A foto mais icônica das Olimpíadas tem uma mensagem cristã

Com o dedo apontando para o céu, o surfista Gabriel Medina mostra que o sucesso nos esportes deixou os evangélicos brasileiros menos marginalizados e mais confiantes.

O brasileiro Gabriel Medina reage após pegar uma boa onda no surfe masculino durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

O brasileiro Gabriel Medina reage após pegar uma boa onda no surfe masculino durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Christianity Today August 9, 2024
Jerome Brouillet / Contributor / Getty

Há uma mensagem cristã por trás da que pode ser a imagem mais celebrada das Olimpíadas de 2024.

Em 29 de julho, na terceira rodada da competição de surfe de prancha curta [shortboard], o brasileiro Gabriel Medina enfrentou o japonês Kanoa Igarashi, que o havia eliminado nas últimas Olimpíadas. Em sua segunda onda, Medina emergiu de um tubo exuberante, com as palmas das duas mãos abertas e levantadas, sugerindo que os juízes deveriam lhe dar um 10 por sua performance. (Dois dos cinco juízes concordaram com ele; sua pontuação final foi 9,9).

Medina, então, girou para a esquerda, em direção à rebentação, e pulou da prancha, levantando a mão direita e apontando o dedo indicador para o céu. Esta foi a imagem que o fotógrafo da Agence France-Presse, Jérôme Brouillet, capturou.

Os evangélicos brasileiros reconheceram o sinal imediatamente.

“É como se ele estivesse dizendo: ‘Não é para mim que vocês deveriam estar olhando, é para Deus. Este momento de glória não é meu, mas sim dele’”, disse João Guilherme Züge, historiador residente no Museu Paranaense, em Curitiba.

https://www.youtube.com/watch?v=JdNDuAy-Bfo&t

Em comparação com os Estados Unidos, cujos jogadores de beisebol, após fazerem home runs, frequentemente apontam para o céu pelas mais diferentes razões — alguns para expressar gratidão a Deus, outros para homenagear entes queridos já falecidos —, entre os atletas brasileiros o gesto se tornou intimamente associado a esportistas cristãos.

O dedo levantado e apontando para o céu tem sido a marca registrada dos atletas evangélicos brasileiros por mais de 40 anos. Demonstrações públicas de fé após feitos em competições ajudaram a afirmar e a estabelecer a identidade evangélica, especialmente quando o movimento ainda estava em sua infância.

Ninguém parece se lembrar quem foi o primeiro a criar o gesto, mas este ganhou popularidade na década de 1990, principalmente por meio de jogadores de futebol, como Kaká, que levantava os dois dedos indicadores, sabendo que a câmera estaria apontada para ele depois de marcar um gol.

Apesar de sua onipresença, a intenção espiritual por trás da mensagem não necessariamente se difundiu para além dos círculos evangélicos. “[Medina] realmente tem direito e autoridade para se considerar o número um”, comentou no ar, na semana passada, Renata Vasconcellos — âncora do Jornal Nacional da TV Globo, o programa de notícias mais assistido do Brasil —, dando ao gesto de Medina uma interpretação muito diferente.

Mas a natureza discreta do gesto, quase genérica, também ajudou a torná-lo tão popular. Assim como a Copa do Mundo e outras competições internacionais, as Olimpíadas proíbem qualquer “tipo de demonstração ou propaganda política, religiosa ou racial… em quaisquer locais, instalações ou outras áreas olímpicas”.

Essas regras forçaram os atletas que buscam um palco para compartilhar sua fé a fazê-lo discretamente, ou a expressar sua gratidão a Deus em entrevistas ou em postagens nas redes sociais. Medina, por exemplo, postou a foto de Brouillet acompanhada do texto de Filipenses 4.13: “Tudo posso naquele que me fortalece”.

Os atletas evangélicos brasileiros têm sido criativos em suas expressões de fé durante as Olimpíadas deste ano. Rayssa Leal, skatista e medalhista de bronze, e Caio Bonfim, medalhista de prata na marcha atlética, usaram a língua de sinais para se referir a Jesus.

Medina, após perder nas semifinais para o australiano Jack Robinson, compartilhou uma foto em preto e branco de si mesmo com a legenda “Josué 1” — uma referência ao capítulo da Bíblia em que Josué exorta os israelitas a serem “fortes e corajosos” nada menos do que quatro vezes — acompanhada da música “Ousado Amor”, cantada por Isaías Saad. Em 7 de agosto, ele postou uma foto em que aparece do lado de fora do Louvre, recriando sua foto icônica, mais uma vez apontando para o céu com o dedo indicador.

Na década de 1980, quando os evangélicos representavam apenas 6,5% da população brasileira, João Leite, o “goleiro de Deus”, e o atacante Baltazar estiveram entre os fundadores dos Atletas de Cristo, um ministério cujo objetivo era mobilizar atletas para compartilhar o evangelho ao redor do mundo. Desde o início — e espontaneamente, segundo Züge — o dedo apontando para o céu nas comemorações de gols se tornou uma marca registrada do movimento.

O ministério Atletas de Cristo preparava os atletas para se verem como embaixadores de sua fé e os encorajava a pregar e a compartilhar seus testemunhos onde quer que fossem. (Um fruto dessa estratégia foi o goleiro brasileiro Alisson Becker ter batizado Roberto Firmino, seu companheiro no Liverpool, em 2020.)

Esse ministério também foi imensamente bem-sucedido em aumentar a autoestima dos evangélicos brasileiros. Um momento-chave ocorreu durante a final entre Brasil e Itália, na Copa do Mundo da FIFA, em 1994. Quando nenhum dos dois times marcou gols durante o tempo regulamentar nem na prorrogação, o jogo foi para os pênaltis. O Brasil venceu no último chute.

“O maior símbolo daquela Copa foi quando o craque italiano Roberto Baggio perdeu o seu pênalti e o Taffarel, que já tinha defendido uma cobrança, caiu de joelhos, em posição de oração, apontando para o céu”, disse Züge.

O goleiro brasileiro Taffarel (à direita) comemora depois que Roberto Baggio, da Itália (à esquerda), erra seu chute na Copa do Mundo da FIFA.Getty / Edits by CT
O goleiro brasileiro Taffarel (à direita) comemora depois que Roberto Baggio, da Itália (à esquerda), erra seu chute na Copa do Mundo da FIFA.

Testemunhos como esse impactaram os evangélicos brasileiros.

“Quando o cristão via o jogador fazer um belo lance, marcar um gol em uma partida importante e celebrar com o dedo apontando o céu, ele se sentia representado”, disse Reinaldo Olécio Aguiar, sociólogo e pastor da Primeira Igreja Presbiteriana Unida de Vitória. “Mesmo sabendo que era parte de uma minoria, ele via a si mesmo como vitorioso”.

Jogadores como Taffarel sabiam o impacto que tinham sobre o público.

“Desde o início, os Atletas de Cristo souberam usar a mídia”, disse Züge. Os atletas eram treinados para aprender a dar um testemunho de fé em 30 segundos, para aproveitar uma entrevista ao vivo.

A vitória de 2004 também mudou a forma como os atletas evangélicos eram percebidos pelos seus companheiros de equipe.

“Antes disso, todo mundo zombava da gente”, disse Anselmo Reichardt Alves, ex-jogador que se tornou pastor e capelão da seleção brasileira. “Diziam que nós éramos bebês, porque não saíamos para beber com eles, e eles questionavam a nossa masculinidade porque nós não saíamos com várias mulheres”.

Ver essas superestrelas expressando sua fé abertamente também inspirou evangélicos que enfrentavam críticas por tentar viver a própria fé e evitavam participar de tradições populares como o Carnaval.

“Nossas ações eram como um espelho para outros cristãos; ao ver isso, os cristãos que assistiam aos jogos também aprendiam a demonstrar sua fé de um modo destemido”, disse Züge. As pessoas falavam mais abertamente sobre Deus. Se os jogadores podem, por que não eu?

Essa ousadia também pode ter inspirado atletas contemporâneos a serem ousados ​​em sua fé.

“Esportistas agradecendo a Deus por suas vitórias não é novidade, mas o grande número de atletas que estão fazendo isso nesta Olimpíada é notável — especialmente na França, que insistiu para que seus próprios atletas respeitassem as leis secularistas do país”, escreveu a comentarista do The Guardian, Emma John.

O ministério Atletas de Cristo às vezes recebia críticas por encorajar atletas vitoriosos a compartilharem sua fé de maneiras que podiam insinuar que suas conquistas resultavam do fato de terem mais fé do que outros. Alguns comentavam que eles tinham uma possível tendência a ignorar as histórias dos atletas que perdiam, muitos dos quais também tinham frequentemente um relacionamento pessoal com Deus.

“O que dizer quando há cristãos fiéis em ambos os lados?”, disse Aguiar.

Foi o que aconteceu nas Olimpíadas de Paris, durante uma disputa pela medalha de bronze no judô feminino de 52 quilos, entre a brasileira Larissa Pimenta e a italiana Odette Giuffrida. (A CT destacou a história delas em sua cobertura dos melhores momentos olímpicos.)

Depois que Pimenta venceu a luta e conquistou o bronze, ela ficou ali no tatame, chorando. Giuffrida se aproximou e a abraçou. “Levanta”, ela disse a Pimenta, conforme as duas atletas contaram mais tarde. “Toda honra e toda glória você tem que dar para Ele”

Giuffrida compartilhou mais tarde, nas redes sociais, que se lembrava da noite em que Pimenta a levou pela primeira vez a um culto na igreja, depois que começaram a treinar juntas. “Daquele dia em diante, nossas vidas mudaram. E hoje, aqui estamos, independentemente do que aconteceu naquele tatame, independentemente da vitória ou da derrota, agradecendo a Ele em uma final olímpica, na frente do mundo, por tudo”, escreveu ela.

“E essa é a beleza disso. Posso me sentir sincera, posso me sentir com Ele ao meu lado.”

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Os melhores momentos de atletas cristãos nas Olimpíadas de Paris

Como os atletas estão compartilhando sua fé e apontando para Deus.

Odette Giuffrda, da equipe da Itália (de azul), parabeniza Larissa Pimenta, da equipe do Brasil (de branco), por ganhar a medalha de bronze na categoria feminina de 52 kg no Judô.

Odette Giuffrda, da equipe da Itália (de azul), parabeniza Larissa Pimenta, da equipe do Brasil (de branco), por ganhar a medalha de bronze na categoria feminina de 52 kg no Judô.

Christianity Today August 7, 2024
Michael Reaves / Staff / Getty / Edits by CT

Para a maioria dos espectadores, as Olimpíadas são uma exibição do mais alto nível de habilidade atlética. Para muitos atletas cristãos, porém, o evento oferece uma oportunidade de expressarem sua fé tanto uns para os outros quanto para o mundo. Abaixo estão alguns dos momentos mais memoráveis de expressão da fé cristã nas Olimpíadas de Paris.

Este post será atualizado ao longo das Olimpíadas.

Rebeca Andrade: seu caráter piedoso e sua graça conquistam o amor dos competidores

https://www.instagram.com/p/C-S_OHURKhx/

Para grande parte do mundo, a ginasta americana Simone Biles tem sido o rosto mais conhecido das Olimpíadas de Paris. Em 5 de agosto, Biles e sua companheira de equipe Jordan Chiles protagonizaram uma cena olímpica memorável quando, em um gesto que comunica o verdadeiro espírito esportivo, elas se curvaram em reverência para a competidora brasileira Rebeca Andrade, no pódio de medalhas.

Andrade tinha acabado de ganhar a medalha de ouro na competição de solo, com Biles e Chiles ganhando prata e bronze, respectivamente.

As duas estrelas dos EUA se referiram a Andrade como “rainha”, “ícone” e “lenda”, enquanto ressaltavam a amizade internacional que elas têm compartilhado ao longo de anos de competição acirrada.

Andrade, aos 25 anos, já sofreu três lesões no ligamento cruzado anterior (LCA) que exigiram cirurgias de reconstrução durante sua carreira; ela não tem sido tímida em direcionar seus agradecimentos a Deus. Ela começou a cantar durante uma entrevista, depois de ganhar a medalha de prata na competição de salto.

“Deus estava me preparando para que eu conquistasse as minhas coisas”, ela afirmou. “E a música diz: ‘Eu estou te preparando para o novo tempo que já vai chegar… calma, tá chegando, é que eu estou caprichando, você vai ver.’ E é realmente isso, sabe? Ele está fazendo coisas incríveis que eu jamais poderia imaginar.”

Em uma entrevista, há dois anos, Andrade reconheceu o valor de sua educação cristã por lhe dar resiliência, e também disse que, para lidar com a ansiedade nas Olimpíadas, “eu sempre levava a Bíblia para a competição e a lia quando ia ao banheiro”.

Ela também contou como Deus a encorajou após sua terceira cirurgia, em 2019:

Eu estava no quarto com a minha amiga, ela ia competir no dia seguinte e eu não, porque tinha me lesionado, […] e eu lembro que mentalmente eu só pedia um abraço — porque eu não tinha minha mãe, meus irmãos ali comigo. A minha amiga estava dormindo, e ela dorme muito pesado. Ela acordou, levantou sem dar uma palavra e veio e me deu um abraço. Foi naquele momento que eu soube que Deus estava comigo […] e que aquele abraço foi dele, sabe. E eu falei: Eu não vou parar […] Se eu precisei passar por isso de novo é porque Ele tem algo maior, e Ele tinha.

Em Cristo, tanto os que vencem quanto os que são vencidos podem ser vitoriosos

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Quando a brasileira Larissa Pimenta e a italiana Odette Giuffrida se enfrentaram, na disputa pela medalha de bronze na categoria feminina de judô de 52kg, no dia 28 de julho, elas já se conheciam bem.

Muito bem, na verdade. Giuffrida se tornou cristã por influência de Pimenta, durante uma visita ao Brasil.

Pimenta venceu o combate. Em seu momento de alegria e emoção, o primeiro abraço que recebeu foi da amiga que ela havia derrotado. Como Larissa Pimenta explicou em uma entrevista:

“Ela é uma pessoa especial para mim e o que me falou foi muito significativo. Ela fala português e a gente se fala bastante. A ‘Ode’ conheceu Deus através de mim — ela veio ao Brasil e encontrou Deus. E uns dias atrás estávamos conversando… que toda honra e toda a glória a gente ia dar para ele. Então, naquele momento [sobre o qual todos estão perguntando], ela me disse: ‘levanta, porque toda a honra e toda a glória você tem que dar para ele!’”

Ela superou a falta de moradia para glória do atletismo

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“Eu sou uma filha de Deus”, diz a biografia de Shafiqua Maloney no Instagram. No entanto, essa filha de Deus lutou contra a falta de moradia recentemente, em 2023, a caminho das Olimpíadas.

Em fevereiro passado, a corredora de 800 metros, que competiu na faculdade pela Universidade do Arkansas, mas representa a nação caribenha de São Vicente e Granadinas, compartilhou que havia ficado sem um teto para morar por vários meses, durante o ano anterior.

A confissão de Maloney chamou a atenção do primeiro-ministro de sua nação, e, logo depois, ela recebeu um contrato de patrocínio de uma empresa de água caribenha.

Maloney chegou a Paris classificada na 27ª. posição em sua prova, mas atravessou as duas primeiras rodadas em tempo recorde pessoal para chegar à final, na qual ficou em quarto lugar, em 5 de agosto, atrás da medalha de bronze por apenas 0,24 segundos.

“Eu fiquei sem teto — sem ter o que comer e todas essas coisas”, disse Maloney, citada em uma matéria do jornalista esportivo Chris Chavez, depois que ela se classificou para as finais. “Deus me carregou por tudo isso e, quando cheguei aqui, tive de acreditar que ele não me trouxe tão longe só para me abandonar e que ele me conduziria até o fim.”

Medalhista no salto sincronizado diz: “Deixo Deus trabalhar”

https://www.instagram.com/p/C-GcNneitEv/

A mergulhadora britânica Andrea Spendolini-Sirieix disse: “Eu dou glória a Deus”, e citou Josué 1.9 em sua página do Instagram, após ganhar o bronze com a parceira Lois Toulson, na prova de salto sincronizado de plataforma de 10 metros, em 31 de julho.

“Isso é mais do que apenas esporte”, ela acrescentou. “Estou orgulhosa por representar meu país, minha família e por glorificar o nome de Jesus.”

Depois de encarar dificuldades nas Olimpíadas de Tóquio e de sofrer bloqueios mentais semelhantes aos enfrentados pela ginasta americana Simone Biles, Spendolini-Sirieix — filha de Fred Sirieix, uma celebridade da televisão britânica — cogitou abandonar o esporte. Mas, em vez disso, ela renovou suas forças em sua fé cristã, a qual ela compartilha sem hesitação.

Ela descreveu sua fé como uma “força estabilizadora”, dizendo que começa cada dia com uma oração e termina com um estudo da Bíblia. Questionada se ela tinha alguma superstição quando competia, a atleta respondeu: “Não, eu me solto e deixo Deus trabalhar. Eu oro e estudo a Bíblia antes da competição.”

