Dissipando o nevoeiro de mentiras e ‘fake news’

As velhas e boas práticas da pregação e do discipulado podem confrontar as conspirações que ameaçam a maneira que conhecemos a verdade.

Christianity Today February 16, 2021
Illustration by Rick Szuecs / Source images: Samuel Corum / Stringer / Brent Stirton / Staff / Getty

Alguns dos desordeiros que invadiram o Capitólio dos Estados Unidos no início de janeiro bradavam repetidamente sua exigência: “enforquem Mike Pence”. Alguns, porém, provavelmente pensavam que o ex-vice-presidente já estava morto.

Nos recantos mais periféricos da base do ex-presidente Donald Trump, em particular aqueles influenciados pela teoria da conspiração QAnon, há um boato de que que Pence foi executado por um tribunal militar dirigido por Trump, no ano passado. O mesmo aconteceu com os Obamas, os Clintons, o presidente Joe Biden e o chefe de justiça John Roberts. As notícias que mostram essas pessoas [supostamente mortas] aparentemente reagindo a fatos atuais, segundo reza a lenda, são simplesmente geradas por computador. Ou talvez hologramas. Ou atores? Ou clones!

Evidentemente, isso é absurdo. Também é totalmente inatacável: não podemos submeter Biden à rotina de ceticismo dos duvidosos Tomés a cada novo teórico da conspiração. Mesmo se pudéssemos, não existe no mundo evidência externa que esse tipo de teoria não consiga explicar e descartar.

O mais incrível sobre esse tipo de crença, porém, é que uma parte significativa das pessoas que a defendem se descreveria como cristão evangélico. Seus dados biográficos em mídias sociais são adornados com palavras ou expressões como “cristão conservador”, “cristão que crê na Bíblia”, “em luta pela fé”, “João 3.16”, “temente a Deus”, “cristã, esposa e mãe”. Eles compartilham versículos da Bíblia, às vezes na mesma postagem em que estão teorizando sobre alguma conspiração. Dizem ter fé de que Deus fará uma reforma na governança americana, da qual as supostas execuções são apenas uma parte. Eles podem ser pessoas que frequentam a igreja — talvez a sua igreja.

A maioria dos americanos politicamente engajados — seja de modo geral, seja entre os cristãos em particular — não acredita em nada tão primitivo assim. Mas essa teoria sobre execuções de figuras em altos postos não é exatamente a aberração que poderíamos esperar. “Em minha experiência e em minhas conversas com pastores, estamos ficando cada vez mais alarmados com o predomínio da crença em teorias da conspiração e ideias políticas bizarras, especialmente desde a eleição”, disse Daniel Darling, que é pastor, vice-presidente sênior da National Religious Broadcasters, colaborador da CT e autor de vários livros, entre eles A Way with Words: Using Our Online Conversations for Good.

A perspectiva de Darling, que ele compartilhou comigo em uma entrevista por e-mail em janeiro, é apoiada por dados de uma nova pesquisa da Lifeway. Ao menos metade dos pastores protestantes na América dizem que “frequentemente ouvem membros de [suas] congregações repetindo teorias da conspiração que ouviram sobre por que algo está acontecendo no país”, a pesquisa da Lifeway detectou. A tendência parece ser mais forte, disse Scott McConnell, diretor executivo da Lifeway Research, “em círculos politicamente conservadores, o que corresponde a porcentagens mais altas em igrejas lideradas por pastores protestantes brancos”.

“Para a maioria dos pastores com quem converso, isso representa uma fração de suas congregações”, Darling me disse, “talvez entre os mais engajados politicamente ou os mais conectados on-line. E, no entanto, é o suficiente para deixar muitos pastores preocupados”, em especial sobre a questão de “como muitos [cristãos] estão reféns de seus meios de comunicação preferidos, que estão se tornando cada vez mais extremistas, e como muitos deles parecem resistentes a ouvir refutações sensatas.”

O efeito disso é uma crise epistêmica, e não é exclusivamente um fenômeno marginal. A mentira mais sutil pode ser a mais forte — “aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1Co 10.12). Essa crise é mais do que um problema político urgente; também é uma questão urgente de discipulado cristão, pois os cristãos devem ser pessoas que amam a verdade (Jo 8.31-32).

A epistemologia é simplesmente o estudo do conhecimento: O que e como conhecemos? Quais são as fontes confiáveis de conhecimento? O mundo é realmente como nós o percebemos? Se a verdade existe (como afirmam os cristãos), podemos acessá-la corretamente? Estamos em uma crise epistêmica porque nossas respostas a essas perguntas, na esfera pública, são uma bagunça desastrosa .

Um nevoeiro epistêmico está invadindo nossas casas e nossas mentes por meio de ferramentas como a reprodução automática de vídeos e a rolagem infinita.

Os últimos cinco anos da política americana foram uma época de “fatos alternativos ” e “ verdade [que] não é verdade ”. Acusações a respeito de “fake news”, algumas justas e outras cinicamente caluniosas, espalham-se rápido e de forma abrangente. Os meios de comunicação convencionais são rejeitados por serem imprecisos ou tendenciosos (uma crítica frequentemente merecida!), embora sejam ainda piores os traficantes de boatos digitais, que se ocultam atrás de pseudônimos e estão surgindo para substituí-los. Muitos na direita abraçam a “dreampolitik” — se lhes parecer certo, acredite — enquanto entre muitos, na esquerda, uma ênfase totalizada na experiência pessoal como mediadora do conhecimento torna a comunicação impossível entre as linhas de identidade. O resultado é que temos certeza sobre coisas que não garantem certeza e ficamos duvidosos acerca de fatos básicos. Um nevoeiro epistêmico está invadindo nossas casas e nossas mentes por meio de ferramentas como a reprodução automática de vídeos e a rolagem infinita .

Quis conversar com Darling porque acho que posso descrever bem esse problema. Certamente o reconheço quando o vejo, inclusive — para minha consternação — em minha própria família. Mas geralmente fico sem saber o que fazer a respeito. Eu sei com que se parece, em minha vida, praticar o que Graeme Wood no The Atlantic chamou de “higiene mental” (a qual, a meu ver, também é uma higiene espiritual). “A luta é algo interno e familiar para todos os que consomem mídia”, escreveu Wood, e para mim isso significou limites — muitas vezes violados — no que diz respeito a tempo e conteúdo do meu consumo de mídia, bem como uma rotina diária que inclui ler as Escrituras antes de ler meu celular.

Mas e quanto a outras pessoas, que podem nem mesmo reconhecer que existe uma crise epistêmica? Não posso impor meus limites e minha rotina a elas. G. K. Chesterton, em Ortodoxia, desaconselhou a discussão com o teórico da conspiração, e recomenda, em vez de dar-lhe “fôlego”, mostrar-lhe que há “algo mais limpo e fresco fora da sufocação de um único argumento”. Mas o que isso significa na era dos smartphones, quando uma fonte infinita de polêmica e confusão está sempre em nosso bolso?

Comentários públicos — como este próprio artigo — não podem fazer muito, Darling me disse. Servem a “um propósito”, escreveu ele, “mas isso deve ser resolvido de forma relacional” e na igreja local. "Muitos evangélicos são catequizados muito mais por podcasts, eruditos e políticos do seu nicho político favorito” do que pela Bíblia, ele continuou, "uma caracterização que suspeito que possa ser indesejável, mas é indiscutível, se considerarmos o tempo concedido a cada uma dessas coisas.

“Então, talvez os pastores precisem voltar àquele tipo de pregação tradicional, que nos adverte contra más influências e nos exorta a ‘renovar nossa mente’ (Rm 12.2) com as Escrituras”, disse Darling, e ao mesmo tempo incluir em suas práticas de discipulado “uma ênfase sustentada e matizada sobre o que significa engajar-se na política de maneira saudável.” As igrejas podem usar grupos pequenos, recomendar leituras, pesquisas e podcasts, bem como aulas para treinar e incentivar os membros. Deixar de abordar as questões do engajamento político e do consumo de conteúdo, segundo Darling, significa “ceder esse terreno aos mercadores do medo e aos conglomerados de mídia que trocam olhos por lucro”.

E tudo isso deve acontecer no contexto do amor cristão: em amizade; oração, jejum e batalha espiritual (Ef 6.10–18); “suportando e perdoando uns aos outros” (Cl 3.13). E Darling concluiu: "Podemos não ser capazes de tirar as pessoas da crise epistêmica, mas podemos apelar à virtude e à missão cristãs, fazendo perguntas como: Isso realmente vale nosso tempo e energia?"" Isso nos ajuda a “viver de maneira digna da vocação que recebemos” (Ef 4.1)? Isso direciona a mente de alguém para Cristo? Não precisamos acreditar no clone do Biden para que a resposta seja “não”.

Bonnie Kristian é colunista da Christianity Today.

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Os pastores devem se pronunciar sobre a vacina contra a COVID-19?

Com cristãos dividindo-se sobre o assunto, alguns defendem a vacinação como forma de amor ao próximo, enquanto outros deixam a questão para a consciência.

Christianity Today February 16, 2021
Illustration by Rick Szuecs / Source image: Gchutka / Getty / Product School / Unsplash / Envato

Cerca de metade dos protestantes adultos nos Estados Unidos não pretende tomar a nova vacina contra a COVID-19, de acordo com um recente levantamento do Pew Research Center.

Embora a confiança na vacina tenha realmente aumentado desde setembro — três empresas anunciaram vacinas viáveis no mês passado — 50 por cento dos evangélicos brancos e 59 por cento dos protestantes negros dizem que não tomarão a vacina, enquanto a maioria da população dos EUA (60 por cento) como um todo diz que tomará.

Durante séculos, religião e medicina têm colaborado para a prevenção de doenças, embora a relação às vezes tenha sido complexa. Em anos mais recentes, os profissionais de saúde pública têm contado com o apoio de líderes da igreja — especialmente em comunidades de cor — para angariar confiança na promoção de iniciativas na área da saúde. Mas a pandemia do coronavírus tornou-se outro exemplo da complexa relação entre fé e ciência.

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Dada a divisão entre cristãos, como os pastores devem tratar com seus congregantes sobre a questão da vacina contra a COVID-19? Devem encorajar os que frequentam a igreja a tomar a vacina?

CT ouviu cinco pastores sobre a maneira que fatores como raça, teologia e composição congregacional afetam sua abordagem do problema.

Jeff Schultz, pastor de pregação e comunidade da Faith Church, em Indianápolis

Nossa igreja tem orado por pesquisa e desenvolvimento de vacinas, mas a questão de tomar uma vacina não é algo que direcionaríamos as pessoas a fazerem.

Nossa congregação tem vários médicos, enfermeiras, pesquisadores médicos e pessoas que trabalham no desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Acreditamos que, embora Deus opere por meio de intervenções milagrosas, ele age mais comumente por meio de nosso trabalho, nossos dons e nossa sabedoria aplicados no serviço aos outros. Incentivamos as pessoas a usar máscaras e a praticar o distanciamento social. Temos membros que não retornarão ao culto presencial até que uma vacina esteja disponível. Mas não acho que diríamos nada oficialmente sobre tomar uma vacina (exceto para agradecer por sua existência).

Individualmente, encorajarei as pessoas a consultarem seu médico para tomar essa decisão. Vejo as máscaras e o distanciamento social como intervenções de risco extremamente baixo que nos ajudam a amar o próximo. Uma vacina contra a COVID-19 é outra maneira importante de impedir a propagação de uma doença mortal, mas não acredito que, como pastor, eu tenha as qualificações médicas para direcionar as pessoas a tratamentos médicos que possam vir a ter efeitos colaterais ou impacto de longo prazo em sua saúde. Quero ajudar as pessoas a verem o bem que há em uma vacina e, ao mesmo tempo, pedir a todos nós que respeitemos as decisões dos outros.

Luke B. Bobo, diretor de parcerias estratégicas da Made to Flourish, uma rede de pastores sediada em Kansas, e professor visitante do Covenant Theological Seminary

Aborto, filmes, música, armas, desenhos animados, ciência médica — os pastores, como exegetas da cultura, devem discutir esses tópicos porque tais coisas não são inofensivas. Esses artefatos culturais mediam mensagens, e muitas vezes essas mensagens são contrárias à vida e à cosmovisão cristãs; portanto, tratar com seus fiéis sobre a questão da vacina contra a COVID-19 não foge a essa regra. Eu acredito que os pastores devem se envolver no debate sobre a vacina biblicamente, com sabedoria e de forma cristã.

Obviamente, para os pastores afro-americanos, tratar com seus fiéis sobre esta vacina será mais complicado, pois muitos abusos foram infligidos a pessoas negras em nome do avanço da medicina. Quem pode esquecer o experimento feito com a sífilis em Tuskegee e as infames células “HeLa”, células cancerosas roubadas de Henrietta Lacks, sem o consentimento de sua família? Portanto, os pastores também devem tratar deste tópico de uma perspectiva histórica.

Os pastores devem ensinar seu rebanho a pensar criticamente sobre esta vacina contra a COVID-19. Se alguém lhes perguntar se planejam tomar a vacina, devem dar sua resposta e, em seguida, fazer uma declaração como: “Esta é minha decisão; você deve procurar se informar e tomar sua própria decisão.” Em outras palavras, os pastores não devem pensar por seus congregantes; em vez disso, devem equipar os membros da igreja com as ferramentas necessárias para que possam pensar e decidir por si mesmos.

Mandy Smith, pastora da University Christian Church, em Cincinnati

Não tenho nenhum problema com vacinas do ponto de vista filosófico ou teológico, e vou concordar com os profissionais médicos em minha congregação, que sabem mais sobre essas coisas do que eu. A igreja que pastoreio fica em uma área às vezes chamada de “Pill Hill” — temos quatro hospitais em nossa vizinhança mais imediata, de modo que temos bastante médicos. Ao mesmo tempo, como estamos em uma comunidade marcada pela diversidade, também temos algumas pessoas interessadas em estilos de vida alternativos, o que as leva a olhar com cautela para vacinas.

Como cristãos, precisamos permitir espaço para as diferenças de opinião — nas coisas essenciais, unidade; nas não essenciais, liberdade; e em todas as coisas, amor. Do ponto de vista filosófico, nossa opinião sobre vacinas não é essencial — não perderemos nossa salvação nem devemos discutir com outros cristãos por causa disso.

Ao mesmo tempo, do ponto de vista prático, com uma vacina, as decisões que tomamos afetam uns aos outros. Embora possamos ter diferenças de opinião sobre as quais podemos concordar em discordar, se nossos filhos estiverem brincando juntos, e se estivermos compartilhando refeições e a Santa Ceia, as escolhas que fizermos sobre as vacinas não afetarão apenas o nosso próprio bem, mas o da nossa comunidade inteira. Se há uma coisa que a pandemia nos mostrou, é que nossas vidas, nossos corpos e nossa saúde estão interligados.

Stephen Cook, pastor sênior da Segunda Igreja Batista, em Memphis

A COVID-19 já ceifou a vida de mais de 283 mil dos nossos semelhantes nos Estados Unidos, e mais de 1,5 milhão de nossos semelhantes no mundo todo. Com a esperança de uma vacina em um futuro próximo, os pastores têm a oportunidade de chamar o povo de Cristo, em nossas congregações, a amar o próximo de uma forma que encarna o mandamento de Cristo para que amemos uns aos outros.

Jesus, quando questionado por um intérprete da lei que queria saber quem é o seu próximo (Lc 10), responde com a história do samaritano que parou para atender às necessidades do homem que fora espancado e deixado à beira da estrada para morrer. É digno de nota que o samaritano a quem Jesus aponta como exemplo de serviço misericordioso vive o chamado de amar ao próximo por meio de um ato de cura.

Incentivar pessoas de fé a se vacinarem contra esta doença que tem devastado tantas pessoas é uma responsabilidade pastoral. É uma ocasião para convocar os seguidores de Cristo a considerarem o papel que devemos desempenhar na promoção da cura do mundo. É uma oportunidade para relembrarmos que, no final da história, Jesus exalta aquele que age como próximo em resposta a uma necessidade urgente.

Stephanie Lobdell, pastora do campus da Mount Vernon Nazarene University, em Ohio

A diretriz de Cristo para amarmos o próximo informou a vida do campus universitário que pastoreio de maneiras distintas, desde o uso de máscaras a divisórias de acrílico no refeitório. Seguindo em frente, ela deve informar nossa postura em relação à vacina também. Tomar a vacina, se a pessoa estiver fisicamente apta para isso, é outra forma de praticar o amor ao próximo.

