seu direito se tivesse vingado a morte do parente. Porém, por ter sido um acidente, a lei garantia a segurança do homem que empunhou o machado, mandando-o para uma “cidade de refúgio”. Ele receberia asilo, se fosse para o local de refugiados mais próximo e permanecesse lá.

Porém, se ele deixasse a cidade de refúgio, perderia essa segurança. A possibilidade de retribuição permanecia. Ele ainda era o responsável pela morte causada pelo descuido com o machado, embora não tivesse tido má intenção para com a pessoa ferida. (Veja também Números 35.26-27, 32-33.) Assim, Deuteronômio 19.1-13 deixa claro que, nos dois casos, havia alguém moralmente responsável pela morte de outra pessoa.

Deixar de exercer a cautela exigida por uma ferramenta perigosa é uma violação da justiça. Esta compreensão deveria desafiar os cristãos a exercerem o devido cuidado, a devida diligência em todas as áreas da vida.

Seria um erro limitar as leis sobre homicídios, de Deuteronômio 19, a casos de homicídio; esses exemplos extremos são dados para que os extrapolemos para outras situações. É um paradigma jurídico, e não um estatuto abrangente. A passagem sobre homicídio mostra o seguinte princípio: acidentes por negligência simples geralmente incorrem em culpa, embora em uma culpa menor do que no caso de danos intencionais.

Esse princípio ensina-nos a fazer o nosso trabalho com entusiasmo e com toda a cautela, mas sempre atentos a potenciais riscos. Seja cortando lenha, instalando uma tomada, prescrevendo um medicamento, preparando o jantar no fogão, dirigindo um caminhão na estrada ou operando uma máquina industrial, manusear equipamentos perigosos com responsabilidade é um aspecto da santidade de cada indivíduo.

Como vimos, as penas por negligência simples são menos severas do que as penas por danos intencionais. No entanto, há acidentes que merecem penas iguais às aplicadas aos erros deliberados.

A negligência intencional, às vezes chamada de negligência grave, pode aumentar a responsabilidade, equiparando-a à responsabilidade por danos intencionais.

A edição mais recente do Black’s Law Dictionary [O compêndio legal mais conceituado dos EUA; é como uma versão estadunidense do Vade Mecum] define negligência grave como “uma ação ou omissão consciente e voluntária, que ocorre com imprudente desrespeito a um dever legal e a suas consequências para outra parte”. Consiste em uma negligência que foi objeto de ponderação e é consciente, em oposição à falta de ponderação que está por trás da negligência simples.

A maior responsabilidade pela negligência intencional é ilustrada em duas leis bíblicas sobre bois:

Se um boi chifrar um homem ou uma mulher, causando-lhe a morte, o boi terá que ser apedrejado até a morte, e a sua carne não poderá ser comida. Mas o dono do boi será absolvido. Se, todavia, o boi costumava chifrar e o dono, ainda que alertado, não o manteve preso, e o boi matar um homem ou uma mulher, o boi será apedrejado e o dono também terá que ser morto. Caso, porém, lhe pedirem um pagamento, poderá resgatar a sua vida pagando o que for exigido. (Êxodo 21.28-30)

No primeiro cenário, um boi sem histórico de agressão atacou e matou alguém. Foi algo inesperado, que não poderia ter sido razoavelmente previsto. Foi um acidente. Mesmo assim, o dono daquele boi é penalizado. O boi era morto e o proprietário não tinha permissão de ficar com a carne.

Isso representava uma perda significativa para o dono do boi. Ele sofreria uma consequência real por não prender adequadamente o seu boi. Mas foi um incidente por negligência simples, e muito embora o boi fosse um animal grande e inerentemente perigoso, não havia razão para esperar que ele chifrasse alguém.

No segundo cenário, ocorreram quase exatamente os mesmos eventos. Não há diferença entre os fatos dos dois casos — com uma exceção. Neste último caso, o proprietário sabia que seu boi tinha uma tendência à agressão e recusou-se a prendê-lo.

Esta consciência do perigo, que foi deliberadamente ignorado por ele, é o que constitui a negligência intencional. E essa negligência intencional fez uma profunda diferença nas penalidades devidas.

O dono do segundo boi foi punido como se ele próprio tivesse matado a pessoa. A pena capital de morte foi imposta ao dono do segundo boi. No sistema de justiça de Deus, a negligência intencional pode aumentar a responsabilidade de alguém pelos danos acidentais, equparando-a à responsabilidade de quem pretende causar danos.

Numa entrevista sobre ética e design de produtos, Steven VanderLeest, co-autor de A Christian Field Guide to Technology for Engineers and Designers [Um guia de campo cristão sobre tecnologias, para engenheiros e projetistas], ofereceu um exemplo atual de negligência grave. “O Ford Pinto” [um modelo de carro da Ford], disse ele, “foi um exemplo clássico”.

A colocação do tanque de gasolina desse modelo compacto da década de 1970, explicou VanderLeest, “era reconhecidamente perigosa, em caso de colisão traseira”. Apesar de saber deste perigo, a Ford tomou “uma decisão intencional de que isso não causaria acidentes suficientes que justificassem a alteração do projeto, o que teria um alto custo”.

Consciente do perigo, a Ford continuou a produção do carro mesmo assim.

Infelizmente, ocorrem vazamentos de combustível e explosões por gás mesmo no caso de colisões traseiras a velocidades moderadas. Mais de 100 ações foram movidas na justiça contra a montadora. Um dos casos mais célebres foi Grimshaw contra Ford Motor Co.

Durante o julgamento dessa ação, documentos internos da Ford revelaram o conhecimento prévio da empresa sobre a falha do design e seus riscos. O júri concedeu US$ 127,8 milhões em indenização aos demandantes nesse caso. “Naquela época”, observou VanderLeest, “[foi] a maior ação civil indenizatória [da história jurídica norte-americana]”. A Ford começou a resolver outros casos por acordo, fora dos tribunais, e emitiu um recall voluntário para corrigir a falha de design do modelo.

Os danos nesse caso foram acidentais. A montadora não pretendia causar ferimentos nem mortes. Mas também não tomou as medidas necessárias para impedi-los. O problema já era bem conhecido deles. De acordo com os padrões bíblicos de justiça, a negligência intencional exige penas semelhantes às que são necessárias para danos intencionais.

Contudo, a mitigação de riscos não é mera questão de atenção do indivíduo. A lei bíblica dá o exemplo da importância da regulamentação por parte da comunidade para reduzir acidentes.

VanderLeest explica: “Quanto mais poderosa a tecnologia, mais a sociedade precisa implementar regulamentações, porque quanto mais complexa e mais poderosa [é a tecnologia], mais difícil fica prever todas as maneiras pelas quais as coisas podem dar errado.”

As tecnologias do antigo Israel não eram tão poderosas quanto as nossas, mas as suas leis regulamentavam as tecnologias de que dispunham [na época] para mitigar os danos. Por exemplo, Deus deu a Israel um código de edificação para a prática de projetos e métodos de construção seguros.

Aqui está uma das diretrizes: “Quando você construir uma casa nova, faça um parapeito ao redor do terraço, para que não caia sobre a sua casa a culpa de sangue inocente caso alguém caia do terraço.” (Deuteronômio 22.8).

Os telhados planos das antigas casas hebraicas, como acontece com muitas construções no Oriente Médio de hoje, eram usados para lazer e, às vezes, para dormir. Como era sabido que as pessoas se reuniam no telhado, não tomar as medidas de segurança nessa área constituía negligência intencional. Se alguém caísse e morresse, o construtor poderia ser acusado de homicídio (“a culpa de sangue inocente”).

O conceito de negligência e sua impiedade aparece nos regulamentos sanitários de Israel, bem como nos seus regulamentos de segurança. Levítico 13—14, por exemplo, fornece instruções para a purificação de pessoas, casas e roupas infectadas com doenças que, no hebraico, são chamadas tsara’at. No caso de pessoas, tsara’at parece referir-se a várias doenças de pele ulcerativas que já não são conhecidas (não são o que hoje se chama lepra — a hanseníase). Em casas e roupas, o termo indicava uma infestação por mofo ou fungos.

De acordo com Levítico 13—14, Israel tinha regulamentos para notificar, inspecionar e remediar essas condições. Estes processos foram instituídos para impedir a propagação do tsara’at e para restaurar a pureza ritual dos afligidos.

A saúde era um aspecto da integridade ritual do povo diante de Deus. A principal preocupação das regras do tsara’at era o povo estar pronto para adorar.

