Culture

O Natal é um mito (que se tornou fato)

Na “infinitude reduzida à infante”, a Encarnação satisfez a esperança de todas as culturas.

Christianity Today December 18, 2023
WikiMedia Commons

Em 1º de novembro, dia de Todos os Santos, minha esposa e eu costumamos contar histórias sobre os santos que mais nos marcaram. Este ano, compartilhei com minha família a história da conversão de C. S. Lewis.

Por algum tempo, ele andou oscilando à beira do precipício da fé, incapaz de resolver suas dificuldades intelectuais com o cristianismo. Em uma caminhada noturna por Oxford, acompanhado de seus amigos Hugo Dyson e J. R. R. Tolkien, ele expressou sua objeção essencial.

Tudo o que importa, disse Lewis, pertence ao domínio do mito.

Lewis tinha grande afeição pela mitologia nórdica, algo que remontava à sua juventude na Irlanda do Norte. Para ele, no entanto, mito tinha a ver com criação de significado, ao passo que a história tratava de fatos não passíveis de serem repetidos, coletados e analisados de forma empírica. A grande tragédia da existência humana era que mito e história não se cruzavam e nunca poderiam fazê-lo.

Lewis — assim como o pensador alemão G. E. Lessing antes dele — descreveu a “feia lacuna"” que há entre a história e a teologia. Independentemente de quão radiante tenha sido sua vida, um homem chamado Jesus, que viveu 2.000 anos atrás, nunca poderia ser nada mais do que uma figura inspiradora.

As respostas de Dyson e de Tolkien foram eletrizantes: Nesse caso, disseram eles, o mito havia se tornado fato. Tudo o que era eterno e místico — a profunda magia do mundo — era real e estava encarnado na pessoa de Cristo. Ele não foi simplesmente uma figura histórica, mas sim o Deus Criador que havia encarnado para salvar os seres humanos que criara.

Com essa resposta, Lewis subitamente conseguiu juntar as peças. Como ele escreveu mais tarde para seu amigo Arthur Greeves, “a história de Cristo é simplesmente um mito verdadeiro: um mito que atua em nós da mesma forma que os outros [mitos], mas com a tremenda diferença de que realmente aconteceu”.

Por meio do Filho de Deus, houve um verdadeiro casamento entre o céu e a Terra. Deus abraçou a matéria na pessoa de Jesus. A Encarnação aconteceu em um só lugar, mas foi “difundida” e “comunicada” em todos os lugares, como escreveu Henri de Lubac, padre e estudioso jesuíta.

Em sua “infinitude reduzida à infante”, como disse Gerard Manley Hopkins, a descida de Deus ao mundo em carne humana não foi simplesmente para nos dignificar ou para estar conosco em nossas alegrias e tristezas. O céu desceu à Terra para que as coisas da Terra pudessem ascender ao céu.

A ideia de uma união entre céu e Terra repercute muito em mim, por ser surpreendentemente não individualista. Ela envolve uma compreensão intensa da pessoa humana. Como ocidentais modernos, muitos de nós andamos por aí com uma compreensão distorcida da pessoa humana como “indivíduo autônomo, autodirigido e terapeuticamente orientado”, nas palavras do sociólogo Christian Smith.

Mas se simplesmente seguirmos o insight de Lewis, seremos capazes de ver de imediato o quanto essa visão [distorcida] fica aquém. Lewis parece dizer que somos os mitos que nos criaram. Somos as histórias que herdamos — que dão forma às nossas esperanças e definem nossa visão de vida boa. A ideia de o mito se tornar um fato é uma ideia inerentemente de afirmação cultural, porque os mitos surgem apenas dentro de culturas.

Uma pessoa é, portanto, algo infinitamente maior e mais sagrado do que um indivíduo intercambiável. Cada um está envolvido em teias relacionais, narrativas, geográficas e institucionais que são essenciais para a identidade pessoal e o florescimento. A Encarnação demonstra que essas formas culturais não são um mero acidente da história, nem são simplesmente fruto da pecaminosidade humana. A intenção de Deus é reformular, sutil e gentilmente, essas formas culturais distorcidas, até que elas expressem a forma de integridade que Ele projetou para elas.

Lewis reconhecia tudo isso. Mas preciso reconhecer que Lewis foi um inglês de sua época, e é neste ponto que acho necessário me separar dele. Seu cristianismo tinha uma tonalidade distintamente inglesa. Mas, se ele estava certo, então a Encarnação significa que não existe uma cultura distintamente cristã. Os mitos que preparam o caminho para Cristo não são apenas mitos nórdicos ou greco-romanos. O cristianismo não é uma religião ocidental, nem branca. E não se expressa de forma adequada exclusivamente em inglês.

Sabemos disso ao estudar a igreja global. As redes de diáspora e a imigração estão impulsionando o ressurgimento do cristianismo em lugares pós-cristãos, ao passo que a migração e a miscigenação de culturas têm sido os principais motores da propagação do evangelho na história. Como Andrew Walls argumentou certa vez, o cristianismo é sempre uma encarnação — algo que se traduz para uma cultura já existente, mas que a subverte e atrai pessoas dessa cultura para Cristo. É exatamente essa “infinita capacidade de tradução”da fé cristã que a distingue de outras religiões do mundo.

Como um latino que cresceu e continua a servir em contextos predominantemente brancos e de língua inglesa, fiquei surpreso ao ver Jesus sendo honrado e glorificado por músicos pentecostais dominicanos como Lizzy Parra e Ander Bock. Fiquei impressionado ao conhecer colegas anglicanos da Nigéria que adoram Jesus com uma energia e uma intensidade que me dão esperança na obra viva e ativa do Espírito Santo. Minha fé se expandiu, depois de ter conhecido iranianos que perderam tudo, mas seguem um Jesus que fala farsi.