Ele não é o skatista típico, mas ama a Deus

https://www.instagram.com/p/C-Dn5SlPN2F/

“Jesus é Rei!”, gritou o skatista de 19 anos e queridinho do público, Cordano Russell, quando os locutores olímpicos o anunciaram na final masculina de skate street, na segunda-feira.

Ocupando o 16º lugar no ranking mundial, Russell, que mora em San Diego, mas compete por sua terra natal, o Canadá, acertou suas maiores manobras, mas caiu duas vezes e terminou em sétimo lugar. Ele agradeceu ao seu “Pai celestial” no Instagram e prometeu que vai continuar treinando para as Olimpíadas de 2028, em Los Angeles.

Com 1,90m de altura e 104 kg, Russell é muito mais alto e mais musculoso do que a média dos skatistas (e quebra mais skates do que seus concorrentes, que são menores). Ele começou a andar de skate aos 4 anos e convenceu sua família a se mudar para Carlsbad, na Califórnia, um polo desse esporte, quando tinha 8 anos. Russell mostrou potencial para o futebol americano no ensino médio, mas, em vez disso, escolheu o skate profissional.

“Foi preciso muita oração e muito discernimento para decidir o que fazer”, disse Russell a um periódico da Universidade de San Diego, onde ele vai se matricular neste outono. “Conversando com o Senhor, ele me mostrou que meu amor e meu coração estavam voltados para o skate.”

De acordo com a matéria publicada, Russell “atribui à sua formação religiosa o fato de ter incutido nele a ética de trabalho e a força mental necessárias para se destacar no exigente mundo do skate profissional”. Ele orienta jovens atletas — e quando erra uma manobra, pode esperar que ele vai gritar “Nuggets de frango!”, em vez de um palavrão.

Fiji: eles são grandes jogadores de rugby e grandes adoradores de Deus

https://www.instagram.com/reel/C-CbQFshe5P/

Fiji, nação insular do Pacífico com menos de um milhão de habitantes e uma área total que corresponde a cerca de dois terços do território do Havaí, levou 33 atletas para as Olimpíadas de Paris, e 24 deles são jogadores de rugby. As únicas medalhas olímpicas de Fiji sempre vieram do rugby sevens (o rugby de sete jogadores).

A equipe masculina estava invicta em Olimpíadas: foi ouro em 2016, no Rio, quando o rugby sevens foi introduzido, e ouro em Tóquio, em 2021. Mas, após 17 vitórias consecutivas, eles perderam para a França, país anfitrião, na final deste ano.

Mas essa derrota não impediu a equipe de Fiji de continuar fazendo outra coisa pela qual os atletas se tornaram conhecidos: cantar louvores a Deus.

A equipe de Fiji chamou atenção mundial por cantar hinos com belíssima harmonia, no pátio da Vila Olímpica. A jogadora australiana de polo aquático, Tilly Kearns, postou um vídeo com o comentário: “Estou no melhor lugar da Vila, ao lado do prédio da Oceania.”

Um site de música clássica compartilhou o vídeo e explicou que a equipe estava cantando “Mo Ravi Vei Jisu”, um hino fijiano. A letra do hino pode ser traduzida como “Confie no Senhor e ele guiará seu caminho.” O site acrescentou: “Quem ouve [os atletas cantando], no vídeo, pode pensar que está ouvindo um ensaio de um coral profissional. As harmonias, os ritmos, a musicalidade e a pura beleza de suas vozes ressonantes fazem parecer difícil de acreditar que eles não são músicos que receberam treinamento formal.”

Compartilhando o Evangelho na língua de sinais

https://www.instagram.com/p/C99Lfr0NswG/

A brasileira Rayssa Leal, que ganhou a medalha de prata no skate street nas Olimpíadas de Tóquio, aos 13 anos, conquistou o bronze este ano. Antes de uma rodada preliminar, ela se virou para a câmera e usou a língua de sinais para comunicar João 14.6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”

“Eu fiz isso porque faço em todas as competições”, disse Leal ao site UOL. “Para mim é importante; sou cristã, acredito muito em Deus. Ali eu pedi força e mandei uma mensagem para todos, de que Deus realmente é o caminho, a verdade e a vida.”

A maior nadadora olímpica da África do Sul também dá honra a Deus

https://www.instagram.com/p/C-Cwq3mtZ7g/

Tatjana Schoenmaker Smith anunciou sua aposentadoria da natação competitiva em 1º. de agosto, após conquistar sua quarta medalha olímpica, uma prata, nos 200 metros peito. Ela já havia vencido os 100 metros peito, três dias antes.

Após sua vitória nos 100 metros peito, Smith vestiu uma camiseta que agradecia “minha comunidade” pelo apoio. Os três primeiros nomes listados eram Deus, Jesus e o Espírito Santo.

Antes das Olimpíadas, Smith declarou em uma postagem nas redes sociais que estava “muito empolgada em nadar para a glória de Deus e representar seu país, enquanto fazia isso.”

Aos três anos, ele não conseguia andar. Agora, é medalhista na marcha atlética

https://www.instagram.com/p/C-Hp8-bxwet/

Caio Bonfim, atleta do Brasil de 33 anos, declarou: “Eu pertenço a Jesus”, após conquistar a medalha de prata na prova de 20km de marcha atlética masculina, no dia 1º. de agosto. Um grande feito para alguém que, aos 3 anos, não conseguia sequer andar.

Bonfim tornou-se intolerante à lactose, depois de ter meningite e pneumonia, quando era bebê. Depois de uma cirurgia, ficou com as pernas arqueadas engessadas, mas, à medida que crescia, ele se determinou a seguir os passos dos pais na marcha atlética.

Treinar para a marcha atlética, esporte que muitas vezes foi alvo de piadas por parte de comediantes e de comentaristas, expôs Bonfim a zombarias nas ruas de Brasília, mas ele persistiu. Ele se classificou pela primeira vez para os Jogos Olímpicos em 2012, e ficou em quarto lugar nos Jogos do Rio, em 2016.

Quando perguntado em uma entrevista após a corrida se foi difícil ganhar uma medalha, Bonfim respondeu: “Não, a parte difícil foi o dia em que marchei pela primeira vez na rua e fui insultado.” Refletindo sobre sua experiência durante a competição, ele comentou: “No meio da prova, você olha em volta e vê um, dois, três, cinco atletas ao seu redor e pensa ‘Ainda estou em décimo lugar.’[…] Mas senti a mão de Deus me segurando e dizendo, ‘Vamos lá, cara!’”

Bonfim frequenta uma igreja da Assembleia de Deus em Sobradinho, uma cidade que fica perto de Brasília.

Ele ainda é um dos melhores nadadores do mundo, mas agora serve a Deus

https://www.instagram.com/p/C-A1rxpN7Av/

Adam Peaty, detentor do recorde mundial nos 100 metros peito, que se tornou cristão em 2022 após lutar contra o alcoolismo e a depressão, quase conquistou o ouro em Paris, terminando em segundo lugar por apenas 0,02 segundos. Ele chorou depois da prova, mas não estava desapontado.

Peaty, que agora exibe uma cruz tatuada no peito, explicou: “São lágrimas de felicidade. Não estou chorando porque fiquei em segundo lugar, estou chorando porque foi necessário muito esforço para chegar até aqui. Sou um homem muito religioso e pedi a Deus para mostrar meu coração, e este é o meu coração. Eu não poderia ter feito mais.”

Peaty contou que, quando visitou pela primeira vez a igreja à qual ele agora pertence, o pastor citou os Jogos Olímpicos no sermão.

“Ninguém sabia que eu estaria [na igreja],” ele lembra. “Eu estava sentado no fundo e pensei: ‘se isso não é para mim, então, o que é?’”

Com reportagens adicionais de Annie Meldrum.

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As lições do tableau da “Última Ceia” nas Olimpíadas de Paris

Como diretor de arte, acho que as Olimpíadas cometeram a falha de não considerar seu público. Como cristão, não estou surpreso com o desdém de pessoas que não são da igreja.

Junção da "Última Ceia", de Da Vinci, e da "Celebração dos deuses", de Jan van Bjlert.

Junção da "Última Ceia", de Da Vinci, e da "Celebração dos deuses", de Jan van Bjlert.

Christianity Today August 2, 2024
Illustration by Christianity Today

Antes das Olimpíadas de Paris de 2024, Thomas Jolly parecia confiante com o que havia imaginado para as longas cerimônias de abertura e encerramento. O diretor artístico foi reservado sobre os detalhes das apresentações que vinha planejando há dois anos — porém, nos dias que antecederam os Jogos, ele revelou que esperava que o espetáculo fosse “muito significativo para os artistas que se apresentarão”.

Agora, passada a cerimônia de abertura, resta a Jolly defender sua visão.

Um segmento da abertura atraiu controvérsia em particular: um tableau — composto por ativistas LGBTQ, artistas drag e dançarinos lascivos — o qual muitos espectadores sentiram que sutilmente reencenava “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. “Minha intenção não é ser subversivo, nem zombar ou chocar”, disse Jolly, em resposta ao alvoroço criado. “Acima de tudo, eu queria enviar uma mensagem de amor, uma mensagem de inclusão e não causar divisão, de forma alguma”. E, no entanto, a cena trouxe divisão, e foi recebida com desprezo por aqueles que a interpretaram como uma paródia que zomba de Cristo e seus discípulos.

Há uma grande disparidade entre o que Jolly alega serem suas intenções artísticas e a maneira como sua arte foi percebida.

Como artista e diretor de arte, estou constantemente lutando com aquilo que o visual comunica. Quando analiso algum material enviado por nossos artistas colaboradores, avalio não apenas a execução técnica das imagens, mas também como nossos leitores podem interpretar seu significado. Em um diário, tomo notas e esboço possibilidades, enquanto procuro a maneira certa de transmitir uma ideia sem palavras. O simbolismo deve ser evidente? Esta cena pede nuance e ambiguidade? Como o uso de cores ou de formas pode oferecer uma nova perspectiva? Em todo o meu trabalho criativo, tenho intenções para o que será transmitido. E, então, olho para o futuro, tentando antecipar como essas intenções serão percebidas.

Todo criador está sujeito a seu público — está sujeito a como quem lê um romance, ouve um álbum ou vai a um museu entende e vivencia sua obra. A arte não existe em isolamento; ela é sempre comunitária. E isso é uma bênção, não uma maldição. No momento em que contamos uma história, lançamos uma música ou encenamos uma peça, ela não é mais somente nossa. É dessa maneira linda, encantadora e arriscada que toda arte é uma colaboração entre o artista e o resto do mundo.

Em sua defesa da controversa performance nas Olimpíadas, Jolly explica que suas intenções eram diferentes da ofensa sofrida por alguns espectadores. Em outras palavras, segundo ele argumentou, isso não é culpa dele. O público ofendido não interpretou a sua arte corretamente. Jolly argumenta que a cena não foi inspirada na tela de da Vinci, mas na obra Le Festin des Dieux (O banquete dos deuses), uma pintura de Jan van Bijlert que retrata um banquete no Monte Olimpo. Apolo, o deus do sol, está de frente para o espectador; um Dionísio nu come uvas em primeiro plano. É bastante plausível que esta obra tenha sido sua verdadeira inspiração.

"Le Festin des Dieux" (A festa dos deuses) é uma obra do pintor holandês Jan van Bijlert, de 1635 - 1640.
“Le Festin des Dieux” (A festa dos deuses) é uma obra do pintor holandês Jan van Bijlert, de 1635 – 1640.

Mas esta defesa — “vocês não interpretaram a minha arte corretamente” — não absolve um artista. Esse é o tipo de resposta preguiçosa e pretensiosa. Vem de um ego que assume que a perspectiva do artista é a única leitura adequada do que foi comunicado. Ao culpar o espectador por uma interpretação falha, o artista afirma que sua intenção sobrepuja o que sua arte comunicou. Ele nega a realidade objetiva de como sua arte se situa no tempo e no espaço, em seu contexto histórico e cultural. Como um historiador de arte e professor emérito disse ao The New York Times, “A ideia da figura central com uma auréola e um grupo de seguidores de cada lado — é tão típica da iconografia de ‘A Última Ceia’ que lê-la de qualquer outra forma pode ser um pouco temerário.”

Nossas intenções importam, mas não garantem como os outros reagirão. Quando Paulo adverte: “Não deixem que falem mal do que vocês consideram bom” (Romanos 14.16, ESV), ele não está instruindo os romanos a se defenderem. Ele está dizendo a eles para mudarem sua forma de agir, com o propósito de “não colocar pedra de tropeço ou obstáculo no caminho de um irmão” (v.13). Nossas intenções não definem a realidade. Somos responsáveis ​​por ter cuidado com o que criamos. E devemos ser humildes o bastante para reconhecer quando não somos bem-sucedidos nisso.

Artistas são pessoas muito perceptivas. Como diretor de arte, Jolly deve ter considerado cuidadosamente as implicações de cada detalhe desta performance. Deixar de considerar as percepções de 2 bilhões de cristãos do mundo inteiro foi, no mínimo, desleixo, falta de cuidado, e muito possivelmente falta de consideração intencional. Às vezes, a arte é feita para ser chocante e provocativa. A arte chama a atenção e rompe pressupostos por boas razões. Mas Jolly diz que esse não era seu objetivo. Se ele estava tentando comunicar inclusão, ele o fez excluindo cristãos e grupos religiosos que ficaram horrorizados com a performance. No fim das contas, sua mensagem só falou com parte de sua audiência.

Portanto, os cristãos não estão errados por se ofenderem. Mas o que fazemos com nossa ofensa também importa.

Quer Jolly e os artistas tenham se arriscado ou tenham abraçado a oportunidade de serem escandalosos, é compreensível que os cristãos achem uma cena que lembra a “Última Ceia” particularmente mordaz. Mas, decisões artísticas descuidadas à parte, será que a igreja deveria se surpreender com uma afronta como essa — e muito menos com a obscenidade do restante da cerimônia de abertura?

No meio de uma discussão sobre imoralidade, Paulo diz à igreja de Corinto que eles não podem se isolar da pecaminosidade da sociedade secular. Eles teriam que se afastar do próprio mundo para alcançar tal imunidade (1Coríntios 5.10). Sim, eles devem se esforçar para proteger a integridade do corpo de Cristo — como nós também devemos. Se houver alguém dentro [da igreja] que se recuse a abandonar sua pecaminosidade, Paulo exorta os coríntios a não se associarem a esse indivíduo, a fim de manterem um padrão moral dentro de sua comunidade.

Mas esse não é o padrão que Paulo espera do mundo que está fora da igreja. Ele lembra aos coríntios que é papel de Deus julgar “os de fora”, e não deles, inclusive no contexto de pecado sexual chocante (1Coríntios 5.13). Aparentemente, a igreja de Corinto estava se distanciando e evitando qualquer interação com os descrentes da cidade. Paulo diz a eles que isso não está certo.

Este é o mesmo padrão que levou os fariseus a questionarem Jesus, quando ele comeu com cobradores de impostos (Mateus 9.10-13). Jesus teria compartilhado uma refeição com artistas drag, com pessoas que poderiam ridicularizar a igreja e seus símbolos sagrados? Não devemos ter dúvidas de que ele teria, nem de que ele nos chama a fazer o mesmo. Também não devemos duvidar de que Jesus chama essas pessoas ao arrependimento. Sua resposta ao pecado nunca foi se afastar nem condenar, mas sim proclamar seu perdão e convidar as pessoas a segui-lo. Este é o convite que ele faz para todos nós.

Não devemos esperar que os descrentes entendam ou respeitem a grave solenidade de uma cena como a da Última Ceia. Não devemos nos surpreender com a obscenidade das apresentações durante a cerimônia de abertura. Mas também não devemos ficar indiferentes. Nossa reação deve ser de tristeza e compaixão. O nosso mundo é caído. Nós também somos caídos, e afortunados por termos ouvido e recebido a obra redentora de Jesus.

E assim, como um artista consciencioso que se debate com as implicações de sua obra, devemos considerar o que nossas ações comunicam. Qual é a mensagem que nós pretendemos passar? Quando os cristãos condenam e boicotam publicamente as Olimpíadas, em resposta à cerimônia de abertura, isso dificilmente transmite nossa crença de que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores. E quando Barbara Butch, a DJ que estava no centro da performance do tableau, recebe ameaças de morte e assédio após a performance, nosso silêncio sobre a santidade da vida dela, como alguém que também foi feito à imagem de Deus, é revelador.

Em vez de fazer isso, será que podemos compartilhar uma refeição juntos? E, quem sabe, darmos uma volta pelos corredores de um museu e discutir o que as obras penduradas nas paredes parecem comunicar? Nesse precioso espaço compartilhado, somos capazes de expressar como nos apoiamos em uma esperança que não nos envergonha nem decepciona. Nenhuma quantidade de ridículo supera o amor real que foi derramado em nossos corações pela graça de Deus (Romanos 5.5).

Jared Boggess é o diretor de arte impressa da CT.

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Meus sonhos se realizaram. Mas os ataques de pânico continuaram.

Como descobri a paz de Deus e encontrei alívio para a ansiedade debilitante.