Impedir a propagação de doenças parece não ter sido o ponto principal, mas era um aspecto significativo da integridade da nação. Garantir que as casas fossem construídas de forma segura e que os surtos não se propagassem era uma preocupação social que exigia medidas protetivas sistêmicas, com aplicação na comunidade. Não eram meras questões pessoais.

O chamado para que o cristão viva com justiça requer, portanto, tanto o cuidado para evitar a negligência pessoal quanto o apoio a regulamentações adequadas de saúde e de segurança da comunidade.

As sociedades de hoje têm graus muito variados de regulamentação contra danos acidentais, como o caso da propagação de doenças. James Knox, médico e missionário presbiteriano ortodoxo, serviu em hospitais americanos onde, segundo ele, as regulamentações pareciam extremamente meticulosas. Ele também serviu em clínicas de países em desenvolvimento onde, segundo ele, as regulamentações são assustadoramente frouxas, permissivas. Atualmente, ele serve na Clínica Presbiteriana Akisyon A Yesu (“Compaixão de Jesus”), em Nakaale, Uganda.

Há dois anos, Knox servia no Joy Health Centre and Hospice [Centro de Saúde e Cuidados Paliativos Joy] em Mbale, Uganda. Naquela época, ele teve a honra nada invejável de ser o médico que atendeu a primeira morte registada por COVID-19 em Uganda.

Numa entrevista à CT, Knox lembrou: “As autoridades de saúde do governo chegaram com equipamento de proteção e instituíram de imediato quarentenas rigorosas. Inicialmente, a resposta do governo parecia forte”.

“Mas”, continuou ele, “dentro de dois a três meses, a coordenação governamental desapareceu e a nossa clínica não conseguia sequer obter testes para COVID ou equipamentos de proteção”.

Essa supervisão do tipo tudo ou nada é típica, segundo Knox. Casos como este mostram que o problema do Ford Pinto pode surgir em qualquer cenário onde soluções reais pareçam muito difíceis de implementar.

Qual é o nível de negligência que um governo ou uma empresa considera que vale a pena tratar? Algumas vezes, eles aceitam multas e perder processos judiciais como custo para fazer negócios ou promover o avanço do poder político. Mas o povo de Deus precisa levar em conta os valores de Deus, e não outras recompensas e desvantagens da negligência.

A comunicação e a supervisão podem ser onerosas. Ainda assim, os códigos de edificação de Israel e os protocolos levíticos do tsara’at mostram-nos que Deus espera que as comunidades estabeleçam políticas de cooperação para reduzir danos.

A Bíblia não fornece uma lista de regulamentos apropriados para cada época e lugar, nem muitos detalhes sobre como devem ser administrados. Esses tipos de decisões variam de sociedade para sociedade, e são assuntos para deliberação da comunidade. São deliberações que os cristãos devem apoiar e das quais devem participar.

Os evangélicos são normalmente bem organizados para apoiar questões como leis pró-vida e de liberdade religiosa. A influência da Bíblia também deveria levar os cristãos a defenderem medidas protetivas sistêmicas contra danos não intencionais, como edifícios inseguros e surtos de agentes patogênicos.

A justiça, em determinada sociedade, não é um trabalho apenas do sistema judicial. Também não se limita à restrição de transgressões deliberadas, por meio da polícia ou de outros meios. A justiça é dever de cada um de nós diante de Deus (Miqueias 6.8) e inclui a busca da prevenção de acidentes.

A lei na Bíblia oferece paradigmas, apresentados nas práticas do antigo Israel, que nos ajudam a pensar sobre esses aspectos da santidade a serem aplicados hoje. Há uma necessidade enorme de um forte testemunho cristão a este respeito, especialmente com o poder cada vez maior das tecnologias modernas e seu respectivo potencial para danos acidentais.

Mesmo nos EUA, onde os acidentes são mais raros do que em outras regiões do mundo, o seu alcance é grave. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) publicaram recentemente um estudo sobre as “Dez principais causas de morte nos EUA, para idades de 1 a 44 anos, de 1981 a 2020”. A causa número um de morte nessa faixa etária, durante essas quatro décadas, foi “lesão não intencional” — uma categoria que, tragicamente, aumentou nos últimos anos devido a overdoses de drogas. Quase 2,5 vezes mais pessoas morreram de lesões não intencionais (mais de 2 milhões) do que de câncer (868.100), a segunda fatalidade mais comum.

É claro que os riscos nunca podem ser totalmente evitados. Na teoria, a lei de Israel poderia ter banido totalmente os bois das fazendas hebraicas, para evitar que as pessoas fossem chifradas. “Onde não há bois”, declara Provérbios 14.4 (ESV), “a manjedoura fica vazia”, e também não há acidentes com bois; “mas da força do boi vem grande colheita.”

Deus chama a humanidade a ser produtiva e corajosa, empenhando-se para administrar o mundo e desenvolver comunidades. Os riscos não são inteiramente evitáveis, nem são necessariamente fruto de negligência. Mas os danos acidentais devem ser meticulosamente minimizados. E quando os riscos são conhecidos, seria negligência deliberada ignorá-los.

Podemos extrapolar fielmente para além do gado e das regulamentações semelhantes à da OSHA [instituição norte-americana que supervisiona a segurança e a saúde no trabalho]. Assim como os donos de boi na Bíblia, o dono de um animal de estimação nos dias de hoje deve tomar certas precauções, se sabe que o animal é agressivo. Enviar mensagens de texto enquanto dirige é extremamente perigoso; é negligência intencional enviar mensagens de texto enquanto dirige.

Saber que testou positivo para a COVID-19, mas deixar de tomar precauções contra a propagação da doença é outro exemplo atual de negligência intencional. Agir assim nos levaria a ter uma responsabilidade maior — aos olhos de Deus pelo menos, se não aos olhos da lei —, caso outros venham a ser infectados e prejudicados em consequência disso.

Este princípio também orienta a forma como tratamos o abuso sexual na igreja. Tal como o homem que sabe que o seu boi é propenso à agressão, os líderes que estão cientes das tendências de um agressor são responsáveis por fazer uso desse conhecimento.

Deixar o abuso intencionalmente sem solução ou não lhe dispensar o devido tratamento é negligência, e as pessoas que têm autoridade para evitar mais danos não são inocentes, caso esses danos venham a acontecer. Cumplicidade, neste caso, não significa que elas colaboraram com o agressor; significa que elas não tomaram medidas responsáveis.

No âmbito da visão bíblica de justiça, a negligência intencional pode ser tão grave quanto o dano intencional. Dedicar total atenção a todos os riscos conhecidos, mesmo quando em decorrência disso são exigidos sacrifícios, faz parte da nossa busca cristã por santidade.

Michael LeFebvre é ministro presbiteriano, estudioso do Antigo Testamento e membro do Centro para Pastores Teólogos. Ele é o autor de The Liturgy of Creation: Understanding Calendars in Old Testament Context [A Liturgia da Criação: Compreendendo os Calendários no Contexto do Antigo Testamento].

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Books

‘The Chosen’ é hoje o programa de TV mais traduzido do mundo

A série sobre Jesus está disponível em 50 idiomas, e há planos para traduzi-la em mais 550.

Christianity Today May 31, 2024
Courtesy of The Chosen

As cenas que Stan Jantz, CEO da Come and See [Venham e Vejam], via eram familiares, mas não a lingua que ele ouvia.

Sentado em um teatro de Varsóvia, ele olhava ao redor e via pessoas rindo e chorando nas mesmas cenas em que ele riu e chorou, quando assistiu The Chosen, a popular série de streaming que conta a história de Jesus através dos olhos dos discípulos. Essa foi a hora da verdade para Jantz. O teste mais genuíno para uma tradução — que vai além da mera precisão — é ver se ela se conecta com os corações das pessoas.

“A tradução também precisa ser bonita”, disse Jantz à CT. “É tanto arte quanto ciência.”

A Come and See já dublou ou legendou The Chosen em 50 idiomas até agora. O grupo tem planos de traduzir a série para mais 550 idiomas.

Nenhum programa de TV na história foi traduzido para tantos idiomas. Poucos são os programas dublados mais do que um punhado de vezes, mesmo em uma época em que a audiência de programas legendados e dublados aumentou drasticamente, graças aos planos globais de comercialização dos serviços de streaming. A Netflix pode dublar programas em cerca de 36 idiomas, mas traduz principalmente para os idiomas francês, alemão, polonês, italiano, turco, espanhol europeu, espanhol latino e português do Brasil. Alguns dos programas muito populares ganham remakes em outro idioma, como a série Suits, que tem versões em japonês, coreano e mongol.