Em todas essas expressões culturais, vemos o cumprimento da profecia de Isaías — de que todas as nações virão a Sião (Isaías 2.2; 60.3). Cristo é o desejo de todas as nações, pois ele tem trabalhado semeando graça preparatória entre todos os povos. Como disse Lewis, o Senhor está presente nos “bons sonhos” de cada grupo de povos; são os mitos desses povos que os preparam para que recebam Jesus, quando ele vier.

A Encarnação alcança todas as áreas da existência humana. É uma parte essencial da esperança que celebramos no Natal. Não há nenhuma cultura humana na qual Jesus seja um estrangeiro. Os mitos — de todas as nações — tornaram-se fato em Jesus Cristo. É difícil negar o poder da Encarnação, quando vemos comunidades vibrantes de cristãos que, quando louvam o nome de Jesus, não se parecem nem soam como nós.

Vemos que Cristo veio salvar toda a humanidade. É disso que nos lembramos quando encontramos o Cristo na manjedoura.

Jonathan Warren Pagán é um sacerdote anglicano que vive e serve em Austin, Texas.

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Como escapar de seitas religiosas

Conselheiro explica de que modo os cristãos podem ajudar seus entes queridos nessa difícil jornada.

Christianity Today December 18, 2023
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: Getty

Na cobertura da CT sobre a seita Shincheonji, sediada na Coreia, fontes da reportagem mencionaram a dificuldade que familiares e amigos muitas vezes enfrentam, quando tentam ajudar entes queridos a enxergarem a verdade sobre grupos religiosos aos quais se juntaram, que exercem sobre eles alto controle, e quando [devem]ajudá-los a sair. Mesmo depois que os participantes deixam esses grupos, ainda enfrentam uma longa jornada para reconstruir sua vida e — para aqueles que são de origem cristã — também para restaurar a sua fé.

A CT conversou com Tore Klevjer — conselheiro cristão baseado em Wollongong, na Austrália, e presidente da Cult Information and Family Support [uma rede australiana de informação e apoio para pessoas envolvidas em grupos religiosos com características de seita] — sobre questões como a própria experiência de Klevjer no grupo Children of God [Filhos de Deus], como ele aconselha ex-membros de grupos religiosos desse tipo e como as igrejas e os cristãos podem ajudar mais as pessoas vindas desses contextos.

Esta entrevista foi editada para maior clareza:

CT: Você não só é especialista em aconselhamento para questões relativas a seitas, mas também teve uma experiência pessoal nessa área. Poderia compartilhar mais sobre isso?

Klevjer: Eu cresci em um lar cristão, em Byron Bay, na Austrália. Depois que minha mãe faleceu, eu estava viajando pela Europa, quando minha namorada terminou comigo e se casou com outra pessoa. Fiquei deprimido e desenvolvi um pavor cada vez maior de voltar para a Austrália, pois tinha a sensação de que lá me aguardava uma vida sem sentido. Na época, eu estava vulnerável e desiludido com a vida. Foi então que fui recrutado pelo Children of God [Filhos de Deus], um grupo voltado para hippies que recebia muita cobertura por parte da mídia, pois era visto como uma “seita sexual”, por causa de algumas de suas práticas.

Eu os conheci em Amsterdã, enquanto viajava de carona pela Europa. Sua felicidade, seu zelo e sua aparente liberdade em relação às regras da sociedade me atraíram. Tive uma sensação estranha e incômoda de que havia algo de errado, mas não consegui identificar exatamente o que era. Parecia o filme The Stepford Wives, pois entrei em um mundo surreal de perfeição aparente, o qual, desde então, percebi que só pode ser alcançado através de um controle extremo.

Com o passar do tempo, eles me ensinaram a contrabandear mercadorias pelas fronteiras, a fazer câmbio de dinheiro no mercado negro e a mentir sobre mim mesmo perante empresas e igrejas, para obter o seu apoio. Caso alguma vez eu me recusasse a seguir com essas práticas enganosas, eles me perguntariam: “Você não tem fé para isso?” O pecado tornou-se algo totalmente subjetivo.

Diziam-nos para renunciarmos à família e aos antigos amigos porque “os inimigos do homem serão os da sua própria família” (Mateus 10.36). Mudei meu nome para Abel e escrevi uma carta para meu pai, dizendo-lhe que agora eu tinha apenas um pai, e esse pai era Deus. Isso partiu seu coração.

Quando o grupo anunciou uma investida na Ásia, fomos para a Índia e passamos quatro anos ensinando educação religiosa em escolas e faculdades de lá.

Quando você começou a perceber que havia algo de errado, e como saiu do grupo?

No último ano que passei no grupo, eles introduziram uma nova fase de reciclagem, na qual éramos menosprezados, examinados a fundo, criticados e exorcizados. Na minha frustração, eu recorria cada vez mais à minha Bíblia e cada vez menos aos escritos do grupo, em busca de consolo. Isso me levou a questionar o grupo, até que eu, minha esposa e nossos cinco filhos fomos expulsos.

Após retornar à Austrália, a recuperação foi intensa. Eu fora institucionalizado pelo grupo Children of God por 11 anos, e agora não tinha a menor ideia de como a sociedade funcionava, além de ter muito pouco dinheiro. Ao mesmo tempo, lentamente fui percebendo que havia sido enganado e que tinha desperdiçado alguns dos melhores anos da minha vida. Eu bebia muito, meu casamento estava à beira de um desastre e eu estava em um estado tão emotivo que chorava incontrolavelmente sempre que cantávamos hinos na igreja.

Acabei construindo do zero uma fé que agora posso chamar de minha. Já se passaram 39 anos desde que deixei a seita.

Depois de deixar o grupo, quis investigar como pessoas podem ser levadas a aderir a um sistema de crenças em que acabam por trair seus próprios compassos morais e no qual são levadas a acreditar em coisas ridículas, que não passam de invenções. Devorei muitos livros que tratam do tema sistemas de crenças saudáveis e não saudáveis, e formalizei esses estudos com um diploma de aconselhamento.