Como uma universidade cristã de artes liberais que segue a tradição wesleyana de santidade, trazemos um ímpeto adicional ao diálogo sobre a vacina. Como wesleyanos, nós nos agarramos firmemente à centralidade da graça cooperativa na prática cristã. Deus toma a iniciativa em relação a nós, convidando-nos a entrar em um relacionamento de amor, bem como em uma parceria significativa na obra de encarnar a nova criação. Procuramos inspirar nossos alunos a verem a vocação para a qual estão estudando como uma expressão dessa parceria.

Quando os cientistas desvendam o DNA de um vírus perigoso, quando os médicos trabalham incansavelmente para encontrar tratamentos mais eficazes, quando os pesquisadores formulam uma vacina que protege as pessoas contra a infecção, não levantamos um punho hipócrita diante da ciência, nem exclamamos: “Fé acima do medo!” Em vez disso, nos regozijamos. Regozijamo-nos com a manifestação vivificante da vocação divinamente ordenada. Damos graças a Deus, tanto por sua provisão quanto pelo santo dom da capacidade humana.

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Onde dois ou mais foram vacinados: conselhos para igrejas em 2021

Cinco sugestões baseadas na ciência, para viabilizar encontros e cultos na igreja com segurança, enquanto a vacinação contra a COVID-19 é implementada.

Christianity Today February 11, 2021
Illustration by Rick Szuecs / Source images: Twenty20Photos / Pressmaster / DavidPereiras / Envato / Anete Lusing / Emre Kuzu / Pexels

Após dez meses de reuniões presenciais limitadas ou programação on-line, os fiéis das igrejas — como o restante da sociedade — sentem um cansaço pandêmico. Temos esperança de que a disponibilidade das vacinas contra a COVID-19 permitirá que nossa sociedade e as igrejas voltem ao normal. Mas o retorno à normalidade levará tempo.

Infelizmente, muitos de nossos irmãos e irmãs que vivem em países de baixa e média renda — onde trabalhei por mais de 25 anos para deter a propagação de doenças infecciosas — não receberão vacinas até 2022 ou mais tarde. Em países como os EUA, onde o início da vacinação contra a COVID-19 começou em dezembro passado, os especialistas preveem que levará até o outuno [por volta de outubro] para que a cobertura vacinal chegue a 70% a 90% e a imunidade de rebanho possa ser alcançada. Só então a sociedade poderá começar a retomar atividades com maior normalidade. Os próximos meses serão um período de transição, em que teremos indivíduos vacinados e não vacinados em nossas comunidades, mas ainda não é seguro retornar à vida normal.

Durante este período de transição nos Estados Unidos, como os líderes devem decidir sobre reuniões presenciais em suas igrejas? Como a vacinação ocorrerá em ritmo diferente em comunidades diferentes, e a vacinação de fiéis vai variar mesmo entre as igrejas da mesma comunidade, não há uma abordagem única para o retorno às reuniões presenciais.

Em consulta a quatro igrejas em minha cidade natal, Seattle, a fim de planejar essa transição, vi líderes lutarem com as questões complexas que enfrentam. James Broughton, pastor sênior de uma congregação composta predominantemente de negros, disse: “Esta é uma situação muito complicada — com tantas variáveis. Nós realmente precisamos de sabedoria divina, o que inclui conhecimento científico, para saber o que fazer.” Todos aqueles com quem conversei veem a necessidade de discussões abertas dentro da igreja e o valor de se ter um plano, antes que as igrejas sejam confrontadas por diferentes pressões para retomarem as reuniões presenciais.

Para navegar por este período de transição, explicarei como a vacinação contra a COVID-19 influencia as decisões sobre reuniões presenciais nas igrejas, e fornecerei cinco sugestões que podem ajudar as igrejas a desenvolverem um plano para voltarem a se reunir presencialmente, conforme for aumentando a cobertura vacinal.

Como em meus artigos anteriores para a CT sobre reuniões presenciais nas igrejas durante esta pandemia, tentei discernir o chamado de Deus para sua igreja tomando como base dois guias: verdades bíblicas e conhecimento científico, ambos dados por Deus.

Como a vacinação contra a COVID-19 influencia as reuniões da igreja

Seja de forma abertamente declarada ou não, os líderes de igreja estão equilibrando três fatores, quando ponderam sobre a volta das reuniões presenciais durante a pandemia: a necessidade e o desejo dos fiéis de se reunirem, a taxa de infecção por COVID-19 na comunidade e o risco de contágio e complicações pela COVID-19 entre os fiéis da igreja. Criei três gráficos para descrever a influência desses três fatores nos três períodos de vacinação:

O período de vacinação parcial durará até que haja imunidade de rebanho contra a COVID-19 e a taxa de infecção diminua para um nível baixo. O tempo que isso levará é influenciado pela disponibilidade, eficácia e aplicação das vacinas, bem como pela taxa de contágio de novas variantes da COVID-19. A mídia fará reportagens sobre essas questões nos próximos meses, e os planos da igreja podem precisar ser ajustados conforme novas informações se tornarem disponíveis. No entanto, aqui estão informações preliminares sobre duas questões importantes.

Em primeiro lugar, os cientistas ainda não têm certeza se indivíduos vacinados que não estejam aparentemente contaminados pela COVID-19 podem ou não hospedar o vírus e transmiti-lo a outras pessoas. Vacinas recentemente aprovadas podem reduzir o risco de pegar COVID-19 em mais de 90%, e inclusive de complicações graves causadas pelo vírus. Mas se o vírus puder se espalhar por intermédio dos que forem vacinados, devemos continuar a usar máscaras, praticar o distanciamento físico e usar outros meios, a fim de proteger os indivíduos vacinados contra a COVID-19 da mesma forma que protegemos os indivíduos não vacinados. O propósito disso, entretanto, não seria prevenir complicações da COVID-19, mas limitar a propagação do vírus.

Em segundo lugar, as variantes da COVID-19, de rápida disseminação em diferentes partes do mundo, parecem ser de 10% a 70% mais transmissíveis. Essa é uma evolução alarmante, porque essas variantes podem piorar e prolongar a pandemia. Felizmente, a maioria dos cientistas acredita que as atuais vacinas contra a COVID-19 devem permanecer eficazes contra essas variantes.

Visto que a disseminação dessas variantes da COVID-19 pode causar um atraso no tempo para alcançar a imunidade de rebanho, a necessidade de nossas igrejas terem planos sobre como e quando se reunir é maior do que nunca. Se essas variantes do vírus se tornarem mais comuns em nossas comunidades, como é previsto, então, precisamos ainda mais das sugestões abaixo, para minimizar a disseminação da COVID-19 em nossas igrejas. Como a COVID-19 e todas as suas variantes se espalham pelas secreções nasais e gotículas respiratórias, as formas de conter sua transmissão continuam as mesmas. Portanto, minhas sugestões permanecem relevantes, mesmo com a disseminação dessas variantes.

Cinco sugestões para um plano sobre como e quando se reunir, durante o período de vacinação parcial

1. Use o nível de infecção por COVID-19 como o guia principal para decidir sobre reuniões presenciais na igreja.

Se a reunião presencial for retomada durante este período, participantes vacinados e não vacinados se misturarão. Como a imunidade de rebanho ainda não foi alcançada, as taxas de infecção por COVID-19 em nossas comunidades permanecerão altas. Dado que as atividades em nossas igrejas facilitam a disseminação do vírus, ainda existe um alto risco de transmissão entre os não vacinados e até mesmo entre os congregantes não vacinados e vacinados. Se os cientistas determinarem que os indivíduos vacinados ainda podem abrigar o vírus e disseminá-lo, mesmo depois que uma alta proporção de pessoas for vacinada, o risco de disseminação pode permanecer alto enquanto o nível de infecção por COVID-19 na comunidade permanecer alto (veja o gráfico superior). Somente quando a taxa de infecção declinar para um nível mais baixo, o risco de transmissão entre os congregantes também diminuirá e, então, as reuniões presenciais poderão ser retomadas com segurança (veja o gráfico inferior).

Portanto, este período de vacinação parcial é um momento especialmente complicado, porque o risco de complicações pela COVID-19 para congregantes não vacinados não diminuiu, embora o desejo de se reunir provavelmente aumentará. Isso sem dúvida influenciará a decisão da igreja de se reunir. Portanto, a decisão sobre quando é seguro para congregantes vacinados e não vacinados se reunirem deve basear-se principalmente no nível de infecção por COVID-19 na comunidade, e não na proporção de congregantes vacinados.

2. Considere permitir que congregantes vacinados se reúnam separadamente.

Embora as igrejas possam escolher se reunir apenas quando os congregantes vacinados e não vacinados puderem se misturar com segurança, há a opção de se reunir mais cedo apenas com os congregantes vacinados. Como os congregantes vacinados estão protegidos de complicações graves da COVID-19, é muito mais seguro para eles se reunir em ambientes fechados, mesmo quando a taxa de infecção na comunidade for alta. Muitos de nossos membros mais idosos e vulneráveis da igreja, que serão vacinados mais cedo, podem receber primeiro a oportunidade de se reunir, antes que todos possam fazê-lo com segurança. Um primeiro passo fácil de implementar seria reunir pequenos grupos de indivíduos vacinados.

No entanto, os líderes da igreja podem ter reservas sobre a separação de seus fiéis em grupos. Laurie Brenner, pastor de uma igreja da região de Seattle profundamente engajada na comunidade, disse: “Em minha igreja de porte médio, há uma tensão real. Por um lado, não queremos separar as pessoas; por outro lado, as pessoas querem se encontrar o mais rápido possível.”

Mas os líderes da igreja com quem conversei geralmente acreditam que é possível organizar reuniões apenas para aqueles que foram vacinados. Broughton disse: “Já estão surgindo espontaneamente grupos de pessoas com menor risco de contrair a COVID-19. Eles estão sendo geridos pelos próprios membros. Posso ver o mesmo ocorrendo com os membros vacinados.” Brenner acrescentou: “Precisamos trabalhar para garantir que a vacinação não acabe dividindo os grupos existentes”.

Em geral, a ideia de uma estrutura paralela para congregantes vacinados e não vacinados parece repercutir bem entre esses líderes. George Hinman, pastor sênior da grande igreja multigeracional que frequento, disse: “Posso aceitar a ideia de ter cultos apenas para os vacinados, se também fornecermos uma opção para as pessoas participarem de um culto independentemente de seu status de vacinação. Precisamos oferecer a todos uma experiência acessível.”

No entanto, limitar as reuniões para congregantes vacinados apenas pode ser desafiador, já que as igrejas podem relutar em exigir uma prova de vacinação para permitir o acesso. No entanto, a ideia não é nova; o uso de vistos de saúde pode se tornar comum nos próximos meses.

3. Adote uma abordagem gradual para retomar formas específicas de reuniões presenciais.

Precisamos de um plano passo a passo, porque diferentes atividades da igreja apresentam diferentes riscos de transmissão de COVID-19. As atividades que apresentam um risco maior de transmissão da COVID-19 pelo ar devem começar apenas quando a taxa de infecção estiver baixa, enquanto aquelas com risco menor podem começar mesmo quando a taxa de infecção for mais alta. Além disso, é mais fácil mitigar a transmissão da COVID-19 em algumas atividades do que em outras.

A tabela abaixo fornece orientação sobre atividades presenciais que podem ser iniciadas assim que o nível de infecção por COVID-19 cair para certos limites. Ela se baseia no plano passo a passo para a reabertura das igrejas, sobre o qual escrevi em um artigo anterior da CT, e fornece limiares de infecção para as etapas. Para quem vive nos Estados Unidos, a parte complicada é que não existe um padrão nacional para níveis altos ou baixos de infecção, embora os departamentos de saúde tenham apresentado limiares semelhantes de infecção para uso próprio. Eu os adaptei para as etapas da tabela.

Um aspecto confuso é que as taxas de casos de COVID-19 são apresentadas, às vezes, como o número total de casos contabilizados em 7 ou 14 dias por 100 mil residentes, em vez do número diário de casos por 100 mil residentes. Na tabela, eu recomendo usar o número diário como limiar, portanto, você pode precisar converter o número fornecido por seu departamento de saúde local para usar a tabela, ou ainda usar um painel global que forneça essas informações, como este da STAT News. Sempre tenha em mente que a testagem de COVID-19 em níveis insuficientes pode subestimar a taxa de infecção real; portanto, em comunidades em que a testagem for inadequada, seja mais conservador quanto a retomar as atividades.

À medida que mais informações se tornarem disponíveis ou diretrizes mais claras surgirem, pode ser necessário ajustar os limiares da tabela. As igrejas podem optar por limiares ligeiramente mais altos ou mais baixos para retomar suas atividades. Com as variantes de rápida disseminação, é ainda mais importante iniciar atividades em cada etapa com um número menor de indivíduos. Dado que as taxas de infecção dispararam nos últimos meses em muitas áreas, demorará um pouco até que as taxas de infecção caiam a um nível que permita encontros em ambientes fechados para congregantes não vacinados.

4. Incentive os fiéis a reduzirem seu risco de exposição à COVID-19.

Enquanto a vacinação contra a COVID-19 é implementada, muitos fiéis encontram-se em um grupo de baixa prioridade para vacinação, e alguns podem nunca chegar a se vacinar, seja por escolha própria ou por motivos de saúde. Independentemente do motivo, é importante que, em todos os lugares, os congregantes não vacinados possam se reunir com segurança com os demais em suas igrejas.

Os especialistas em controles de doenças há muito reconheceram a importância da mudança de comportamento para ajudar as pessoas a reduzirem o risco de exposição a um agente infeccioso. Antes de os participantes da nossa igreja se reunirem, podemos pedir-lhes que modifiquem seus comportamentos, para reduzir o risco de exposição à COVID-19.

O risco de exposição ao vírus ocorre ao simplesmente compartilhar o ar que outras pessoas respiram. Nossos congregantes podem diminuir esse risco reduzindo seu contato próximo com outras pessoas (o que é definido como estar a menos de dois metros de outra pessoa, por pelo menos 15 minutos) e aumentando o uso de máscaras faciais, distanciamento físico e espaços bem ventilados, ao se reunirem com outras pessoas.

Quando nos reunimos uns com os outros em nossas igrejas, podemos amar nossos irmãos e irmãs protegendo-os dos perigos deste vírus. “É justo pedir às pessoas que reduzam seus riscos pelo bem de outras pessoas. Acho justo até pedir que se vacinem antes de voltarem a se reunir. Mas é importante não excluir pessoas. Precisamos oferecer opções para todos”, disse Hinman.

“Nossa igreja enfatiza a importância da responsabilidade pessoal, e não apenas do que a igreja determina”, disse Elton Lee, um presbítero de uma grande igreja sino-americana, que é grato por membros que assumem a responsabilidade de proteger os demais. “A igreja pode fornecer diretrizes, mas cabe aos indivíduos aderirem a elas”.

Para ajudar nossos congregantes a assumirem responsabilidades, seria útil se eles soubessem seu nível de risco. Alguns aplicativos são projetados para ajudar as pessoas a estimar seu risco de pegar COVID-19 em uma reunião. Mas com COVIDRisk.Link, uma ferramenta que desenvolvi recentemente com outras pessoas, os congregantes podem monitorar seu próprio risco de exposição ao vírus regularmente e reduzir o risco, se necessário, antes de se encontrarem com outras pessoas. A disseminação das novas variantes do vírus, que aumentam a taxa de contágio de indivíduos com COVID-19, torna isso ainda mais importante. Além disso, o uso dessa ferramenta de avaliação pode ajudar os congregantes a formarem círculos, nos quais possam se encontrar com mais segurança com pessoas que estejam expostas a um risco com o qual se sintam confortáveis.

Em cada limiar de infecção na tabela acima, as reuniões podem ser mais seguras se pedirmos aos congregantes que reduzam o risco de exposição ao vírus. Encorajamos aqueles com menor risco de exposição a participar das atividades mais cedo do que aqueles com maior risco.

5. Incentive os fiéis a se vacinarem

Se uma proporção significativa de pessoas em nossas comunidades se recusar a ser vacinada, isso prolongará a pandemia e seus efeitos prejudiciais em nossa sociedade. Infelizmente, quase 40% dos americanos, e uma porcentagem um pouco maior nas igrejas americanas relutam em ser vacinados. Broughton explicou: “Nosso pessoal está atualmente reagindo com base no medo, devido à influência de experiências anteriores, como os experimentos de Tuskegee. Eles não sabem se podem confiar nas vacinas.”