Baywatch, programa estrelado por David Hasselhoff e Pamela Anderson, foi traduzido para 34 idiomas. Esse era o recorde, até a Come and See começar a lançar versões dubladas da série The Chosen.

Não há muito lucro na dublagem, então, os esforços de empresas com fins lucrativos só vão até certo ponto. Mas uma organização sem fins lucrativos como a Come and See pode fazer mais.

O grupo quer atingir 1 bilhão de pessoas com a série, para que The Chosen possa conectar as pessoas a Jesus e trazê-las à fé. A Come and See fez parceria com The Chosen para traduzir a série para públicos que, de outra forma, jamais teriam a oportunidade de assistir, em seu próprio idioma, a Jesus caminhando sobre as águas, curando os enfermos e pregando as Boas Novas.

“É um enorme desafio”, disse Jantz, “mas consideramos um objetivo importantíssimo”.

As versões dubladas da série The Chosen estão atualmente disponíveis em um aplicativo. A Come and See leva de três a cinco meses para traduzir uma temporada do programa para um novo idioma. O grupo faz parceria com outras organizações especializadas em tradução para agilizar o processo.

Tal como acontece com os projetos de tradução da Bíblia, a Come and See priorizou os idiomas mais falados em locais onde uma tradução da série pudesse ter impacto em um número maior de pessoas.

“Mas há o que eu chamaria de exceções”, disse Jantz.

Uma das primeiras 50 traduções, por exemplo, foi para o malgaxe, idioma falado por cerca de 25 milhões de pessoas em Madagáscar e em Comores. Esse trabalho de dublagem foi priorizado a pedido do presidente de Madagáscar, Andry Rajoelina.

Ele assistiu à série e queria que todos em seu país pudessem assistir também, disse Jantz. É típico que os programas de TV sejam legendados para os telespectadores no país insular africano, mas muitas pessoas em Madagáscar não sabem ler. Rajoelina queria que essas pessoas também entendessem a série The Chosen.

The Chosen foi dublado para o idioma malgaxe em 2023. Acredita-se que seja o primeiro programa dublado nesse idioma. O impacto foi poderoso.

“Continua gerando efeito até hoje”, disse Jantz. “Já se passou quase um ano desde que a dublagem foi feita, mas ainda recebemos histórias de como eles estão levando esses episódios traduzidos para lugares remotos. É realmente emocionante ver tudo isso acontecendo”.

A tradução mais assistida da série The Chosen, até o momento, é a do português do Brasil. Os dois primeiros episódios da 4ª. temporada foram exibidos em 1.100 telas, pelo Brasil inteiro, e vistos por 275 mil pessoas.

“Nossa oração é que esta série seja usada por Deus para ter um impacto significativo em todo o mundo e que possa apresentar a muitos a esperança que só encontramos em Jesus”, disse Rick Dempsey Sr., vice-presidente da Come and See, em um e-mail enviado à CT.

No entanto, a tradução é um desafio. A Come and See não só precisa avaliar o número de pessoas que gostariam de assistir The Chosen em outro idioma, mas também avaliar se há tecnologia disponível na área para que as pessoas possam assistir à série. Dempsey chama isso de “vitalidade digital” de uma língua.

Quando a Come and See decide traduzir The Chosen para determinado idioma, eles procuram pastores, tradutores da Bíblia e estudiosos da Bíblia que falem esse idioma.

“Sempre que o roteiro em inglês inclui uma citação literal das Escrituras, é crucial garantir que faremos referência à passagem correspondente na tradução da Bíblia para o vernáculo”, disse Dempsey. “E documentamos [acrescentando] o livro, o capítulo e o versículo da Bíblia de onde vem uma citação, para ajudar a garantir a consistência.”

Eles também precisam encontrar falantes nativos e especialistas naqueles idiomas para ajudar com expressões idiomáticas do inglês. Expressões como sitting ducks [expressão que se refere a algo ou alguém sem proteção que está sendo atacado] ou strain of thought [que pode ser traduzida como ‘linha de pensamento’] — ou mesmo born again [nascer de novo] — podem ser facilmente mal interpretadas, se não forem tratadas com cuidado, disse ele.

Um dos especialistas que ajudou foi Imed Dabbour, jornalista e poeta cristão da Tunísia. Dabbour começou a assistir The Chosen com seus filhos, durante a pandemia da COVID-19, e adorou.

“A mensagem cristã singular da série diz muito, em especial através de sua representação genuína de Jesus e da história única e comovente de Mateus, que repercute em mim de uma forma pessoal”, disse ele. “Quando me deparei com um plano para traduzir a série para o árabe, senti-me compelido a me oferecer e a agir.”

Dabbour, assim como Jantz, acredita que a precisão é realmente importante, mas que o teste da tradução consiste em captar as sutilezas linguísticas e em se conectar com as pessoas no nível emocional.

“Nós nos esforçamos para transmitir de forma eficaz a mensagem pretendida ao público do Oriente Médio, respeitando as nuances culturais. É um equilíbrio delicado”, disse ele. “Levar a série a diversos públicos em sua língua materna é uma maneira poderosa de tocar corações e despertar a curiosidade, potencialmente levando os espectadores a explorar mais as Escrituras.”

Kyle Young, chefe do departamento de marketing e distribuição da série, disse que o programa já atingiu 200 milhões de espectadores. A audiência fora dos EUA é hoje maior do que a audiência americana. A série é especialmente popular em locais como Brasil, México, Índia, Polônia e Filipinas.

“Vimos uma explosão da série The Chosen em todo o mundo”, disse ele à CT. “Se o trabalho de tradução fosse fraco, certamente não veríamos esse nível de engajamento. Esse é um grande aspecto do sucesso internacional.”

Espera-se que The Chosen termine após mais três temporadas. A tradução do programa para mais 550 idiomas continuará por anos depois disso, segundo Jantz. Ele acha que vale a pena, porque a série é mais do que uma série. As pessoas que a assistem podem se tornar não só fãs, mas seguidoras de Jesus.

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Como a oração funciona e que peso ela tem sobre a realidade?

Por que os cientistas lutam para colocar esta prática espiritual sob as lentes de um microscópio.

Christianity Today May 30, 2024
Boston Globe / Getty Images

Orar pode ser fácil. Uma oração pode ser um pensamento, uma palavra, um apelo ao céu feito por alguém necessitado, umas poucas linhas ditas espontaneamente ou recitadas de um livro, ou até mesmo um simples lamento. Já compreender o que uma oração faz, depois que sai dos seus lábios, é um pouco mais difícil. Teólogos cristãos debatem há muito tempo como funciona a oração e o que significa dizer que ela “funciona”. E cientistas também.

O psicólogo Kevin L. Ladd, professor da Universidade South Bend de Indiana, examinou recentemente algumas das extensas pesquisas recentes sobre oração, para a Fundação John Templeton. Analisando mais de 40 estudos psicológicos, concluídos nos últimos anos, sobre o impacto da oração nas relações íntimas, Ladd descobriu que há algumas evidências de correlações positivas entre a oração e a melhoria dos relacionamentos. Segundo ele, “pode ser proveitoso encorajar as pessoas a se envolverem com algumas formas de oração como ferramentas de enfrentamento”.

Em um estudo após o outro, porém, Ladd, autor de The Psychology of Prayer: A Scientific Approach [A psicologia da oração: uma abordagem científica], também descobriu que as pesquisas não refletiram com muito cuidado sobre o que é a oração. De certa forma, elas continuaram apontando seus telescópios na direção errada.

Ladd falou à CT sobre os limites das pesquisas sobre oração.

Por que é difícil estudar cientificamente a oração?

Se você não está familiarizado com a prática da oração e com o porquê de as pessoas orarem, é muito fácil vê-la como se alguém estivesse proferindo declarações definitivas ou fazendo algo sobre o qual alega ter controle total. A diferença, no caso da oração, é que você pode estar dizendo coisas que parecem muito ativas e assertivas sobre o que deseja que aconteça no mundo e, ao mesmo tempo, estar abrindo mão do controle. Você está dizendo: “Estou entregando essa preocupação [a Deus]”.

O núcleo metafísico da oração — aquilo que Deus faz — não é acessível para a ciência. Isso está fora do alcance. Mas o que podemos estudar de forma eficaz, enquanto cientistas, é como as pessoas agem em decorrência da oração. O que as leva à oração? O que elas fazem quando oram? E depois de orar, como elas se comportam?

Está dizendo que, se eu orar pelo meu próximo, você poderia estudar os efeitos dessa oração em mim, mas não no meu próximo?