Ao longo dos anos, aconselhei muitas famílias com problemas, que perderam entes queridos para seitas de várias religiões, e também ajudei muitos ex-membros a se recuperarem.

Os evangélicos muitas vezes pensam no termo seita como um grupo que se desvia do cristianismo bíblico ortodoxo (como, por exemplo, um grupo que nega a divindade de Jesus). Qual é a sua abordagem?

A maioria de nós — dos que trabalham nesta área — prefere uma definição mais sociológica, a qual conceitue uma seita como um grupo que controla, coage ou abusa dos direitos e liberdades do indivíduo. Esse tipo de controle também pode acontecer no âmbito da crença ortodoxa. Por exemplo, uma igreja pode ser doutrinariamente correta e, ao mesmo tempo, controlar os membros de forma legalista, recorrendo a culpa e medo.

Algo que ajuda a compreender este tópico é olhar para outros sistemas de alto controle, como o abuso ou a violência doméstica, por exemplo. Num relacionamento abusivo, o sentido de identidade da pessoa é sistematicamente prejudicado, até que ela se torne totalmente dependente e submissa a seu agressor. A vítima se torna participante do próprio abuso, e sente que não pode viver fora desse sistema. Ela é isolada de influências externas e seu comportamento, suas informações, seus pensamentos e suas reações emocionais são controlados. Os indivíduos permanecem em ambientes religiosos controladores pelas mesmas razões que uma pessoa permanece em um relacionamento abusivo.

Por que você acha que é importante que os cristãos pensem no termo seita a partir de um ponto de vista sociológico, e não teológico?

Primeiro, porque muitas igrejas pensam que, se a sua congregação aprender boa teologia, seus membros não serão vítimas de uma seita. Meu pai costumava dizer: “Apegue-se à Bíblia, filho. Ela nunca enganou ninguém!” Embora isso possa ser verdade, as pessoas podem usar a Bíblia de maneiras muito enganosas. Se os membros ou ex-membros se dispuserem a analisar o bom ensino metódico em torno de algumas doutrinas centrais, isso poderá ajudar muito a dissipar os mitos que lhes são ensinados. No entanto, o que leva alguém para uma seita é muito mais do que meramente crenças doutrinárias; [podem ser coisas] como um processo de coerção gradual e a retenção de informações controversas, por exemplo.

Em segundo lugar, se uma pessoa abandona uma seita, a prioridade da igreja em geral é restaurar a boa teologia. Eles não reconhecem que estamos lidando com uma pessoa que foi abusada e manipulada espiritualmente, e que precisa de tempo para se curar. Muitas vezes, esses antigos membros de seitas sentem que não se enquadram, têm problemas com figuras de autoridade (que podem incluir conselheiros ou pastores) e rebelam-se contra a estrutura. Eles precisam ser aceitos e ver que há tolerância, enquanto processam tudo pelo que estão passando.

É importante que os cristãos não tentem pensar por essas pessoas, mas sim apresentem várias ideias para discussão, permitindo que os ex-membros de seitas cheguem às suas próprias conclusões. O ensino da Bíblia precisa ser abordado com grande sensibilidade, permitindo perguntas, discussões e divergências.

Na sua prática de aconselhamento, qual é a primeira coisa que você diz para um ex-membro de um grupo altamente controlador?

“Não é culpa sua. Você não é estúpido por ter se juntado a eles.”

Geralmente essas pessoas sentem muita vergonha por terem se deixado conduzir por aquele caminho, e, quando olham para trás, para as coisas malucas que antes acreditavam ser verdadeiras, podem pensar que apenas pessoas meio malucas ou ingênuas poderiam não só ter engolido tal absurdo, mas também o ensinado a outros. Reconhecer o processo de recrutamento e aprender como ele foi ativamente configurado e direcionado é um excelente começo para reiniciar e uma base para crescer. A ciência em torno da nossa necessidade humana de pertencimento e as experiências na área da conformidade social dizem-nos que qualquer pessoa pode ser vulnerável, dadas as devidas circunstâncias.

Fale-nos do processo de aconselhar alguém que esteve envolvido em um grupo altamente controlador.

Muitas questões surgem, entre elas questões de relacionamento com entes queridos, de limites e de como dizer não, de pensamento crítico, de perda de identidade e de perda de sentido e de propósito.

Avaliar suas necessidades físicas e sua saúde mental é um bom ponto de partida. Esses indivíduos têm comida, um teto sobre a cabeça e uma rede familiar? Ou são pessoas sozinhas, sem apoio de ninguém? Precisam de intervenção médica?

Conversei com muitas pessoas que fizeram terapia, depois de deixar uma seita, e que disseram: “O psicólogo não me entende!” Os conselheiros seculares tendem a minimizar a experiência na seita e a focar em questões da infância, ou esperam que a pessoa que está sendo aconselhada os instrua sobre sua experiência na seita. A pessoa sai da terapia com a sensação de ter acabado de gastar um bom dinheiro para instruir o terapeuta. Para ser eficaz nesta área, um conselheiro precisa “entender” do assunto. Explicar como acontece o controle da mente e o que as seitas têm em comum é um ótimo lugar para começar. Isso ajuda a pessoa a normalizar o que aconteceu com ela, e a não se sentir isolada nem sozinha.

Um princípio bíblico útil para lembrarmos é que o propósito inicial de Deus era criar-nos com livre arbítrio. Uma seita controladora nos tira isso. Portanto, se eu conseguir trazer uma pessoa de volta ao ponto em que ela seja capaz de pensar por si mesma, e se eu conseguir guiá-la em uma boa direção, mas sem lhe impor minha própria visão de mundo, chamo isso de sucesso. Afinal, a verdadeira conversão é uma obra do Espírito Santo.