Christianity Today August 2, 2024
Photography by JoMando Cruz for Christianity Today

Tentando me acomodar, virei a cabeça na prancha dura. “Como está o volume?” perguntou uma voz através dos meus fones de ouvido. Fiz um sinal de positivo para o técnico que estava do outro lado da parede de vidro.

Exalei o ar e segurei o controle remoto com o botão para emergência, enquanto a prancha deslizava para dentro do estreito tubo do aparelho de ressonância magnética. Eu esperava que as múltiplas doses do remédio para ansiedade me ajudassem a evitar um ataque de pânico pelos próximos trinta minutos.

Sete anos antes, em 2008, eu tinha me formado no ensino médio e saído de casa para ir para a faculdade. Na época, eu me considerava cristão. Fui batizado aos 14 anos e frequentei a igreja de forma intermitente durante o ensino médio, mas minha fé era nominal e insuficiente para enfrentar a tempestade que eu estava prestes a criar.

Na faculdade, comecei a viver com base em uma ética cada vez mais egocêntrica. Não importava o que estivesse acontecendo — festas, aulas, trabalho — eu queria ser o melhor. Queria ser a pessoa mais bem-sucedida, interessante e importante do mundo. Quanto mais centrada em mim minha vida se tornava, mais eu me valorizava e mais acreditava nos argumentos intelectuais contra a existência de Deus.

No início dos meus 20 anos, eu era um ateu convicto. Eu achava que sabia que Deus não existia e pensava que enxergava todas as falácias do cristianismo. Ridicularizei cristãos abertamente em várias ocasiões e internamente em inúmeras outras.

Enquanto buscava a glorificação pessoal, minha saúde começou a deteriorar. Tive meu primeiro ataque de pânico aos 19 anos. Foi algo diferente de tudo que eu já havia experimentado. Meu coração disparou, meu rosto queimava, meu sangue ficou gelado e o interior do meu corpo parecia querer rasgar minha pele.

É difícil descrever o quão desesperado, sobrecarregado e irracional eu me sentia durante os ataques de pânico. Eu me lembro de um ataque que tive dentro de uma minivan, que descia pela estrada a toda velocidade. Naquele momento, pensei que estaria mais seguro se pulasse do veículo em movimento [do que dentro dele].

À medida que meus ataques de pânico se tornavam mais frequentes e menos previsíveis, uma ansiedade constante tomou conta da minha vida, e minha saúde física se deteriorou ainda mais. Eu sentia minha garganta tão congestionada que ficava difícil respirar. Minhas mãos, pés e rosto alternavam entre formigamento, queimação e dormência. Os músculos começaram a se contrair involuntariamente. Quando eu tentava dormir, minhas pernas vibravam tanto que, no meio da noite, eu ia caminhar na esteira do condomínio de apartamentos em que eu morava. Minha testosterona despencou, meus linfonodos incharam de maneira alarmante e eu tive um surto de herpes zoster.

No meu último semestre da faculdade de direito, em 2015, eu estava apavorado, desesperado por socorro e respostas, indo de médico em médico e automedicando-me para conseguir viver. Quando finalmente peguei meu exame de ressonância magnética, as imagens não mostravam nada — mais um teste inconclusivo que deixava os médicos se questionando.

Em maio daquele ano, eu me formei e comecei a estudar para o exame da ordem. Tirei folga do trabalho no verão e adotei uma rotina rígida de estudos, exercícios e sono. Esse estilo de vida regrado me manteve ocupado e encontrei algum alívio, mas apenas temporariamente. Durante os três meses de espera pelos resultados da prova, a ansiedade retomou o controle.

Depositava minha esperança em duas coisas: passar no exame da ordem e pedir minha namorada, Hannah, em casamento. Alguns meses depois, em um intervalo de oito dias, ambos os planos se concretizaram. Eu estava radiante, mas também profundamente preocupado. Minha ansiedade não havia melhorado, e um novo medo surgiu: os dois sonhos que dominavam minha vida tinham se realizado, e não me trouxeram paz; então, o que traria? Comecei a temer que eu fosse incapaz de me sentir realizado.

Então, algo estranho aconteceu.

Antes do nosso casamento, Hannah e eu morávamos no epicentro da revitalização urbana em San Antonio. Inúmeras vezes, quando íamos a restaurantes, cafés e à feira de produtos da fazenda nas proximidades, passávamos por um pequeno edifício com uma placa que dizia Pearl Street Church [Igreja da Rua Pearl]. Todo domingo, pessoas sorridentes faziam fila do lado de fora, ocupando a calçada e invadindo as ciclovias na rua.

Certo dia, sugeri a Hannah que deveríamos visitar essa igreja. Eu não tinha intenção de acreditar em nada. Esperava encontrar ali músicas comoventes e um ambiente que lembrasse um clube. Também suspeitava que Hannah queria ir à igreja, e se eu fosse com ela, isso aumentaria minha respeitabilidade como futuro marido.

Fomos ao nosso primeiro culto às 18h, em algum período no final de 2015 ou início de 2016. Quando entramos no prédio, eu nos conduzi para a seção menos lotada, no fundo, mas não consegui me esconder. Várias pessoas vieram nos cumprimentar nos minutos antes do início do culto, e o pastor principal nos recebeu com um sorriso entusiasmado. Quando ele se dirigiu ao púlpito para pregar, eu estava cético, na defensiva e pronto para criticá-lo mentalmente. Mas ele me surpreendeu.

Seu sermão explorou o texto de Gênesis 22, no qual Deus disse a Abraão para sacrificar seu único filho. Esta era uma das histórias da Bíblia que eu citava, como ateu, para desacreditar a fé e ridicularizar os cristãos. “Por que um Deus supostamente amoroso exigiria que alguém matasse seu filho como parte de um teste?”, eu perguntava.

Naquela noite, porém, enquanto o pastor pregava, meus olhos se abriram. A instrução de Deus a Abraão não era um teste sem sentido nem sádico; aquela passagem prenunciava profeticamente a obra de Jesus. Era a maneira de Deus mostrar o preço inestimavelmente alto que ele pagaria pela nossa salvação. E, no final, Deus não exigiu que Abraão pagasse esse preço, mas escolheu pagá-lo ele mesmo.

Ao sair da igreja naquela noite, percebi que meus argumentos intelectuais contra Deus e a Bíblia não eram tão sólidos quanto eu imaginava. Eu ainda era ateu — ou, pelo menos, bastante cético. Mas o evangelho que o pastor pregou não era a religião espantalho que eu estava acostumado a atacar. Era algo diferente, algo que eu não entendia, e que deixou em mim uma impressão inefável da verdade. Eu precisava aprender mais.

Nos meses seguintes, li o Novo Testamento e vários livros de apologética, e Hannah e eu começamos a frequentar o mesmo culto, todos os domingos. Durante todo esse tempo, a ansiedade continuou a me atormentar, e senti que estava chegando ao meu limite.

Esse limite chegou em abril de 2016, cerca de quatro meses depois de começarmos a frequentar a igreja. O relógio marcava 2 horas da manhã e eu estava passando mais uma noite em claro, sem dormir. Levantei-me da cama e estendi o tapete de yoga no chão da sala. Tentei alongar as pernas que formigavam e se contorciam, mas não houve melhora. Depois de vários minutos, desisti e me deitei de bruços no tapete.

Eu estava física, mental e emocionalmente exausto. Estava cansado de tentar e não conseguir carregar o fardo esmagador das minhas próprias expectativas. Estava cansado daquele desfile sem fim de doenças físicas e do gélido fluxo de ansiedade. Estava cansado do medo e, acima de tudo, estava cansado de me sentir cansado. Naquele momento, deitado de bruços no meu tapete de yoga, no meio da noite, eu estava prostrado em todos os sentidos da palavra.

Então, pela primeira vez em anos, eu orei. Falei as únicas palavras nas quais consegui pensar: “Seja feita a tua vontade”. Repeti essas palavras por várias vezes, até encontrar energia para orar de forma mais detalhada. Até orei para que, se fosse da vontade de Deus que eu morresse, então que sua vontade fosse feita.

Tudo mudou naquela noite. Filipenses 4.6-7, passagem que encontrei meses depois, captava essa mudança:

Não se preocupem com nada; em vez disso, orem sobre tudo. Digam a Deus o que vocês precisam e agradeçam a Ele por tudo o que já fez. Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede qualquer coisa que possamos entender. Sua paz guardará seus corações e mentes enquanto vocês viverem em Cristo Jesus. (NLT)

A paz de Deus mudou minha vida. Ela me deu poder sobre a ansiedade e o medo, e meu corpo começou a se curar, à medida que a depressão e o desespero davam lugar à alegria e à esperança. Três anos depois, meu pai foi diagnosticado com câncer de esôfago, aos 55 anos. Se isso tivesse acontecido quando eu era ateu, teria me destruído. Mas eu estava blindado com a paz de Deus, e ele me deu a coragem necessária para apoiar meu pai e encorajá-lo com as Boas-Novas.

Kyle Zunker é autor de Amazing Courage: Letters to My Father on Conquering Fear through Faith [Maravilhosa Coragem: Cartas para meu pai sobre como vencer o medo por meio da fé] e de um blog dedicado a ajudar as pessoas a entender a fé.

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A questão da homossexualidade admite divergências entre os crentes?

Em 1Coríntios 6, Paulo traz um modelo claro, compassivo e equilibrado sobre a atração entre pessoas do mesmo sexo.

Christianity Today August 1, 2024
Illustration by Alex Nabaum

No início deste ano, muitos de nós assistimos a cenas da trágica colisão e colapso da Ponte Francis Scott Key, em Baltimore, que levou à perda de muitas vidas e causou enormes danos e transtornos.

À medida que as imagens do episódio surgiam, era impressionante ver como a ponte pareceu desabar de imediato, por inteiro. Dá a impressão de que tudo aconteceu de uma vez só. A ponte foi construída sem quaisquer estruturas de suporte secundárias. A tragédia revelou que todos os suportes que nela existiam eram essenciais. Derrube qualquer um deles e toda a estrutura desabará.

Podemos dizer algo semelhante sobre o ensinamento de Paulo em 1Coríntios 6.9-11, um dos textos-chave da Bíblia que abordam a questão da sexualidade entre pessoas do mesmo sexo. Este não é o único foco do texto — Paulo está falando sobre vários pecados —, mas, ainda assim, ele fornece fundamentos essenciais sobre como devemos abordar essa questão como cristãos.

Nas culturas contemporâneas ocidentais (e cada vez mais nas não ocidentais), a plena afirmação das identidades sexuais LGBTQ e de seus respectivos estilos de vida é um teste decisivo para a aceitação social. Quando eu estava na universidade, em meados da década de 1990, Bill Clinton ainda afirmava que o casamento era [uma união] entre um homem e uma mulher. No campus de universidades seculares de hoje, vozes politicamente conservadoras que defendem o casamento tradicional são raras e combatidas com virulência. É cada vez mais intensa a pressão cultural sobre as igrejas, para que adotem uma postura afirmativa.

Em meio ao clima atual, a igreja não pode se dar ao luxo de negligenciar as palavras do apóstolo Paulo. Ele levanta cinco pontos vitais em 1Coríntios 6 sobre a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo. E não desperdiça palavras. Cada faceta de seu ensino precisa ser sustentada em conjunto com as demais, como as estruturas de suporte vitais de uma ponte. Negligenciar qualquer uma delas que seja desestabilizará toda a nossa abordagem.

Enquanto aborda a questão das disputas legais entre cristãos, em 1Coríntios 6, Paulo insere uma pergunta incisiva: “Vocês não sabem que os injustos não herdarão o reino de Deus?” (v. 9).

Claramente, o reino é o governo amoroso de Deus sobre seu povo, que começa em Cristo e um dia virá em toda a sua plenitude. É a vida para a qual fomos criados, é o mundo como deveria ser. É o que milhões de pessoas desejam inconscientemente, todas as vezes que dizem que “a vida não deveria ser assim”. É o que podemos receber por meio da morte e da ressurreição de Jesus. Seja lá o que for que uma pessoa possa perder na vida, nada seria mais trágico e mais devastador do que deixar de herdar o reino de Deus. A aposta não poderia ser mais alta.

Depois de fazer uma afirmação genérica sobre “os injustos”, Paulo fornece alguns exemplos específicos:

“Não se deixem enganar: nem os sexualmente imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem homens que têm relações sexuais com outros homens, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os alcoólatras, nem os caluniadores, nem os trapaceiros herdarão o reino de Deus.” (v. 9-10)

Os dois termos gregos traduzidos aqui como “homens que têm relações sexuais com outros homens” são malakoi e arsenokoitai — literalmente, “delicados” ou afeminados e “homens que levam outros homens para a cama”, referindo-se respectivamente aos participantes passivo e ativo na relação homossexual. Arsenokoitai é a combinação de duas palavras usadas na tradução grega de Levítico 18.22 e 20.13, passagens que condenam um homem deitar-se com outro homem “como quem se deita com uma mulher”.

Paulo não dá nenhuma indicação de que está se referindo apenas a atividades sexuais entre pessoas do mesmo sexo que sejam forçadas ou não consensuais (algo que era comum no mundo antigo); sua linguagem é ampla e abrange todas as condutas sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Paulo não está mudando as regras, nem introduzindo uma inovação; ele está simplesmente alinhado com o que a Escritura sempre disse: que a intimidade sexual entre pessoas do mesmo sexo é pecaminosa. Na Nova Aliança, o desígnio de Deus para a sexualidade humana continua o mesmo.

Os evangélicos estão acostumados a divergir sobre questões de importância secundária [coisas não essenciais]. A própria Bíblia fala sobre como alguns tópicos podem ser assuntos passíveis de discussão, sobre os quais cristãos sinceros chegam a diferentes conclusões com boa consciência (Romanos 14). Podemos ter convicções divergentes sobre, por exemplo, os detalhes que cercam a volta de Cristo, sobre se todos os dons espirituais milagrosos ainda estão operantes na igreja hoje ou sobre a idade apropriada para batismo (e o modo de batizar).

Nossa necessidade de concordar em discordar pode nos levar apressadamente a presumir que qualquer questão sobre a qual os cristãos tenham divergências deve, por definição, ser de importância secundária. Mas Paulo nos mostra que esse não é o caso com a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo.

Nenhum pecado é banal, pois todo pecado é, em última análise, uma rebelião contra Deus (1João 3.4). Mas, ao incluir a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo nesta lista, Paulo nos mostra o quão profundamente sério é esse pecado. A eternidade está em jogo.

Ele não só enfatiza as implicações eternas de não se arrepender disso, como também alerta seus leitores para que não se deixem enganar a respeito disso.

Paulo espera que vozes dentro ou ao redor da igreja em Corinto preguem o contrário do que ele está escrevendo. Certamente ouvimos muitas dessas vozes na igreja de hoje, afirmando não apenas que é correto permitir para cristãos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, mas até mesmo que esses relacionamentos recebem a bênção de Deus. Paulo, porém, é claro e cristalino em sua mensagem. Abençoar o que Deus condena é impedir que pessoas entrem no reino — é enviá-las para a destruição. A homossexualidade não é uma questão banal.

Um leitor atento dessa passagem poderia apontar, com razão, que a referência de Paulo à sexualidade entre pessoas do mesmo sexo está inserida em uma lista de vários pecados, tanto sexuais (como a imoralidade sexual e o adultério) quanto não sexuais (como a embriaguez e a avareza). Todos desqualificam a pessoa para herdar o reino de Deus. Esses pecados são muito diferentes, mas são todos igualmente graves.

Esta não é a única vez que a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo é abordada no contexto de outros pecados variados. Em Levítico, as duas proibições contra ela aparecem no contexto de outras formas de pecado sexual. É descrita como uma abominação (o que destaca a sua gravidade), mas não é o único comportamento a ser descrito dessa maneira. Provérbios, por exemplo, lista a língua mentirosa, a arrogância e o homicídio como sendo igualmente abomináveis (6.16-19).

No Novo Testamento, continuamos a ver a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo listada entre outros pecados. Em 1Timóteo 1.9-10, assim como em 1Coríntios 6, essa questão é incluída ao lado de pecados sexuais e não sexuais (como perjúrio e agredir os pais). Mesmo em Romanos 1, onde a atração por pessoas do mesmo sexo recebe certa proeminência, isso ocorre precisamente porque é emblemática de algo que é verdade sobre todos nós — ou seja, trocamos o que é natural e divinamente ordenado pelo que é antinatural e transgressivo — e é parte do precedente de que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Romanos 3.23).

O fato de referências bíblicas mencionarem a sexualidade entre pessoas do mesmo sexo junto com formas muito diferentes de pecado demonstra que ela não está em uma categoria própria. Devemos ter cuidado para não destacá-la de uma maneira que possa sugerir que ela está [em uma categoria própria].

Quando precisarmos mencionar a homossexualidade (como certamente precisamos na cultura de hoje), devemos seguir o exemplo dos autores bíblicos e mencioná-la junto com outros pecados igualmente graves. Parte do nosso compromisso com a autoridade das Escrituras é refletir seu equilíbrio e sua proporcionalidade, não atribuindo peso indevido a uma parte de seu ensino nem negligenciando outras partes.