Como sabemos que as vacinas contra a COVID-19 podem proteger as pessoas dos efeitos nocivos deste vírus, e nos permitirem retomar a normalidade dos ministérios da igreja mais cedo, em minha opinião, as igrejas deveriam incentivar a vacinação contra a COVID-19. Os cristãos vacinados não apenas estarão protegidos de complicações graves, se forem infectados, mas também poderão servir aos necessitados mais cedo, e contribuir para o fim da pandemia.

É uma pena que esta pandemia tenha sido tão politizada, a ponto de alguns líderes da igreja hesitarem em endossar a vacinação, mas sugiro que usemos o Grande Mandamento como nossa principal motivação. Embora os especialistas não tenham certeza de que a vacinação impedirá a disseminação da COVID-19, há uma boa chance de que as vacinas reduzam pelo menos parte (senão a maioria) da transmissão da COVID-19. Portanto, amemos uns aos outros, encorajando a vacinação, especialmente aqueles em nossas igrejas.

Mas pode ser necessário muito esforço e paciência para nos comunicarmos com os membros da nossa igreja sobre os benefícios das vacinas. Broughton enfatizou isso: “Preciso continuar a ter conversas com a congregação. A origem dessas informações faz uma grande diferença para eles. A confiança aumenta muito quando eles sabem que as informações vêm de homens e mulheres de fé que são conhecedores da ciência.”

Mais importantes do que palavras são as ações. Os líderes das igrejas podem dar o exemplo para suas congregações sendo eles próprios vacinados. Há muita desconfiança em relação ao governo, à ciência e às vacinas contra a COVID-19. Os membros mais confiáveis de muitas comunidades estão em nossas igrejas. Portanto, os líderes das igrejas podem desempenhar um papel importante encorajarando seus congregantes a se vacinarem.

Com o início da vacinação contra a COVID-19 em nossas comunidades, estamos iniciando o longo caminho de volta à normalidade. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos estão passando pelo período mais tumultuado e marcado por divisões de sua história recente. Hinman disse: “Como igreja, não podemos permitir que a forma como lidamos com esta pandemia e a questão da vacinação nos dividam”. Para ajudar nossas igrejas a avançarem em unidade, oro para que essas cinco sugestões baseadas na ciência possam ajudar nossas igrejas a ser uma fonte de luz — abraçando a fé e a ciência — à medida que retomamos as reuniões presenciais e continuamos a servir o mundo ao nosso redor.

Daniel Chin é médico, especializado em medicina pulmonar, em cuidados intensivos e em epidemiologia, com 25 anos de experiência em saúde pública global. Em 2003, ele liderou grande parte do apoio da OMS à China, para conter a epidemia de SARS.

Traduzido por Maurício Zágari

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O filme “Soul” e a geração guiada por propósitos

O filme mais recente da Disney Pixar nos lembra que o sentido da vida vai além de alcançar nossos objetivos ou de salvar o mundo.

Christianity Today January 31, 2021
© 2020 Disney/Pixar. All Rights Reserved.

Joe Gardner sempre sentiu que “nasceu para tocar” piano jazz. Quando ele realiza seu sonho de tocar com a famosa saxofonista Dorothea Williams, pergunta a ela: “Então, o que vem agora?” Ela responde: “Voltamos amanhã à noite e fazemos tudo de novo”. Desanimado, Joe confessa: “Esperei por este dia durante toda a minha vida. Achei que me sentiria diferente. ”

O filme Soul, da Disney Pixar, oferece uma mensagem filosófica surpreendentemente inebriante para uma geração angustiada, que está tentando encontrar propósito através de um trabalho que faça a diferença. O principal insight do filme é algo que os cristãos já sabem: a vida é muito mais do que nossas conquistas. Na verdade, foi essa constatação que inspirou o conceito do filme, segundo o diretor Pete Docter. Depois de terminar outro popular filme da Pixar, Inside Out, ele ficou se perguntando o que viria a seguir. “Percebi que, por mais maravilhosos que sejam esses projetos, há mais coisas na vida do que uma paixão singular”, disse Docter. “Às vezes, as coisas pequenas e insignificantes são as que realmente importam.”

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A mensagem de Docter é encarnada pelo personagem Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de música de meio período que nutre aspirações maiores de se apresentar profissionalmente como pianista de jazz. Toda a sua vida é focada em atingir esse único objetivo, mas, quando ele finalmente consegue sua chance de tocar com Dorothea Williams (Angela Bassett), Joe sofre um acidente infeliz que quase destrói seu sonho — e o lança no universo da vida após a morte.

A vida após a morte consiste em duas partes: o Grande Antes e o Grande Além. Joe se encontra no Grande Antes — um lugar onde novas almas encontram sua personalidade e sua "faísca de vida” — atividades ou experiências que cativam a imaginação. Lá, ele encontra uma alma sem corpo chamada 22 (Tina Fey). Ela não se interessa em viver na terra nem pelo que parece dar sentido à vida, seja trabalho, esportes ou até mesmo o conhecimento. Para a personagem 22, a vida não tem propósito se não houver uma razão incrivelmente maravilhosa para viver. Os dois personagens partem, então, em uma missão para encontrar a “faísca de vida” de 22.

Nas últimas décadas, jovens adultos cristãos partiram em expedições semelhantes em busca de uma “faísca”, à procura de alcançar aquele algo grandioso por nossa fé. Nós também estamos sujeitos a sentimentos de falta de propósito, se não estivermos envolvidos em nos tornarmos grandes ou em fazermos coisas grandiosas “por causa do evangelho” (1Coríntios 9.23). Livros populares — como Uma vida com propósitos (2002), de Rick Warren; Não jogue sua vida fora (2003), de John Piper; e Radicalize: Um desafio para fazer diferença na adolescência (2008), de Alex e Brett Harris — nos desafiaram a viver missionalmente e a sair da nossa zona de conforto para conquistar grandes coisas. Mas foram guias inadequados para as questões corriqueiras da vida. À medida que muitos millennials se viram trabalhando das 9 às 17h, para colocar comida na mesa e pagar a conta de luz, alguns começaram a se perguntar se sua vida cotidiana dava testemunho do evangelho de Jesus Cristo de alguma maneira grandiosa.

Essas questões são agravadas em um ano sobrecarregado com questões como a pandemia, persistente injustiça racial e social e conflitos políticos sem precedentes para nossa geração. Nossas almas foram condicionadas a fazer algo tão extraordinariamente impressionante e eficaz que, um ano de quarentena, distanciamento e quietude parece uma traição ao nosso testemunho cristão. Contudo, quando aplicamos a mentalidade capitalista do "eu quero, eu posso, eu consigo" ao nosso trabalho para Deus, corremos o risco de negar a própria graça da qual afirmamos depender.

Buscar sentido em nossas habilidades e sonhos, em vez de confiar em Cristo com humildade, pode nos tornar vítimas do feitiço idólatra da autoadoração. Os resultados dessa troca podem ser prejudiciais para nossa saúde física, mental e espiritual.

Joe Gardner testemunha em primeira mão as consequências de idolatrar nosso propósito de vida. Enquanto tenta voltar para seu corpo na terra, navegando nas águas do Plano Astral (um construto mental situado entre os planos físico e espiritual), ele observa “almas perdidas”, sem rumo, à procura de algo. Moonwind (Graham Norton), membro do grupo Místicos sem Fronteiras, "dedica-se a ajudar as almas perdidas da Terra a encontrarem seu caminho”. Ele explica a Joe que essas almas são indivíduos que, em algum momento, encontravam-se “em uma zona”, [na qual eram] bem-aventuradamente devotados à excelência e aos prazeres de seu ofício. Mas, em algum ponto, foram incapazes de “abandonar suas próprias ansiedades e obsessões, o que os deixou perdidos e desconectados da vida”; então, eles se tornaram versões irreconhecíveis e vazias de si mesmos.

Nosso trabalho e nossas aspirações nunca poderão nos dar a realização que fomos criados para ter. A autora Cleo Wade recentemente repercutiu a mensagem do filme Soul, encorajando qualquer pessoa que seja suscetível a essa idolatria sutil a “deixar de tentar se identificar por uma ideia ou objetivo. Em vez disso, comprometa-se a trazer propósito e paixão para cada conversa que tiver, para o ambiente de trabalho e para o ambiente doméstico do qual você faz parte”.

O cristão, porém, leva isso um passo adiante. Comprometemo-nos a trazer a paixão de Cristo para todas as áreas de nossa vida cotidiana. Ao fazer isso, experimentamos o que significa estar vivo e ser humano da maneira que Deus nos criou para ser. “Se tivermos em mente que aquilo que fazemos no dia a dia pode ‘direcionar o amor e os desejos que temos para Deus’, nosso trabalho deixa de ser enfadonho”,escreveu Jamie Hughes.

Quando estamos vivendo uma vida grandiosa, pulando de tarefa em tarefa sem nos concentrarmos em nada em particular, o chá não passa de uma injeção de cafeína. Contudo, se estamos em sintonia com Deus e vivemos no ritmo mais lento que a adoração requer, a hora do chá ganha dimensões adicionais, e se torna um “fascínio de água quente e folhas secas” que proporciona o santuário.

Jesus exemplificou isso para nós. Ele “veio para nos mostrar como sermos humanos”, disse o pastor Zach Lambert. “Como devemos amar a Deus e ao próximo. Como devemos depender do Espírito e ver seu fruto se manifestar em nossas vidas. Como devemos cuidar dos necessitados e feridos que estão entre nós. Como devemos lutar por justiça e contra a opressão”.

No entanto, para quem está constantemente buscando encontrar sentido para a vida na próxima grande conquista, tudo parecerá constantemente sem sentido. Podemos perder a oportunidade de viver a vida que Deus colocou diante de nós. Como Joe, também podemos exagerar a ideia de que “nascemos para fazer” algo. A verdade, porém, é que não nascemos para fazer nada, a não ser permanecer em Cristo. Vivemos em Jesus (Atos 17.28). É possível que venhamos a definir nosso valor por algum propósito e, depois, venhamos a ficar cegos para as maiores bênçãos e maravilhas de sermos definidos por nossa identidade em Cristo (Colossenses 3.3-4).

Espero que 2020 tenha nos lembrado de apreciar a maravilhosa dádiva desse permanecer. E, caso não tenha, Soul nos leva a desvalorizar a busca incessante de um propósito singular e a encontrar sentido na vida cotidiana, pois é Deus quem dá sentido à nossa vida.

Timothy Thomas é professor de segundo grau e colaborador da revista digital Christ and Pop Culture.

Traduzido por Erlon Oliveira

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10 maneiras novas de ler a Bíblia em 2021

A necessidade de gravar no coração as Escrituras parece ser ainda mais imperativa este ano.

Christianity Today January 26, 2021
Neely Wang / Lightstock

Recorrer às Escrituras deve ser uma resposta intuitiva para os cristãos, quando nos sentimos ansiosos quanto ao mundo em que vivemos. No entanto, o relatório anual State of the Bible 2020, da American Bible Society, detectou uma tendência alarmante: apenas 9% dos americanos leram a Bíblia todo dia em 2019 — o número mais baixo em uma década de pesquisa da ABS, e que diminuiu ainda mais nos primeiros meses da pandemia. Mas, se 2021 carrega ainda que só um fragmento da incerteza que experimentamos no ano passado, precisamos ainda mais das Escrituras para orientação e segurança. Ao longo de meus anos conduzindo estudos bíblicos presenciais e um grupo de leitura da Bíblia on-line, descobri que, às vezes, precisamos de ideias práticas para começar ou voltar a ler a Bíblia. Aqui estão dez maneiras para ler a Bíblia com novos olhos neste novo ano.

1. Acrescente uma nova versão bíblica à sua estante

Se você leu uma mesma versão por muitos anos, encontre uma nova. Recentemente, diversifiquei um pouco, lendo duas versões diferentes, depois de me ater fielmente a uma versão mais familiar. Versículos conhecidos ganham significado, à medida que uma ou duas palavras traduzidas de maneira diferente me fazem parar para pensar. [Ler] diferentes versões bíblicas em paralelo — colocando lado a lado de duas a quatro versões — também é algo excelente para ler a Bíblia com esse novo olhar.

2. Leia as Escrituras em voz alta

Embora possa parecer simples, ler a Bíblia em voz alta pode realmente nos aproximar da maneira como as Escrituras foram apresentadas pela primeira vez, para sua audiência original. Muitas igrejas seguem essa metodologia, lendo toda a Bíblia ao longo de um período de três anos. Quando lemos as Escrituras em voz alta, expressões são enfatizadas e podemos sentir melhor o ritmo de uma passagem (embora parte da cadência se perca na tradução). Ler as Escrituras em voz alta, em um grupo pequeno, também pode aumentar a variedade, pois ouvir diferentes inflexões, ou mesmo diferentes versões, pode gerar uma boa discussão sobre a escolha das palavras. A primeira vez que tentamos isso no meu estudo da Bíblia, escolhi Isaías 1: “Não olharei para vocês quando levantarem as mãos para orar; ainda que ofereçam muitas orações, não os ouvirei, pois suas mãos estão cobertas de sangue” (v. 15). A raiva e a frustração de Deus, comunicadas por meio do profeta, ganharam vida para as mulheres de uma forma mais poderosa. Para aprimorar ainda mais esse método, você pode convidar pessoas de várias tradições de fé e eclesiásticas para ler com você.

3. Ouça a Bíblia enquanto dirige, cozinha ou caminha

Este método é especialmente bom para quem não tem o hábito da leitura ou para pessoas que têm dificuldade em encontrar um horário fixo para ler a Bíblia todo dia. É incrível como se pode avançar com rapidez na Bíblia usando um recurso de áudio. A internet e aplicativos da Bíblia permitem acesso a diversas versões e, até mesmo, a diferentes pronúncias, o que torna esse método particularmente atraente para muitas pessoas. Ouvir David Suchet no YouTube, a leitura de Johnny Cash do Novo Testamento no Audible ou Streetlights no Spotify é uma maneira divertida de diversificar as coisas. Um aviso para quando for tentar esse método por conta própria: quando meu marido e eu começamos a ouvir audiolivros, durante longas viagens de carro, achei difícil ouvir um narrador sem deixar minha mente divagar. Se você perceber que está divagando, tente se concentrar em um ou dois pontos-chave da passagem.

4. Reserve um ano para ler a Bíblia em ordem cronológica

Vários anos atrás, por recomendação de um amigo, optei por uma Bíblia em ordem cronológica. Decidimos lê-la todos ao mesmo tempo, e convidamos outras pessoas a se juntarem a nós em um grupo privado do Facebook. Até hoje, lemos a Bíblia anualmente na ordem em que os estudiosos deduzem que os eventos ocorreram. Este método teve um grande impacto na minha compreensão das Escrituras. Versículos e passagens favoritos tornaram-se parte da história contínua do plano redentor de Deus para tudo o que ele criou. Ler em paralelo sobre reis e profetas, comparar os relatos dos evangelhos e compreender os acontecimentos de Atos em conjunto com as cartas às igrejas ajudou a preencher lacunas em meu entendimento.

5. Use um comentário ou ferramentas de auxílio ao estudo

Use um comentário que ainda não conheça para ajudar na pesquisa da passagem ou do livro que você está lendo. Os comentários vão além das Bíblias de estudo, pois oferecem os contextos histórico e cultural, e ajudam a unir a narrativa bíblica de maneira holística. Outros recursos multimídia, como She (He) Reads Truth, os cursos gratuitos da The Gospel Coalition ou os vídeos e estudos do BibleProject podem complementar nossa leitura diária da Palavra.

6. Leia um livro inteiro de uma só vez

Se ler um livro inteiro da Bíblia parece intimidador, tente começar com um livro mais curto, como Filipenses. Ler uma epístola paulina inteira nos dá uma visão sobre o que estava acontecendo naquela época. Isso nos dá uma ideia de todas as pessoas que Paulo encontrou nessas igrejas, e de como elas são semelhantes a pessoas que possam estar em nossas igrejas. Passei uma tarde de verão lendo Marcos dessa maneira, e pude ver com mais clareza seu senso de urgência para difundir o evangelho. Seu coração voltado para o evangelismo saltou das páginas de uma maneira nova. Uma variação dessa ideia é ler os livros de um mesmo autor, todos de uma vez. (Por exemplo, para estudar João mais de perto, leia seu evangelho, suas três cartas e o Apocalipse.)

7. Use uma Bíblia que não tenha divisões em capítulos e versículos

Existem Bíblias que não têm divisões em capítulos e versículos, o que dá ao texto uma aparência mais de romance, com uma única coluna e pouca coisa que desvie a atenção. Alguns acham que esse formato os ajuda a ler por períodos mais longos de tempo. O texto original não tinha divisões, de modo que esse tipo de Bíblia dá ao indivíduo uma ideia de como os primeiros cristãos liam as Escrituras. Amigos que usam esse tipo de Bíblia gostam especialmente de ler livros poéticos e proféticos dessa forma.