Sim. Isto vai ao encontro da ideia sobre “pensamentos e orações”, que tem sido tão atacada. Se eu dirijo meus pensamentos e minhas orações ao meu próximo, não consigo ver o que a oração em si está fazendo, mas consigo ver o que eu estou fazendo.

Se estou orando pelo meu próximo, isso muda meu comportamento em relação a ele? Talvez meu coração descanse em Deus, mas minhas mãos estejam em ação. Podemos ver se essas duas coisas andam juntas. Uma pessoa ora pelo próximo. Outra não. Mas qual delas realmente vai e faz alguma coisa por esse próximo? Quem está dedicando a ele seu tempo, seus talentos, seus recursos? Sim, podemos estudar isso, e descobrimos que de fato tem um efeito.

Nem todos oram da mesma maneira. Oração não significa a mesma coisa para todo mundo. Então, como os pesquisadores definem a oração?

A abordagem padrão é deixar isso em aberto para o participante e dizer: “Faça o que você costuma fazer, quando diz que está orando, e então conversaremos sobre isso”. Você deixa isso totalmente em aberto.

Há muita variação individual. Depois de ter conversado com milhares de pessoas em comunidades religiosas, em igrejas, pessoas que se dedicam à oração, descobri que muitas delas — quase metade — relatam que nunca ninguém lhes perguntou nada sobre oração, o que fazem [quando oram] e o porquê.

Esta linha de pesquisa abre espaço para muitas conversas sobre a natureza da espiritualidade. Um dos maiores medos das pessoas é não estar orando direito.

Como você começou a estudar oração?

Ela sempre fez parte da minha vida como cristão. Meu pai é pastor na Igreja Metodista Unida. Fui para o seminário e, como parte do meu treinamento lá, passei um tempo trabalhando em um serviço de testes educacionais, o que é uma espécie de caminho atípico no seminário. Meus amigos estavam estudando grego e hebraico e eu ficava falando sobre estatísticas e projetos de pesquisa.

Meu primeiro estudo, durante meu trabalho de doutorado, foi sobre um grupo de sobreviventes de câncer de mama, e era voltado para os exercícios e as coisas que elas faziam para cuidar de si mesmas, depois de terem sobrevivido ao câncer, e muitas falaram espontaneamente sobre como a oração era importante para elas. Então pensamos, bem, deveríamos olhar para isso. Na época — há 30 anos — isso era uma novidade.

Há quanto tempo as pessoas estudam a oração cientificamente? Quando esse projeto começou?

Não sei se você se lembra da história de Gideão e da porção de lã, como ele a colocou [na eira] e disse a Deus: “Molhe-a!” e “Deixe seca a terra ao redor!” Isso tem as características de um estudo.

Se procurarmos uma abordagem científica mais moderna, chegamos ao século 19 e a Francis Galton. Ele estava mergulhado no pensamento da Grã-Bretanha vitoriana: se a oração está produzindo algum efeito, então, você ora ainda mais, e a oração deverá produzir mais efeitos. Bem, e quem recebe mais orações? A Igreja Anglicana ora pela saúde do monarca o tempo todo. Se é assim, o rei deveria estar com ótima saúde! Acontece que, na verdade, não funciona dessa maneira, mas essa ideia lançou o debate sobre o medidor de oração, que já dura há tempos.

Do jeito que eles pensavam naquela época, as pessoas estavam orando, a oração brotava de seus lábios ou de seus corações e, então, algo metafísico acontecia e influenciava o monarca. As pessoas ficavam perplexas com essa parte intermediária, no entanto. Com a questão metafísica.

Com o tempo, essa abordagem caiu em desuso. Acho que isso aconteceu porque as pessoas estavam tentando medir uma coisa metafísica, e não conseguiam. E acabavam dando de frente com um muro. Há um componente faltando.

Parte da dificuldade também é um problema de medição? Parece que a oração não pode ser medida da mesma forma que a ciência trata a medição.

Sim. É interessante, se você pensar bem, que uma das coisas que Galton presumia era que quanto mais oração, melhor era. Mas se você mergulhar em qualquer tradição religiosa, e se aprofundar no [seu] texto, nunca há garantias de que mais é melhor. Não é como uma dose de aspirina. A Bíblia diz muitas coisas sobre a oração excessiva não ter efeito, seja quando os profetas de Baal tentam invocar fogo em uma competição com Elias, seja quando Jonas ora, porque quer ver Nínive destruída e Deus não o faz. Mais oração não necessariamente causa maiores efeitos.

Há também muitas pessoas, em todas as congregações, cuja preocupação é que devemos ter cuidado por não estar orando direito. Se dissermos que “cientificamente, a oração faz tais e tais coisas” e depois não funcionar, estamos dizendo que a pessoa não orou direito. Esse é o ponto fraco insidioso de muitas pesquisas científicas sobre a oração. Culpamos a vítima.

Você volta aos textos religiosos e vê que não é isso que dizem sobre a oração. Eles articulam com muito mais nuances e complexidades o que torna uma oração boa, e isso pode ou não estar conectado de forma direta a algum efeito que podemos ver.

Estudar a oração tem o efeito colateral de ajudar as pessoas a verem a oração de maneira diferente?

Espero que parte do que a pesquisa mostre seja que não existe uma única maneira de as pessoas orarem. Não há uma única maneira de orar em termos de linguagem. Não há uma única maneira de como usar seu corpo [quando ora]. Não há um único horário em que se deve orar. Há uma infinidade de maneiras de orar. Espero que isso seja algo que as pessoas entendam.

E se a sua oração não passa de um pensamento fugaz que se dirige a Deus? Ela conta? Bem, acho que alguns teólogos diriam que sim.

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Conte-me suas crenças sobre sexo sem dizer uma só palavra

O que fazemos com nosso corpo revela histórias e mitos que nos moldam.

Christianity Today May 30, 2024
Ilustração de Rick Szuecs / Fonte das imagens: Envato Elements

Quando o assunto é ética sexual, cristãos e não cristãos tendem a ter visões profundamente diferentes. Todavia, essas diferenças podem obscurecer o modo que ambos vivem sob a influência de histórias e mitos sobre o significado e o propósito do corpo humano — e, frequentemente, nem ao menos percebem isso. No livro Every Body’s Story: 6 Myths about Sex and the Gospel Truth about Marriage and Singleness [A história de cada corpo: 6 mitos sobre sexo e a verdade do evangelho sobre o casamento e a solteirice], Branson Parler faz uma análise dos mitos de maior influência fora da igreja (o individualismo, o romance, o materialismo) e dentro dela (a teologia anticorpo, o legalismo e o evangelho da prosperidade sexual).

Rachel Gilson, escritora e ministra de jovens universitários, conversou com Parler — diretor de educação teológica no The Foundry, um ministério baseado em Grand Rapids, Michigan — sobre a relação entre nosso corpo e as verdades centrais do evangelho.

O título do seu livro levanta uma pergunta: Como o corpo conta uma história?

Cada história implica um modo de viver no corpo. Por meio daquilo que faz, o nosso corpo aponta para a narrativa maior da qual faz parte. Portanto, se eu quiser de fato compreender suas convicções mais profundas, preciso observar o que você faz [ou como se relaciona] com o próprio corpo. Trabalho, descanso, dinheiro, ambição, sexo — tendemos a ver essas coisas como peças desconectadas, em vez de vê-las como peças que estão entrelaçadas em uma única história.

É fácil falar sobre nossas crenças de um ponto de vista intelectual. É bem mais complicado perceber como o modo que vivemos revela nossas convicções mais profundas sobre o que consideramos uma vida boa. Tome como exemplo os ritmos de trabalho e descanso, ou o Sabbath. Dizer que acredito que Deus cuidará de mim é uma coisa; no entanto, de fato parar de trabalhar [e confiar nisso] é algo completamente diferente.

A maioria de nós conta uma história sem nem ao menos perceber. Contudo, se você observar alguém por alguns dias, semanas ou meses, enxergará essa história com muito mais clareza.

Você aborda mitos seculares e cristãos sobre o corpo. O que lhe inspirou a incluir mitos que influenciam esse dois grupos?

De um lado, minha inspiração veio do desejo de ajudar a mim mesmo, meus alunos e minha igreja a entender nossa própria cultura. Precisamos estar cientes das histórias que nos moldam e formam. No entanto, identificar tais histórias em nossa própria cultura pode ser particularmente desafiador, pois são pressupostos que consideramos naturais e inquestionáveis. Como cristãos, podemos facilmente cair na armadilha de pensar: “Ora, a cultura secular está repleta de narrativas problemáticas, mas a igreja sabe o que é certo.”