Em algumas das conversas recentes sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, fiquei impressionado com duas coisas. Primeiro, os líderes evangélicos gostam de usar o termo teológico concupiscência no contexto da sexualidade; mas ainda não o vi ser usado em conexão com qualquer outro pecado.

Concupiscência é a ideia de que não apenas nossos atos, mas também nossos desejos são caídos e pecaminosos. Talvez vejamos isso de forma mais notória no ensino de Jesus de que olhar para alguém com intenção lasciva equivale a cometer adultério (Mateus 5.28). Não são apenas os atos sexuais físicos que podem ser pecaminosos, mas os mentais também. (De fato, é difícil resistir a um pecado físico depois de encená-lo mentalmente).

Assim, o desejo sexual entre pessoas do mesmo sexo é pecado em forma de luxúria ou idolatria emocional. Isso precisa ser dito, quando muitos no mundo evangélico querem afirmar que esses desejos são, de alguma forma, neutros. O conceito de concupiscência, porém, parece aplicar-se de forma tão rigorosa a esse pecado, e não a outros.

Uma segunda coisa me deixou impressionado em conversas recentes sobre relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo: tenho me perguntado por que tantas vozes que condenam especificamente a atração por pessoas do mesmo sexo não condenam outros pecados com a mesma paixão.

Quando algumas denominações estão discutindo a desqualificação para o ministério de candidatos que lutam contra o desejo por pessoas do mesmo sexo (e estão se arrependendo disso), eu me pergunto por que o mesmo não é dito sobre aqueles que podem estar lutando contra a ganância, por exemplo. Se a justificativa para tal desqualificação é que a cultura ocidental está promovendo e celebrando a atração entre pessoas do mesmo sexo, então, eu sugeriria que o mesmo deve ser dito sobre a ganância. Nem tudo sobre a ganância é aplicável à relação entre pessoas do mesmo sexo, mas quem pode negar a forma como a nossa cultura faz prosperar e alimenta a ganância?

As duas coisas distorcem o que Deus nos deu na criação. Um nega a boa distinção feita na criação entre homem e mulher, tentando torná-los intercambiáveis no sexo e no casamento. O outro faz o mesmo com a distinção entre céu e terra, pensando que podemos transformar a terra em céu puramente por obter algo. Colocando a questão de outra forma, o que está atraindo mais pessoas para a idolatria e afastando-as do reino de Deus: a homossexualidade ou a ganância?

Ou quando foi a última vez que você ouviu um pastor pregar contra a calúnia (que Paulo também menciona em 1Coríntios 6.10)? O discurso evangélico e reformado (especialmente nas redes sociais) está repleto de calúnias, difamação e acusação.

Todos os pecados mencionados por Paulo são merecedores de nossa reflexão cuidadosa e sóbria. Todos nós lutamos contra algo que está listado ali. Devemos ficar mais angustiados e preocupados com nossos próprios pecados.

Em um mundo caído, cada cultura caída estará mais inclinada a determinados pecados do que a outros. Líderes cristãos frequentemente se verão tendo que tratar de alguns pecados com mais frequência do que de outros, simplesmente em resposta às mensagens da cultura. Não há dúvida de que, atualmente, a atração por pessoas do mesmo sexo está sendo fortemente promovida nas instituições ocidentais. Em razão disso, não é surpresa que estejamos vendo mais pecado sexual entre pessoas do mesmo sexo no mundo ao nosso redor.

Quando se faz grande propaganda de determinado pecado, isso não só fornece legitimidade para aqueles que já estão inclinados a cometê-lo, como também encoraja outros a cometê-lo, mesmo pessoas que, de outra forma, nunca o cometeriam. (Um exemplo disso é o crescimento explosivo de jovens que se identificam como não-binários, especialmente o fenômeno da disforia de gênero). A igreja deve se posicionar de forma mais firme sobre esse assunto. É necessário responder ao que está sendo imposto a nós pela cultura.

Mas seria errado concluir, com base nisso, que a homossexualidade é um problema apenas ocidental. No ano passado, tive o privilégio de participar de uma conferência para anglicanos de todo o mundo, organizada pela maravilhosa liderança da Igreja Anglicana de Ruanda. Foi emocionante nos reunirmos, adorarmos e nos aconselharmos com uma ampla gama de crentes culturalmente tão diversos. Eu liderei um workshop sobre a teologia do corpo e como ela se aplica às discussões sobre sexualidade e gênero.

Várias vezes durante a conferência, ouvi líderes dizerem que a atração por pessoas do mesmo sexo não é um problema em países não ocidentais. Um deles me disse diretamente: “Isso não é problema na África.”

Mas a inclusão desse tema por Paulo em 1Coríntios 6 nos lembra que não se trata apenas de um problema ocidental contemporâneo. É uma questão relativa ao ser humano caído. Embora possa não ser tão predominante em outras partes do mundo, isso não significa que seja inexistente lá. Na verdade, frequentemente sou procurado por crentes africanos que lutam com a atração por pessoas do mesmo sexo e procuram maneiras de encontrar ajuda.

Assim como a ganância, o roubo e a embriaguez, a atração por pessoas do mesmo sexo existia na antiga Corinto e existe hoje. Não devemos nos surpreender ao ver qualquer desses pecados mencionados por Paulo emergindo em qualquer coração humano. A atração por pessoas do mesmo sexo não é algo inesperado.

Em seguida, Paulo faz uma inversão abrupta e bela, após condenar o pecado: “Assim foram alguns de vocês.”, ele diz (1Coríntios 6.11). Os leitores de Paulo mudaram e de forma decisiva. A transformação já aconteceu.

Paulo não listou pecados aleatórios. Estes são pecados contextuais nos quais os cristãos coríntios viviam; são pecados que os definiam. No entanto, Deus interveio. Assim foram alguns de vocês. O que eles eram antes, já não são mais. Paulo explica o que justifica essa mudança dramática: “Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (v. 11).

Os coríntios foram lavados: Deus os purificou de seus pecados por meio do sangue derramado por Cristo. O que deveria contar contra eles foi retirado. Como Paulo coloca em outra passagem, Deus “nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária.” (Colossenses 2.13-14).

Eles foram santificados: Deus não apenas os purificou, mas também fez deles nova criatura e os separou como seus. Uma mudança decisiva ocorreu em sua relação com o pecado. Eles não estão mais sob seu domínio e controle, escravizados a seus desejos e caminhos.

E foram justificados: Deus os declarou justos diante dele, absolvidos e livres de qualquer acusação que pudesse ser levantada contra eles. Agora, Deus pode ser eternamente favorável a eles.

Essas palavras dão a todos os cristãos um profundo encorajamento. Pecados não são incontornáveis. Os coríntios precisavam ser lembrados disso, e nós também. Muitos desses pecados podem parecer impossíveis de superar. Frequentemente, a mentira do Maligno é que determinado pecado faz parte da nossa identidade, que não vale a pena tentar negá-lo ou viver de maneira diferente.

Mas a gloriosa verdade é vista no contraste dramático entre o que esses coríntios foram e quem eles são agora. Isso nos dá grande esperança para aqueles que conhecemos e que parecem estar presos ao pecado sexual com pessoas do mesmo sexo. Não há pecados incontornáveis.

Um dos tristes padrões que se repetem na Bíblia é o povo de Deus sendo tentado a voltar para algo do qual já foram libertos. Os israelitas no Antigo Testamento, depois de serem poderosamente libertos da escravidão no Egito, anseiam voltar para ela.

E os membros da igreja de Corinto ainda precisam ser advertidos sobre a gravidade dos pecados dos quais foram tão gloriosamente convertidos. Eles precisam ser lembrados de que aqueles que continuam no pecado correm o risco de serem excluídos do reino de Deus. Eles precisam ser alertados sobre as vozes que buscam enganá-los.

Os cristãos ainda podem ser tentados por pecados do passado, mesmo após a conversão. Deus nos fez novas criaturas, mas ainda continuamos a sentir a presença da nossa carne pecaminosa.

Quando me mudei para o outro lado da cidade, alguns anos atrás, passei os primeiros dias dirigindo de volta para minha antiga casa, no meu antigo bairro, por engano. Da mesma forma, não importa quão dramática seja a conversão, conservamos uma memória muscular de nossos pecados passados.

Cristãos que vieram de um contexto gay não devem se surpreender se ainda sentirem algum resquício de desejo por esse pecado, mesmo que tenham rompido decisivamente com ele em seus corações. A vida cristã saudável não é evidenciada pela ausência de lutas contra o pecado, mas sim por uma guerra aberta contra ele (Gálatas 5.17). Somos chamados a “mortificar os atos do corpo” (Romanos 8.13), o que não precisaria ser dito se fôssemos agora imunes a esses mesmos atos.

Ao considerarmos os pecados listados por Paulo em 1Coríntios 6.9-10, podemos descobrir que um ou mais deles continuam a ser uma espécie de tentação de longo prazo para nós. Pode haver pessoas em nossas igrejas que, embora sejam profundamente convertidas a Cristo e estejam crescendo nele, continuam a sentir tentação em relação à atração por pessoas do mesmo sexo. Isso não coloca em dúvida a legitimidade de sua conversão nem a saúde de sua caminhada com o Senhor.

Como aqueles que foram lavados, santificados e justificados, ainda precisamos ser advertidos contra o pecado. Ainda não somos imunes a ele. Continuaremos a sentir a presença de nossa natureza pecaminosa, até recebermos nossos corpos da ressurreição, ressucitados em pleno poder e glória (1Coríntios 15.43), que serão semelhantes a Jesus, “pois o veremos como ele é” (1João 3.2). Enquanto isso não acontece, continuamos a caminhar, justificados, mas ainda vulneráveis; libertos, mas ainda não totalmente livres; tentados, mas, ainda assim, regozijando-nos.

As cinco declarações de verdade em 1Coríntios são fundamentos cruciais para uma perspectiva bíblica saudável sobre a atração por pessoas do mesmo sexo. Devem ser mantidas juntas. Negligenciar qualquer uma delas resultará na perda dessa saúde.

Negligenciar o claro ensino das Escrituras de que aqueles que praticam a homossexualidade não herdarão o reino dos céus é enviar homens e mulheres à destruição e negar-lhes a bênção do arrependimento. Tratar a atração por pessoas do mesmo sexo como se fosse uma categoria singular de pecado é deixar que muitas pessoas se sintam fora do alcance da graça de Deus e fazer com que outras se sintam (igualmente de forma perigosa) superiores àqueles que experimentam atração pelo mesmo sexo. Alegar que a homossexualidade é um problema único pode fazer com que aqueles que se sentem atraídos por ela se sintam invisíveis. Como aqueles que são tentados pela atração pelo mesmo sexo ouvirão o evangelho, se ninguém sequer souber que eles estão lá?

Em contrapartida, negar que a atração por pessoas do mesmo sexo é algo de que se pode escapar é negar o poder transformador do evangelho e deixar que pessoas pensem que seu pecado as define.

E remover o último pilar — negar que a tentação continua para o crente — daria pouco ou nenhum apoio pastoral a cristãos sinceros, que estão fugindo do pecado. Isso torna a confissão mais difícil, alimenta as labaredas da vergonha e deixa aqueles que são tentados ainda mais vulneráveis a ter uma recaída em relação ao próprio pecado que estão tentando evitar.

Temos tudo o que precisamos na Palavra escrita de Deus. Mas precisamos de tudo o que Deus tem a dizer sobre um tema tão urgente e pessoal. Precisamos nos recalibrar constantemente, voltando às Escrituras, aos seus alertas, às suas garantias e à sua esperança verdadeiramente incomparável.

Sam Allberry é pastor associado da Immanuel Nashville e autor de Is God Anti-Gay? [Deus é anti-gay?] e You’re Not Crazy [Você não é louco].

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Cuide de si mesmo, antes de cuidar dos outros

O autocuidado parece egoísta e incoerente, mas não é.

Christianity Today July 30, 2024
Illustration by Keith Negley

Aos 24 anos, quando eu era recém-formado no seminário e tinha me casado há apenas seis dias, comecei meu primeiro ministério como capelão hospitalar. Nunca tinha visto um cadáver antes. Não tinha experiência com luto e dor. Estava completamente fora da minha zona de conforto.

Assim que cheguei, fui brevemente recepcionado pela equipe do hospital, que me entregou quatro bips (dispositivos de notificação de mensagens populares nos anos 1980 e 1990) e me levou para conhecer as instalações. Poucos minutos depois, um dos bips começou a piscar e logo me vi em um quarto pequeno, cheio de pessoas descontroladas e gritando. Elas tinham acabado de ser informadas que a mãe havia morrido na mesa de cirurgia. Eu não tinha ideia do que fazer. Foi ali que fiquei cara a cara com a minha ansiedade pela primeira vez.

As semanas seguintes foram semelhantes. Não há nada como uma morte súbita, testes de medula óssea, crianças carecas e cirurgias de emergência para gerar ansiedade. Fiquei surpreso com o quanto tudo isso gerava ansiedade em mim.

Capelães entram em dezenas de quartos repletos de ansiedade todos os dias. Nós nos conectamos profundamente com estranhos, nos piores e mais íntimos momentos de suas vidas. Damos testemunho da presença de Cristo em meio a isso tudo. Como fazermos isso, dia após dia, sem absorver toda a ansiedade ao nosso redor? Como não contaminarmos o ambiente com a nossa própria ansiedade? Aquelas primeiras semanas como capelão revelaram uma grande inquietação que borbulhava sob a superfície da minha consciência. Isso afetava minha capacidade de estar presente e conectado com Deus e com as pessoas, em seus piores momentos.

No ano em que servi como capelão, fui apresentado à teoria dos sistemas, que ajuda especificamente a identificar a ansiedade — primeiro, em nós mesmos e, depois, nas pessoas ao nosso redor. Estudei mais sobre isso na pós-graduação e venho estudando e ensinando essa teoria desde então. Agora viajo pelo mundo ajudando líderes a aprenderem ferramentas para identificar seus próprios gatilhos, perceber quando estão reativos, em vez de conectados, e reconhecer os padrões de ansiedade que se desenvolvem em suas equipes.

Passei a ver a gestão da ansiedade como um caminho essencial para o bem-estar. É um trabalho complexo, pois a maioria dos líderes tem o foco tão voltado para a missão a ser cumprida ou para os outros que sente dificuldade em perceber a ansiedade em si mesmos. Eles não percebem com naturalidade quando estão sob o controle da ansiedade ou quando a estão absorvendo e espalhando por aí.

Depois de um turno particularmente exaustivo, durante meus dias de capelania, o médico responsável saiu do quarto de um paciente e me disse: “Quando o coração de alguém parar de bater, primeiro verifique seu próprio pulso”. Você provavelmente já ouviu um comissário de bordo dizer a mesma coisa com palavras diferentes: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, antes de ajudar os outros.”

Você não é capaz de ajudar outra pessoa, quando seu próprio corpo está faminto por oxigênio. Você não pode ser um servo eficaz para Deus, quando seus próprios gatilhos e pressupostos falam mais alto em seus ouvidos do que a orientação do Espírito.

E assim começou uma lição de vida que contrariava todas as minhas expectativas, uma lição que ainda estou aprendendo: primeiro, devo verificar meu próprio pulso, colocar a máscara de oxigênio em mim e me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com os outros. Isso não é egoísmo; é o caminho mais rápido para prestar atenção ao que realmente está acontecendo, a fim de que eu possa entregar isso a Deus e relaxar em sua presença. Seguir esse caminho aumenta a chance de eu agir com base na força e no mover de Deus, e não com base na minha própria reatividade desenfreada.

Líderes equilibrados sabem o que está acontecendo sob a superfície. Eles sabem como focar nas dinâmicas entre as pessoas tanto quanto na missão em questão. São capazes de entrar em locais repletos de alta ansiedade ou de alta ambiguidade e, em vez de absorver e espalhar a ansiedade, descansar na presença de Deus. Eles são capazes de ouvir para aprender, e não para se defender ou para sair consertando tudo. Têm clareza a respeito do fardo que lhes pertence e precisa ser carregado por eles, do fardo que pertence ao outro e do fardo que pertence a Deus. (A maioria dos líderes assume responsabilidades demais. Carregamos mais do que Deus nos pediu para carregar.)

Líderes equilibrados conhecem e gerenciam seus gatilhos antes de uma reunião, para aumentar sua capacidade de conexão naquele momento. Eles se permitem ter uma estatura humana, em vez de tentarem ser sempre super-humanos. Não precisam provar nada a si mesmos nem parecer impressionantes e gerenciam o desejo de exagerar ou de se exibir. São capazes de ter uma conversa difícil com um crítico sem se tornarem defensivos ou agressivos.

Quando você percebe que não está bem, o que faz logo em seguida? Muitos de nós simplesmente continuam em frente, alguns até chegar ao burnout ou ao fracasso. Quando um pastor ou um líder não está bem e, ainda assim, oferece Jesus a alguém, pode causar danos colossais em nome de Cristo.

Pense nos líderes cristãos dos últimos oito anos que ofereceram Jesus, enquanto eles mesmos não estavam bem. É uma lista longa, dolorosa e que gerou graves consequências. Você teve uma experiência pessoal com algum líder cristão local que não estava bem, mas tentava proclamar a Cristo? O que teria sido diferente [nessa experiência], se esse líder tivesse primeiro verificado o próprio pulso?