8. Reflita sobre um salmo por semana

Em vez de ler um salmo diferente a cada dia, escolha um para ler todos os dias, durante uma semana. Ao ler, observe quais expressões do salmo se destacam para você, e lhe dão uma percepção mais forte da emoção do autor. Muitas vezes, leio o salmo 51 como uma oração diária, e fico surpresa com os versículos que se destacam para mim, muitas vezes com base no que está acontecendo em minha vida. Ainda não encontrei maneira melhor de começar o dia do que pedindo ao Senhor: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova dentro de mim um espírito firme” (Sl 51.10).

9. Leia as parábolas de Jesus em sequência

Leia as parábolas de Jesus omitindo textos intermediários. Isso permite que ele seja o mestre contador de histórias que é. Jesus sabia que a melhor maneira de sua audiência entender um ensinamento espiritual era contando uma história. Em Reading the Bible with Rabbi Jesus, Lois Tverberg aponta que “as parábolas frequentes de Jesus sobre pescadores e lavradores não evocam em nós a mesma resposta visceral que evocavam em sua sociedade agrária". Identificamos melhor as lições dessas histórias quando as analisamos. Quem era sua audiência original? Como era a vida cotidiana deles? Em que a nossa é diferente? Que lições podemos aplicar, hoje, ao nosso mundo? Considerar os contextos cultural e social das parábolas pode nos ajudar a ver o texto de uma nova maneira.

10. Escreva livros inteiros

Escrever passagens bíblicas ajudará você a ler as Escrituras de uma maneira nova. Você pode notar que certos padrões começam a surgir. Você verá como palavras ou expressões são repetidas para dar ênfase. Dias, meses ou mesmo anos depois, você terá páginas para ler, escritas com sua própria letra, conectando-o ainda mais com as Escrituras. A primeira vez que escrevi a Bíblia dessa maneira foi com a carta de Tiago. Fiquei surpresa com a frequência com que as palavras de Tiago me apontavam de volta aos ensinamentos de Jesus. Tiago escreveu sobre a fé como estilo de vida, e percebi isso de uma forma que não via antes de escrever.

A Bíblia é a Palavra inspirada de Deus para nós. Enquanto definimos nossas resoluções para o novo ano e nossos planos de leitura da Bíblia, nos voltemos primeiro para as Escrituras. Como escreveu Jen Wilkin: “As palavras inspiradoras dos seres humanos são um substituto insignificante para as palavras inspiradas de Deus”. Seja o que for que 2021 nos traga, a Palavra é uma fonte rica de discernimento e esperança, à medida que a lemos, ouvimos e nela meditamos.

Traci Rhoades é autora de Not All Who Wander (Spiritually) Are Lost. Ela escreve em tracesoffaith.com.

Traduzido por Maurício Zágari

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Quando as profecias políticas não se realizam

Na Bíblia, vemos profetas falsos e verdadeiros cujas palavras se revelaram falsas.

Christianity Today January 19, 2021
Spencer Platt / Getty Images

Profecia é dizer o que Deus diz, algo que frequentemente tem mais a ver com anunciar do que com predizer.

Às vezes, entretanto, as profecias de fato predizem o futuro. No final de outubro, Pat Robertson declarou que tinha ouvido do Senhor: “Sem dúvida, Trump vai ganhar a eleição”. Para crédito de Robertson, Trump se saiu muito melhor do que o esperado. Com base nos 70 milhões de votos de Donald Trump, o segundo maior total [de votos] da história dos Estados Unidos, segundo dizem, podemos pensar que Robertson de fato ouviu alguma coisa. Mas ele entendeu a história toda?

Em algumas eleições, as profecias são mais do que suposições com 50 por cento de chance de darem certo ou errado. Em 2016, Jeremiah Johnson, pastor e profeta, previu com precisão o primeiro mandato de Trump, antes mesmo de ele despontar como líder nas primárias republicanas. Robertson não foi o único a ver outra vitória do presidente em 2020. A maioria das profecias que vieram a público, incluindo as de Johnson, ficou do lado de Trump, às vezes mencionando uma eleição disputada.

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Mas mesmo alguns dos que votaram em Trump sentiam que Deus estava dizendo que Biden venceria desta vez. Ron Cantor, líder do judaísmo messiânico que vive em Israel, disse que ouviu duas vezes de Deus que Biden venceria porque a igreja estava idolatrando Trump. Ele disse aos seguidores: “Mesmo que um milagre acontecesse e [Trump] fosse, de fato, reeleito, o que parece menos provável a cada hora que passa, provando ser verdade o que disseram os outros profetas, o aviso aqui permanece o mesmo.”

Se os resultados da eleição se mantiverem, apesar das recontagens e contestações na justiça, todos aqueles que previram a vitória de Trump eram falsos profetas?

Os erros nas profecias não transformam todos os que se enganam em falsos profetas, assim como os erros no ensino não transformam todos os que se enganam em falsos mestres. No entanto, falsos profetas existem — e até mesmo os cessacionistas, que não acreditam que o verdadeiro dom de profecia é para hoje, concordam que existem.

Quer venham de falsos profetas ou não, profecias erradas de grande notoriedade correm o risco de trazer grande desonra ao nome de Deus e devem ser tratadas com especial seriedade. Pessoas que já zombam dos cristãos podem encontrar ainda mais motivos para os ridicularizarem. Deuteronômio 18 adverte contra profecias equivocadas, embora se refira a profetizar “com presunção”; o termo em hebraico normalmente envolve rebelião insolente (como em Deuteronômio 1.43 e 17.13).

“Se o que o profeta proclamar em nome do SENHOR não acontecer nem se cumprir, essa mensagem não vem do SENHOR”, diz Deuteronômio 18.22. “Aquele profeta falou com presunção. Não tenham medo dele”.

Ouvindo de Deus

No entanto, mesmo uma profecia verdadeira pode ser mais confusa do que muitos de nós gostaríamos. Na Bíblia, profetas verdadeiros com frequência agiam de maneiras que outras pessoas consideravam excêntricas (Jr 19.10; At 21.11), e seus contemporâneos às vezes os consideravam mentalmente desiquilibrados (2Rs 9.11; Jr 29.26; Jo 10.20).

Contrastando com as profecias sobre os propósitos divinos de longo prazo, a maioria das profecias na Bíblia sobre os propósitos divinos de curto prazo são condicionais, sejam ou não declaradas como tais. Assim, a profecia de Jonas — “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída” (Jn 3.4) — não se cumpriu na geração de Jonas porque Nínive se arrependeu.

Jeremias explica esse processo claramente: “Se em algum momento eu decretar que uma nação ou um reino seja arrancado, despedaçado e arruinado, e se essa nação que eu adverti converter-se da sua perversidade, então eu me arrependerei e não trarei sobre ela a desgraça que eu tinha planejado. E, se noutra ocasião eu decretar que uma nação ou um reino seja edificado e plantado, e se ele fizer o que eu reprovo e não me obedecer, então me arrependerei do bem que eu pretendia fazer em favor dele”(Jr 18.7–10). As perspectivas sobre como funciona a profecia condicional variam. Minha opinião pessoal é que Deus conhece de antemão as escolhas humanas ou resultados finais, mas ele também acomoda dentro do tempo pessoas limitadas ao tempo.

Da mesma forma, às vezes Deus adia os resultados prometidos. Elias profetizou a destruição da linhagem de Acabe (1Rs 21.20–24). Ainda assim, depois que Acabe se humilhou, Deus disse a Elias em particular: "Visto que [Acabe] se humilhou, não trarei essa desgraça durante o seu reinado, mas durante o reinado de seu filho" (21.29). Da mesma forma, Deus encarregou Elias de três tarefas (1Rs 19.15–16). Elias cumpriu pessoalmente uma delas — chamar Eliseu. As outras duas tarefas foram cumpridas por Eliseu e por um profeta que ele, por sua vez, comissionou. A maior parte da missão foi cumprida por outra pessoa.

Frequentemente, as profecias bíblicas trazem mais indicações sobre o que [acontecerá] do que sobre quando. Por exemplo, os dois primeiros capítulos de Joel descrevem uma invasão iminente de gafanhotos como o dia do Senhor, o tempo do juízo de Deus. O último capítulo, entretanto, parece descrever uma invasão real no dia final do julgamento de Deus (3.9-17, especialmente o versículo 14). Ou seja, nas profecias, eventos mais próximos podem prenunciar eventos posteriores, sem se preocupar em especificar o tempo entre eles. Os cristãos veem as profecias do Antigo Testamento sobre a vinda do Messias desta forma: Ninguém reconheceu de antemão que Jesus viria duas vezes.

Mas a maioria das profecias sobre as eleições nos EUA foram condicionais? Ou elas estavam simplesmente erradas? Afinal, qualquer um pode dizer: “O resultado da eleição será tal e tal, desde que um número suficiente de pessoas votem em tal e tal.” (Dadas as probabilidades contra Trump, entretanto, as profecias prevendo sua eleição foram um tanto ousadas.)

Ouvindo nossos próprios ecos

Mas mesmo cristãos piedosos às vezes podem interpretar mal o que ouvem. Nem todos sempre ouvem Deus com tanta clareza quanto Moisés, face a face (Nm 12.6-8). Natã teve de se corrigir quanto à garantia que havia dado a Davi, depois que o Senhor falou com ele (2Sm 7.3-5). Mesmo profetas da corte como Natã, também piedosos, podem fazer suposições erradas em tempos favoráveis.

Esse problema, entretanto, não se limita aos profetas da corte. Quando João Batista ouviu que Jesus estava curando pessoas, ele questionou sua identidade (Mt 11.2–3; Lc 7.18–20). Provavelmente João fez isso porque, antes, ouvira de Deus que aquele que viria batizaria com o Espírito e com fogo (Mt 3.11; Lc 3.16). Pelo que João soubera, Jesus não estava batizando ninguém com fogo. O que João ouviu de Deus estava certo, embora a inferência que João fez estivesse errada, porque ele, como todos os profetas, via apenas uma parte do cenário maior.

Não só todas as profecias são parciais, mas, o que é mais perigoso, às vezes podemos confundir a nossa interpretação errada com a mensagem de Deus. Alguns de nós talvez se lembrem de momentos em que oramos pelo cônjuge ou emprego certos; quanto mais envolvidos emocionalmente estivermos em uma decisão, mais difícil será pensar e ouvir com clareza [sobre ela].

Talvez seja por isso que Lucas se abstém de chamar o discurso guiado pelo Espírito, em Atos 21.4, de “profecia”. Os amigos de Paulo disseram-lhe “pelo Espírito” para não ir a Jerusalém. Apesar disso, Deus já havia dito ao próprio Paulo para ir a Jerusalém (o provável significado de Atos 19.21). Os amigos de Paulo tinham ouvido corretamente que ele sofreria em Jerusalém (20.23; 21.11), mas erroneamente inferiram, a partir dessa informação, que ele não deveria ir para lá (21.12-14; ver também 2Rs 2.3-5,16-18). A subjetividade é algo confuso, mas enquanto precisarmos da sabedoria do Senhor, temos de conviver com alguma subjetividade.

E é assim porque toda profecia é “em parte”, assim como os mestres conhecem "em parte” (1Co 13.9). Até que Jesus volte, nosso conhecimento é limitado e parcial (v. 9-12). Dizer que todas as profecias que entraram na Bíblia são perfeitas não significa que nenhum dos servos de Deus jamais fez profecias imperfeitas. É por isso que Paulo insiste em que cada profecia deva ser avaliada (1Co 14.29). Ele nos avisa para não apagar o Espírito nem desprezar as profecias; em vez disso, devemos pô-las à prova, ficando com o que é bom e rejeitando o que é mau (1Ts 5.19-22).

Certos ensinamentos populares tornaram muitas profecias contemporâneas ainda mais problemáticas. Acredito que os excessos cometidos no ensino da “confissão positiva” introduziram uma grande fonte de erro em potencial na questão da profecia. Até mesmo muitos círculos hoje em dia que repudiam a teologia do “dar nome e tomar posse” agora se envolvem em “declarações proféticas”. Algumas dessas declarações pretendem ser afirmações de fé. Afinal de contas, Jesus nos convida a dar ordem até aos montes pela fé (Mc 11.23). Mas a fé é apenas tão boa quanto seu objeto, o qual, por sua vez, Jesus especifica no versículo anterior como sendo Deus (v. 22). As “declarações” proféticas são vazias, a menos que sejam autorizadas e dirigidas por Deus. Como diz Lamentações: “Quem poderá falar e fazer acontecer, se o Senhor não o tiver decretado?” (Lm 3.37).

Ouvindo coisas diferentes

As pessoas mais proeminentes que afirmam falar por Deus nem sempre estão certas, mas isso não significa que Deus não fale. Em 2008, um pastor etíope, que nada sabia a meu respeito, profetizou com precisão sobre meu filho e sobre eu estar escrevendo dois livros grandes. O que me confundiu foi ele ter dito que meu segundo livro seria maior do que o primeiro. Eu esperava que meu comentário de Atos saísse primeiro; mas ele acabou tendo mais de 4 mil páginas. Embora eu tenha ficado parcialmente impressionado, pensei que Mesfin estava errado sobre um livro maior. Mas meu livro sobre milagres, que no fim teve apenas 1.100 páginas, acabou saindo antes do meu comentário de Atos. Mesfin estava certo e eu errado.

Este ano, muitos cristãos ouviram líderes profetizarem que Trump venceria novamente a eleição. Alguns, como Jeremiah Johnson, insistiram em afirmar que sua profecia acabaria se revelando verdadeira. Outros, como Kris Vallotton, pediram desculpas publicamente. Por ora, [pelo que parece] muitos decidirão que a profecia foi contingente, mal calculada ou, mais provavelmente, errada.

Embora eu não tenha apoiado Trump, sou alguém que deseja ver as profecias piedosas se confirmarem, e posso entender a decepção.

Não sou profeta, mas meus próprios sonhos já me causaram dúvidas. Por exemplo, em março de 2016, oito meses antes da eleição, sonhei que Trump poderia ser como o Jeú da Bíblia (2Rs 10.28–31) e precisava se arrepender. Em maio de 2016, sonhei que Deus estava irado com os (futuros) maus tratos de Trump às crianças refugiadas. Mais tarde, sonhei que suas palavras provocariam tumultos raciais. Após a eleição de 2016, escrevi em meu diário: “Eu me pergunto por que, após ter tido esses pesadelos com ele, muitos outros não estão vendo a mesma coisa”. No ano seguinte, sonhei que estava alertando os apoiadores de Trump sobre uma reação adversa: “Eles semeiam vento e colhem tempestade” (Os 8.7).

Não consegui me livrar desses sonhos, embora muitas pessoas que respeito apoiassem o presidente, e por motivos que eu compreendia. Às vezes, minha própria perspectiva vacilou, já que sou pró-vida e aprecio o respeito do presidente pelos evangélicos. Em agosto de 2020, sonhei que Trump perdeu a eleição desse ano. Foi apenas um sonho. Tenho sonhos dos mais diversos e, mesmo quando alguns parecem significativos, nem sempre tenho certeza de como interpretá-los. Alguns são provavelmente influenciados por pesquisas noticiadas pela BBC, antes de eu ir para a cama. Mas os sonhos ao menos me motivam a orar.

As perspectivas são diferentes, e cada um de nós tem somente uma peça do quebra-cabeça maior. De uma coisa podemos ter certeza: O Senhor continua no controle da história, e podemos viver pautados em sua Palavra nas Escrituras, que é certa, aconteça o que acontecer.

Se, contrariando todas as probabilidades, Trump de repente se tornasse presidente, as profecias chamariam a atenção do público para a obra de Deus. Caso contrário, pode ser que, em vez disso, Deus esteja chamando a atenção para uma necessária faxina em muitos círculos carismáticos. O encorajamento do Espírito nem sempre se traduz nas palavras que queremos ouvir; “declarações proféticas” podem nos entorpecer para o que Deus realmente está dizendo; e, dependendo do que outros dizem que Deus disse, pode ser um negócio arriscado (veja 1Rs 13.11–32).

Como cristão carismático, gosto de ver profecias se tornarem realidade. Mas profecias precisam ser avaliadas. Sempre que possível, antes de irem a público. E, quando necessário, depois.