Nos casos em que a pessoa que você atende tem formação cristã, quando e como você aborda a fé e a igreja?

Nunca presumo que deva discutir teologia. Compartilhar o evangelho com alguém que está se recuperando de um suposto “evangelho” que, por sua vez, também foi compartilhado com ele, pode ter o efeito de disparar certos gatilhos. Às vezes, pergunto à pessoa como ela vê sua fé depois de ter saído [da seita], e recebo respostas mistas. Na maior parte das vezes, a pessoa vai querer esperar para ver e reavaliar mais tarde. Às vezes, ela terá perguntas específicas relacionadas a interpretações da Bíblia ou a Escrituras distorcidas pela seita. Muitas vezes há fobias neles incutidas de que se abandonarem “a mais sublime vontade de Deus”, ele os julgará; por isso, torna-se importante identificar e dissipar medos irracionais.

Se a pessoa que está sendo aconselhada ainda estiver lendo a Bíblia, eu recomendaria que ela mudasse para uma versão bíblica diferente daquela usada pela seita. Isso a ajuda a ler a Bíblia com novos olhos e a não enxergar automaticamente a interpretação da seita. Algo que também pode ajudar é dar permissão à pessoa para que não leia a Bíblia por um tempo, até que as coisas se acalmem, e, em vez disso, concentrar-se em outras disciplinas espirituais ou refletir sobre a criação de Deus e seus atributos de amor e misericórdia.

Lembre-se de que essa pessoa foi ferida espiritualmente e confiou em alguém que disse falar a verdade. Ela não está pronta para que outra pessoa lhe diga a mesma coisa. Precisa de amor, de cuidado e de espaço para se curar em seu próprio ritmo. Frequentar uma igreja pode nunca ser algo que a deixe à vontade e, caso frequente uma, pode ser que queira apenas fazer parte de um pequeno grupo de comunhão. É importante que aprenda a tomar suas próprias decisões e a pensar nas coisas por si mesma. Coisas como profecias, “palavra de conhecimento” e experiências excessivamente espiritualizantes podem disparar certos gatilhos para uma pessoa que já foi manipulada.

Se descobrirmos que um ente querido faz parte de um grupo altamente controlador, o que devemos fazer?

Procure manter o relacionamento e a comunicação com ele a todo custo. Fazer declarações diretas do tipo “Você está em uma seita!” ou “Você está sendo enganado!” não ajuda em nada. Os membros de seitas são frequentemente alertados de que “os inimigos do homem serão os da sua própria família” (Mateus 10.36), portanto, confrontar a seita significará cumprir as profecias proferidas para eles, por seus líderes, e provar ainda mais que o grupo está correto. É importante não levá-los mais ainda para dentro do grupo.

Pergunte a si mesmo que necessidade o grupo está atendendo na vida do seu ente querido. É a necessidade de aceitação, de comunidade? Existe algum relacionamento rompido? Problemas com algum vício? Uma figura paterna dominante ou controladora? Às vezes, há questões familiares que precisam ser abordadas, para que a pessoa queira voltar a fazer parte da vida doméstica.

Para obter orientação específica sobre sua situação, entre em contato com alguém que entenda bem como funcionam as seitas — há boas informações disponíveis sobre maneiras de se relacionar com membros de seitas. Este é um problema que raramente pode ser resolvido com uma abordagem lógica.

Como a igreja pode se preparar melhor para proteger suas ovelhas de grupos religiosos altamente controladores?

As igrejas podem olhar para dentro de si mesmas e lembrar que um controle semelhante ao das seitas existe em uma escala móvel. Pergunte a si mesmo se sua igreja está controlando a congregação de forma legalista. Devemos lembrar que os fariseus dos dias de Jesus viviam vidas moralistas, mas extremamente legalistas, e colocavam leis e expectativas sobre as costas dos outros, ao mesmo tempo em que não viam as suas próprias necessidades e pobreza de espírito.

Além disso, lembre-se também que as seitas discipulam seus membros — elas os ensinam e os fazem ensinar outros. Memorizam Escrituras sobre tópicos-chave. Eu me entristeço ao ver cristãos sendo entretidos em grupos de jovens com coisas como competições de quem come mais tortas, enquanto se negligenciam bons ensinamentos baseados na apologética, os quais esses jovens são capazes de compreender e de usar para articular as próprias crenças. O ensino bíblico sobre os sinais da segunda vinda de Cristo poderia prepará-los para identificar falsos profetas.

As igrejas também estão falhando com nossos jovens por não educá-los sobre o tema de seitas e enganos. Talvez presumam que, se os jovens aprenderem a Bíblia, estarão seguros. Instruir sobre manipulação, coerção e conformidade social é útil, bem como identificar pontos de vulnerabilidade pessoal que possam ser explorados: incerteza sobre o futuro, carência de boas amizades ou um período de transição na vida, como a faculdade.

Alguém já disse que “uma cerca no topo de um penhasco é muito mais eficaz do que um hospital no pé dele”. Precisamos de conscientização em nossas igrejas e de mais ensino em nossos grupos de jovens. Afinal, jovens envolvidos no processo de descobrir a vida são especialmente vulneráveis.

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Os primeiros movimentos do Primogênito da criação

Como amarmos até mesmo o que ainda não vemos.

Christianity Today December 17, 2023
Phil Schorr

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.

Colossenses 1:15-17

Nesta época do ano, somos bombardeados por imagens que monopolizam nossa atenção, apresentando-nos a ideia de feriados de fim de ano perfeitamente tranquilos e repletos de presentes que nos trarão verdadeira satisfação. Agora, imagine, só por um minuto, como seria amar algo que você nunca viu. Mesmo sem compreender inteiramente o que ama, você sente uma dor e uma esperança de realização, de completude, de plenitude. Mas, afinal, como é amar alguém que a gente nunca viu?