Mas chega de falar dos outros. Deus nos convida a assumir as nossas próprias responsabilidades.

Eu apresento um podcast para a Christianity Today chamado Being Human [Sendo Humano]. Em uma das partes do podcast faço a cada convidado uma série de perguntas chamadas “Desafio: Perguntas sobre Ansiedade”. Como você pode imaginar, o título basicamente se vende sozinho. Uma das perguntas mais populares do desafio é: “Como você sabe quando não está bem?”

Aqui está outra: “Quem percebe que você não está bem, antes de você mesmo perceber?”

Mas a pergunta mais provocativa sobre o bem-estar não está no meu desafio. É uma pergunta que Jesus fez: “Você quer ser curado?”

Essa pergunta me incomoda desde a primeira vez que a li nas Escrituras.

Jesus estava em Jerusalém, para uma festividade, quando passou pelo famoso tanque de Betesda. Dizia-se que, se alguém conseguisse entrar no tanque quando a água se agitava, seria curado. Vou deixar que João continue a contar a partir daqui:

Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles esperavam um movimento nas águas. De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque, depois de agitada as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.

Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos. Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: “Você quer ser curado?” Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.

Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”. Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar. (João 5.3-9)

Note que o homem não respondeu apenas com um “Sim, quero, por favor”. Ele rebateu a pergunta de Jesus com uma espécie de desculpa. Penso muito nisso. Você quer ser curado? Em vez de dizer “sim”, tenho a tendência de dizer: “Deixe-me explicar minha situação.”

Acontece que minhas respostas cheias de ansiedade como líder muitas vezes são mecanismos de enfrentamento que uso desde criança. Há décadas, eles têm sido uma ajuda constante, mas insuficiente em tempos de dificuldade. Embora sejam pouco confiáveis, continuo a depender deles. Desvencilhar o que minha ansiedade me chama a fazer daquilo que Deus me chama a fazer é um trabalho difícil e lento. Embora atualmente eu ensine pessoas nessa área, em tempo integral, o bem-estar não é uma experiência corriqueira para mim. Exige intencionalidade, coragem e prática.

Você quer ser curado? Espero que sim. Estamos carentes de líderes cristãos que assumam a responsabilidade pelo próprio bem-estar. A liderança está se tornando algo cada vez mais complexo, e as pessoas parecem estar mais reativas e mais reservadas do que nunca. Precisamos de líderes que saibam como se conectar profundamente — com os outros, é claro, mas também com Deus e consigo mesmos, o que é ainda mais importante.

Fiquei surpreso ao descobrir que, às vezes, eu precisava me conectar comigo mesmo, antes de me conectar com Deus. Ao prestar atenção primeiro naquilo que estava acontecendo em mim, eu tinha mais para levar a Deus, mais para entregar a ele, mais para lhe confiar. Isso me ajudou a relaxar, a descansar na presença de Deus.

Duas superpotências na gestão da ansiedade são a percepção e a curiosidade. Se você aprender a perceber a ansiedade — em você e nos outros —, é menos provável que a assimile e a espalhe. Se você conseguir adotar uma postura de curiosidade, para consigo mesmo e para com os outros — mesmo com pessoas mais desafiadoras —, aumentará suas chances de estar bem. Aqui estão algumas perguntas que você pode se fazer:

Como sei quando estou ansioso?

Quem sabe antes de mim [que estou ansioso], e quais são os sinais?

O que me pertence e devo carregar, o que pertence a eles, o que pertence a Deus?

O que acho que preciso, mas na verdade não preciso?

Qual é a prática que leva cinco minutos ou até menos e me ajuda a relaxar na presença de Deus?

Nos últimos tempos, quando me senti completamente amado(a)?

Como uma pessoa de fé, seu bem-estar é um presente que você pode dar às pessoas que fazem parte dos seus círculos de convivência. Elas serão gratas, e isso as ajudará a estar bem também. Mas, decididamente, você vale o esforço necessário para ficar bem. Seu bem-estar também é importante para Deus. Espero que você possa fazer uma pausa e descansar na presença de Deus hoje.

Steve Cuss é o apresentador do podcast Being Human da CT.

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Books

Uma tentativa de assassinato no Brasil levou a política para dentro das igrejas

Jair Bolsonaro, o então candidato presidencial, foi esfaqueado um mês antes da eleição de 2018. De lá para cá, a polarização e o nacionalismo cristão só cresceram.

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem uma vigília de oração em apoio ao candidato, após ele ter sido esfaqueado.

Apoiadores de Jair Bolsonaro fazem uma vigília de oração em apoio ao candidato, após ele ter sido esfaqueado.

Christianity Today July 30, 2024
Suamy Beydoun / AP Images

Em 6 de setembro de 2018, véspera do Dia da Independência do Brasil, uma multidão carregava Jair Bolsonaro pelas ruas de Juiz de Fora, quando um homem se aproximou e esfaqueou o então candidato presidencial no abdome.

Bolsonaro foi levado às pressas para o hospital; a facada havia lesionado o intestino delgado e uma artéria próxima, causando forte hemorragia interna. Os ferimentos o mantiveram hospitalizado por mais de três semanas, durante o auge da campanha presidencial.

“Deus agiu e desviou a faca”, disse o filho de Bolsonaro, Flávio, horas após o fato.

Embora Bolsonaro não tenha saído do ataque à sua vida dando socos no ar e com um olhar desafiador, sua recuperação da tentativa de assassinato inflamou sua base e aumentou a quantidade de apoiadores, entre os quais se encontrava um número significativo de cristãos evangélicos que o levariam à presidência alguns meses depois.

Poucas semanas antes do atentado, pesquisas mostravam que 26% dos evangélicos brasileiros, o que inclui protestantes tanto de denominações históricas quanto neopentecostais, apoiavam Bolsonaro. Após o esfaqueamento, esse número subiu para 36%. No primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, 48% dos evangélicos votaram em Bolsonaro, número que aumentou para 69% durante seu segundo turno vitorioso, em novembro.

Antes do incidente, Bolsonaro não tinha sido tímido em suas tentativas de cortejar o voto evangélico. O jornalista Ricardo Alexandre observa em seu livro E a verdade vos libertará: reflexões sobre religião, política e bolsonarismo:

Em agosto de 2018, durante uma entrevista à GloboNews, o então candidato declarou: “Eu sou cristão” e, sugerindo uma natureza sobrenatural para seu sucesso, continuou: “Olhe o apoio popular que estou tendo. Não é inimaginável que isso esteja acontecendo? Como eu consegui isso? Quando falo sobre ‘missão de Deus’, penso no seguinte: Qual será meu lema? Qual será minha bandeira? Então fui para João 8.32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.’”

Até o ataque, o apoio evangélico ao candidato havia sido amplamente manifestado durante a campanha e comícios — ou seja, fora da igreja. A separação entre igreja e Estado está consagrada na Constituição brasileira, e são vedadas todas as formas de propaganda política em quaisquer “bens de uso comum”, o que inclui igrejas. O apoio formal de uma igreja a um candidato pode resultar em uma multa para o candidato e para o líder religioso ou, possivelmente, até forçar um candidato a renunciar à corrida eleitoral.

No entanto, após a violência sofrida, o nome de Bolsonaro começou a ser invocado destemidamente nos púlpitos das igrejas.

“Para a maioria, era momento de trazer uma palavra de reconciliação entre os apoiadores de Bolsonaro e aqueles que se opunham a ele”, disse o sociólogo Igor Sabino, especialista em relações internacionais, que se lembrou de ouvir pastores ensinando sobre as Escrituras relacionadas ao apoio a autoridades governamentais, como Romanos 13, 1Timóteo 2 e o Salmo 72.

A Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), a maior das organizações da Assembleia de Deus do país, organizou uma campanha de oração logo após o atentado, pedindo a Deus que “nos direcione a votar em homens e mulheres que estejam comprometidos não apenas com o bem e o futuro da nação, mas, acima de tudo, comprometidos com Deus e sua Palavra”.

Na Igreja Batista Atitude, que fica no Rio de Janeiro e é frequentada pela esposa de Bolsonaro, Michelle, os líderes pararam para orar pelo candidato, durante uma conferência que estava sendo realizada no mesmo dia do esfaqueamento, e os que estavam no santuário se ajoelharam.

Silas Malafaia, que lidera a megaigreja pentecostal Assembleia de Deus Vitória em Cristo, abordou a questão das eleições durante o culto da noite, naquele 6 de setembro, citando as palavras de Paulo em 1Timóteo 2.1-2 “que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade”.

Enquanto Bolsonaro se recuperava no hospital e, nos dias que se seguiram, em que fez aparições públicas, muitos cristãos que oravam pelo candidato ferido tornaram-se mais vocais sobre seu apoio a ele.

“As orações não eram apenas pela saúde de Bolsonaro em um momento de crise — algo que é obrigação de todo cristão”, disse Paulo Won, pastor da Igreja Presbiteriana Metropolitana de Campinas. “Eram orações por sua vitória. Do espectro pentecostal até as igrejas históricas mais tradicionais, a própria liderança estabeleceu uma direção muito clara em favor da candidatura dele.”

Parte desse fenômeno se manifestou em ação. Quatro dias após o atentado, um grupo de pastores que incluía a Coalizão Pelo Evangelho (filial brasileira da The Gospel Coalition) publicou uma carta aberta que parecia fazer referência a pontos de discussão da campanha de Bolsonaro.

Um dos pontos da carta, por exemplo, pedia a Deus para “frustrar todas as tentativas de fraude ao sistema eleitoral”. (Na época, apenas a campanha de Bolsonaro estava fazendo alegações de fraude em urnas de votação eletrônicas.) O documento também recomendava “rejeitar candidatos com ênfases intervencionistas nas esferas familiar, educacional, eclesiástica e artística”, refletindo as alegações que Bolsonaro e seus aliados faziam contra o partido adversário, o Partido dos Trabalhadores.

A carta foi amplamente compartilhada nas mídias sociais, sites e boletins de igrejas reformadas.

No mesmo dia do ataque, Malafaia, conhecido por suas profecias políticas, declarou em um vídeo postado em seu canal do YouTube que a tentativa de assassinato era na verdade “um sinal de que Bolsonaro deveria ser o próximo presidente do Brasil”, ecoando as palavras de apoiadores de Bolsonaro do lado de fora da igreja.

Vendedores ambulantes vendiam camisetas com o rosto de Bolsonaro e as palavras Ele sangrou por você, lembra Sabino. Brasileiros compartilharam memes de Jesus caminhando ao lado de Bolsonaro no hospital e de pé, ao lado dos cirurgiões que o operaram.

“Sua sobrevivência trouxe elementos de batalha espiritual para a campanha, como se houvesse evidências de um plano sobrenatural para ele, de que ele seria o ungido de Deus”, disse Sabino.

Para os apoiadores evangélicos de Bolsonaro, esse “plano” era Deus levantando alguém para “salvar o Brasil das garras de um governo esquerdista e ateu”, disse Victor Fontana, pastor da Comunidade da Vila, uma igreja reformada em São Paulo.

Aqueles que buscavam uma linha condutora messiânica se apegaram a qualquer coisa que parecesse dar maior significado ao ataque. “Isso foi tolice”, disse Fontana, em retrospecto. “[O ataque] não foi um ato moral. Ele não escolheu ser esfaqueado.”

As semanas entre o ataque e a eleição se tornaram uma “união do messianismo brasileiro com o nacionalismo cristão”, de acordo com o jornalista Alexandre. “Bolsonaro se apresentava como alguém enviado por Deus, um portador da verdade e da salvação para o Brasil. E quem se levantará contra o ungido do Senhor? Por essa perspectiva, votar contra ele seria o mesmo que se opor aos planos de Deus.”

Essa mentalidade impediu muitos cristãos brasileiros de examinar criticamente Bolsonaro como candidato, inclusive de refletir sobre seus aparentes endossos à ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985 e sobre declarações que muitos consideraram misóginas e preconceituosas.

Em vez disso, depois que ele ganhou a presidência naquela eleição de 2018, os evangélicos raramente o criticaram durante seu mandato. Muitos se juntaram à invasão do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do palácio presidencial, em 8 de janeiro de 2023, apelando ao exército por um golpe militar, depois que Bolsonaro perdeu a eleição do ano anterior e a acusou de ter sido roubada. Vários manifestantes carregavam Bíblias, oraram antes de invadir o Congresso e cantaram hinos, enquanto eram presos pela polícia federal. Entre os detidos estavam pelo menos quatro pastores.

“Parece que muitos evangélicos no Brasil não entendem inteiramente como a democracia funciona, com a alternância natural de poder”, disse Won. “É como se a democracia não importasse, e o que importasse fosse a permanência do ungido de Deus.”

Seis anos após o incidente do esfaqueamento, alguns pastores agora questionam o que aconteceu. “Cometemos o erro de fechar os olhos para aqueles que se dizem cristãos, mas cujas ações estão longe de Cristo”, disse Ziel Machado, pastor metodista e vice-reitor do Seminário Servo de Cristo em São Paulo.

Líderes e fiéis evangélicos brasileiros poderiam ter defendido ideais democráticos em 2018, e nos anos seguintes, diz Daniel Guanaes, pastor da Igreja Presbiteriana do Recreio, no Rio de Janeiro. Ele acredita que incidentes como o esfaqueamento de Bolsonaro e o recente atentado a tiros contra o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, oferecem uma oportunidade para a igreja se posicionar contra a violência política, enfatizando como tais atos são antagônicos ao cristianismo e à democracia.

“Legalmente falando, são crimes; teologicamente, são pecados”, disse ele. Mas esse não foi o caminho que a igreja brasileira tomou. “Nós partidarizamos o atentado. E estávamos errados sobre isso.”

A igreja de Jesus Cristo não deve ser confundida com o movimento evangélico no Brasil (ou nos Estados Unidos ou em qualquer outro país), nem com o movimento social estudado por cientistas políticos, diz Alexandre, e misturar os dois trará repercussões negativas de peso para o crescimento da igreja.

“Essa identificação da igreja com uma facção política é o beijo da morte para o evangelicalismo brasileiro”, disse ele. “Isso ficará muito claro nas estatísticas de filiação religiosa nos próximos anos.”

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Books

Com ou sem penalidades, atletas falam de sua fé

O espaço público está cada vez mais hostil à religião. Mas não se espante quando atletas olímpicos transbordarem de agradecimento a Deus.

Christianity Today July 29, 2024
Bongarts / Staff / Getty / Edits by CT

As cerimônias de abertura das Olimpíadas são celebrações deslumbrantes de glórias nacionais e de união global. Mas, se além da abertura você assistir os jogos em si, notará um padrão incomum: verá que os atletas estão sempre falando sobre Deus.

Se você assistiu às eliminatórias olímpicas do mês passado, notará a mesma coisa. Atletas de todos os tipos continuamente deram crédito a Deus, muitas vezes em termos abertamente cristãos. Era quase como uma competição dentro da competição, para ver quem conseguia superar os demais em redirecionar os louvores para o céu.

Para mim, Sydney McLaughlin-Levrone, a estrela do atletismo dos EUA, venceu essa competição. Depois de quebrar o recorde mundial (de novo) nos 400 metros com barreiras femininos, ela respondeu à pergunta de um repórter desta forma: “Sendo bem sincera, louvado seja Deus. Eu não esperava por isso, mas ele pode fazer qualquer coisa. Tudo é possível em Cristo. Estou simplesmente espantada, perplexa e em choque.” O repórter deu um riso nervoso e passou para o próximo atleta das eliminatórias.

Não é novidade ver atletas agradecerem ao Senhor por seu sucesso. Mas assistir a essas demonstrações públicas de piedade me fez pensar: por que isso ainda é normal? A cerimônia do Oscar não pode ser confundida com um espaço para a igreja. Assim como também [não podem] os grandes encontros de escritores, jornalistas, músicos, investidores ou políticos. Os eventos esportivos parecem ser o último refúgio “aceitável” para a fé pública em nossa cultura secular.

Afinal, quase ninguém critica McLaughlin-Levrone e outros atletas que se professam publicamente cristãos por seus elogios. Isso é permitido. Os repórteres podem achar peculiar ou até mesmo bizarro, mas os atletas geralmente não são punidos por sua religiosidade. E, mesmo se fossem, fica claro que eles não se importariam. Em uma época em que a fé é menosprezada, ignorada ou relegada à vida privada, os atletas são assumidamente fiéis em público. Mas por quê?

Acho que o lugar por onde devemos começar é a natureza do esporte em si. A disciplina dos atletas é algo rigorosamente controlado, pois, quando o apito soa, nada está sob controle. É puro caos, contingência e acaso ao longo de todo o percurso da prova. Os céus se enchem de nuvens de chuva; a quadra fica escorregadia com o suor; a pista, porosa; a estratégia dos oponentes é imprevisível.