Craig Keener é (F. M. e Ada Thompson) Professor de Estudos Bíblicos no Asbury Theological Seminary. Ele é o autor de Christobiography: Memories, History, and the Reliability of the Gospels, que ganhou em 2020 o prêmio do CT Book Award.

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Books

Os 50 países em que é mais difícil ser cristão em 2021

O Sudão finalmente saiu dessa lista dos 10 piores países em termos de perseguição, na qual a Índia permanece, enquanto Moçambique e República Democrática do Congo somam-se à Lista Mundial da Perseguição 2021, elaborada pela missão Portas Abertas.

Christianity Today January 13, 2021
Mallory Rentsch

Nota do editor: Portas Abertas já lançou a Lista Mundial da perseguição cristã de 2023.

Todos os dias, 13 cristãos no mundo todo são mortos por causa de sua fé.

Todos os dias, 12 templos ou edifícios cristãos são atacados.

E todos os dias, 12 cristãos são injustamente detidos ou presos, e outros 5 são sequestrados.

É o que relata a Lista Mundial da Perseguição 2021, o último relatório anual da missão Portas Abertas sobre os 50 principais países em que os cristãos são mais perseguidos por seguir a Jesus.

“Você pode pensar que a lista é toda sobre opressão. … Mas a lista tem tudo a ver com resiliência”, afirmou David Curry, presidente e CEO da Portas Abertas USA, ao apresentar o relatório divulgado hoje.

“O número de pessoas do povo de Deus que está sofrendo deveria significar que a Igreja está morrendo — que os cristãos estão se calando, perdendo a fé e se afastando uns dos outros”, afirmou.

“Mas não é isso que está acontecendo.

Em vez disso, em cores nítidas, vemos as palavras de Deus registradas no profeta Isaías: ‘Abrirei um caminho no deserto e rios no deserto.’ (Isaías 43.19, ESV)”.

As nações listadas somam 309 milhões de cristãos que vivem em lugares com níveis de perseguição muito altos ou extremos, acima dos 260 milhões da lista do ano passado.

A esses países poderiam ser acrescentados outros 31 milhões de cristãos dos 24 países que vêm logo após os 50 primeiros — como Cuba, Sri Lanka e os Emirados Árabes Unidos — [contribuindo] para a proporção de 1 em cada 8 cristãos em todo o mundo que enfrentam perseguição.

Isso inclui 1 em cada 6 cristãos na África e 2 em cada 5 na Ásia.

No ano passado, 45 países tiveram uma classificação suficientemente alta para pontuar níveis de perseguição “muito altos” na matriz de 84 questões da missão Portas Abertas.

Este ano, pela primeira vez em 29 anos de acompanhamento, todos os 50 países atingiram essa pontuação — assim como o fizeram mais 4 outras nações, que por pouco ficaram de fora dessa lista das 50 primeiras.

A missão Portas abertas identificou três tendências principais que impulsionaram o aumento do ano passado:

  • “A COVID-19 agiu como um catalisador para a perseguição religiosa por meio de discriminação, conversão forçada e como justificativa para aumentar a vigilância e a censura.”
  • “Ataques extremistas se espalharam oportunisticamente por toda a África Subsaariana, da Nigéria e Camarões a Burkina Faso, Mali e além.”
  • “Os sistemas de censura chineses continuam a se propagar e se espalhar para estados emergentes de vigilância”.

A Portas Abertas têm monitorado a perseguição aos cristãos em todo o mundo desde 1992. A Coreia do Norte ocupa o primeiro lugar há quase 20 anos, desde 2002, quando a lista mundial da perseguição começou a ser feita.

A lista de 2021 rastreia o período de 1º de novembro de 2019 a 31 de outubro de 2020, e foi compilada a partir de relatórios de campo de funcionários da missão Portas Abertas em mais de 60 países.

“Não estamos conversando apenas com líderes religiosos”, disse Curry, no lançamento da lista deste ano, transmitido ao vivo via streaming. “Estamos ouvindo em primeira mão aqueles que estão sendo perseguidos, e registrando apenas o que podemos documentar.”

O objetivo desses rankings anuais da Lista Mundial da Perseguição — que relatam como a Coreia do Norte agora enfrenta concorrência, à medida que a perseguição fica cada vez pior — é servir de orientação para orações e buscar uma forma de ira mais eficaz, ao mesmo tempo em que mostra aos cristãos perseguidos que eles não foram esquecidos.

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Onde os cristãos são mais perseguidos hoje?

Este ano, os 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos permaneceram relativamente inalterados.

Depois da Coreia do Norte vem o Afeganistão, seguido pela Somália, Líbia, Paquistão, Eritreia, Iêmen, Irã, Nigéria e Índia.

A Nigéria entrou nessa lista dos 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos pela primeira vez, após atingir o nível mais alto na métrica da missão Portas Abertas para violência.

A nação, que tem a maior população cristã da África, ocupa a 9ª posição geral no ranking, mas no quesito violência está na 2ª posição, ficando atrás apenas do Paquistão, e ocupa a 1ª posição no quesito número de cristãos mortos por razões relacionadas à sua fé.

Onde é mais difícil seguir a Jesus:



1. Coreia do Norte
2. Afeganistão
3. Somália
4. Líbia
5. Paquistão
6. Eritreia
7. Iêmen
8. Irã
9. Nigéria
10. Índia

O Sudão saiu desse grupo dos 10 piores países pela primeira vez em seis anos, após abolir a pena de morte por apostasia e garantir — ao menos no papel — liberdade religiosa em sua nova constituição, após três décadas de vigor da lei islâmica.

(Esta mudança, ocorrida em dezembro entre os 10 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos, repercute a decisão do Departamento de Estado dos EUA de adicionar a Nigéria e remover o Sudão de sua lista de países de preocupação particular, a qual aponta e envergonha governos que “se envolveram ou toleraram violações sistemáticas, contínuas e flagrantes da liberdade religiosa.”)

A Índia permanece entre os 10 piores países pelo terceiro ano consecutivo, pois “continua a ver um aumento na violência contra as minorias religiosas devido ao extremismo hindu sancionado pelo governo”.

Enquanto isso, a China se juntou ao grupo dos 20 piores países perseguidores pela primeira vez em uma década, devido à “vigilância e censura contínuas e crescentes de cristãos e de outras minorias religiosas”.

Dos 50 países que figuram como os piores perseguidores de cristãos:

  • 12 têm níveis “extremos” de perseguição e 38 têm níveis “muito altos”. Outras 4 nações, além das 50 primeiras, também se enquadraram como tendo níveis de perseguição “muito altos”: Cuba, Sri Lanka, Emirados Árabes Unidos e Níger.
  • 19 estão na África (sendo 6 deles no Norte da África); 14 estão na Ásia; 10 estão no Oriente Médio; 5 estão na Ásia Central e 2 estão na América Latina.
  • 34 têm o islamismo como religião principal; 4 têm o budismo; 2 têm o hinduísmo; 1 segue o ateísmo; 1 segue o agnosticismo — e 10 têm como religião principal o cristianismo.

A lista de 2021 acrescentou quatro novos países: México (37º lugar), República Democrática do Congo (40º lugar), Moçambique (45º lugar), e Comores (50º lugar).

Moçambique subiu 21 posições (deixando o 66º lugar) “devido à violência extremista islâmica na província do norte de Cabo Delgado.”

A República Democrática do Congo subiu 17 posições (deixando o 57º lugar) “principalmente devido a ataques a cristãos pelo grupo islâmico Forças Democráticas Aliadas (ADF).”

Onde os cristãos enfrentam mais violência:



1. Paquistão
2. Nigéria
3. República Democrática do Congo
4. Moçambique
5. Camarões
6. República Centro-Africana
7. Índia
8. Mali
9. Sudão do Sul
10. Etiópia

Período do relatório da missão Portas abertas: de novembro de 2019 a outubro de 2020

O México subiu 15 pontos (deixando o 52º lugar) devido ao aumento da violência e da discriminação contra cristãos por parte de traficantes de drogas, gangues e comunidades indígenas.

Quatro países saíram da lista: Sri Lanka (anteriormente no 30º lugar), Rússia (anteriormente no 46º lugar), Emirados Árabes Unidos (anteriormente no 47º lugar) e Níger (anteriormente no 50º lugar).

Outras grandes mudanças na classificação: a Colômbia subiu 11 posições, passando do 41º para o 30º lugar, devido à violência de guerrilheiros, grupos criminosos e comunidades indígenas, bem como pela crescente intolerância secular.

A Turquia subiu 11 posições, passando do 36º para o 25º lugar, devido a um aumento da violência contra cristãos.

E Bangladesh subiu sete posições, passando do 38º para o 31º lugar, devido a ataques a convertidos cristãos entre seus refugiados Rohingya.

No entanto, outros tipos de perseguição podem superar a violência [conforme explicado abaixo].

Por exemplo, a República Centro-Africana caiu 10 posições, passando do 25º para o 35º lugar, embora a violência contra os cristãos continue extrema.

E o Quênia caiu 6 posições, passando do 43º para o 49º lugar, embora os ataques lá “tenham aumentado significativamente”.

Enquanto isso, o Sudão do Sul está entre os 10 países mais violentos, segundo acompanhamento da missão Portas Abertas (ocupando o 9º lugar), mas, ainda assim, não está entre os 50 piores países da Lista Mundial da Perseguição (pois ocupa o 69º lugar).

No 25º aniversário da lista, em 2017, a missão Portas Abertas divulgou uma análise das tendências de perseguição ao longo dos últimos 25 anos.

As 10 principais nações, nesse período de 25 anos, foram: Coreia do Norte, Arábia Saudita, Irã, Somália, Afeganistão, Maldivas, Iêmen, Sudão, Vietnã e China.

Cinco países aparecem na lista dos 25 anos e na lista dos 10 piores países de 2021 — um sinal preocupante da estabilidade da perseguição, como observou a missão Portas Abertas.

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Como os cristãos são perseguidos nesses países?

A missão Portas Abertas rastreia a perseguição sob seis categorias — incluindo pressão social e governamental sobre indivíduos, famílias e congregações — e tem um foco especial nas mulheres.

Mas quando se isola a violência como uma categoria, os dez principais países perseguidores mudam dramaticamente — apenas Paquistão, Nigéria e Índia permanecem. Na verdade, hoje, há 20 países em que morrem mais cristãos do que na Coreia do Norte.

Os martírios registrados em todo o mundo aumentaram para 4.761 no relatório de 2021, 60% a mais do que os 2.983 registrados no ano anterior, e superando as 4.305 mortes observadas no relatório de 2019. (A Portas Abertas é conhecida por favorecer uma estimativa mais conservadora do que outros grupos, que geralmente contabilizam 100 mil martírios por ano.)

Onde os cristãos mais foram martirizados:


1. Nigéria: 3.530
2. República Democrática do Congo: 460
3. Paquistão: 307
4. Moçambique: 100*
5. Camarões: 53
6. Burkina Faso: 38
7. [nome ocultado]: 36
8. República Centro-Africana: 35
9. Mali: 33
10. [nome ocultado]: 20

*Período do relatório da missão Portas abertas: de novembro de 2019 a outubro de 2020

Nove em cada 10 cristãos mortos por causa de sua fé estavam na África, e o restante, na Ásia. A Nigéria assumiu o primeiro lugar no mundo, com 3.530 mártires confirmados pela missão Portas Abertas, em sua lista de 2021.

O rapto de cristãos subiu para 1.710, um aumento de 63 por cento ante os 1.052 registrados no ano anterior, a primeira vez que essa categoria foi rastreada por Portas Abertas. A Nigéria lidera a lista, com 990 raptos.

O Paquistão ficou com o primeiro lugar no mundo em número de casamentos forçados, uma nova categoria rastreada no ano passado, sendo que cerca de 1 mil cristãos casaram-se contra sua vontade com não-cristãos. A Ásia respondeu por 72 por cento dos casamentos forçados registrados pela Portas Abertas, e a África — liderada pela Nigéria —, pelos 28 por cento restantes.

A China é o principal violador nas outras duas categorias, previamente já monitoradas por Portas Abertas.

Onde as igrejas foram mais atacadas ou fechadas:


1. China: 3.038
2. Nigéria: 270
3. Angola 100*
4. República Democrática do Congo: 100*
5. Etiópia: 100*
6. Ruanda: 100*
7. Bangladesh: 90
8. Índia: 76
9. Paquistão: 68
10. México: 61

*Período do relatório da missão Portas abertas: de novembro de 2019 a outubro de 2020

A China prendeu, encarcerou ou deteve sem julgamento 1.147 cristãos por motivos relacionados à fé, de um total de 4.277 em todo o mundo. Essa estimativa, feita pela missão Portas Abertas, ultrapassou os 3.711 do ano passado e os 3.150 em 2019.

Enquanto isso, ataques e fechamento forçado de igrejas totalizaram 4.488 em todo o mundo, tendo sido a grande maioria registrada na China, seguida pela Nigéria. No relatório do ano passado, a estimativa disparou de 1.847 para 9.488, sendo que a China respondeu sozinha por 5.576.

A missão Portas Abertas advertiu que, em vários países, as violações acima são muito difíceis de serem documentadas com precisão. Nestes casos, são apresentados números aproximados, mas sempre tendendo para estimativas conservadoras.

Sua pesquisa é certificada e auditada pelo Instituto Internacional pela Liberdade Religiosa, uma rede apoiada pela Aliança Evangélica Mundial, com sede na Alemanha.

Por que os cristãos são perseguidos nesses países?

A motivação principal varia de acordo com o país, e entender melhor essas diferenças pode ajudar cristãos de outros países a orarem e defenderem com mais eficácia seus irmãos e irmãs em Cristo que são vítimas de perseguição.

Por exemplo, embora o Afeganistão seja o segundo pior perseguidor do mundo e uma nação oficialmente muçulmana, o principal motivo de perseguição lá — de acordo com a pesquisa da Portas Abertas — não é o extremismo islâmico, mas o antagonismo étnico, ou o que o relatório chama de “opressão do clã”.

Portas abertas categoriza as fontes primárias de perseguição a cristãos em oito grupos:

Opressão islâmica (29 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em mais da metade dos países monitorados, incluindo 5 dos 12 onde os cristãos enfrentam níveis “extremos” de perseguição: Líbia (Nº 4), Paquistão (Nº 5), Iêmen (Nº 7), Irã (Nº 8), e Síria (Nº 12). A maioria dos 30 são nações oficialmente muçulmanas ou de maioria muçulmana; no entanto, 7 delas na verdade são de maioria cristã: Nigéria (Nº 9), República Centro-Africana (Nº 35), Etiópia (Nº 36), República Democrática do Congo (Nº 40), Camarões (Nº 42), Moçambique (Nº 45) e Quênia (Nº 49).

Opressão do clã (6 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em países como Afeganistão (Nº 2), Somália (Nº 3), Laos (Nº 22), Catar (Nº 29), Nepal (Nº 34), e Omã (Nº 44).

Paranoia ditatorial (5 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em cinco países, principalmente nos da Ásia Central e de maioria muçulmana: Uzbequistão (Nº 21), Turcomenistão (Nº 23), Tajiquistão (Nº 33), Brunei (Nº 39), e Cazaquistão (Nº 41).

Nacionalismo religioso (3 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em três nações asiáticas. Os cristãos são principalmente visados por nacionalistas hindus na Índia (Nº 10), e por nacionalistas budistas em Mianmar (Nº 18) e Butão (Nº 43).

Opressão comunista e pós-comunista (3 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam em três países, todos na Ásia: Coreia do Norte (Nº 1), China (Nº 17) e Vietnã (Nº 19).

Protecionismo denominacional cristão (2 países): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam na Eritreia (Nº 6) e Etiópia (Nº 36).

Corrupção e crime organizado (2 país): Esta é a principal fonte de perseguição que os cristãos enfrentam no Colômbia (Nº 30) e México (Nº 37).

Intolerância secular (0 países): A Portas Abertas rastreia essa fonte de perseguição enfrentada pelos cristãos, mas ela não é a principal fonte em nenhum dos 50 países estudados.

Quais são as principais tendências na perseguição a cristãos?

Portas Abertas identificou quatro tendências, novas ou contínuas, relativas a por que e como os cristãos foram perseguidos por sua fé no ano que passou.

Em primeiro lugar, a pandemia propiciou uma nova via para a perseguição, uma vez que a missão Portas Abertas documentou discriminação contra cristãos que recebiam ajuda por causa da COVID-19 em países como Etiópia, Malásia, Nigéria, Vietnã e Oriente Médio.