Este é um conceito que quem é mãe conhece bem, pois sente o bebê se mexer no útero antes mesmo de ver seu rostinho. Talvez tenha sido isso que Maria sentiu durante os nove longos meses em que seu ventre crescia, e ela tentava entender o fato de que as pequenas vibrações e os chutinhos que sentia eram os primeiros movimentos do Filho do Altíssimo.

Durante 2 mil anos, Deus revelou sua presença de várias formas: por meio de fumaça, de fogo, na provisão do maná e na nuvem no topo de uma montanha. Era impossível — e também proibido — tentar fazer qualquer imagem ou representação de Deus. Ele era o Deus invisível, que não podia ser reduzido a uma imagem nem ser contemplado por olhos humanos.

A verdadeira adoração sempre mantém em tensão a imanência e a transcendência de Deus. Mas onde podemos conceber essa adoração mais do que em sua concretização, em sua encarnação? Deus, em sua graça, tornou visível o invisível e escolheu habitar entre seu povo, como um de nós. Contudo, o primogênito dentre os mortos não só veio ao mundo em nossa frágil forma humana, mas também veio como o mais frágil de todos nós — como um bebê recém-nascido. Deus tornou-se uma criatura indefesa e sujeita às necessidades humanas mais básicas: ser alimentado, vestido, banhado e cuidado. É difícil sequer imaginar a plenitude de Deus de alguma forma habitando o corpinho de um recém-nascido de quase dois quilos. Esta criança foi o motor no início da criação, aquele que estava presente antes do princípio dos tempos, que é preeminente em todas as coisas. Nele — aquele bebê que não conseguia sequer firmar o pescoço e manter a cabeça erguida — tudo subsiste. Pode ser que a imagem de Jesus na manjedoura não seja a que esperamos, mas o Deus que se humilha, que serve e que reconcilia é justamente aquele do qual precisamos.

Mas, à medida que a história vai se desenrolando, a imagem fica mais clara. Deus se agradou em habitar um corpo frágil e minúsculo. Ele revelou-se dessa forma não por obrigação nem por inconveniência, mas por puro deleite. E, mesmo agora, continua a ser puramente do agrado de Deus — a sua alegria — revelar-se, entregar-se, a fim de governar como um Rei humilde para o nosso bem e para a nossa alegria, mesmo que não precise fazer isso. Ele se deleita em trazer reconciliação, em restaurar a própria criação que ele fez no início do Éden e, sim, em remover o véu e abrir caminho para que possamos vê-lo face a face.

Ele é a imagem do Deus do qual necessitamos — um Deus que é exemplo de humildade, do que é ser servo e de prazer na reconciliação. Nele susbsistem todas as coisas, da criação até a manjedoura, da cruz até a nova criação.

Para refletir



Pense na analogia da mãe que sente os primeiros movimentos do seu bebê no útero. Como isso aprofunda a sua compreensão da experiência que Maria viveu e do significado da encarnação de Jesus?

Ao contemplar a tensão entre a imanência e a transcendência de Deus, exemplificada na encarnação de Jesus, de que modo a imagem de um recém-nascido indefeso desafia suas noções de poder e de grandeza?

Caroline Greb é esposa, mãe, dona de casa, artista plástica e editora-assistente da Ekstasis Magazine.

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A Verdadeira Esperança Não Pode Ser Forjada

O que acontece quando aceitamos os limites da nossa força?

Christianity Today December 15, 2023
Phil Schorr

Oro também para que os olhos do coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam a esperança para a qual ele os chamou, as riquezas da gloriosa herança dele nos santos e a incomparável grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação da sua poderosa força. Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais

Efésios 1.18-20

Uma dura verdade — daquelas que nos faz estremecer — pode não ser a melhor maneira de começar um devocional de Natal, mas continue aqui comigo, enquanto explico: esperança dá muito trabalho. Sim, Jesus nos traz a esperança última; porém, tal como muitos aspectos da fé cristã, viver com esperança nem sempre é fácil. A história da nossa fé pode incluir alguns belos dias de sol no mar da Galileia, mas se baseia em uma cruz. Se formos honestos, sabemos que não será uma jornada fácil; portanto, vamos digerir algumas verdades que podem nutrir e edificar em nós essa coisa chamada esperança.

Em Efésios 1, Paulo escreve à igreja sobre a realidade da esperança e como ela não está vinculada a nada que a própria igreja possa conquistar. Isso nos dá um certo alívio: não se trata do que podemos fazer. Não, a esperança surge em cena quando a igreja para de tentar alcançá-la por si mesma e, em vez disso, coloca a sua esperança no poder de Cristo e na sua autoridade sobre todas as coisas.

Parece simples meramente “abrir mão e deixar por conta de Deus”, como diz o slogan conciso, mas pense nisso novamente. Tente se lembrar da última vez em que você teve de parar de tentar fazer as coisas sozinho e deixar que alguém fizesse por você — projetos do trabalho, criação de filhos ou até mesmo seu próprio ministério. Esse nível de confiança e de abrir mão do controle pode parecer algo quase impossível. Adoramos dizer que colocamos nossa esperança em Jesus, mas é muito mais fácil colocar a nossa esperança em nossas próprias competências e habilidades. É por isso que a esperança dá trabalho, porque dá trabalho abrir mão do controle.

Perceber os limites da minha própria força me ajuda a confiar em Jesus como o criador da esperança em minha vida. Em Efésios 1.19, Paulo fala da imensurável grandeza do poder de Deus. Em um cômico contraste, eu acordo mancando todas as manhãs, em meu corpo de 49 anos de idade. Aparentemente, o sono agora é um esporte de contato e, quando vou para a academia, meu objetivo é me alongar o suficiente para não sentir dores quando acordar, na manhã seguinte. Minha força tem limites. Mas Efésios deixa claro que a força daquele que realmente nos dá esperança é imensurável. Não há limite para sua grandeza e seu poder. Nenhum. Isso é algo em que todos mós realmente podemos depositar a nossa esperança, independentemente das circunstâncias.