A variável mais importante é o corpo. Os atletas de ponta tratam seu corpo quase como uma entidade separada — dipensam-lhe cuidados, tratamentos, alimentação, descanso, confiança, e fazem dele alvo até mesmo de culpa. Um atleta que comete algum deslize, tropeça ou sofre uma lesão diz: Meu corpo falhou comigo. Sabemos o que isso significa. Quem pode prever, com absoluta certeza, quando um ligamento irá romper ou quando terá uma cãibra muscular?

No Jogo 1 das Finais da NBA de 2014, LeBron James — na época, o melhor jogador de basquete do planeta — teve que sair prematuramente devido a cãibras. Por quê? O estádio estava um pouco mais quente do que o normal. Ele era conhecido por pedir ar condicionado gelado onde quer que jogasse, tanto que os fãs especularam que o time adversário, meu amado San Antonio Spurs, manteve o local aquecido para ter uma vantagem competitiva. Seja verdade ou não, os Spurs venceram o jogo e a série, e tudo porque o jogador mais importante da liga não conseguiu evitar que seus músculos tivessem espasmos.

É com razão, portanto, que os atletas se voltam para Deus. Ninguém além de Deus é soberano. Não posso controlar o clima, mas ele pode. Não posso impedir que meu corpo falhe, mas ele pode. Até o vento e as ondas lhe obedecem (Mateus 8.27). Bolas de futebol e de softball não deveriam lhe obedecer também?

É por isso que os atletas, assim como os fãs, podem ser tão supersticiosos. Eles podem ou não acreditar em Deus, mas usam as mesmas meias em todos os jogos, esfregam estatuetas para dar sorte, comem a mesma refeição no mesmo horário do dia: é como uma mágica esportiva. Os “deuses do esporte” são bastante exigentes e podem ser apaziguados por meio de rituais complexos ou ficar irritados pela menor das transgressões. Invoca-se o “carma” para apóstatas, traidores e trapaceiros. Até mesmo um cético como Michael Jordan, depois de espiar os companheiros de equipe, se curvará à meditação Zen, desde que o técnico Phil Jackson prometa que isso os ajudará a vencer.

Para os atletas, Deus não está apenas no comando do momento. É ele quem governa a história. Isso é verdade para todos nós, em todos os momentos, mas os atletas de elite são visceralmente lembrados disso com uma frequência que poucos de nós experimentam.

Não deveria ser nenhuma surpresa, portanto, que um atleta vitorioso mencione nada mais do que Deus respondendo a uma oração. Ele contará ao mundo uma história — uma saga divinamente dirigida pelo dramaturgo celestial. E dirá: Eu nasci para isso; fui criado para fazer isso; esse resultado foi ordenado desde o início. Claro, ele pode estar influenciado pela emoção do momento. Lá no fundo, porém, ele está expressando sua fé na providência divina. É mais uma maneira de ser claro sobre o controle. Nenhum de nós tem controle, pois somente Deus o tem, e quanto mais cedo se reconhece isso, mais cedo é possível ter paz, quando se perde, e alegria genuína, quando se ganha.

Por fim, as competições atléticas são sobre nada mais do que glória. Homero disse justamente isso, há quase 3.000 anos: “Que maior glória acompanha um homem, enquanto vive, / do que a que ele conquista com pés que correm e mãos que lutam?” A glória brilha sobre o último homem que se mantém de pé, sobre a primeira mulher a cruzar a linha de chegada, sobre o time com a pontuação mais alta quando o jogo acaba. Os vencedores são celebrados com status, fama, dinheiro e aplausos. No entanto, o que os próprios vencedores parecem sentir? Alguns deles se pavoneiam e contam vantagem, mas muitos caem de joelhos e choram como crianças. Pergunte a eles o que sentem e lhe dirão: gratidão.

Visto de uma perspectiva secular, não faz sentido: mas você é grato a si mesmo? Você é quem acabou de fazer isso!

O que os atletas intuem, porém, é que, de alguma forma, essa conquista é verdadeiramente deles e é uma dádiva. Assim, eles agradecem a seus companheiros de equipe, a sua família e aos pais — especialmente à mãe — porém, mais do que a qualquer um deste mundo que tenha lhes dado algo, eles agradecem ao “Pai das luzes”, pois sabem que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto” (Tiago 1.17, RSV). Os atletas se esforçam além dos limites de sua capacidade e, no êxtase do triunfo, não podem deixar de declarar a verdade: Eu não pertenço a mim mesmo, mas pertenço — de corpo e alma, na vida e na morte — ao meu fiel Criador, o Senhor soberano.

Os esportes, assim como outras formas de arte, são canais potenciais de transcendência. É por isso que assistimos e admiramos os atletas. É por isso que os atletas às vezes não conseguem dizer por que fizeram determinada escolha em campo ou o que estavam pensando naquele momento. Eles mergulham tanto no fluxo, tão esquecidos de si mesmos, tão presentes para os companheiros de equipe e para as circunstâncias, que se perdem. A beleza que resulta disso, para eles e para nós, é maravilhosa. Nossa respiração fica presa na garganta. David Foster Wallace disse que assistir a uma partida de Roger Federer é “uma experiência religiosa”. Em certo sentido, ele não estava errado.

Isso deve ajudar a explicar a aquiescência ocasional de fãs e jornalistas seculares ao entusiasmo religioso inabalável dos atletas. Para muitos, acompanhar esportes é o mais próximo que eles chegam de uma liturgia. A observância — termo em si já religioso — é uma espécie de testemunho, e uma experiência que está longe de ser passiva: os fãs participam de forma vicária, indiretamente, por meio de gritos, vaias, palmas, pulos e cânticos. Os atletas, por sua vez, extraem energia, força e encorajamento desse relacionamento único.

Dito isso, há outras razões menos agradáveis pelas quais a fé dos atletas é tolerada entre a imprensa e o público não religioso. Uma opinião mais cínica seria que muitos jornalistas veem isso como o preço a pagar para cobrirem esportes. Eles devem fingir que ouvem o devoto falando sobre Jesus, antes de perguntar, pela enésima vez: “Então, o que estava passando pela sua cabeça, quando você deu aquele tiro?”

Essa não é a interpretação mais condenável, no entanto.

Às vezes, quando olhamos mais de perto, vemos em ação o que parece ser uma dinâmica hedionda. Em muitos esportes americanos populares, uma mídia cada vez mais privilegiada, irreligiosa e ainda majoritariamente branca escreve sobre uma liga majoritariamente religiosa, majoritariamente não branca, na qual relativamente poucos vêm de uma situação privilegiada. O resultado é um abismo entre jornalistas e atletas — seja ele marcado por classe, educação, raça ou por todas as opções anteriores. Nesse aspecto, os liberais estão certos e os conservadores estão errados: não se pode tirar a política dos esportes. E, ironicamente, isso nunca fica mais evidente do que quando se coloca Deus na conversa.

Para citar um exemplo memorável, alguns anos atrás, o jornalista esportivo Dave Zirin criticou o quarterback Russell Wilson por atribuir uma vitória a Deus, acusando que “jogadores de futebol americano falam de Deus como se Ele… fosse o Grande Treinador no Céu, anotando um roteiro de resultados como Vince McMahon, com um moletom largo e um fone de ouvido”. Se existe mesmo um Deus, Zirin acrescentou, “essa força todo-poderosa não se importa muito com futebol”. A gente se pergunta como ele sabe disso.

A cobertura foi igualmente desdenhosa quando o linebacker do Ravens, Ray Lewis, entrou para o Hall da Fama. O periódico Deadspin ficou perplexo com a convicção desse atleta de que Deus falou com ele e cuidou dele em meio à tragédia, e o SB Nation deu o seguinte subtítulo a uma seção que fala sobre a paráfrase que Lewis fez de Isaías 54.17 (“Nenhuma arma forjada contra mim prosperará”): “Armas, Deus, e coisas desse tipo”.

Criticar é um jogo justo, e os jornalistas não devem reprimir discordâncias substanciais só para serem educados. A ótica desses encontros não é das melhores, no entanto, e reagir à piedade dos atletas com escárnio ou fingida indulgência não é respeito nem tolerância. É um desprezo mal disfarçado — e uma revelação do enorme abismo que há entre o modo que nossa cultura secularizada pensa sobre a religião e o modo que atletas fiéis se veem em um mundo extasiado com Deus.

O fato adorável é que os atletas em questão parecem não se importar nem um pouco [com esse desprezo], o que é bastante libertador para aqueles de nós que os aplaudem e compartilham de sua fé. Eles são um exemplo, para todos os crentes, do que é ser alegre e descaradamente cristão em público.

Como muitos fazem na mídia esportiva, eu também costumava revirar os olhos para tais demonstrações de piedade. Aquilo me parecia fora de lugar, desnecessário, talvez até uma fraude. E talvez seja mesmo, às vezes. Mas eu tive de admitir que eu teria a inclinação de ficar de boca fechada no pódio dos vencedores — eu ficaria envergonhado demais para ser tão ousado sobre a minha fé. No entanto, essas irmãs e irmãos são totalmente destemidos. Eu, por exemplo, tenho algo a aprender com a atitude deles.

Brad East é professor associado de teologia na Abilene Christian University. Ele é autor de quatro livros, entre eles The Church: A Guide to the People of God [A Igreja: Um guia para o povo de Deus] e Letters to a Future Saint: Foundations of Faith for the Spiritually Hungry [Cartas para um Futuro Santo: Fundamentos da fé para quem tem fome espiritual].

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28 atletas cristãos por quem torcer nas Olimpíadas de Paris 2024

Conheça esportistas de alto nível do mundo todo que amam a Deus.

Christianity Today July 25, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Getty / WikiMedia Commons

Muitos amantes das Olimpíadas descobrem que seus atletas favoritos também amam Jesus por meio de postagens nas redes sociais ou de entrevistas que são feitas após sua performance bem-sucedida nas quadras, nas pistas, nos campos ou nas piscinas dos jogos. No entanto, a grande maioria dos cristãos que competem nas Olimpíadas não acabará no pódio.

Para muitos desses atletas, simplesmente conseguir participar dos Jogos será um testemunho de superação de lesões, de desafios de saúde mental ou do luto pela perda de entes queridos. Abaixo estão as histórias de atletas cristãos de 13 esportes e de 20 nações diferentes, todos ansiosos para inspirar orgulho em seus países — e em seu Senhor.

Reportagem de Annie Meldrum, Isabel Ong, Angela Lu Fulton, Franco Iacomini, Mariana Albuquerque e Morgan Lee.

Badminton

Anthony Sinisuka Ginting (Indonésia)

https://www.instagram.com/p/C4rJa9fhqyX/

Conhecido como o “matador de gigantes” do badminton, por derrotar os maiores astros do esporte, Anthony Sinisuka Ginting levou para casa a medalha de bronze no individual masculino de badminton, em Tóquio. Este ano, ele está de volta às Olimpíadas acompanhado de Jonathan Christie, jogador de badminton que é seu colega indonésio e também cristão.

Ginting nasceu em Cimahi, em Java Ocidental, e é de etnia Karo, um grupo étnico do norte de Sumatra, onde os cristãos representam 70% da população. Seu pai o apresentou ao badminton quando Ginting tinha apenas cinco anos, e ele passou, então, a competir aos nove. Daí em diante, ganhou medalhas e venceu inúmeras competições.

No Instagram, Ginting não esconde sua fé. Em uma postagem de março, ele mencionou ter terminado em segundo lugar, atrás de Christie, no All England Open, escrevendo: “Obrigado, Jesus, pela tua bondade. Tudo foi além da minha expectativa.” Em resposta, Christie comentou: “Juntos escrevemos a história que nunca imaginamos, Deus é bom em todo tempo.”

Basquete

Kayla Alexander, Canadá

https://www.instagram.com/p/C3OQj6gNnBk/

A jogadora de basquete da equipe canadense, Kayla Alexander, 33 anos, frequentemente escreve no Instagram e em seu blog sobre como Deus direcionou sua carreira. “Deus superou cada sonho que tive quando criança, de maneiras que nunca imaginei que fossem possíveis”, escreveu ela, em 2018.

A estrela do time já jogou na WNBA (Associação Nacional de Basquetebol Feminino) e atualmente está no time profissional espanhol do Valencia Basket — um lugar onde ela nunca imaginou estar, quando tinha 12 anos e não foi nada bem-sucedida em sua primeira tentativa de entrar no basquete. Em 2020, ela sofreu lesões no joelho que a deixaram fora das quadras e muito abalada. Mas sua fé em Deus a manteve motivada: “Infelizmente, acontecem coisas que não fazem sentido, não entendemos a razão ou o porquê, mas acredito que [Deus] faz tudo para o bem e a glória dele.”

Quando o Japão derrotou o Canadá, no torneio de qualificação para as Olímpiadas, Alexander pensou que suas esperanças olímpicas estivessem destruídas. Mas a equipe se recuperou, terminando em terceiro lugar e garantindo uma vaga na qualificação. “Deus disse que nossa jornada ainda não tinha acabado! Quando disserem que Ele trabalha de maneiras misteriosas, que esse episódio sirva de exemplo!” declarou ela.

Carlik Jones, Sudão do Sul

https://www.instagram.com/p/Cq3dTxLu5E5/

Desde que se tornou uma nação independente, há 12 anos, o Sudão do Sul tem enfrentado conflitos e desastres humanitários. No entanto, neste ano, o país está enviando sua primeira seleção de basquete para as Olimpíadas, liderada por Carlik Jones, 26 anos, cujo sangue sul-sudanês vem da mãe.

Jones, que já jogou pelo Chicago Bulls e atualmente está no Zhejiang Golden Bulls, nasceu com uma condição cerebral que o afastou dos esportes competitivos por vários anos, pois uma concussão poderia deixá-lo gravemente ferido. Mais tarde, na segunda série, os médicos o liberaram para a prática esportiva e sua carreira no basquete começou a partir daí.

Jones frequentemente menciona Deus em suas redes sociais. “Estou colocando minha confiança e fé em DEUS, deixando Ele me guiar”, tuitou, em outubro de 2022. No mês seguinte, ele escreveu, “EU SOU EXTREMAMENTE ABENÇOADO, OBRIGADO, DEUS,” e no mês seguinte, “DEUS, VOCÊ É INCRÍVEL.”

Apesar da falta de experiência internacional de sua equipe, Jones acredita neles. “O Sudão do Sul é subestimado, seu povo é subestimado e nós como time somos subestimados”, disse ele, no ano passado. “Estamos apenas tentando colocar o Sudão do Sul no mapa.”

Boxe

Saidel Horta, Cuba

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Saidel Horta conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de Boxe de 2023 e garantiu sua qualificação olímpica na categoria peso-pena, no mesmo ano, durante os Jogos Pan-Americanos. Mas, em 2021, Horta havia cogitado se aposentar. Depois de perder um lugar no pódio da categoria juvenil, ele se perguntou se era bom o suficiente para competir no nível da elite do esporte. No final das contas, seu amor pelo boxe o motivou a continuar treinando, levando a seu forte desempenho em 2023, que culminou em uma vaga olímpica.

Com apenas 21 anos, Horta hoje é reconhecido como um dos defensores da estimada tradição do boxe cubano. Em uma foto nas redes sociais, o atleta está dentro do ringue com a mão levantada para o céu. A legenda da foto parafraseia o Salmo 121: “Meu socorro vem do alto.” Em outra postagem, ele escreveu: “Deus, toda honra e toda glória a ti.”

Ginástica artística

Aleah Finnegan, Filipinas

https://www.instagram.com/p/Cx8fAQKqjGg/

Aleah Finnegan, 21 anos, é a primeira ginasta feminina das Filipinas a se qualificar para as Olimpíadas desde 1964. (Vários meses depois, Emma Malabuyo, outra ginasta filipino-americana, também se qualificou.)

“Obrigada pela oportunidade de representar este belo país… Deus seja louvado!”, ela escreveu na legenda de uma foto no Instagram em que segura a bandeira das Filipinas.

Finnegan é filipina por parte de mãe e representou os EUA de 2019 a 2021. Em 2021, ela se aposentou da ginástica de elite para competir em nível universitário na Louisiana State University. Um ano depois, ela mudou de nacionalidade, assumindo a nacionalidade filipina.

No Campeonato Nacional da NCAA (Associação Atlética Universitária Nacional) de 2024, as altas pontuações de Finnegan ajudaram a equipe de ginástica da Louisiana State University a conquistar o título de campeã pela primeira vez na história do campeonato.

“É OBRA DE DEUS!! SOMOS CAMPEÃS NACIONAIS!!” ela escreveu, celebrando a vitória. “Obrigada, Jesus, por nos permitir competir por algo muito maior do que nós mesmas.”

Brody Malone, EUA

https://www.instagram.com/p/C7slo9vukDD/

Depois de passar por uma terceira cirurgia na perna direita, apenas um ano atrás, as chances de Brody Malone para as Olimpíadas de 2024 não pareciam boas. Ele deslocou o joelho depois de uma aterrissagem malfeita que o deixou com uma fratura na tíbia e vários ligamentos rompidos.

Hoje, pouco mais de um ano depois, ele venceu a competição geral de ginástica dos EUA e está a caminho de sua segunda Olimpíada. Após terminar em quarto lugar na competição de barra fixa em Tóquio, ele tem como objetivo conquistar uma medalha em Paris.