Na Índia, onde mais de 100 mil cristãos receberam ajuda de parceiros da missão Portas Abertas, 80 por cento destes relataram ter sido anteriormente “mandados embora de pontos de distribuição de alimentos. Alguns caminharam quilômetros e esconderam sua identidade cristã para conseguir comida em outros locais”, observaram os pesquisadores. A missão Portas Abertas também coletou relatos de “Cristãos que vivem em áreas rurais, a quem foi negado socorro”, em locais como Mianmar, Nepal, Vietnã, Bangladesh, Paquistão, Ásia Central, Malásia, Norte da África, Iêmen e Sudão. “Às vezes, essa negativa de ajuda partiu de oficiais do governo, mas, com mais frequência, partiu de chefes de aldeia, comitês ou outros líderes locais.”

Portas abertas observou:

“A pandemia global tornou a perseguição mais óbvia do que nunca — simplesmente porque muitas pessoas precisaram de ajuda. A clara discriminação e opressão sofrida por cristãos em 2020 não deve ser esquecida, mesmo depois que a crise da COVID-19 desaparecer de nossa memória coletiva.”

Os lockdowns nos serviços de saúde pública também aumentaram a vulnerabilidade de muitos crentes. “Os cristãos que abandonam a fé da maioria para seguir a Cristo sabem que correm o risco de perder todo o apoio do cônjuge, das famílias, das tribos e comunidades, bem como das autoridades locais e nacionais”, observaram os pesquisadores. “Se eles perderem renda, por causa da COVID-19, não podem recorrer às redes de apoio habituais para sobreviver.” Enquanto isso, líderes religiosos, do Egito à América Latina, disseram à missão Portas Abertas que a proibição dos cultos religiosos fez com que as doações caíssem em cerca de 40 por cento, reduzindo sua renda pessoal e a capacidade de suas congregações de oferecer assistência à comunidade em geral.

Portas abertas observou que:

“A maior parte dos que se converteram, vindos de religiões majoritárias, disseram que o confinamento devido à quarentena da COVID-19 os fez ficarem em isolamento social com aqueles que são mais antagônicos à sua fé em Jesus. Isso afetou especialmente mulheres e crianças pertencentes às minorias. Para milhões de cristãos, o trabalho, a educação e outros interesses externos proporcionam breves períodos de tranquilidade em face da constante perseguição. Então, quando os lockdowns ocorreram, isso significou que essa trégua não estaria mais disponível.”

“Também recebemos relatos de que o sequestro, a conversão forçada e o casamento forçado de mulheres e meninas aumentaram durante a pandemia, devido ao aumento da vulnerabilidade. Além disso, na América Latina, locais vulneráveis às gangues de drogas tornaram-se ainda mais perigosos para os cristãos, uma vez que a pandemia diminuiu a presença de autoridades que tentam manter a ordem”.

Em segundo lugar, o aumento da vigilância digital e por vídeo de grupos religiosos, bem como as melhorias e a proliferação das tecnologias de vigilância foram outra tendência importante.

“A China afirma que se moveu assertivamente para conter a COVID-19 depois que o vírus proliferou em Wuhan”, observaram os pesquisadores da missão Portas Abertas. “Mas, para seus 97 milhões de cristãos, o custo de pesadas restrições — como a vigilância que alcançou suas casas, o rastreamento das interações online e offline e o fato de terem seus rostos digitalizados em banco de dados de segurança pública — é alto.”

De acordo com o relatório:

“Relatórios de condados nas províncias de Henan e Jiangxi dizem que câmeras com software de reconhecimento facial estão agora em todos os locais religiosos aprovados pelo Estado. Muitas dessas câmeras foram instaladas próximas a câmeras de segurança padrão, mas elas se conectam ao Departamento de Segurança Pública, o que significa que a inteligência artificial pode se conectar instantaneamente a outros bancos de dados do governo. O software de reconhecimento facial está vinculado ao ‘Sistema de Crédito Social’ na China, que monitora a lealdade dos cidadãos em relação aos princípios do comunismo.”

Da mesma forma, na Índia, os pesquisadores da Portas Abertas observaram que “as minorias religiosas temem que os aplicativos de rastreamento de contato tenham ‘função creeping’ e sejam usados para ficar de olho neles e em suas movimentações”.

Terceiro, a tendência de “cidadania ligada à fé” continuou a se espalhar. “Em países como Índia e Turquia, a identidade religiosa está cada vez mais ligada à identidade nacional — ou seja, para ser um ‘verdadeiro’ indiano ou um bom turco, você deve ser hindu ou muçulmano, respectivamente”, observaram os pesquisadores. “Isso é muitas vezes implicitamente — senão explicitamente — incentivado pelo governo.”

Portas abertas observou:

“Em meio a uma onda de nacionalismo hindu, os cristãos indianos são constantemente pressionados por uma propaganda estridente. A mensagem “para ser indiano, você deve ser hindu” significa que multidões continuam a atacar e a perseguir cristãos, bem como muçulmanos. A crença de que cristãos não são verdadeiramente indianos significa discriminação generalizada, e muitas vezes a perseguição é conduzida com impunidade. A Índia também continua a bloquear o fluxo de fundos estrangeiros para muitos hospitais, escolas e organizações religiosas administradas por cristãos, tudo sob o pretexto de proteger a identidade nacional.”

“Na Turquia, o governo também assumiu o papel de protetor nacionalista do Islã. A Hagia Sophia foi originalmente uma catedral e depois uma mesquita, até que a Turquia secular decidiu que deveria ser um museu. Mas, em julho de 2020, o presidente turco convenceu um tribunal a transformá-la novamente em mesquita, fortalecendo o nacionalismo turco. … A influência turca e os objetivos nacionalistas se espalham além de suas fronteiras, principalmente em seu apoio ao Azerbaijão no conflito com a Armênia.”

Quarto, os ataques, em sua maioria promovidos por extremistas muçulmanos, aumentaram apesar dos lockdowns para conter o coronavírus. “Em grande parte do mundo, a violência contra cristãos realmente diminuiu durante a pandemia da COVID-19”, observaram os pesquisadores, mas os cristãos na África subsaariana “enfrentaram níveis de violência até 30 por cento mais altos do que no ano passado.”

Portas abertas observou que:

“Várias centenas de aldeias, sobretudo cristãs, na Nigéria foram ocupadas ou saqueadas por pastores militantes muçulmanos Hausa-Fulani armados; em alguns casos, campos e plantações também foram destruídos.” Boko Haram — e seu grupo dissidente, o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP, da sigla em inglês), um afiliado do EI — continuam a atormentar a Nigéria e o extremo norte de Camarões.”

“Na região do Sahel, imediatamente ao sul do Deserto do Saara, o extremismo islâmico é alimentado pela injustiça e pela pobreza. Esses grupos extremistas exploram falhas de governos frágeis, e jihadistas armados espalham propaganda, incentivam o recrutamento e conduzem ataques regulares. Este ano, alguns grupos se comprometeram a travar guerra contra ‘infiéis’ como os cristãos — eles afirmam que ‘Alá pune a todos’ com a pandemia por causa dos infiéis”.

“Em Burkina Faso, país até recentemente conhecido pela harmonia inter-religiosa entre muçulmanos e cristãos, 1 milhão de pessoas — 1 em cada 20 da população — foram deslocadas (e milhões mais passam fome) como resultado da seca, bem como da violência. No ano passado, Burkina Faso entrou dramaticamente na [LMP] pela primeira vez. Este ano, extremistas islâmicos continuam a visar igrejas (14 mortos em um ataque, 24 em outro).”

Como a LMP se compara a outros relatórios importantes sobre a perseguição religiosa?

A missão Portas Abertas acredita que é razoável chamar o cristianismo de religião mais severamente perseguida do mundo. Ao mesmo tempo, destaca que não há uma documentação comparável para a população muçulmana mundial.

Outras avaliações da liberdade religiosa em todo o mundo corroboram muitas das descobertas da Portas Abertas. Por exemplo, a última análise do Pew Research Center sobre as hostilidades governamentais e sociais contra a religião revelou que os cristãos foram perseguidos em 145 países em 2018, mais do que qualquer outro grupo religioso. Muçulmanos foram perseguidos em 139 países, seguidos por judeus em 88 países.

Quando se examina apenas a hostilidade por parte dos governos, os muçulmanos foram perseguidos em 126 países e os cristãos em 124 países, de acordo com o Pew Research Center. Quando se examina apenas a hostilidade dentro da sociedade, os cristãos foram perseguidos em 104 países e muçulmanos em 103 países.

Todas as nações do mundo são monitoradas por pesquisadores e equipe de campo da missão Portas Abertas, mas eles dão atenção mais profunda a 100 nações e foco especial nas 74 que registram níveis “altos” de perseguição (com pontuações acima de 40 em uma escala de 100 pontos, utilizada pela missão Portas Abertas).

Falando durante o evento de lançamento, Sam Brownback, embaixador-geral dos Estados Unidos para a liberdade religiosa internacional, elogiou a Lista Mundial da Perseguição. “Chegará o dia em que as pessoas poderão praticar sua fé livremente, e os governos protegerão esse direito”, disse ele. “Este dia está se aproximando e a missão Portas Abertas ajuda nesse esforço.”

Classificação a Lista Mundial da Perseguição 2021:

Classificação

País

1

Coreia do Norte

2

Afeganistão

3

Somália

4

Líbia

5

Paquistão

6

Eritreia

7

Iêmen

8

Irã

9

Nigéria

10

Índia

11

Iraque

12

Síria

13

Sudão

14

Arábia Saudita

15

Maldivas

16

Egito

17

China

18

Mianmar

19

Vietnã

20

Mauritânia

21

Uzbequistão

22

Laos

23

Turcomenistão

24

Argélia

25

Turquia

26

Tunísia

27

Marrocos

28

Mali

29

Catar

30

Colombia

31

Bangladesh

32

Burkina Faso

33

Tajiquistão

34

Nepal

35

República Centro-Africana

36

Etiópia

37

México

38

Jordânia

39

Brunei

40

República Democrática do Congo

41

Cazaquistão

42

Camarões

43

Butão

44

Omã

45

Moçambique

46

Malásia

47

Indonésia

48

Kuwait

49

Quênia

50

Comores

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Illustration by Jared Boggess

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Domingo: Deitado numa manjedoura

Leitura de hoje: Lucas 2.8-20

A plenitude do tempo havia chegado. Por milhares e milhares de anos, o povo de Deus esperou pela chegada do filho maior de Davi, o Messias-Rei de Israel. O prometido Príncipe da Paz. E, agora, os maiores sonhos de seus profetas, elaborados por Deus, finalmente se materializaram quando o coro de anjos anunciou: O Rei está aqui! Nasceu hoje mesmo.

Na chegada do Messias, ficamos maravilhados, mas esperamos a proclamação de um anjo do Senhor. Ficamos boquiabertos, mas esperamos todo um exército de anjos irrompendo em louvor. Podemos até esperar que essa proclamação ressoe nos salões reais ou no templo — ou em qualquer lugar que não fosse um campo obscuro perto de Belém . . . para humildes pastores.

O mau cheiro de animais impregnado em suas roupas, a posição social ignóbil e a sujeira alojada sob suas unhas não desqualificavam esses pastores para receber a palavra do Senhor. Afinal, essas boas-novas de grande alegria eram para “todo o povo” (Lc 2.10) e, como lemos mais tarde, especialmente “aos pobres” (Lc 4.18).

E o que o anjo disse que seria o sinal dessa notícia extremamente boa? Procure por um Messias pobre: ele estará deitado em uma manjedoura. Uma manjedoura. Ele cheirará como vocês, abençoados pastores. Em circunstâncias humildes. Empurrado para a margem. Com efeito, “Felizes são vocês, pobres, pois o reino de Deus lhes pertence.” (Lc 6.20).

E abençoados somos nós também, quando, assim como os pastores, recebemos essas boas-novas e corremos ao encontro de Jesus, por nós mesmos. Não foi assim o começo de nossa caminhada com Cristo? Não entendíamos tudo o que ele é, nem tudo o que fez, nem como tudo isso pretende nos transformar radicalmente. Sabíamos apenas que precisávamos vê-lo, conhecê-lo. E, quando o fizéssemos, como poderíamos deixar de proclamar as boas-novas, “glorificando e louvando a Deus” por tudo o que tínhamos visto e ouvido (Lc 2.20)?

Essa sequência — ouvir o evangelho, correr ao encontro de Jesus e, então, proclamar o evangelho e louvar a Deus — não é também como prosseguimos na fé? Não é essa a receita para a adoração que alimenta nossa perseverança? Não é esse o solo em que a esperança floresce?

O reino de Deus está repleto de histórias como estas: de humildes pastores que se tornam estimados arautos da salvação; de cobradores de impostos e prostitutas que se tornam amigos de Deus; de tolos e fracos que envergonham os sábios e fortes. E até mesmo da nossa própria Esperança — “o Salvador, que é Cristo” (Lc 2.11), que certa vez foi deitado numa manjedoura.

— Quina Aragon

Medite em

Lucas 2.8–20.

O que essa plateia humilde, escolhida para receber o anúncio dos anjos, destaca sobre Cristo e seu propósito? Como você é desafiado pela resposta dos pastores a Cristo?

Segunda-feira: Alegria de nossos desejos

Leitura de hoje: Lucas 2.22-38

Foi no crepúsculo da vida de Simeão e Ana — quando a maioria das outras pessoas poderia ter pensado que o navio de suas esperanças e sonhos havia zarpado muito tempo antes —, que Deus fez sua aparição mais espetacular. Foi em um momento desse tipo, quando, do ponto de vista humano, toda esperança parecia perdida, que Maria e José gentilmente colocaram Jesus, um bebê recém-nascido — o Messias, a manifestação de suas esperanças e sonhos — nos braços de Simeão e Ana. Deus é assim. Reiteradamente, Deus surge na história e em nossa vida, quando todas as apostas estão suspensas.

Talvez, assim como Simeão, tenhamos servido e adorado a Deus com alegria por toda a vida. E, talvez, também, tenhamos sentido Deus dizer que o que estamos vivendo agora não é o fim — há algo mais.

Pode ser que, assim como a profetisa Ana, também tenhamos passado toda a nossa vida seguindo Deus de perto e o mais próximo possível de seu povo. Talvez já estivemos onde Deus está — nos sacrificando por pessoas e amando-as — mas tenhamos tido nossa cota de dor e sofrimento ao longo do caminho. Talvez, acordemos a cada manhã com grandes expectativas, apenas para sermos continuamente desapontados. Talvez os dias se sucedam e nada mude. A vida pode até parecer uma decepção. Podemos questionar se realmente ouvimos Deus ou não.

Para Simeão e Ana, em um dia comum — que começou como todos os outros —, de repente tudo mudou. Maria e José foram ao templo para cumprir a Lei mosaica, oferecendo seu filho primogênito, Jesus, a Deus. Na plenitude daquele momento de kairós, o Espírito Santo impeliu Simeão e, em seguida, Ana na direção da sagrada família. Embora ambos estivessem próximos da morte — sua pele flácida exibia manchas da idade, seus corpos encurvados, seus movimentos mais lentos e comedidos — Deus apareceu com um novo rosto, mais vivo impossível, com olhos cintilantes e na pele macia de um bebê recém-nascido. Imprevisível e inesperado, de fato.

O testemunho de Simeão e Ana fala conosco, e nos lembra que Deus continua a aparecer em nossa vida, muitas vezes de forma inesperada. Ele irrompe, trazendo uma alegria inimaginável para nossos dias comuns.

E não apenas nesta vida, mas, também, na vida por vir — quando nossos sonhos e nossas esperanças serão por fim realizados no próprio Deus.

Assim, junto com Simeão e Ana, podemos exclamar o sentimento do grande hino, “Jesus, alegria de nossos desejos!” Nossa esperança e nossos sonhos são — e continuamente serão — manifestados em Cristo, agora e para sempre.

— Marlena Graves

Leia Lucas 2.22–38.

Considere as experiências de Simeão e Ana neste dia e nos muitos anos que o antecederam. Como a história deles desafia você? Como o testemunho deles inspira você?

Terça: Uma alegria disruptiva

Leitura de hoje: Mateus 2.1-12

A grande história da redenção escrita por Deus está repleta de ironia. Mesmo quando Mateus enfatiza que Jesus é o Messias prometido, em virtude de seu local de nascimento, que cumpre as Escrituras, ele também apresenta a seus ouvintes judeus um misterioso grupo de estrangeiros: sábios das terras do Oriente. De imediato, vemos o menino Jesus fazendo com que as nações “se reun[am] junto a ele” (Is 11.10; 60.1-6).