Aqui está o fator que faz a diferença: a autoridade do nosso Rei todo-poderoso na verdade nos foi concedida a partir das riquezas de sua graça, e vive dentro de nós, cristãos. Podemos recorrer à autoridade do nosso Criador, nesta época de Natal, de modo a permitir que a força dele flua dentro e através de nós. Em meio a toda a agitação desse período de Natal, sempre acompanhada das inevitáveis mentes cansadas e dos corpos doloridos, permita-se encontrar sua esperança na força e na autoridade de Deus. É melhor assim.

Para refletir



Quando você reflete sobre o conceito de esperança, de que modo a compreensão de que a esperança exige abrir mão do controle repercute em sua jornada pessoal de fé? Em quais áreas da sua vida você acha desafiador abrir mão do controle e confiar no poder de Deus?

Como cristãos, temos acesso à autoridade do nosso Rei todo-poderoso. De que forma você pode se beneficiar da força e da autoridade dele, durante essa época do Natal, em meio à correria e ao cansaço?

Carlos Whittaker é contador de histórias, palestrante e autor de Moment Maker, Kill the Spider, Enter Wild e de seu último lançamento, How to Human.

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A Virtude em Decrescer

Como confiar em Deus em época de declínio.

Christianity Today December 14, 2023
Phil Schorr

A noiva pertence ao noivo. O amigo que presta serviço ao noivo e que o atende e o ouve, enche-se de alegria quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, que agora se completa. É necessário que ele cresça e que eu diminua.

João 3.29-30

Nunca é divertido sentir que você foi substituído, e os discípulos de João Batista realmente não gostaram de se sentir assim. Enquanto João e seus seguidores batizavam, perto de Salim, Jesus também começou a batizar, nos campos próximos da Judeia. Alarmados com o fato de esse novo mestre estar fazendo mais sucesso do que o seu, os discípulos de João expressaram preocupação a seu mestre de que “todos” estavam indo até Jesus para serem batizados (João 3.26, CSB), talvez esperando que João demonstrasse indignação semelhante a deles ou tivesse uma reação competitiva. Em vez disso, João mostrou-lhes a beleza do paradoxo do evangelho.

Seus discípulos temiam a reviravolta inesperada dos acontecimentos, mas João lembra seus seguidores de algo que dizia o tempo todo: “Eu não sou o Cristo, mas sou aquele que foi enviado adiante dele” (v. 28). Na verdade, ao ouvir a notícia do sucesso de Jesus, João diz que a sua alegria “agora se completa” (v. 29). A popularidade de João estava chegando ao fim. Seu sucesso estava desaparecendo. Sua influência, diminuindo. Para a maioria de nós, isso seria motivo de desânimo e inveja, mas para João era motivo de alegria. Este é o belo paradoxo do evangelho. A vida cristã consiste em perder para encontrar. Em dar para ganhar. Em morrer para viver. Isso significa que, às vezes, decrescer, ficar menor, perder influência externa ou diminuir de posição na hierarquia é uma coisa boa.

João diz: “É necessário que ele cresça e que eu diminua.” (v. 30). Em uma época do ano tipicamente associada a correria e aumento de compromissos — mais coisas para fazer, mais coisas para comprar e mais pessoas para ver — talvez você esteja passando por um momento de declínio. Você pode ter perdido um ente querido e ter menos cadeiras em volta da mesa. Pode ter perdido o emprego, e sua agenda pode ter ficado mais vazia e a pilha de presentes debaixo da árvore de Natal pode estar menor. Tal como os discípulos de João, mudanças podem nos deixar preocupados ou cheios de lamentos. No entanto, pouco antes de lembrar a seus discípulos que ele não era o Cristo, João os recorda que tudo é dado por Deus (v. 27). Veja bem, João tinha uma visão correta de sua incumbência. Ele não tinha uma opinião muito elevada sobre si mesmo, como se fosse o próprio Cristo, embora também soubesse que tinha valor e propósito no plano de Deus. Em João 1, o autor lembra os leitores que João “não era a luz, mas veio como testemunha da luz” (v. 8). Cristo é a “verdadeira luz” (v. 9). João sabia que seu papel era importante, mas não era o ponto final da história.

Durante esta época do Advento, podemos aceitar o fato de que qualquer dose de sucesso que tenhamos alcançado não é obra nossa, mas é bondade dos céus, derramada imerecidamente sobre a nossa vida. Podemos nos submeter ao que Deus tem para nós, quer ele nos dê quer ele nos tire algo, porque nossa vida não é nossa, mas pertence a Deus (1Coríntios 6.19). Não importa onde estejamos na vida, podemos confiar humildemente nos planos da verdadeira luz e dar testemunho do seu grande nome.

Para refletir



De que forma podemos encontrar alegria e propósito em épocas de declínio ou de diminuição de influência?

De que modo o lembrete de que todos os nossos dons e sucessos vêm de Deus molda a nossa perspectiva durante o período do Advento e nos encoraja a confiar humildemente nos planos do Senhor?

Laura Wifler é escritora, podcaster e cofundadora da Risen Motherhood. Ela é autora de vários livros infantis, entre eles Any Time, Any Place, Any Prayer.

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Books

Mike Bickle confessa ter cometido “falhas morais” no passado, mas nega acusações de abuso sexual

O fundador da Casa Internacional de Oração se pronuncia pela primeira vez; ao mesmo tempo, o ministério promove uma investigação independente.