Malone teve um processo de recuperação brutal — ele essencialmente teve de “reaprender a andar.” Sua vida pessoal também não tem sido livre de provações. Sua mãe faleceu de câncer em 2012, e em 2019, sua madrasta morreu de aneurisma cerebral.

Ainda assim, ele continua louvando a Deus.

“Eu só tenho que dar toda a glória a Deus,” disse ele, no início deste ano. “É tudo obra dele… Então, eu só quero agradecer a ele por isso.”

Judô

Geronay Whitebooi, África do Sul

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A judoca Geronay Whitebooi já passou por muita coisa na vida para poupar palavras. Quando recentemente terminou em segundo lugar no Marrakech Africa Open 2024, ela postou uma foto de si mesma, após o torneio, com uma expressão séria no rosto.

“Meu coração desejava a medalha de ouro, mas não era o plano que Deus tinha para mim hoje. DEUS é minha força e poder,” escreveu ela em uma longa postagem no Instagram. “DEUS está comigo e dentro de mim.”

Whitebooi, que também se qualificou para as Olimpíadas em 2021, ganhou vários títulos em torneios africanos e europeus. No entanto, para chegar a este ponto em sua carreira no judô, ela disse que teve de abrir mão de sua vida social e passar um tempo longe da família, especialmente quando enfrentou perdas trágicas de dois membros da família: seu pai, quando ela tinha 13 anos, e sua irmã, há dois anos.

“A medalha representa com orgulho mais um esforço que fiz para quebrar barreiras, mas é uma medalha para a qual olho com tristeza, porque deixei minha irmã orgulhosa, mas não estive presente o suficiente para minha família e para mim mesma durante esse tempo,” disse ela sobre sua vitória na Copa Europeia Sênior de 2022.

“Nossa dor tem um propósito,” ela escreveu recentemente. “Também podemos nos alegrar quando enfrentamos problemas e tribulações, pois sabemos que nos ajudam a desenvolver perseverança.”

Rúgbi

Siya Kolisi, África do Sul

https://www.instagram.com/p/C1r0PZXt3s3/

Siya Kolisi, capitão da seleção de rúgbi da África do Sul que venceu a Copa do Mundo por duas vezes consecutivas, agora lidera sua equipe nas Olimpíadas. Quando tinha 15 anos, sua mãe morreu, e teve uma infância marcada pela pobreza, o que o fez se questionar se conseguiria fazer uma faculdade. Mas, no ensino médio, ele foi descoberto e recebeu uma bolsa de estudos para jogar rúgbi.

Por vários anos, os esportes se tornaram sua prioridade, e ele deixou a tentação e o pecado influenciarem algumas de suas decisões. Embora sua avó o tenha criado como cristão, ele não se apropriou de sua fé até ficar mais velho. No entanto, quando sua luta contra o abuso de álcool veio à tona, ele chegou a uma conclusão: “Eu sabia que tinha de mudar de vida ou perderia tudo. Decidi perder minha vida e encontrá-la em Cristo.”

Kolisi dá créditos a sua fé quando lida com contratempos, entre os quais menciona uma ruptura parcial do ligamento cruzado anterior, explicando que seu “alicerce está em Deus” e que ele encontrou paz ao ler a Bíblia e orar. Ele e a esposa também lideram uma instituição que combate a desigualdade na África do Sul.

Jerry Tuwai, Fiji

https://www.instagram.com/p/Cui_ISVJ7Cs/

O jogador de rúgbi fijiano Jerry Tuwai, 35 anos, liderou suas equipes na conquista do ouro no Rio de Janeiro, em 2016 — a primeira vitória olímpica do país— e em Tóquio. Em ambas as vezes, Tuwai e seus companheiros de equipe se abraçaram em um círculo e cantaram o hino tradicional “We Shall Overcome,” ou, como é conhecido em Fiji, “E Da Sa Qaqa.” A letra diz: “Nós vencemos / Pelo sangue do Cordeiro / E a palavra do Senhor.”

“Sempre começamos… e sempre terminamos com nossas orações e canções. Essa canção diz que nosso Deus é um Deus amoroso,” disse Tuwai.

Tuwai cresceu em um dos distritos mais pobres nos arredores de Suva, capital de Fiji, e vivia em uma casa de um cômodo com paredes de chapa de ferro ondulado. Ele usava garrafas plásticas ou roupas emboladas como bola de rúgbi. Quando perguntado o que o fez ter sucesso no esporte, Tuwai creditou [seu sucesso] à disciplina e à dependência de Deus.

Em janeiro, Tuwai foi cortado do time de Rúgbi Sevens de Fiji, por não estar com o condicionamento físico esperado. Seis meses depois, foi anunciado como capitão da equipe para Paris — justo quando Tuwai pensava que sua carreira no rúgbi havia acabado. “Você tem planos, mas Deus tem outro plano para nós… talvez seja este e talvez seja o próximo grande evento,” ele disse. “Eu não sei. Só Deus sabe.”

Skateboarding

Rayssa Leal, Brasil

https://www.instagram.com/p/C0ZVXWTOcra/

Com apenas 7 anos, Rayssa Leal teve seu primeiro momento de fama, quando um vídeo mostrando a estudante de ensino fundamental vestida de fada e executando um heelflip perfeito foi compartilhado por Tony Hawk, um dos maiores nomes do skate mundial.

Aos 11 anos, Rayssa já competia internacionalmente e, aos 13, tornou-se a mais jovem medalhista olímpica do Brasil, ganhando a prata na categoria street skateboarding no Japão, em 2021. “Obrigada, Deus, por me dar a oportunidade de fazer o que eu amo!”, ela escreveu na noite anterior à competição.

Em dezembro passado, Rayssa alcançou a maior pontuação de sua carreira, na final do SLS Super Crown, em São Paulo. “Toda honra e glória a Deus”, escreveu ela. Hoje, aos 16 anos, a garota que frequenta uma igreja Batista em Imperatriz, no estado do Maranhão, está de olho no ouro.

Futebol

Rasheedat Ajibade, Nigéria

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Na final do torneio de qualificação olímpica, Rasheedat Ajibade marcou o gol da vitória — e o único — que levou a seleção feminina de futebol da Nigéria a Paris, em sua primeira participação nos Jogos desde 2008.

Ajibade comemorou sua vitória com uma camiseta que dizia: “Jesus Revelado, Jesus Glorificado, Aleluia”; na legenda de uma foto pós-jogo, ela escreveu: “SÓ A TI, SENHOR, SEJA TODA A GLÓRIA. O MANDATO CONTINUA CRISTALINO COMO ÁGUA.”

Apesar dessas declarações ousadas, Ajibade se vê como uma pessoa reservada e muitas vezes recorre a expedientes como pintar o cabelo de azul para expressar sua personalidade. Para ela, seu cabelo é uma referência às suas lutas contra a depressão na adolescência e um símbolo de seu encorajamento no sentido de que todos podem superar suas dificuldades de saúde mental.

Ajibade começou sua carreira profissional no futebol aos 13 anos. Em 2022, ela terminou como artilheira da Copa Africana Feminina de Nações. Ela também joga pelo Atlético de Madrid, que venceu a Copa da Rainha em 2023.

Apesar de seu sucesso, Ajibade continua atenta aos menos favorecidos em seu país. No ano passado, ela visitou uma favela em Lagos, escrevendo posteriormente: “Nossa missão era dupla: estender atos de bondade e compartilhar a luz do evangelho (Marcos 16.15).”

Taishi Brandon Nozawa, Japão

https://www.instagram.com/p/C0nshzfPP-r/

Em um país onde apenas 1% da população é cristã, o goleiro de 21 anos do Japão, Taishi Brandon Nozawa, está comprometido em usar sua plataforma para compartilhar sua fé. Sua conta no Instagram mostra imagens dele no campo de futebol intercaladas com versículos bíblicos, reflexões sobre seus devocionais e uma canção de adoração.

Sob a imagem de uma citação de Charles Spurgeon “Seja uma Bíblia ambulante,” Nozawa escreveu: “Para os cristãos, a Bíblia é lâmpada e luz que ilumina o caminho que percorremos. No entanto, para aqueles que não leem a Bíblia, ela não é luz. Então, o que faremos? Devemos nos tornar uma Bíblia que é lida por nossos próximos e, assim, nos tornamos uma luz para eles!”

Nozawa, originário da província de Okinawa, joga pela seleção nacional do Japão desde os 14 anos. Em 2023, ele jogou pelo F. C. Tokio.

“Gostaria de expressar minha sincera gratidão por cada bênção que o Senhor preparou e colocou em nosso caminho nesta temporada,” escreveu ele em uma postagem no Instagram, no final do ano passado. “Mesmo quando os tempos são difíceis, quando as coisas não vão bem e fazemos coisas que desagradam ao Senhor, seu amor imutável é verdadeiramente maravilhoso. É por isso que adoro ao Senhor.”

Natação

Adam Peaty, Grã-Bretanha

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Adam Peaty venceu os 100 metros peito masculino nas Olimpíadas do Rio e de Tóquio, e também conquistou oito medalhas de ouro em campeonatos mundiais. Mesmo assim, o nadador britânico enfrentou grandes lutas pessoais, entre elas a depressão e o alcoolismo.

Ele se tornou cristão em 2022, depois que uma lesão no pé o afastou das piscinas. Ele começou a frequentar a igreja regularmente, após um encontro com o capelão Ashley Null, e essa nova rotina “parecia a peça que faltava no quebra-cabeça”, disse ele. Hoje, ele exibe uma grande tatuagem de cruz no abdômen, acompanhada das palavras “Into the Light” [Na luz].

Caeleb Dressel, EUA

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Caeleb Dressel diz que a tatuagem de águia em seu ombro faz referência a Isaías 40: “mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam” (v. 31).

Considerado sucessor de Michael Phelps, Dressel está bem encaminhado para viver à altura dessa falma. Em Tóquio, ele levou para casa cinco medalhas de ouro.

No entanto, sua jornada nem sempre foi tranquila. Antes das últimas Olimpíadas, Dressel se viu lutando contra depressão e ataques de pânico. A pressão para estar à altura de um dos nomes mais conhecidos do esporte pesava muito sobre ele.

Mas sua fé o ajudou a sair dessa situação. “Eu realmente aprendi a ver a luz no fim do túnel e a confiar no que Deus está fazendo, seja um momento difícil ou um momento de sucesso em minha vida”, disse ele.

Georgia-Leigh Vele, Papua-Nova Guiné

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Quando recebeu a medalha de bronze nos 50 metros peito feminino, nos Jogos do Pacífico de 2023, Georgia-Leigh Vele, 25 anos, disse: “Eu estava esperando por isso. Você nunca sabe o que pode acontecer, mas eu tentei fazer o melhor e Deus fez o resto.”

Para Vele, ser atleta a levou a sentir gratidão e contentamento. “Rendo-me completamente ao Senhor com gratidão e louvor”, escreveu ela, no ano passado. “É uma coisa incrível quando você encontra aquele lugar onde sabe que pode estar e estará por causa d’Ele.”

A estreante olímpica competirá nos 50 metros livre em Paris, continuando o legado da família no campo da natação competitiva.

Taekwondo

Lolohea Naitasi, Fiji

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O taekwondo não foi o primeiro amor de Lolohea Naitasi. A jovem de 17 anos começou jogando netball, mas descobriu a arte marcial coreana em uma aula de educação física na escola, há três anos, e continuou praticando esse esporte após ganhar uma bolsa de estudos.

Ela conquistou uma medalha de prata em sua primeira participação nos Jogos do Pacífico, no ano passado, e a medalha de prata no torneio de qualificação deste ano garantiu sua vaga em Paris.

“A preparação para a Olimpíada não é fácil, mas quando você coloca Deus em primeiro lugar, tudo — tudo é possível”, disse ela.

Atletismo

Julien Alfred, Santa Lúcia

https://www.instagram.com/p/C9ViFYioFio/

“Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.” (Romanos 8.18). Julien Alfred, uma estrela em ascensão do atletismo de Santa Lúcia, por duas vezes escolhida a atleta do ano em seu país, destaca este versículo em seu perfil do Instagram.

Alfred conquistou a medalha de prata nos 100 metros rasos feminino, nos Jogos da Commonwealth de 2022. Em 2024, ela terminou em primeiro lugar na final dos 60 metros, no Campeonato Mundial de Atletismo Indoor [em pista coberta].

Enquanto se prepara para correr os 100 (e talvez os 200) metros, ela acredita que sua fé em Deus e seu trabalho árduo podem colocá-la entre as melhores. “Sou uma mulher de Deus forte e trabalhadora, e isso me fez quem sou”, disse ela. “É por isso que estou aqui hoje.”

Rasheed Broadbell, Jamaica

https://www.instagram.com/p/C72Ao0ARv3z/

O atleta jamaicano Rasheed Broadbell, 23 anos, destaca-se nos 110 metros com barreiras, tendo conquistado a medalha de ouro na prova dos Jogos da Commonwealth de 2022.

A performance notável de Broadbell criou expectativas para o Campeonato Mundial de Atletismo de 2023. Contudo, nas eliminatórias, ele bateu em várias barreiras e caiu.

Apesar desses desafios, Broadbell expressou gratidão a Deus. “Essa jornada tem sido uma montanha-russa até agora; [sou] grato por cada parte dela. Acima de tudo, só agradeço a Deus por me guiar em cada trecho dela.”

Refletindo sobre sua qualificação como corredor de barreiras para Paris, ele compartilhou no Instagram: “Abençoado por fazer parte da minha terceira seleção nacional, mas super grato por ter chegado a meus primeiros Jogos Olímpicos. Se eu tivesse que contar a história de como cheguei aqui sem os vídeos da corrida, pareceria insano, mas Deus continua a fazer seus milagres em minha vida e estou verdadeiramente honrado em mostrar o que o Senhor fez por mim.”

Olivia Lundman, Canadá

https://www.instagram.com/p/C7fGBuNScYV/

Olivia Lundman, 21 anos, participará da primeira corrida de revezamento misto de marcha atlética da história das Olimpíadas, ao lado de seu companheiro de equipe e treinador, o medalhista olímpico Evan Dunfee. No evento de qualificação em abril, Lundman lutou nos últimos 10 quilômetros e vomitou duas vezes. Mas ela se forçou a continuar e terminou entre os 22 primeiros lugares para se qualificar para os Jogos. “Sinto-me incrivelmente abençoada por ter esta oportunidade e estou empolgada para a jornada que está por vir”, escreveu Lundman no Instagram.

Lundman também fundou o Beneath the Surface [Por baixo da superfície] para compartilhar histórias de jovens que convivem com desafios de saúde mental. “Aprendi a me abrir com os outros, a abraçar quem sou e a me apoiar na minha fé”, escreveu ela. “É algo em que ainda tenho de trabalhar todos os dias, mas sei que fui colocada neste planeta por uma razão.”

Durante um sermão em sua igreja, em novembro passado, Lundman testemunhou que a oração a ajudou em meio às suas experiências de depressão e ansiedade. “Quando eu estava lutando, costumava pensar: Deus, por que você me abandonou? Onde você está? Não percebi que, durante esses momentos de luta, ele era o único que me fazia seguir em frente e me carregava a cada dia.”

Sydney McLaughlin-Levrone, EUA

https://www.instagram.com/p/C71lLUXuhAo/

Sydney McLaughlin-Levrone quebrou seu próprio recorde mundial por três centésimos de segundo, nas provas olímpicas dos EUA, em junho, correndo os 400m com barreiras em 50,65 segundos. Sua performance a distanciou da segunda colocada por quase dois segundos.

McLaughlin-Levrone estabeleceu o recorde mundial dos 400m com barreiras cinco vezes desde 2021. Em Tóquio, ela trouxe para casa duas medalhas de ouro, uma nos 400 metros com barreiras e outra no revezamento 4×400. Em 2022, a World Athletics a escolheu como atleta do ano, ao lado do saltador com vara sueco Mondo Duplantis.

Enquanto redefine os limites de seu esporte, McLaughlin-Levrone sempre aponta para sua fé. “Louvado seja Deus”, disse ela, após estabelecer seu recorde em junho. “Eu não esperava isso. Ele pode fazer qualquer coisa. Tudo é possível em Cristo.”

McLaughlin é extremamente expressiva sobre sua fé, agradecendo a Deus e dando-lhe glória em quase todas as entrevistas que fez em sua carreira atlética vitoriosa. Sua conta no Instagram está repleta de versículos e citações extraídas de livros cristãos. Entre os destaques do seu Instagram estão trechos de suas passagens favoritas da Bíblia e fotos de sua Bíblia com passagens sublinhadas e anotações pessoais.

Tarsis Orogot, Uganda

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Os corredores de longa distância de Uganda colocaram o país no mapa como uma potência do atletismo. Este ano, Tarsis Orogot pode tornar seu país famoso nas provas de velocidade. Estudante na Universidade do Alabama, o recordista nacional dos 100 e 200 metros se descreve como “apenas um garoto com um sonho.” Mas suas fortes atuações no Campeonato de Atletismo da NCAA podem transformar esse sonho em realidade.