Essa caravana de migrantes gentios entra na Cidade Santa — o centro da vida religiosa judaica e residência de Herodes, o chamado “rei dos judeus” — com a intenção de encontrar e adorar o verdadeiro “rei dos judeus” (Mt 2.2). A ironia aqui quase provoca risos, até que notamos a aparente indiferença dos principais sacerdotes e escribas diante do nascimento de Cristo. E até vermos a falsa adoração de Herodes resultar no massacre de crianças.

Mais do que divertida, a ironia é condenatória. A ambição dos sábios contrasta fortemente com a de Herodes. Embora ambos fossem informados pelas Escrituras e ambos indagassem sobre o paradeiro de Cristo, Herodes recorreu a esquemas escusos para tentar eliminar essa ameaça, enquanto os sábios simplesmente seguiram a estrela com grande alegria.

Também vemos um contraste crítico entre a resposta de adoração dos sábios e a aparente falta de ação dos principais sacerdotes e escribas. Claramente, a proximidade com a verdade não é suficiente. Não foi embaraçoso para esses especialistas em Messias não reconhecer seu advento antes que pagãos o fizessem? Por que sua perícia teológica não despertou neles a mesma prontidão que vemos nos vigilantes sábios? Sua receptividade espiritual teria sido entorpecida por uma fome de poder e uma sede de privilégios, à medida que eles se aliaram a um rei tirânico?

“Felizes os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados”, a Escritura nos diz (Mt 5.6). Esta é a realidade que vemos os sábios gentios incorporarem. Sua alegria transbordou em adoração, quando viram aquele sinal luminoso de esperança repousar sobre a própria casa da Esperança (veja Nm 24.17). Eles viajaram de longe para dobrar alegremente os joelhos ao “rei dos judeus” que veio a ser também o “Rei das nações” (Ap 15.2-4).

O amor de Deus é um escândalo — amplo demais para ser contido, chocante demais para ser previsto. Ele transforma pagãos em adoradores de Cristo e estrangeiros em heróis da fé. Estamos dispostos a aprender com esses líderes improváveis e sua adoração generosa e humilde? Se estivermos, talvez nós também incorporemos uma bela ironia — uma alegria que transtorna, uma esperança que brilha, penetrando a escuridão de nossos tempos.

— Quina Aragon

Reflita sobre Mateus 2.1–12.

(Alternativamente, leia também Isaías 11.10 e 60.1–10). O que se destaca para você na reação dos sábios ao nascimento de Cristo? Como a adoração alegre dos sábios enfatiza o propósito de Cristo?

Quarta-feira: Guerra de Natal

Leitura de hoje: Mateus 2.1–18; 1João 3.8

Até este ponto, na narrativa do nascimento de Jesus, tudo era canto e alegria. Vimos coros angelicais, pastores às pressas e homens sábios procurando adorá-lo. Mas, aqui, em Mateus 2.16-18, temos o lembrete brutal e direto de por que, primeiramente, Jesus veio ao mundo. “Quando Herodes se deu conta de que os sábios o haviam enganado, ficou furioso. Enviou soldados para matar todos os meninos de dois anos para baixo em Belém e seus arredores, tomando por base o relato dos sábios acerca da primeira aparição da estrela” (Mt 2.16).

Nesta passagem, nos deparamos com uma realidade perturbadora e nítida: Há mal e maldades neste mundo. Existe o terror do pecado que governa e reina no coração de homens e mulheres. Deixados por conta própria e sob a influência do Maligno, os seres humanos podem se entregar a mentiras assassinas e ao engano. Vemos isso claramente nas ações de Herodes; não poderiam ser mais perversas. Bem aqui, na história da natividade, enquanto ainda ouvimos os anjos cantando, Satanás e seus asseclas matam incontáveis bebês.

A frustração de Herodes dá lugar à fúria e ele libera essa raiva profana. Podemos até imaginar o horror que tomou conta de Belém, quando Herodes enviou seus esquadrões da morte, para matar os meninos menores de 2 anos. Este é o ato brutal e monstruoso de um governante sádico sob a influência de Satanás. Essa atrocidade na história do Natal é, em meio ao nosso canto, um lembrete severo e sóbrio para nós de que a razão pela qual Jesus veio é para guerrear. Há uma guerra e Jesus veio para derrotar nosso pecado.

O Natal não é sobre fitas e etiquetas. Não é sobre pacotes, caixas ou sacolas de presentes. É sobre guerra espiritual. O texto de 1João 3.8 nos diz que Natal é sobre o Filho de Deus ter nascido para derrotar nossos pecados e destruir as obras do diabo.

Que possamos celebrar a paz e a beleza do Natal. Que possamos celebrar enquanto cantamos: “Alegria para o mundo! O Senhor veio.” Mas lembremos, também, deste evento sombrio na história do Natal, porque a matança dos meninos de Belém nos lembra por que Jesus nasceu. Cristo veio ao mundo para vencer nosso pecado e destruir as obras do Maligno.

— Anthony Carter

Este artigo foi adaptado de um sermão que Anthony Carter pregou em 24 de dezembro de 2017. Usado com permissão.

Considere Mateus 2.1–18 e 1João 3.8.

Em sua opinião, como o fim perturbador da história de Herodes e dos sábios enfatiza o propósito de Cristo ou aponta para o evangelho? Como isso pode aprofundar nossa compreensão da esperança?

Quinta-feira: Advento outra vez

Leitura de hoje: João 1.1-18

A Palavra — a fonte da criação, a verdadeira luz — assumiu a condição humana como um bebê indefeso, nascido em circunstâncias humildes. De uma perspectiva humana, o nascimento de Jesus é um tanto chocante. Por que ele, o Deus-homem, não apareceu pela primeira vez como um jovem robusto flexionando seus músculos divinos com façanhas espetaculares para todos verem? Os anjos poderiam ter alardeado sua vinda por todo o mundo! Mas eles não fizeram isso; um coro de anjos iluminou o céu noturno apenas para uns poucos pastores solitários.

Compare o advento de Jesus com a chegada dos generais romanos do primeiro século, que entravam na cidade com fanfarra e esplendor após uma vitória militar. Eles queriam ver e ser vistos, com o intuito de impressionar, enquanto exibiam poder e exigiam homenagens. Jesus veio de maneira silenciosa e discreta, sem exigir nada.

O modo como Jesus chegou, sua vida entre os camponeses judeus e sua posterior execução como criminoso certamente parecem um plano contraintuitivo para persuadir o mundo de que ele é o Messias. No entanto, João afirma: “A Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós." Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai” (1.14).

A glória da qual João testifica não condiz com nossas concepções humanas de glória e poder. Embora os discípulos tenham testemunhado muitos exemplos miraculosos do poder de Cristo, no Evangelho de João a maior demonstração da glória de Jesus é a cruz. O próprio Jesus deixa isso claro: “ ‘Chegou a hora de o Filho do Homem ser glorificado. . . . E, quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim'. Ele disse isso para indicar como morreria” (Jo 12.23, 32–33).

A chocante humildade da manjedoura nos aponta para a humilhação da cruz. Esta é nossa esperança estranha e sobrenatural: a Palavra, que nasceu como uma criança indefesa, é o Salvador que veio para morrer como um criminoso — por nós. Quando o recebemos, segundo diz João, entramos em sua luz e vida.

Às vezes, eu me pego entre os seguidores de Jesus que ainda lutam com perguntas (por exemplo, Mt 28.17; Mc 9.24; Jo 20.24–29). Quando ajo assim, volto a João 1.14. Os discípulos tinham visto e estado com Jesus. Eles comeram com Cristo, viajaram com ele, pescaram com ele, riram com ele, sofreram com ele — com Deus, face a face. Em sua vida, morte e ressurreição, Jesus os transformou tão profundamente que eles se dispuseram a abandonar tudo para sofrer e até morrer por Cristo. Essa realidade põe fim às minhas dúvidas.

Também penso no milagre que celebramos nesta véspera de Natal: Jesus, o bebê na manjedoura que "sendo Deus”, ainda assim “esvaziou a si mesmo” por nós (Fp 2.6–7). Penso no menino Jesus que cresceu para morrer e ressuscitar por meus pecados, oferecer-me a verdadeira esperança e fazer novas todas as coisas. Nesses momentos, Jesus, Fiel e Verdadeiro, o Caminho, a Verdade e a Vida, aparece outra vez para mim (Ap 19.11; Jo 14.6). É Advento outra vez.

— Marlena Graves

Considere João 1.1-18.

(Alternativamente, leia também João 12.23–36 e Filipenses 2.6–11). Reflita sobre o mistério e a glória da encarnação. Que respostas espirituais — como adoração, confiança, esperança — isso desperta em você?

Sexta-feira: O último Natal

Leitura de hoje: Isaías 9.6-7; Lucas 2.4-7; 1Pedro 1.3-5,13

Herodes e o diabo tentaram impedir que o Natal chegasse — porque a vinda daquele que é o Rei dos Reis é um pensamento assustador. Mas o Natal chegou mesmo assim. Satanás não conseguiu deter os planos de Deus, que foram estabelecidos para sempre. Ele não conseguiu impedir que Cristo nascesse. Ele não conseguiu impedir que Jesus morresse na cruz. Ele não conseguiu impedir que Cristo ressuscitasse dos mortos. Ele não conseguiu impedir Cristo de edificar sua igreja. Ele não conseguiu impedir que Cristo salvasse você. E Satanás não pode impedir que Cristo leve você para casa. Você deposita sua confiança no Rei que não apenas veio, mas que um dia voltará.

Neste dia de Natal, ao celebrarmos o nascimento de Cristo, nos concentramos na razão de ele ter vindo. E também lembramos que está chegando mais um Natal. O Senhor, nosso Deus, ainda não terminou.

Apesar do que dizem os pessimistas, Jesus está voltando. Apesar das dúvidas dos hesitantes, Jesus está voltando. Apesar do que dizem os céticos, Cristo voltará. Como a Escritura nos diz: “Vejam! Ele vem com as nuvens do céu, e todos o verão” (Ap 1.7).

Amados, lembremo-nos disto: A cada Natal estamos mais próximos do último Natal, quando o próprio Senhor descerá do céu com alarido e com as vozes dos anjos e as trombetas de Deus (1Ts 4.16). Se você acha que foi estrondoso e glorioso quando os anjos anunciaram seu nascimento aos pastores, espere até que chegue seu Segundo Advento!

Para aqueles que não creem, a vinda de Cristo será assustadora. Mas para aqueles que confiam em Cristo, a vinda do Senhor é esplendorosa. Dizemos: “Vem, Senhor!” Maranata! (1Co 16.22). Mesmo que não saibamos quando nem como ele virá, oramos, Vem, Senhor Jesus, vem. Nós, seu povo, estamos esperando por você. Queremos ser encontrados fiéis. Queremos perseverar. Vem, Senhor Jesus.

Neste dia de Natal, celebramos o milagre da encarnação. Nós nos juntamos aos pastores que correram para ver o bebê na manjedoura, glorificando e louvando a Deus. Adoramos com os sábios que se ajoelharam diante do menino Jesus. Regozijamo-nos com as boas-novas da graça, segundo as quais Jesus veio, morreu e ressuscitou. Vivemos em esperança. E lembramos que este Natal é apenas mais um Natal, mais próximo daquele último Natal glorioso que aguardamos. Com tudo o que temos, cantamos: “Vem, Senhor Jesus, vem”.

— Anthony Carter

Este artigo foi adaptado de um sermão que Anthony Carter pregou em 24 de dezembro de 2017. Usado com permissão.

Revisite Isaías 9.6–7; Lucas 2.4-7; e 1Pedro 1.3-5,13

. Reflita sobre a profecia de Isaías, à luz da primeira vinda de Cristo e do segundo advento que aguardamos. Como a sua esperança no retorno de Cristo e no seu reinado eterno aprofunda sua compreensão do nascimento dele? Como essa esperança pode enriquecer a sua celebração do Natal?

Colaboradores:

Quina Aragon é autora e artista de palavra falada. Entre seus livros infantis estão Love Made e Love Gave (com lançamento previsto para fevereiro de 2021).

Anthony Carter é pastor titular da Igreja de East Point, em East Point, Geórgia. É autor de Running From Mercy e Black and Reformed.

Marlena Graves é escritora e professora adjunta. Ela é autora de The Way Up Is Down e A Beautiful Disaster.

Traduzido por Maurício Zágari

Advento Semana 3: Emanuel, Deus conosco

Leituras devocionais diárias da Christianity Today para o Advento.

Christianity Today December 12, 2020
Illustration by Jared Boggess

Passe para a leitura diária: Domingo | Segunda-feira | Terça | Quarta-feira | Quinta-feira | Sexta-feira | Sábado

Domingo: Grandeza e graça

Leitura de hoje: Mateus 1.1-17

Durante o Advento, quando buscamos encontrar e adorar a Cristo, muitas vezes o procuramos na estrela brilhante que guiou os magos até o milagre na manjedoura. Procuramos Cristo nos presentes dos reis magos: ouro, incenso e mirra. Nós o procuramos na hoste celestial de anjos que cantaram aos pastores que cuidavam de seus rebanhos à noite.

Mas nem sempre pensamos em procurar Jesus em sua genealogia. Nela vemos menção a grandes homens como Abraão, o pai de nossa fé, ou Davi, o rei guerreiro e adorador. No entanto, a genealogia do Messias destaca não apenas grandeza, mas também graça. Sua linhagem registra não apenas líderes, mas também aqueles que menos esperaríamos — como Tamar, uma mulher desonrada; Rute, uma moabita; e Raabe, uma mulher da noite.

Uma genealogia não é apenas uma lista para alguém folhear e ir passando de nome em nome. Genealogias são parágrafos de paradoxos que apontam para o Deus do impossível. Um Deus que tinha em mente que nosso Messias viesse de uma linhagem de reinos e coroas, bem como de criminosos e marginalizados.

A genealogia de “Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” não só nos convida a ponderar que Deus escolheu algumas das pessoas, lugares e tramas mais improváveis para cumprir os planos que tinha para seu povo, mas também nos fornece um registro de promessas e profecias vindas do coração de um Deus fiel, que cumpriu o futuro que predisse. Mais do que um mero resumo repleto de nomes, a genealogia de Jesus em Mateus revela o cumprimento da profecia de um Messias que “surgirá do tronco de Jessé” (Is 11.1) e o cumprimento da promessa de Deus a Abraão, de que por meio dele “todos povos da terra serão abençoados” e que seus descendentes seriam “numerosos como as estrelas no céu” (Gn 22.17,18).

Portanto, medite sobre esta lista de nomes. E enquanto perseveramos, no tempo e no espaço, entre o nascimento de Cristo e sua volta, deixe que essa lista leve você a um viver santo. Deixe que essa genealogia lembre você de que podemos confiar na Palavra de Deus e em sua promessa de restaurar nossa vida improvável e, por fim, este mundo improvável. Portanto, reflita bastante sobre a linhagem de Cristo, louvando a Deus por tudo o que ele fez, e o tempo todo esperando — com ansiosa e viva esperança — por tudo o que está por vir.

Rachel Kang

Reflita sobre Mateus 1.1–17.

Considere também refletir sobre as histórias de Tamar (Gn 38), Rute (Rt 1.1–5;4.13–22), Raabe (Js 2), Davi (2Sm 23.1–4) e Abraão (Gn 22; Rm 4.1-3). De que modo a genealogia de Jesus aponta para o seu propósito? Como ela aprofunda sua confiança em Deus?

Segunda-feira: Perseveremos

Leitura de hoje: Lucas 1.5-25

Na sociedade do instantâneo, na qual podemos comprar coisas online e recebê-las em casa uma hora depois, muitas vezes é difícil esperar. No entanto, como Simone Weil disse: “Esperar pacientemente, em expectativa, é a base da vida espiritual.”

Zacarias e sua esposa, Isabel, estavam esperando há muito tempo. “Mas eles não tinham filhos, porque Isabel era estéril; e ambos eram de idade avançada” (Lc 1.7). Zacarias significa aquele de quem o Senhor se lembra . Há uma ironia dolorosa aqui, pois embora seu nome signifique que o Senhor se lembra, em todos os longos anos de espera, certamente parecia que o Senhor o havia esquecido.

Mas em Lucas 1.5–25 tudo muda. O anjo Gabriel aparece a Zacarias e diz: Você terá um filho. Esta notícia é tão incrível, tão chocante, que a resposta de Zacarias é dizer que isto é impossível. É difícil para Zacarias acreditar no que vai acontecer. E porque ele não acredita, Zacarias adquire uma espécie de laringite angelical, pelos próximos nove meses, até seu filho nascer.