Mike Bickle, fundador da IHOPKC

Mike Bickle, fundador da IHOPKC

Christianity Today December 13, 2023
Courtesia da IHOPKC

Mike Bickle, fundador da International House of Prayer Kansas City (IHOPKC), admitiu ter tido “comportamento inadequado” e cometido “falhas morais” há mais de 20 anos, mas afirma que as acusações de abuso sexual que surgiram contra ele em outubro são falsas.

Pela primeira vez, na terça-feira, Bickle se pronunciou publicamente sobre as recentes acusações de abuso, dizendo que havia se arrependido de seus “pecados do passado”, pedindo desculpas pela forma como a situação afetou sua família e seu ministério, e pedindo aos seguidores que não saíssem em sua defesa nas mídias on-line.

“Alguns podem estar se perguntando: por que só agora estou fazendo uma declaração pública, mais de 20 anos depois? É porque recentemente fui confrontado sobre coisas que eu disse ou fiz há mais de 20 anos — coisas que eu acreditava terem sido tratadas e que estavam debaixo do sangue de Jesus”, escreveu ele. “Como isso agora se tornou público, quero me arrepender publicamente.”

Um grupo de ex-líderes da IHOPKC divulgou uma declaração em outubro, dizendo que Bickle havia sido acusado de má conduta sexual “na qual o pacto matrimonial fora desonrado” e também que eles haviam ouvido testemunhos corroborados por “várias vítimas”. No TheRoys Report da semana passada, uma mulher alegou que Bickle abusou sexualmente dela, quando era estagiária na IHOPKC, há 27 anos.

Bickle está afastado do ministério desde 26 de outubro, enquanto os líderes da IHOPKC analisam as acusações. No domingo, após semanas de idas e vindas, a igreja anunciou que fará uma investigação promovida por uma entidade independente. Bickle disse que redigiu uma declaração em 28 de outubro, mas que foi aconselhado por um advogado a aguardar.

O fundador da IHOPKC, que tem 68 anos, não deu mais detalhes sobre seu “comportamento inapropriado” no passado, a não ser por dizer que não estava admitindo as “atividades sexuais mais intensas que alguns estão sugerindo”. Ele também se referiu a “falsas acusações” de abuso sexual.

Disse que já havia se arrependido “de forma rápida e sincera”, embora ainda estivesse entristecido por seu pecado.

No início do outono, um grupo de ex-líderes da IHOPKC — chamado pelo ministério de “grupo de ativistas” — tomou conhecimento de acusações contra Bickle que se estendiam por décadas.

Dwane Roberts e Brian Kim, que já haviam servido na equipe de liderança executiva e no conselho da IHOPKC, e Wes Martin, ex-pastor da Forerunner Christian Fellowship, disseram que tentaram se encontrar com Bickle diretamente, mas, depois de ele ter se recusado a fazer isso, levaram suas preocupações aos líderes da IHOPKC.

Os líderes, que pedem transparência e responsabilidade por parte da IHOPKC, acreditam que a confissão de Bickle sobre esse “comportamento inadequado” não basta.

“Isso é apenas uma fração daquilo pelo qual Mike é realmente culpado”, postou o pregador Joel Richardson. “Isso nada mais é do que uma jogada de sua assessoria”.

A IHOPKC contratou um novo porta-voz, Eric Volz, da David House, agência internacional de recursos para crises. Volz chamou a declaração de Bickle de “um passo na direção certa” e disse: “Temos claramente dois lados nessa história e é 100% por isso que precisamos de uma investigação independente”.

Bickle é uma figura importante no cristianismo carismático, e seu movimento de oração incentivou o surgimento de centenas de “casas de oração” em todo o mundo. No Brasil, a Casa de Oração de Florianópolis (FHOP) foi a primeira igreja a se distanciar de Bickle durante a investigação.

Bickle se referiu aos debates nas mídias sociais e ao desdém on-line em torno das acusações. Ele aconselhou a família e os amigos a não saírem em sua defesa e a não insultarem seus detratores. “Estou confiante de que o Senhor falará a respeito do que Ele vê e diz sobre mim no seu devido tempo”, disse Bickle.

A IHOPKC compartilhou nas mídias sociais a declaração dada por ele na terça-feira (12), e disse aos seguidores: “Por favor, continuem a orar…”

Bickle planeja continuar afastado do ministério público por um “período prolongado” e, possivelmente, por tempo indeterminado.

“Eu vejo isso como uma disciplina amorosa ‘protelada’ por Deus em minha vida (Hb 12.6, 11). Aguardarei outros líderes determinarem quanto tempo essa temporada vai durar — pode ser longa e pode até mesmo ser permanente”, diz ele em sua carta. “Só voltarei a me engajar em meu ministério de pregação se Deus confirmar isso por meio de outras pessoas.”

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Esquecemos que Pertencemos a Deus

O bálsamo curativo que está em encontrar nossa verdadeira identidade.

Christianity Today December 13, 2023
Phil Schorr

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.

1 Pedro 2.9

Celebrar a vinda do rei eterno é celebrar como, através de Jesus, encontramos a libertação da escravidão do pecado e da morte. Nós, que estávamos longe, fomos trazidos para perto, para um relacionamento restaurado e o descanso eterno com Deus (Efésios 2.13).

As palavras de Pedro foram escritas para cristãos gentios, que viviam como “estrangeiros e exilados” no Império Romano (1Pedro 2.11). Eles eram considerados não cidadãos ou residentes temporários num mundo que valorizava muito a cidadania em sua hierarquia social. Foi também uma época em que a tolerância de Roma com relação à liberdade religiosa estava diminuindo. Pedro estava escrevendo para cristãos marginalizados e perseguidos, que estavam sofrendo por sua lealdade ao Rei Jesus.

Em 1Pedro 2.9, o apóstolo fornece a seus leitores um bálsamo curativo, um lembrete de que foi Deus, e não as pessoas, quem determinou a verdadeira identidade desses cristãos. Pedro usa quatro frases para descrever a identidade deles em Cristo: geração eleita, sacerdócio real, nação santa e povo exclusivo de Deus.