Fora das pistas, Orogot é conhecido por sua paixão por meias e diz que geralmente leva 15 pares para as competições, incluindo meias com estampas do Sonic, Bob Esponja e Vingadores. “Quando corro mais rápido, geralmente estou usando as meias com asas,” disse ele ao Olympics.com.

Apesar desse lado brincalhão, quando seus treinos o levaram a se mudar de Uganda para o Quênia, e depois para os EUA, ele escreveu: “Toda glória e louvor ao Deus altíssimo.”

Marileidy Paulino, República Dominicana

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Ao contrário de muitos atletas profissionais que começam suas carreiras na infância, Marileidy Paulino, representante da República Dominicana no atletismo, começou sua jornada aos 19 anos como uma forma de sustentar a família.

Uma ex-corredora descalça, Paulino se tornou medalhista olímpica de prata nos 400 metros individuais e no revezamento 4×400 (Tóquio 2020). Além disso, ela conquistou três medalhas nos Campeonatos Mundiais de Atletismo.

Em 2021, Paulino chamou atenção por uma mensagem em seus tênis: “Deus é minha esperança. Amém.” Mais tarde, uma imagem da atleta segurando a bandeira da República Dominicana e a Bíblia foi um dos momentos mais marcantes dos Jogos de Tóquio.

“Carrego a Bíblia comigo porque tenho fé em Deus e Ele tornou possível eu conquistar essa medalha,” explicou. “Dedico-a ao povo dominicano e os incentivo a acreditar em Deus porque só Ele é nossa esperança.”

Yemisi Magdalena Ogunleye, Alemanha

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Yemisi Ogunleye é uma arremessadora de peso da Alemanha cujo perfil no Instagram declara audaciosamente: “NÃO EU, MAS JESUS EM MIM.” Ogunleye conquistou uma medalha de prata no Campeonato Mundial Indoor deste ano, com seu recorde pessoal de 20,19 metros, além de ter levado prata em duas outras competições europeias e bronze no Campeonato Europeu.

A fé de Ogunleye a sustentou tanto em períodos de lesões quanto nos de sucesso. “Sou amada do jeito que sou,” disse ela. “Com ou sem medalha, tenho valor.”

Filha de pai namibiano e mãe alemã, Ogunleye já falou sobre ter enfrentado comportamentos racistas. No entanto, ela permaneceu fiel a Deus e ao chamado dele para sua vida. “Sei que Deus preparou o caminho, assim, toda a glória seja dada a Jesus,” disse ela.

Vôlei

Micah Christenson, EUA

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Conhecido como o “Homem de Aço” nas quadras, Micah Christenson está pronto para seus terceiros Jogos Olímpicos. Como atleta que compete contra os melhores do mundo, o levantador aprendeu a gerenciar seu próprio estresse quando joga.

“Sou cristão,” disse ele. “Acredito em Deus e sei que conquisto muita liberdade por essa minha fé em Deus. Quando estou lá [na quadra], eu me sinto livre para tomar diferentes decisões e correr um pouco de risco porque sei onde está minha identidade e que o amor sempre estará lá.”

Pai de três filhos, Christenson disse que a experiência de ser pai o ajudou a construir relacionamentos mais próximos com seus colegas de equipe que também são pais. Ele acrescenta que ter filhos lhe deu uma nova perspectiva sobre o esporte e que está empolgado por vê-los assistir o pai competindo este ano.

Nyeme Nunes, Brasil

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Nyeme Nunes é carinhosamente chamada de “doutora Nyeme” pelos fãs brasileiros. Esse apelido não é um elogio às suas conquistas acadêmicas, mas um testemunho de sua habilidade nas quadras — ela gerencia a equipe toda, como um médico cuidando de um paciente.

Nyeme começou a jogar vôlei aos 9 anos, por influência da mãe, que a levava para praticar o esporte nas ruas de sua cidade natal, Barra do Corda, no estado nordestino do Maranhão. Aos 13 anos, ela já fazia parte de um time adulto. Desde 2015, ela joga pela Seleção Brasileira e conquistou várias medalhas de prata com a equipe. Em 2017, ela foi escolhida a melhor líbero do Campeonato Mundial Sub-20.

Nyeme celebrou suas conquistas postando versículos bíblicos em suas redes sociais. Após vencer o Campeonato Sul-Americano de Clubes este ano com seu time, ela compartilhou o Salmo 147.11: “O Senhor se agrada dos que o temem, dos que depositam a esperança no seu amor leal.”

Levantamento de peso

David Liti, Nova Zelândia

https://www.instagram.com/p/C4H9OM3Ln8M/

Após uma temporada desanimadora em 2017, David Liti conquistou a medalha de ouro nos Jogos da Commonwealth de Gold Coast, em 2018, quando levantou um total combinado recorde de 403 quilos. Surpreso com a vitória, ele chorou no chuveiro por uma hora, perguntando a Deus o que ele estava tentando lhe dizer.

O atleta tonganês-neozelandês percebeu que nunca esteve sozinho. “Deus me deu todos esses desafios para que eu pudesse melhorar, para que eu pudesse estar pronto quando ganhasse,” disse ele.

Liti competiu em Tóquio, ficando em quinto lugar no levantamento de peso na categoria de 109 quilos. Para os próximos jogos, o atleta de 27 anos brincou que espera ficar conhecido como um “comedor profissional de croissants” durante sua estadia. Ele também afirmou: “Sou abençoado por fazer o que amo com todo o meu potencial e estou animado para ir lá e representar todos que fizeram parte dessa jornada.”

Don Opeloge, Samoa

https://www.instagram.com/p/C3_voTLRTc0/

Depois de estabelecer um novo recorde nos Jogos do Pacífico do ano passado, e ganhar ouro na categoria masculina de 102 quilos, a primeira coisa que Don Opeloge fez foi agradecer a Deus por lhe dar força. O atleta de 25 anos atribuiu seu sucesso a Deus: “Eu só queria louvar a Deus por me dar a força e a confiança que me guiam a fazer o meu melhor para conquistar essas medalhas de ouro para Samoa.”

Opeloge planejava competir em Tóquio, mas não pôde participar porque o governo samoano manteve seus atletas em casa, devido à pandemia de COVID-19. Quando se qualificou para Paris, em abril, Opeloge disse a mesma coisa: “Toda a glória a Deus pela força e por sempre estar comigo ao longo da minha jornada.”

Don não é o único Opeloge a chegar às Olimpíadas. Sua irmã Mary representou o país no Rio, enquanto outra irmã, Ele, recebeu a única medalha olímpica de Samoa (uma medalha de prata) nos Jogos de Pequim, em 2008, após duas atletas serem desclassificadas por doping.

“Qualquer que seja o talento que Deus lhe deu, ele deve ser encarado como algo para servir a Deus, sua família e Samoa,” disse Opeloge.

Yenni Álvarez, Colômbia

https://www.instagram.com/p/Cyt39LGgzUX/

Aos 13 anos, Yenny Álvarez se qualificou para sua primeira competição nacional. O único problema era que ela não tinha documento de identidade nem certidão de nascimento. A adolescente estava vivendo com uma tia, depois que sua mãe morreu e seu pai a abandonou. Somente com a ajuda de seu treinador ela conseguiu passar pelas complexidades da burocracia governamental, obter os documentos necessários para viajar e competir.

Agora, Álvarez competirá na categoria de levantamento de peso de 59 quilos em Paris. Depois de subir nas classificações do levantamento de peso, em 2015 Álvarez testou positivo para a poresença de boldenona e foi banida das competições por cinco anos. No entanto, ela continuou a treinar. No ano passado, ela quebrou o recorde pan-americano em sua categoria de peso e celebrou sua vitória no Instagram: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso SENHOR JESUS CRISTO!” Álvarez garantiu sua vaga nas Olimpíadas em abril, quando ficou em terceiro lugar na Copa do Mundo.

No início deste ano, o Comitê Olímpico Colombiano a escolheu como atleta do ano. Álvarez comemorou a honra postando João 3.27 em suas redes sociais: “Ninguém pode receber coisa alguma, a menos que lhe seja concedida do céu”.

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Books

El Salvador: sobram prisioneiros e faltam ministérios prisionais

Organizações cristãs enfrentam dificuldades para alcançar prisioneiros em um país onde 1 em cada 56 pessoas está presa.

Presos aguardam, enquanto 2.000 detentos são transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas, em El Salvador.

Presos aguardam, enquanto 2.000 detentos são transferidos para o Centro de Confinamento de Terroristas, em El Salvador.

Christianity Today July 25, 2024
Handout / Getty

Em pouco mais de dois anos, o governo de El Salvador enviou 80.000 pessoas para a prisão. Com mais de 111.000 pessoas encarceradas, o país possui hoje a maior proporção de pessoas atrás das grades no mundo — um preso para cada 56 habitantes.

A situação atual decorre de uma política de tolerância zero em relação às gangues que outrora proliferavam no país. As gangues salvadorenhas são consideradas organizações criminosas transnacionais responsáveis por elevar os índices de homicídio a níveis vistos apenas durante a guerra civil de 1979-1992.

Em março de 2022, o presidente Nayib Bukele decretou um régimen de excepción [estado de exceção], que suspende um número significativo de direitos civis e facilita a prisão e o julgamento de pessoas suspeitas de serem membros de gangues. Embora o governo inicialmente tenha prometido que o decreto ficaria em vigor apenas por um mês, ele já foi renovado 27 vezes pelo congresso salvadorenho, e já dura quase dois anos e meio.

El Salvador nunca teve uma presença significativa de ministérios prisionais. No entanto, para os poucos que atuam nas prisões, o régimen de excepción tanto representou uma oportunidade quanto revelou uma série de problemas.

Por um lado, líderes dizem que há uma chance real para um número substancial de presos transformarem suas vidas por meio do evangelho. “A maioria deles sabe que precisa de uma transformação física. A evangelização pode mostrar a eles que precisam também de uma transformação espiritual”, disse Raúl Orellana, um líder de ministério regional que atua nas prisões de El Salvador desde 2008.

Por outro lado, por uma série de razões, poucos cristãos demonstraram interesse no ministério prisional, um trabalho que se tornou ainda mais difícil, pois o governo aumentou as restrições às visitas de civis nas prisões.

Todos os centros de detenção de El Salvador, exceto a penitenciária de segurança máxima, historicamente foram abertos aos ministros do evangelho. “O governo é muito aberto às igrejas cristãs evangélicas que querem pregar nas prisões”, disse Orellana — mas a recente política de mão forte contra as gangues também dificultou o acesso de igrejas e pastores.

Há cerca de doze anos, os pastores podiam passar as noites [na cadeia] sentados lado a lado com os presos, aconselhando-os e compartilhando o evangelho. Quando visitava a prisão naquela época, conforme Orellana lembra, ele sabia sobre a disponibilidade de drogas e dispositivos eletrônicos para os presos, e às vezes se deparava com visitantes questionáveis.

Hoje, a maior supervisão governamental nas prisões aumentou as restrições à evangelização dos encarcerados. Muitas prisões proibiram interações face a face entre pastores e presos. Em vez disso, os pastores só podem falar com grupos e por uma hora, no máximo.

“Eu entendo a perspectiva das autoridades”, disse Orellana. “Os presos tinham o controle total e não deveria ter sido assim. Hoje, as autoridades estão no controle.”

Antes de 2022, em algumas prisões, toda semana vários ministérios vinham pregar. Hoje, as autoridades prisionais permitem que grupos cristãos entrem uma vez por semana, em um horário fixo, com algumas exceções para eventos evangelísticos. Por exemplo, no Dia das Mães deste ano, Kenton Moody, um missionário americano que lidera o Vida Libre, um centro de reabilitação para jovens infratores, organizou uma grande festa na prisão feminina de Santa Ana.

O ministério serviu refrigerantes, pan dulce [um tipo de pão doce salvadorenho] e Bíblias para 10.000 pessoas. Embora as autoridades tenham permitido a participação de apenas 2.800 mulheres, ao final do culto, 295 levantaram as mãos em resposta a um chamado de conversão.

Problemas com gangues e com o governo

Embora líderes como Orellana e Moody digam ter visto Deus agindo nas prisões salvadorenhas, muitos cristãos que eles conhecem relutam em participar do ministério prisional, com medo de encontrar criminosos perigosos. Durante anos, grandes áreas do país viveram sob violência e derramamento de sangue causados por gangues como a Mara Salvatrucha (MS-13) e o Barrio 18 (também conhecida como 18).

Historicamente, o país teve um dos índices de homicídio mais altos do mundo; no seu auge, em 1995, havia 139 assassinatos para cada 100.000 habitantes. Desde o início dos anos 2000, as gangues MS-13 e Barrio 18 travaram uma batalha territorial de longa duração, com um enorme número de mortes. Em 2015, as gangues decretaram a proibição de todas as rotas de ônibus na capital, San Salvador, e no primeiro dia da proibição, cinco motoristas de ônibus foram assassinados. Em 2016, alguns estimaram que os grupos extorquiram cerca de 70% de todos os negócios do país, e as taxas de extorsão cobradas eram tão altas que acabaram levando a um aumento nos preços ao consumidor.

Números oficiais mostram uma redução de 70% no índice de homicídios em 2023, em comparação a 2022, em consequência de mudanças na lei e da aplicação do estado de exceção. O governo editou o código penal para formalmente equiparar o terrorismo a associações criminosas locais, e uma nova lei criminalizou tatuagens, grafites de rua e qualquer outra marca que se assemelhe a símbolos de gangues.

Mas a diminuição no índice de homicídios também teve um custo. A organização Human Rights Watch [Observatório dos Direitos Humanos] descreveu as mudanças como uma política de “podemos prender quem quisermos”, que permite detenções com base na aparência e no histórico social dos detidos, em ligações anônimas ou até mesmo em postagens nas redes sociais.

Neste ambiente, praticamente qualquer pessoa que tenha qualquer relação com um membro de gangue corre o risco de ser detida e enviada para a prisão. Isso inclui ex-membros de gangues que já cumpriram sua pena e voltaram à vida civil, sendo que alguns deles se converteram ao cristianismo. Até mesmo pastores que ministram para atuais membros de gangues podem ser vistos como colaboradores ou simpatizantes de gangues e correm o risco de serem encarcerados.

“Meu trabalho com os presos e ex-prisioneiros costumava ser perigoso por causa das gangues. Agora, ele é perigoso por causa do governo”, disse Moody. “Eles podem nos jogar na prisão a qualquer momento por supostamente ajudar as gangues.”

As igrejas locais têm medo de se envolver em problemas tanto com as gangues quanto com o governo, se tiverem ministérios prisionais, disse ele. “Os pastores nos dizem: ‘Que maravilhoso o que vocês estão fazendo’, e ‘Deus os abençoe’— mas eles não participam.”

O trabalho contínuo do testemunho

Em toda a América Central, os evangélicos quase ultrapassaram os católicos em termos de crescimento numérico. Em El Salvador, perto de um terço (30,9%) da população hoje se identifica como evangélica.

A porcentagem de evangélicos é mais alta nas camadas mais pobres da sociedade — os mesmos segmentos dos quais saem as pessoas que entram para as gangues e acabam no sistema prisional, diz Stephen Offutt, autor de Blood Entanglements: Evangelicals and Gangs in El Salvador [Emaranhados de sangue: Evangélicos e gangues em El Salvador].

Entre 50% e 70% das pessoas nas prisões de El Salvador vêm de famílias evangélicas. “Eu me atreveria a dizer que todos que estão na prisão já ouviram falar de Jesus Cristo”, diz Orellana, mas acrescenta que o número de verdadeiros convertidos provavelmente é pequeno.

Para os membros de gangues cansados da violência, o cristianismo oferece uma rota de saída.

“As gangues permitem que as pessoas saiam, se mostrarem uma conversão real”, disse Offutt. Não é algo tão simples quanto se declarar cristão e ficar livre. “Aqueles membros de gangues que supostamente se convertem ao cristianismo são mantidos sob vigilância, porque também acontecem falsas conversões e falsos pastores que tentam manipular as gangues.”

Sob o régimen de excepción, alguns membros de gangues genuinamente convertidos estão sendo arrastados de volta para a prisão, e abrindo uma porta para que a evangelização ocorra onde a igreja institucional não pode ir.

“Um discípulo na prisão pode levar o evangelho a muitos outros”, diz Lucas Suriano, coordenador da América Latina para a Prison Alliance [Aliança Prisional], ministério sediado na Carolina do Norte que cria programas de discipulado e distribui Bíblias e literatura cristã para presos ao redor do mundo.

Embora ninguém veja o que acontece dentro de prisões como o Centro de Confinamento de Terrorismo — centro de detenção de segurança máxima para 40.000 pessoas, que o presidente Bukele abriu no ano passado —, Offutt está certo de que Deus continua a trabalhar lá.

“Há alguns anos”, ele relembra, “tinha um amigo pastor cuja casa ficava à sombra de uma prisão em El Salvador. Nas noites de domingo, podíamos ouvir canções cristãs vindas da prisão.”

“As pessoas estão tentando testemunhar o evangelho da melhor maneira possível. Elas estão encontrando formas de adorar [nas prisões] — é inconcebível para mim que isso não esteja acontecendo.”

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