A história de Zacarias e Isabel nos lembra que uma resposta fiel à espera é a oração. Gabriel disse a Zacarias: “Sua oração foi ouvida” (Lc 1.13). Esta declaração nos dá uma ideia de como Zacarias e Isabel lidaram com seus longos anos de decepção: Eles perseveraram em oração. Eles oravam, mesmo quando as coisas não aconteciam conforme esperavam. Eles se apegavam a Deus, mesmo em meio à sua desgraça aos olhos da sociedade, à decepção e à desesperança.

Mas, é claro, não foram perfeitos em sua espera. Considere o versículo 20: “Não acreditou em minhas palavras, que se cumprirão no tempo oportuno” (grifo nosso). Mesmo Zacarias não tendo fé, Deus ainda assim realiza o milagre. O Advento nos lembra que, embora nossa fé nem sempre seja sólida, Deus é fiel para vir. Podemos duvidar, ficar deprimidos, desencorajados ou sentir vontade de desistir, mas Deus ainda tem a graça de vir.

A história de Zacarias e Isabel é ao mesmo tempo linda e frustrante. É linda porque sua longa espera termina com uma oração respondida. Mas também é frustrante porque sabemos que nem todas as nossas orações são respondidas dessa mesma maneira. Esta é a complexidade do Advento — sofrimento humano e graça divina — e nós mantemos tudo isso interligado. Quer seja nesta vida, quer seja na vida futura, sabemos que Deus fará novas todas as coisas. Assim, com Zacarias e Isabel, nós perseveramos.

Rich Villodas

Este devocional foi adaptado de um sermão que Rich Villodas pregou em 8 de dezembro de 2019. Usado com permissão.

Reflita sobre Lucas 1.5-25.

De que formas você consegue se identificar ou sentir empatia por Zacarias? O que esse relato lhe revela sobre Deus? E sobre o sofrimento? Ou sobre a espera?

Terça: Parte da história

Leitura de hoje: Lucas 1.26-38

Maria é hoje bastante famosa, mas houve um tempo em que ela era completamente desconhecida. Era apenas uma camponesa adolescente de Nazaré, cidade que, segundo alguns estudiosos, pode ter tido menos de 100 habitantes. Como seus pares, Maria provavelmente era analfabeta. Dada a sua posição social, esperava-se que ela se casasse com alguém de origem humilde — um rapaz pobre da classe trabalhadora. A família provavelmente passaria fome algumas vezes, por não ter o suficiente para sua provisão.

Quando o Deus do universo decidiu escolher sua mãe, ele não se aproximou de uma jovem rica e importante. Em vez disso, Deus se aproximou de uma camponesa analfabeta de uma cidade bem pequena. A genealogia de Jesus (Mt 1.1-17) nos mostra que não temos de ser de uma raça específica nem mesmo ser "integrante de determinado grupo” para fazer parte da história de Deus. E, quando olhamos para Maria, vemos que não temos de ser ricos, ter vindo de uma cidade grande, ser altamente instruídos ou importantes na sociedade. Podemos ser muito comuns e, ainda assim, fazer parte dessa história eterna.

Qual é a única qualificação que Deus parece exigir? Quando o anjo Gabriel se aproximou de Maria e lhe disse que ela estava prestes a se tornar a mãe de Deus, Maria abriu o coração e disse: Sim, seja como você diz. Para fazer parte dessa história e experimentar esse Deus dando à luz em nós a sua vida, tudo de que precisamos é um sim. Precisamos consentir com a obra do Espírito Santo dentro de nós.

Recentemente, tenho feito uma oração chamada Oração de Boas-Vindas. Eu oro assim: Espírito Santo, concordo com sua obra em mim e abro mão do meu desejo por segurança, afeto e estima, poder e controle. Essa foi a essência do sim de Maria a Deus. Ela deixou de lado a segurança, o afeto e a estima, o poder e o controle. Como resultado, sua reputação ficaria manchada para o resto de sua vida. Ela um dia veria seu filho adulto ser zombado, cuspido, espancado e pregado em uma cruz romana. Seria como uma espada atravessando sua alma (Lc 2.35). Mesmo assim, ela disse sim.

Que possamos, como Maria, orar: “Espírito Santo, eu digo sim à sua obra em minha vida.” Que a vida de Deus nasça em nós. Que nós também façamos nossa parte nessa grande e eterna história de Deus.

Ken Shigematsu

Este artigo foi adaptado de um sermão que Ken Shigematsu pregou em 25 de dezembro de 2019. Usado com permissão.

Medite em Lucas 1.26–38.

Como seria para você dizer sim como Maria disse? Como seria para você consentir com a obra do Espírito em sua vida? Ore, dando boas-vindas à obra de Deus em sua vida.

Quarta-feira: Esperança quando o futuro desmorona

Leitura de hoje: Mateus 1.18-24

O que José esperava da vida? Não sabemos muito sobre esse carpinteiro que viveu há tanto tempo. Mateus nos diz que ele era justo e fiel. Vemos já de início que ele era compassivo, pois quis proteger Maria, mesmo enquanto seu próprio futuro desmoronava. José soube se sacrificar por senso de dever, tornando-se marido de Maria e pai de Jesus em circunstâncias inquietantes. Mais tarde, ele fugiu para o Egito, deixando para trás família, casa e trabalho para proteger o menino que nem era seu (Mt 2.13-15).

Temos um vislumbre de quem era José em suas escolhas, mas gostaria que soubéssemos mais. O que as estranhas notícias trazidas pelo anjo significaram para ele, e como ele entendeu tudo aquilo? José desejava casar e ter uma família? Ele amava Maria, ou foi um noivado arranjado por seus pais? Quando ele soube da gravidez dela, ficou com o coração partido? Ou com raiva? Ou frustrado com os atrasos e as formalidades para se divorciar dela?

Nunca saberemos com certeza o que José esperava da vida, mas certamente não era isto: uma noiva grávida, um filho que não era dele, uma vida inteira pela frente como alvo de fofocas e calúnias. Quem acreditaria na história do anjo? Você acreditaria? Ele acreditou?

Talvez ele não tenha acreditado por completo. A maioria de nós não acreditaria, nem poderia acreditar, por mais que quisesse. Os bebês eram concebidos naquela época da mesma forma que são hoje. Talvez José tenha lutado contra dúvidas persistentes, e tenha feito uma oração parecida com a de outro pai mencionado na Bíblia: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade” (Mc 9.24).

Seja o que for que José desejasse da vida, do casamento e da paternidade, sabemos que ele enfrentou muito mais do que esperava. E ainda assim, ele deu um passo à frente. José ativamente voltou sua face para uma esperança a longo prazo, de que Deus se mostraria fiel e verdadeiro, que uma redenção ainda distante seria poderosa o suficiente para superar todo esse sofrimento e escuridão, toda essa amarga decepção.

Eles chamaram o menino de Jesus, um nome comum, crendo que ele também carregava outro nome — Emanuel — e que o escândalo da história de seu nascimento seria redimido pelo escândalo divino, o “Deus conosco”. José apostou sua vida, sua família, seu futuro e identidade na possibilidade de Deus ser fiel — e de que esse menino comum, a fonte de tanta decepção inicial e de reviravolta na vida de José, fosse de fato a esperança do mundo.

Catherine McNiel

Leia Mateus 1.18–24,

em espírito de oração, fazendo sua imaginação entrar na história de José. O que ele pode ter pensado ou sentido? O que ele nos ensina sobre fidelidade e esperança?

Quinta-feira: Um cântico de misericórdia e justiça

Leitura de hoje: Lucas 1.39-56

Em Lucas 1.39–56, Maria deixa sua cidade natal para ficar com uma prima, Isabel. Quando chega lá, descobre que Isabel também está grávida. E quando Isabel vê Maria, o bebê em seu ventre pula de alegria. Isabel diz: “O favor de Deus está sobre você, Maria.” Ela afirma e confirma as palavras de Deus a Maria.

E, pela alegria deste encontro, Maria começa a cantar. E irrompe em exuberância e alegria. Ela canta sobre a bondade de Deus e depois se concentra em sua misericórdia. Ela diz: “A sua misericórdia estende-se aos que o temem” (v. 50). Ela canta: “Ajudou a seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia” (v. 54).

Temos a tendência de pensar na misericórdia de maneira limitada, algo como proporcionar alívio para alguém que está sofrendo. Mas, nas Escrituras, a misericórdia vai muito mais fundo e além disso. Sim, fala de compaixão, mas também fala da lealdade de Deus e de seu amor ardente por seu povo.

O cântico de Maria é também um cântico de justiça. Ela canta: “[ele] dispersou os que são soberbos. . . . Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos.”(v. 51–53). Ao cantar, Maria está essencialmente dizendo: A justiça de Deus está chegando .

Justiça, biblicamente falando, é Deus pegar tudo que está errado com o mundo e endireitar. No reino de Deus, as coisas são viradas de cabeça para baixo. Os menores agora são os maiores. Os últimos agora são os primeiros. Justiça é Deus pegar o que está quebrado e trazê-lo à integridade. No Advento, tempo de anseios e expectativa, esperamos que Deus endireite as coisas. Este é um tema-chave no cântico de Maria: Senhor, endireita o que está errado.

O cântico de Maria nos lembra que não há pecado tão profundo que a misericórdia de Deus não consiga alcançar e ir além. A boa-nova do Advento é que Deus veio e Deus está vindo na pessoa de Jesus — e ele oferece misericórdia que vai além do nosso pecado. O cântico de Maria também nos lembra que não há no mundo nada tão errado que a justiça de Deus um dia não conserte. Por isso cantamos: por causa da misericórdia de Deus, da justiça de Deus. Por isso aguardamos a volta de Jesus: porque, quando ele vier, fará novas todas as coisas.

Rich Villodas

Este artigo foi adaptado de um sermão que Rich Villodas pregou em 5 de dezembro de 2019. Usado com permissão.

Medite sobre Lucas 1.39–56

. Como o cântico de Maria, que enfatiza a misericórdia e a justiça de Deus, fala a sua vida hoje? Como ele oferece esperança ao nosso mundo ferido?

Sexta-feira: A luz e o Rei

Leitura de hoje: Isaías 9.2–7, 40.1–5; Lucas 1.57–80, 3.1–6

Zacarias e Isabel puseram em seu bebê o nome de João, que significa “Deus é gracioso e nos mostrou favor”. Cheio do Espírito Santo, Zacarias profetizou sobre seu filho: “[Você] irá adiante do Senhor, para lhe preparar o caminho, para dar ao seu povo o conhecimento da salvação, mediante o perdão dos seus pecados, por causa das ternas misericórdias de nosso Deus, pelas quais do alto nos visitará o sol nascente para brilhar sobre aqueles que estão vivendo nas trevas e na sombra da morte” (Lc 1.76-79).

Quando avançamos para a vida adulta de João Batista, vemos que ele faz exatamente isso. Lucas registra:

"Ele percorreu toda a região próxima ao Jordão, . . . pregando um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. Como está escrito no livro das palavras de Isaías, o profeta: 'Voz do que clama no deserto: ‘Preparem o caminho para o Senhor, façam veredas retas para ele. Todo vale será aterrado e todas as montanhas e colinas, niveladas. As estradas tortuosas serão endireitadas e os caminhos acidentados, aplanados. E toda a humanidade verá a salvação de Deus.’”(Lc 3.3-6)

Essas ideias de Isaías sobre a remodelação de vales, colinas e estradas para preparar o caminho eram, no mundo antigo, associadas à chegada da realeza. E, de fato, o ministério de João se concentrou em uma coisa: declarar que um rei estava a caminho.

A profecia de Zacarias sobre seu recém-nascido inclui uma paráfrase de outra passagem de Isaías: “O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz”(Is 9.2). As pessoas que ouviram Zacarias profetizar essas palavras sabiam exatamente do que se tratava esta passagem de Isaías: da promessa da vinda de um rei. É parte da mesma passagem conhecida que declara: “Porque um menino nos nasceu. . . . Ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino” (v. 6,7).

Isso oferece uma esperança imensa para nós. Por mais que gostemos de acreditar que podemos criar a paz e a alegria que desejamos por meio de nossos próprios esforços, a história de João Batista e as palavras de Zacarias e de Isaías declaram enfaticamente que a paz e a alegria, pelas quais todos os seres humanos anseiam, não serão alcançadas até que o Rei chegue. João Batista literalmente deu sua vida para proclamar esta verdade — para ajudar as pessoas a verem que uma luz estava prestes a romper as trevas.

Jay Y. Kim

Este artigo foi adaptado de um sermão que Jay Y. Kim pregou em 9 de dezembro de 2018. Usado com permissão.

Considere Lucas 1.57–80

, em paralelo com

Isaías 9.2–7, 40.1–5

e

Lucas 3.1–6.

Quais partes da profecia de Zacarias se destacam para você? Como essas passagens transmitem a esperança do Advento?

Sábado: Um Deus que podemos tocar

Lucas 2.1-7

Dizia-se que os deuses do mundo antigo viviam fora do tempo e do espaço, em um plano diferente da nossa existência mortal, um plano inalcançável. Na terra, na esperança de vislumbrar a divindade, os antigos estabeleceram lugares sagrados — uma árvore ou montanha sagrada, um templo ou uma cidade sagrada — que eles acreditavam existir em ambas as esferas, como se fossem uma janela para o céu. As pessoas viajavam para esses lugares sagrados em dias sagrados, acreditando que o divino e o profano poderiam quase que se sobrepor por um momento de reverência.

Lucas se esforça para comunicar que essa sua história, esse seu Deus, e essa mistura de divindade e humanidade são completamente diferentes. O Criador está chegando aqui, neste nosso planeta imundo, empoeirado, físico, emocional, belo e terrível. Como uma parteira que observa cuidadosamente a hora e o local de um nascimento, Lucas esclarece que o nascimento de Deus interrompe um evento específico — o censo romano —, em um lugar específico — a cidade de Belém —, no âmbito de uma família específica — a casa de Davi. Jesus nasce na história, nasce de uma mulher específica, e nasce exatamente aqui e exatamente agora. Podemos não atentar para esses detalhes locais, mas para os leitores gentios a declaração de Lucas seria chocante.

Naquela noite, Deus não vem como os deuses de outrora, em uma nuvem ou em uma tempestade, seu poder intocável mal vislumbrado através de um espelho sagrado. Não, Deus cai nos braços de sua mãe, e chega a este mundo como todos nós. Por meses ela o carregou, por horas ela suportou o trabalho de parto com dor e sangue e luta, fazendo força até que Deus nasceu na terra, entre nós, um bebê vulnerável, enrugado e molhado. Exausto pela difícil experiência, ele agora dorme, mas logo acordaria, chorando e com fome.

Esta é a notícia inacreditável de Lucas: O verdadeiro Deus veio até nós fisicamente, de forma tangível, em uma forma que podemos ver com nossos olhos e tocar com nossas mãos. Deus chegou em uma aldeia pela qual podíamos caminhar, durante um ano do qual podemos lembrar. A divindade encarnou no ventre de uma mãe, interrompendo um casamento, uma noite e uma aldeia, como qualquer outro nascimento. Encontramos Deus não mais em lugares sagrados e em esferas espirituais, mas sim aqui, na terra, no solo empoeirado, em nossas famílias, em carne e sangue.

É uma ideia chocante, mesmo para nós, tantos séculos depois. Não há mais separação entre sagrado e mundano. Nossa vida diária, com seus problemas, é exatamente onde Deus se encontra, onde Deus está trabalhando. Este é um Deus que podemos tocar.

Catherine McNiel

Reflita sobre Lucas 2.1–7

, e considere os detalhes que Lucas emprega para situar esse evento no tempo e no espaço. Por que isso é significativo? O que isso enfatiza para você sobre Deus? E sobre o Advento?

Colaboradores:

Rachel Kang escreve prosa, poemas e outras obras literárias; é criadora de Indelible Ink Writers, uma comunidade online de criativos.

Jay Y. Kim é o pastor encarregado do ensino na Igreja WestGate, professor residente na Igreja Vintage Faith e autor de Analog Church. Ele mora com a família no Vale do Silício.

Catherine McNiel é escritora e palestrante. Ela é a autora de All Shall Be Well e Long Days of Small Things.

Ken Shigematsu é pastor titular da Tenth Church de Vancouver, na British Columbia, e autor de God in My Everything and Survival Guide for the Soul.

Rich Villodas é pastor titular da New Life Fellowship, uma igreja multirracial situada em Queens, Nova York. Ele é o autor de The Deeply Formed Life.

Traduzido por Erlon Oliveira

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