Para quem cresceu na igreja durante a era da cultura da pureza, especialmente quando se falava de sexo, corpo, casamento e solteirice, éramos bombardeados com uma teologia do “não”. Nunca ouvíamos falar do “sim” do amor abnegado que o evangelho propõe. Assim, podemos facilmente reconhecer as falhas da cultura em geral em relação ao que o evangelho ensina, mas também precisamos ver em que pontos a cultura da igreja falha nesse mesmo aspecto.

Depois de pesquisar e escrever seu livro, em qual mito você acha que os evangélicos americanos são mais propensos a acreditar? E qual mito eles são mais propensos a propagar?

Eu diria que é o mito do legalismo, a crença de que a justificação decorre do nosso próprio bom comportamento, e não da graça. Talvez isso esteja mudando, mas a mentalidade “comportar-se, crer, pertencer”, nessa exata sequência, ainda persiste em muitas igrejas. Em outras palavras, a primeira coisa que buscamos em potenciais futuros membros é se eles agem de acordo com o esperado, pelo menos no que diz respeito às coisas que consideramos importantes.

Devido a este modelo, que coloca o comportamento em primeiro lugar, nem sempre sabemos como interagir com pessoas que, numa cultura cada vez mais secular, são propensas a receber esse apelo para se comportar como algo opressor. Assim, acabamos traçando limites nada proveitosos entre quem é da igreja e quem é de fora. O legalismo acaba sendo o ponto de articulação para os outros mitos, pois, se você cair no legalismo, então haverá um efeito cascata e cairá em todos os outros [mitos].

Por que você sentiu necessidade de escrever não só uma, mas duas vezes, que “Jesus tem pênis”?

[Risos] Isso soa exagerado? Não levamos nossos próprios corpos a sério porque não levamos o corpo de Jesus tão a sério quanto deveríamos. No meu livro, falo de como somos salvos através de Cristo, com seu corpo sexuado e dotado de gênero. Essa ideia demonstra que Deus não está isolado da criação, mas assume a humanidade, o que se traduz em ter um corpo físico. Meu objetivo foi tentar fazer com que essa ideia soe tão escandalosa para os bons cristãos de hoje quanto foi, quando pregada pela primeira vez no mundo antigo.

O Novo Testamento nos ensina que o Verbo se fez carne em Cristo. Às vezes, podemos adotar esse distanciamento intelectual da realidade, o que nos leva a subestimar o envolvimento de Deus com o mundo em que vivemos. Em minhas aulas, costumo mencionar que Jesus também soltava gases [como qualquer ser humano]. A atitude dos alunos é sempre a mesma: ficam sem saber como reagir, pois essa informação não se encaixa na imagem que eles têm de Jesus. Estou tentando encontrar maneiras de lembrar às pessoas que a Palavra de Deus é estranha, inusitada, e talvez a coisa mais inusitada sobre a Palavra seja que o Verbo se fez carne.

Como cristãos, nos dias de hoje, qual é a questão relacionada ao corpo na qual deveríamos pensar mais?

Eu sei que esse assunto pode ser delicado, mas acredito que, quando perguntamos para que serve o nosso corpo, para que serve o sexo, precisamos refletir com mais atenção sobre as tecnologias reprodutivas e a contracepção. Assim como acontece com outros assuntos, as pessoas geralmente consideram esses temas como questões éticas isoladas. No entanto, eles revelam uma narrativa que está por trás.

Não cabe a mim julgar ninguém por suas escolhas. Na verdade, uma das razões que me levaram a refletir mais profundamente sobre essas questões foi a minha experiência como pai. No entanto, as pessoas tendem a considerar a vasectomia ou os métodos contraceptivos como decisões individuais, em vez de ponderar sobre o que essas escolhas revelam sobre a natureza do nosso corpo e da realidade em si. Embora respeite a consciência de cada um, acredito que a consciência cristã deva ser guiada pela Escritura e pela comunidade cristã, e não por coisas como dizer “Já tenho dois filhos. Mais do que isso é complicado”.

Você frequentemente destaca a importância da solteirice em paralelo com o casamento. Por quê?

Por vezes, nossa abordagem ao estado de solteiro não tem sido muito bíblica. Não levamos Paulo ou Jesus a sério o suficiente. Ser solteiro faz sentido em nossa história porque a igreja é a família de Deus e, assim sendo, é a nossa primeira família. O casamento não é nosso propósito supremo. Todos somos, antes de tudo, membros do corpo de Cristo. Devemos nos amar como irmãos, fazer votos uns aos outros e viver a vida juntos. Isso vale para todos os discípulos, e o estado civil de uma pessoa não faz de ninguém um cidadão de segunda classe no corpo de Cristo. Precisamos recuperar mais plenamente o senso de pertencimento uns aos outros. A solteirice traz solidão, e o casamento também traz — mas, em Cristo, nenhum de nós está verdadeiramente sozinho.

Qual é a sua maior esperança para esse livro?

Minha esperança é que as pessoas reconheçam que há uma ligação entre as boas novas do evangelho e aquilo que fazemos com nossos corpos. Nossa subcultura cristã passou pela cultura da pureza, pelo evangelho da prosperidade sexual e pela teologia anticorpo, e já vimos para onde essas ideias nos levaram. Espero que tenhamos chegado em um beco sem saída, orquestrado por Deus.

Contudo, acredito que a cultura secular também está percebendo que suas próprias narrativas não estão se sustentando. Um livro recente, Rethinking Sex [Repensando o sexo], de Christine Emba, analisa essa dinâmica, apontando que nunca fomos mais livres e nunca fomos mais infelizes. Então, minha esperança é que meu livro auxilie os cristãos a viver e a comunicar o evangelho de modo que outras pessoas percebam sua força, mesmo que optem por não aceitá-lo. Queremos que as pessoas vejam o “sim” do evangelho, pois é isso que nos atrai. Apenas crianças pequenas podem viver à base de “nãos”, e estamos presos em um estágio inferior de desenvolvimento se essa for a única maneira que temos de abordar essas questões.

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Books

Missionários americanos são mortos em Porto Príncipe

Um confronto entre gangues no Haiti deixa três mortos e uma casa em chamas. E a intervenção das forças internacionais ainda é aguardada.

Davy (à esquerda) e Natalie (centro) Lloyd trabalhavam em um orfanato no Haiti desde 2022.

Davy (à esquerda) e Natalie (centro) Lloyd trabalhavam em um orfanato no Haiti desde 2022.

Christianity Today May 27, 2024
Missions in Haiti

Dois jovens missionários americanos foram assassinados no Haiti no dia 23 de maio, em meio à crise contínua da violência de gangues que assola o país.

Davy e Natalie Lloyd, bem como Jude Montis, membro da equipe haitiana e líder de igreja, foram emboscados por três caminhões cheios de membros de gangues, na saída de um culto do grupo de jovens, em Porto Príncipe, de acordo com a página do Facebook da organização Missions in Haiti [Missões no Haiti]. Enquanto homens armados roubavam vários veículos, nos quais colocavam o que era saqueado da missão, outra gangue chegou e os dois grupos entraram em confronto violento.

“Não tenho certeza do que aconteceu, mas alguém foi baleado, morreu, e então essa gangue começou um ataque generalizado”, escreveu um missionário que recebia nos EUA relatos dos acontecimentos. “Davy, Natalie e Jude [estavam] na minha casa, no fundo da propriedade, usando a internet Star Link para me ligar. Eles estavam escondidos lá, e as gangues começaram a atirar em todas as janelas da casa e não paravam de atirar.”

A organização Missions in Haiti teria tentado entrar em contato com a polícia haitiana, sem sucesso. Então, as linhas telefônicas caíram.

“POR FAVOR, OREM”, pediu a organização aos seus 4.500 seguidores no Facebook. “Vai ser uma longa noite.”

Por volta das 21h, a casa [em que os missionários estavam] estava em chamas e Davy e Natalie Lloyd, bem como Jude Montis estavam mortos.

Jude tinha 45 anos. Davy tinha 23. Natalie, 21.

“Meu coração está partido em mil pedaços”, escreveu Ben Baker, pai de Natalie e deputado estadual pelo estado do Missouri. “Nunca senti uma dor como essa.”

Gangues criminosas mataram perto de 5.000 pessoas no Haiti no ano passado. Depois, em 2024, as gangues uniram-se, voltaram-se contra os políticos que antes colaboraram com elas por poder, e empreenderam ataques coordenados contra o governo. As gangues incendiaram delegacias de polícia, fecharam o aeroporto principal e o porto marítimo e invadiram duas prisões, libertando cerca de 4.000 presos. Vandalizaram escritórios do governo, invadiram o Palácio Nacional e assumiram o controle de cerca de 80% da capital.

“Hoje, elas são um poder em si mesmas”, disse à Associated Press Robert Fatton, professor de governança e relações exteriores na Universidade da Virgínia. “A autonomia das gangues atingiu um ponto crítico. É por isso que, hoje, elas são capazes de impor certas condições ao próprio governo.”

O primeiro-ministro renunciou em abril, e foi criado um conselho governamental interino, que ficou encarregado de reprimir a violência e restaurar a ordem.

Uma missão de paz aprovada pela ONU, composta por 1.000 agentes da polícia queniana, está sendo reiteradamente adiada. Duzentos deles deveriam chegar no Haiti na quinta-feira (23 de maio) — quando o presidente queniano, William Ruto, reuniu-se com o presidente dos EUA, Joe Biden, na Casa Branca —, mas o voo de Nairóbi foi cancelado no último minuto.

Os policiais não receberam nenhuma explicação para o atraso e foram orientados a aguardar, segundo a Reuters, porque poderiam embarcar a qualquer momento. Autoridades dos EUA disseram que a força não possui os veículos blindados, helicópteros, armas e equipamentos de comunicação necessários para a operação.

O governo americano alocou 300 milhões de dólares para a missão. Desde abril, os EUA evacuaram centenas de cidadãos americanos com helicópteros e muitas organizações sem fins lucrativos também coordenaram planos de evacuação de emergência. Nem todos puderam sair, porém, e alguns optaram por não fazê-lo.

A organização Missions in Haiti disse a seus mantenedores, em março, que a sua área de Porto Príncipe estava tranquila e que os missionários não estavam preocupados com a sua segurança.

A organização foi fundada pelos pais de Davy Lloyd, David e Alicia, em 2000. A missão atende principalmente crianças — oferecendo comida, educação e orientação espiritual. Em 2002, cerca de 100 crianças frequentaram o programa de escola bíblica de verão da missão e, naquele outono, havia 10 crianças no orfanato e outras 30 matriculadas na escola.

Em 24 anos, a escola cresceu e passou a atender mais de 400 crianças por ano, de acordo com relatórios divulgados aos mantenedores. E a missão também se expandiu, plantou uma igreja e abriu uma padaria que emprega alunos que se formaram.

A escalada da violência no Haiti, no entanto, começou a preocupar seriamente David Lloyd em 2022.

“Não existe um governo que funcione, a nação do Haiti está em total anarquia”, escreveu o velho Lloyd. “Essas gangues assassinam, estupram, roubam e destroem à vontade.”

Ele relatou que sua organização quase foi dominada por “uma das gangues mais perversas”, mas “caímos de joelhos e Deus interveio de forma milagrosa, e fez com que aquela gangue se afastasse!”

Os missionários permaneceram esperançosos e pediram a seus mantenedores que orassem e escrevessem aos políticos nos EUA.

Davy e Natalie Lloyd ingressaram na organização em 2022, depois de se formarem no Ozark Bible Institute, uma escola pentecostal da Holiness, e se casarem.

Davy, que cresceu na missão, dedicava-se a projetos de manutenção, reformando banheiros de dormitórios, consertando veículos e construindo uma nova lavanderia.

Ele disse a mantenedores que, quando voltou para lá, pôde ver os problemas maiores que assolam o Haiti com mais clareza do que quando era criança e ia à escola e à igreja, cuidava das galinhas e brincava com seus amigos haitianos.

“Meus olhos estão mais abertos”, disse o jovem Lloyd, em um vídeo compartilhado pela Missions in Haiti. “Realmente, precisamos de um milagre. Precisamos de um mover de Deus.”

Natalie trabalhava no orfanato e cuidava das crianças. Ela compartilhou imagens do ministério no Instagram do casal: pintando equipamentos do playground, dando mangas e cocos às crianças e ensinando-as sobre a plena armadura de Deus.

A jovem missionária expressava certa preocupação com a situação política no Haiti, mas se concentrava mais no seu prazer em servir as crianças e na sua confiança em Deus.

“Deus é sempre fiel a suas promessas. Ele é imutável, nunca vacila”, escreveu ela. “Quero colocar minha esperança Naquele que nunca falha, Naquele cujas misericórdias se renovam a cada manhã, Naquele que, enquanto mudam as estações, permanece o mesmo”.

Poucos dias antes do ataque das duas gangues, os missionários expressaram esperança de que a ajuda estava chegando e de que a ordem poderia ser restaurada em breve. Eles viram aviões militares dos EUA sobrevoarem a área várias vezes ao dia, provavelmente trazendo equipamentos para as forças quenianas. O aeroporto foi reaberto e a atividade das gangues parecia estar diminuindo, de acordo com a página do Facebook da missão.

“O domínio das gangues pode terminar em breve”, escreveu David Lloyd. “Estamos orando para que isso aconteça, e quanto mais cedo melhor. Obrigado por suas contínuas orações.”

Na tarde de sexta-feira, familiares relataram que os corpos de Davy e Natalie Lloyd haviam sido transferidos para a embaixada americana.

Correção: Uma versão anterior desta notícia dizia que o orfanato foi incendiado. Na verdade, foi a casa de um missionário, e não o orfanato, que foi incendiado.

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Books

Pecadinho ou pecadão? Alguns pecados precisam de soluções específicas

Todo pecado requer a expiação de Cristo. Mas a Bíblia mostra Deus punindo — e reparando — diferentes pecados de maneira diferente.

Christianity Today May 25, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Images: Getty

A teologia cristã mantém consistentemente unidas certas verdades que parecem querer se desmantelar: Jesus é totalmente Deus e totalmente homem. As pessoas são pecadoras e criadas à imagem de Deus. A igreja é local e universal.

No entanto, apesar do que afirmamos, na prática, nós, cristãos, muitas vezes não conseguimos andar e mascar chiclete ao mesmo tempo. Em vez de mantermos duas verdades em tensão, tendemos a pender para um lado ou para outro, e assim as distorcemos nesse processo. Tratamos Jesus como um ser invulnerável e transcendente ou como um mero profeta. Falamos dos seres humanos como se estivessem tão degradados que não fossem capazes de nada além de pecar ou como se estivesse quase tudo bem com eles, tirando algumas arestas. Pensamos na igreja como se não passasse de uma seita pessoal ou minimizamos a congregação local.

Os teólogos evangélicos têm feito um grande trabalho nas áreas da cristologia, antropologia e eclesiologia, respectivamente, a fim de recuperar essas três tensões verdadeiras. Contudo, há uma quarta tensão ainda a ser recuperada: todos os pecados nos arruínam, mas nem todos os pecados nos arruínam igualmente.

Para começo de conversa, sejamos claros: o pecado, por menor que seja, é uma coisa séria. E só é expiado pela obra de Deus em Jesus Cristo. Mas dizer que Cristo é o único que expia todos os pecados é diferente de dizer que todos os pecados causam em nós o mesmo tipo de estrago.

Todos os pecados ferem o pecador e geram estragos ao nosso redor. No entanto, as Escrituras consistentemente retratam os pecados que cometemos como sendo diferentes, não apenas quanto ao efeito que têm sobre os outros, mas diante de Deus. No âmbito da Lei, por exemplo, são dados remédios sociais diferentes para pecados diferentes, assim como sacrifícios diferentes (Levítico 4; Êxodo 21). Nem todo sacrifício requer um boi ou uma cabra. Às vezes uma pomba já serve. Nos Profetas e em Provérbios, Deus faz distinção, e até mesmo prioriza certos pecados acima de outros, e explica as diferenças entre pecados intencionais e não intencionais (Provérbios 6.16-19; Ezequiel 45.20).

Jesus coloca a blasfêmia contra o Espírito Santo em uma categoria própria (Mateus 12.31) e diz que alguns pecados nos aproximam do fogo do inferno (Mateus 5.22). Paulo também diz que os pecados que cometemos contra o nosso próprio corpo causam tipos específicos de danos que outros pecados não causam (1Coríntios 6.17-19).

Ter deixado de manter unidas essas duas verdades sobre o pecado nos levou à confusão moral. Por exemplo, há uma quantidade imensa de energia atualmente sendo dedicada à questão do sexismo nas igrejas norte-americanas e ao redor do mundo. Não devemos esconder o fato de que o pecado do sexismo causou danos reais dentro da igreja, mas a forma como nomeamos esse dano faz uma grande diferença.

À medida que a responsabilização por esses erros começou, muitas discussões têm posto no mesmo grupo pecados muito diferentes, colocando tudo junto, desde ministros sexualmente abusivos até preconceitos interpessoais. Todo pecado causa danos e exige reparação, mas o mero bom senso nos diz que esses pecados são significativamente diferentes. Estuprar uma mulher não é o mesmo que ter preconceitos sexistas em relação a colegas de trabalho.

Não creio que alguém cometeria o erro de igualar esses pecados. Contudo, uma vez que eles são agrupados sob um único rótulo — pecado — a confusão se instala, porque teologicamente, os evangélicos tratam esta grande gama de ações diferentes como se tivessem um único efeito: nos separar de Deus, e ponto final. Como já vimos, isto é verdade; mas, se tomado isoladamente, deixa de fora grande parte da história. A decorrência vem em nossa ética. Se a nossa teologia não nos permitir fazer uma distinção entre pecados diferentes com diferentes tipos e escalas de danos, teremos dificuldade em chegar a respostas adequadamente diferentes [para esses pecados].

Como chegamos a este ponto? Parte da dificuldade está na leitura exagerada de porções das Escrituras — em Romanos 3.23, por exemplo, afirmar que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus não é dizer que todas as maneiras pelas quais falhamos são iguais. Dizer que “não há nenhum justo, nem um sequer” (Romanos 3.10) é diferente de dizer que toda injustiça é semelhante em gravidade ou efeito.

Este ethos — de que todos os pecados são iguais em natureza — remonta não ao Novo Testamento, mas à Reforma e a épocas posteriores. Consideremos João Calvino, que argumenta, contra uma tradição mais antiga, que todos os pecados — grandes ou pequenos — são condenatórios. Ou o argumento de Jonathan Edwards de que todos os pecados cometidos por criaturas finitas são ofensas infinitas contra um Deus infinito.

Embora tratamentos como estes tenham o efeito de nos ajudar a levar todos os pecados a sério, eles também têm o efeito não intencional de nivelar todos os pecados, de tal forma que se torna difícil dizer por que o dano acidental é diferente do dano intencional, ou por que ter graus de dano é importante. Quando simplesmente enquadramos todos os pecados como pecados condenatórios, ignoramos a forma que as Escrituras reconhecem que diferentes pecados afetam o nosso relacionamento com Deus de diferentes maneiras e, portanto, exigem diferentes tratamentos temporais. A expiação de Cristo é a forma singular pela qual a humanidade é trazida de volta ao relacionamento com Deus, mas restaurar a saúde de determinadas pessoas requer diferentes formas de reparação, de cura.

Considere aqui o exemplo de dois discípulos, Pedro e Tiago. Ambos os discípulos, segundo somos informados, estão presentes com Jesus no Jardim do Getsêmani, e ambos fogem (Mateus 26.56). Mas a fuga de Pedro dos romanos acrescenta um tipo ativo de negação (Mateus 26.69-75). Consequentemente, a tripla negação de Pedro é respondida pela tripla pergunta feita por Jesus sobre se Pedro o amava (João 21.15-17). Um tipo diferente e mais profundo de ferida exigiu um tipo diferente de cura.

A tradição mais antiga de refletir sobre esta questão, vista na obra de teólogos como Tomás de Aquino, difere de Calvino e de Edwards em pelo menos três aspectos importantes. Primeiro, trata de fazer uma distinção entre pecados que os cristãos cometem intencionalmente e pecados que cometemos involuntariamente. Todos os pecados são desvios da vontade de Deus, mas aqueles que cometemos deliberadamente não são iguais aos que cometemos por ignorância (Lucas 12.47-48).

Segundo, embora todos sejamos inclinados a pecar, não somos todos inclinados a pecar da mesma maneira. Alguns lutam habitualmente contra a luxúria, outros contra a arrogância. Embora ambos os pecados nos levem à destruição, estaríamos errados se disséssemos que eles destroem as nossas vidas da mesma forma. A diferença aqui não está no efeito deles sobre os outros, mas na natureza dos próprios pecados, sendo o primeiro o desejo de prazer corporal e o segundo a exaltação do eu acima dos outros e de Deus. A luxúria pode muito bem deformar a nossa mente e os nossos desejos, degradando-nos como criaturas, mas alimentar a arrogância é, em última análise, virar de ponta-cabeça o universo moral, colocando-nos acima de Deus.

Terceiro, pecados diferentes exigem soluções diferentes. Voltando a um exemplo anterior, expor alguém a uma agressão sexual é diferente de expor alguém a pensamentos sexistas. Ambos envolvem poder, objetificação e sexo. Mas também são diferentes entre si: o primeiro é um ato de vontade praticado com violência; o outro é um hábito mental ou cultural. O primeiro exige uma intervenção legal; o outro exige reparações interpessoais e discipulado.

Essas diferenças não estão apenas no nível humano. Deus também faz distinção entre pecados diferentes, e o caminho a seguir requer o reconhecimento dessas diferenças. Isso significa ser capaz de dizer que alguns pecados nos prejudicam mais do que outros — os pecados que cometemos deliberadamente são diferentes daqueles cometidos por ignorância ou insensatez. Isso também significa compreender que todo pecado causa danos, mas pecados diferentes causam danos diferentes tanto ao pecador quanto à vítima. Este reconhecimento tornaria mais fácil enxergar quais são as diferentes respostas necessárias ao pecado.

Recuperar esta tensão — de que todos os pecados nos arruínam, mas nem todos os pecados nos arruínam de forma igual — não significa cair no erro oposto de querer classificar o pecado de um modo que nos privilegie, de dizer: graças a Deus, não somos como aquele cobrador de impostos (Lucas 18.9-14). Muito pelo contrário, significa compreender que Deus conhece cada um de nós pelo nome, conhece os nossos pecados específicos e conhece as virtudes específicas de que precisamos para nos recuperarmos desses pecados.

Esta é a parte da santificação que vem depois do arrependimento: os lascivos precisam de castidade; os arrogantes, de humildade; os violentos, de paz; e os pouco caridosos precisam de amor. As Escrituras exortam-nos a buscar todos estes frutos da obra do Espírito, que são aperfeiçoados na pessoa de Jesus e dados, como boas dádivas de Deus, a pecadores determinados com feridas específicas.

Que todos somos feridos pelo pecado é inquestionável. Mas o futuro para os evangélicos deve envolver mais nuances em nossos diagnósticos, mais reconhecimento da natureza de cada pecado e de seus respectivos danos, e mais atenção ao lento caminho da virtude. Na ausência de um remédio que trate a nossa ferida de maneira específica, continuaremos a ser como a casa varrida e em ordem da parábola de Jesus, em Mateus 12.43-45: Nessa casa desocupada, não haverá novos moradores da virtude para manter longe os muitos demônios.

Myles Werntz é autor de From Isolation to Community: A Renewed Vision of Christian Life Together [Do isolamento à comunidade: uma visão renovada da vida cristã juntos]. Ele escreve em Christian Ethics in the Wild [Ética cristã na natureza] e leciona na Abilene Christian University.

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Culture

Estrelas pop brasileiras abraçam o gospel. Importa se seus corações estão longe de Deus?

A popularidade em alta da música gospel leva artistas com pouca formação cristã a lançarem canções de adoração e pastores a refletirem sobre as motivações.

Christianity Today May 24, 2024
Illustration by Abigail Erickson / Source Images: AP Images, Unsplash

“Faz morada em mim, Jesus”, canta Ana Castela em “Agradeço”, single que a cantora pop lançou em dezembro. A letra lembra palavras que as congregações evangélicas cantam em seus cultos por todo o país: Eu entrego, eu confio, eu aceito e agradeço.

“A Boiadeira”, seu primeiro hit, traz palavras como “Largou o vinho pra tomar cerveja, a patricinha virou boiadeira”. A maior parte de suas músicas fala de relacionamentos, traições e bebida, temas comuns da música sertaneja.

Embora venha de uma família católica e ocasionalmente tenha cantado em cultos evangélicos para jovens na adolescência, Castela entrou na indústria como cantora pop secular. “Agradeço” é seu primeiro single cristão como artista solo. (E marcou também a estreia do Agropraise, um braço cristianizado do selo sertanejo Agromusic.)

Ana Castela faz parte de um número crescente de artistas que estão entrando no mercado cristão e lançando músicas gospel e de adoração na última década. Em 2022, Simone, da antiga dupla sertaneja Simone e Simaria, cantou “Sobre as Águas” com Davi Sacer, cantor de música cristã contemporânea. Em 2021, o cantor de forró Wesley Safadão cantou “Deus tem um plano” com a banda Casa Worship. Em 2018, o cantor pop Luan Santana e a dupla Marcos & Belutti gravaram versões de músicas gospel conhecidas.

Desde 2015, a popularidade da música gospel brasileira cresceu substancialmente. De acordo com o Spotify, a audiência do gênero cresceu em média 44% por ano, entre 2015 e 2020. E embora artistas estrangeiros, como a banda de adoração Hillsong United, sejam populares entre os cristãos brasileiros, os artistas gospel nacionais estão conquistando seu próprio nicho e criando algumas das músicas cristãs mais ouvidas em todo o mundo. Este ano, somente de janeiro a março, o número de ouvintes de música gospel no Spotify cresceu mais 46%.

Atualmente, a música gospel representa 20% da receita da indústria musical brasileira, algo que as principais gravadoras internacionais perceberam. Em 2010, o Sony Music Group fez do Brasil a primeira região fora dos EUA a ter uma filial dedicada exclusivamente à música gospel, e passou a contratar profissionais de gravadoras cristãs. O Universal Music Group seguiu o mesmo caminho em 2013.

Historicamente, no Brasil, assim como nos EUA, a música cristã contemporânea — tanto gospel quanto de adoração — existe como uma subcultura própria, fora do mainstream, com suas próprias estrelas, gravadoras e premiações. Ao longo dos anos, alguns artistas americanos de música cristã encontraram sucesso no mainstream, fora do tradicional segmento da música cristã contemporânea, mas nos EUA e no Brasil, essas histórias de sucesso têm sido raras. Hoje, no cenário musical brasileiro, artistas que se identificam como evangélicos estão subindo nas paradas de sucesso seculares, e a música gospel tem uma participação de mercado muito maior do que a música cristã contemporânea jamais teve nos EUA, por exemplo. Essa expansão e o sucesso de artistas de outros segmentos, como Ana Castela, quase certamente estão relacionados com o crescimento explosivo da igreja evangélica no país.

“No passado, os evangélicos eram uma minoria recatada”, disse Joêzer Mendonça, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e autor de Música e Religião na Era do Pop. “O evangélico contemporâneo já não se esconde. Ao contrário, ele gosta de ostentar sua condição, e isso se reflete no consumo musical.”

As gravadoras e os profissionais de marketing da área musical enxergam oportunidades nesse cenário religioso em constante mudança. “Empresários, agentes, gravadoras, todos eles devem estar dizendo ‘nós temos que gravar isso!’”, disse Mendonça.

Cansados das letras sexualmente explícitas e dos palavrões na música secular, muitos cristãos apoiam a proliferação da música gospel e o seu impacto potencial sobre cantores seculares. Mas, conscientes dos incentivos econômicos que os artistas podem ter para lançar faixas gospel, alguns pastores e teólogos estão pedindo à igreja que mostre discernimento.

“O cara cantar uma música não significa que ele se converteu”, disse Carlinhos Veiga, pastor presbiteriano que é cantor e compositor. “Mas também não dá para dizer que é só interesse.”

O medo de restringir o público

Embora os artistas seculares apresentem frequentemente imagens públicas que não se alinham com o perfil esperado de um “artista cristão”, muitos cresceram em lares cristãos e até frequentaram igrejas, onde aprenderam a cantar ou a tocar um instrumento musical.

Algumas denominações, como a Assembleia de Deus, a Congregação Cristã no Brasil e os Adventistas do Sétimo Dia, têm a reputação de disponibilizar o ensino de instrumentos musicais para todos os congregantes. Enquanto as aulas particulares de música são acessíveis apenas aos ricos, as igrejas podem oferecer aulas nas quais todos podem aprender gratuitamente a tocar trompete, trombone ou trompa. Muitas também oferecem aulas de canto, e a maioria das igrejas pequenas tem seus próprios corais.

“Muitos têm uma família evangélica, gostam de estar na igreja, mas têm uma relação complicada com a fé, uma vez que não têm frequência constante nos cultos”, disse Renato Marinoni, pastor e fundador do Instituto de Adoração, Cultura e Arte, uma escola de treinamento ministerial focado em adoração e artes. “E não são pouco os que se deslumbram quando alcançam algum sucesso. Começam a achar que a igreja é pequena demais para o talento deles”.

Alguns cantores podem começar na indústria da música gospel, mas se afastarem da música religiosa para construir uma carreira de sucesso no mainstream. A sabedoria popular há muito diz que fazer música gospel restringe o público do músico.

“Durante muito tempo, essa interação [entre a música gospel e a música secular] não era bem-vista, o mercado achava que isso restringia o público”, disse Marcell Steuernagel, diretor do programa de mestrado em música sacra da Southern Methodist University, em Dallas, que cresceu liderando o louvor na igreja luterana brasileira, antes de se mudar para os EUA.

Hoje, ao que parece, os artistas não são mais forçados a decidir entre fazer música para a igreja ou alcançar sucesso comercial.

“Alguns desses artistas vão cantar música de adoração por saudosismo”, disse Veiga. “E alguns são realmente cristãos e sabem que, agora, vão ter público, caso venham a cantar louvor em uma casa de espetáculos ou em um teatro”.

Esse fenômeno não é necessariamente exclusivo do Brasil, diz Steuerngel. No Brasil e nos EUA, a música de igreja tem fornecido um repertório conhecido, do qual os artistas podem fazer uso por diversas razões, seja por interesse pessoal ou pelos interesses que percebem em seu público. Músicos americanos populares como Elvis Presley ou Aretha Franklin gravaram hinos ou canções gospel. Carrie Underwood regularmente canta “How Great Thou Art” [Quão grande és tu”] em shows, durante suas temporadas em Las Vegas. E Justin Bieber posta vídeos nas redes sociais dele mesmo participando de cultos de adoração ou cantando uma canção de louvor em casa.

A demanda por música gospel sugere ainda uma mudança na relação do público com a espiritualidade. A música cristã parece ter apelo por seus potenciais efeitos terapêuticos, mesmo para ouvintes que não se consideram cristãos praticantes.

“Tem gente que não frequenta cultos evangélicos, não tem uma vida ligada aos valores cristãos, mas ouve esse estilo musical”, disse Marinoni. “Dizem que traz paz.”

O problema da aprovação

Embora não tenham sido incorporadas ao culto das igrejas, as canções de adoração de muitos artistas seculares são tocadas nas rádios cristãs e aparecem em playlists de streaming de músicas de adoração. Embora a maioria dessas canções tenham compositores seculares, artistas cristãos já participaram de uma série de parcerias, o que às vezes gerou forte resistência.

Em 2022, o cantor e compositor cristão Kleber Lucas lançou um dueto com Caetano Veloso, famoso cantor pop e ativista ateu. Depois que a interpretação deles ganhou um prêmio, um deputado evangélico zombou do anúncio [do prêmio], enquanto um influenciador cristão o chamou de “cristianismo aceito pelo mundo”.

Em 2023, Priscilla Alcântara, cantora popular da música gospel, juntou-se no Carnaval com cantores seculares num trio elétrico. Os evangélicos atacaram a cantora por aparentemente comprometer os seus valores cristãos.

Fernandinho, outro cantor gospel, criticou as parcerias entre artistas cristãos e seculares e acusou os cantores gospel de menosprezarem o evangelho com essas interações. Em 2021, ele postou um vídeo no qual usou o texto de 2Coríntios 6.14-15 para dizer que “não pode haver comunhão” entre esses dois grupos.

“Como eu posso caminhar e até mesmo cantar com inimigos de Deus?” ele disse. “Jesus não passa a mão na cabeça nem omite os valores do reino.”

https://www.instagram.com/p/CTShekID2qm/

Para a maioria destes artistas seculares, as incursões na música cristã são apenas parte de suas apresentações e das faixas que gravam.

“O artista não tem compromisso com o que a igreja canta, ele está interessado em se expressar”, disse Marinoni. “A responsabilidade da igreja é estar perto do artista e discipulá-lo, se ele estiver disposto a isso”.

Para Ana Castela, gravar “Agradeço” foi uma forma de “agradecer a Deus por todas as coisas que ele já fez por nós, todos nós”.

“Eu adoro cantar gospel, só acho que a minha área não é no gospel. Minha área é aqui, no sertanejo, e eu gosto muito do pop também”, disse ela ao Correio Braziliense. “Se um dia Deus me permitir entrar no gospel, estou aqui de braços abertos e coração quentinho para ele!”

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