Suas palavras remontam a Êxodo 19.4-6, passagem em que Deus explicou a Moisés o propósito por trás de sua almejada aliança com Israel. Israel fora separado para mostrar ao mundo o que significava adorar o Deus único e verdadeiro. Eles experimentariam sua bênção ao servirem como canal para a bênção de Deus ao mundo.

O sofrimento e a perseguição podem desumanizar e desmoralizar um povo, privando-o de sua dignidade e de sua esperança. O que o mundo tentou tirar desses cristãos, Pedro procurou restaurar. Ele lembrou estes “estrangeiros e exilados” de seu elevado status. Por meio de Cristo, eles eram membros da família de Abraão com acesso direto a Deus. Eles tinham um status eterno como sacerdotes reais separados para conduzir as nações a Deus.

Por meio do evangelho, nós, que fomos desumanizados, somos novamente humanizados, revestidos de força e dignidade, por causa daquele a cuja imagem fomos feitos.

Mas num mundo contaminado pelo pecado e pelo mal, pode ser fácil esquecer isso.

Esquecemos que pertencemos a Deus. Cegados pelas lutas da vida, temos dificuldade em enxergar a esperança eterna que temos simplesmente por sermos dele.

Contudo, nas palavras de Shirley Caesar: “Esta esperança que temos não nos foi dada pelo mundo nem pode ele tirá-la”. Não importa quão escura seja a noite, sempre temos esperança. Por meio de Cristo, o amor inabalável e a fidelidade de Deus nos acompanham para sempre. Assim, em meio ao sofrimento e à perseguição, nossos olhos se voltam para o eterno, não para o temporal. Lembramos que nossa identidade, nosso valor e nossa vocação são determinados por Deus, não pelo ser humano. Seremos o seu povo por toda a eternidade; nosso lar eterno é com ele.

Para refletir



Como a compreensão da nossa identidade como geração eleita e povo exclusivo de Deus molda a nossa perspectiva do sofrimento e da perseguição?

De que formas o mundo tenta definir nossa identidade e nosso valor? Como podemos evitar esquecer que nossa verdadeira identidade é determinada por Deus?

Elizabeth Woodson é professora de Bíblia, teóloga, autora e fundadora do The Woodson Institute, uma organização que capacita crentes a compreenderem e a crescerem em sua fé.

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Como Contemplar a Glória

O tempo todo nos tornamos aquilo que contemplamos.

Christianity Today December 12, 2023
Phil Schorr

Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade. E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.

2 Coríntios 3.17-18

A primeira vez que a palavra “glória” realmente chamou minha atenção eu estava em uma igreja predominantemente negra, na cidade de Atlanta, na Geórgia, em uma manhã quente de domingo. Eu era o jovem pregador convidado e, enquanto eu pregava, ouvi repetidamente exclamações de “Glória!” vindas da última fileira de bancos, proferidas com rica cadência e dotadas de inegável autoridade espiritual. O ousado grupo de mulheres sentadas nessa fileira estava em sintonia com algo que eu, recém-formado no seminário, não estava. Enquanto eu pregava para aquela amada igreja, estava mais focado em conectar intelectualmente os pontos do meu texto e transmitir meu conhecimento das Escrituras do que na realidade desta glória que elas professavam tão lindamente. Naquela época, a palavra “glória” não ocupava muito espaço em meus pensamentos nem em minhas conversas. Esse conceito me parecia vago e até me deixava um pouco desconfortável. Mas naquele dia decidi que precisava compreender o que aquelas mulheres compreendiam. Falei com elas depois do culto, e ficou bastante claro que não estavam gritando mecanicamente palavras religiosas apenas para provocar uma emoção — elas estavam vivenciando a reunião dos santos e a pregação da Palavra como comunhão com o Espírito Santo e uma participação em sua glória.

A fé vibrante daquelas mulheres lembrou-me que nos tornamos aquilo que contemplamos. À medida que fixarmos nossos olhos em Jesus e experimentarmos a presença e o poder de Deus em nossa vida, entenderemos e refletiremos cada vez mais essa glória. Em compensação, a maior das escravidões é a que surge quando fixamos os olhos em nós mesmos ou nos ídolos que nos cercam. Jesus abriu caminho para a habitação do Espírito, a fim de que pudéssemos ser libertos da escravidão do pecado e contemplar a glória do Senhor. Seu advento remove o véu que estava sobre nossos corações e oferece tanto a bênção de contemplar sua glória quanto a bênção de sermos transformados na mesma glória (2Coríntios 3.17-18).

Naquela manhã de domingo, há muitos anos, ficou claro para mim — e para as pessoas ao meu redor — que eu estava fora da minha zona de conforto. Quando falei de meus próprios desafios, após o culto, uma mulher declarou: “Ele vai ajudar você a superar isso!” Eu precisava desse encorajamento para fixar meus olhos em Jesus, ao longo da jornada desta vida e da minha vocação pastoral.

Aquelas mulheres foram para mim como os anjos que proclamaram “Glória a Deus nas alturas” (Lucas 2.13-14), declarando a glória do Senhor e mostrando-me a presença, o poder e a paz do meu Salvador. Gostaria que elas fizessem parte do culto da minha igreja todos os domingos, e me ajudassem a contemplar Jesus, que veio para que todos pudéssemos nos tornar como ele.

Para refletir



Levando em conta o significado da palavra “glória” no contexto de um culto de adoração, como você descreveria a sua compreensão da glória? Como esse conceito influencia seu relacionamento com Deus e a sua adoração?

Frequentemente expressamos gratidão pelo impacto que a comunidade da igreja tem em nos ajudar a contemplar Jesus. De que formas a sua comunidade de fé apoia e encoraja você na sua jornada de contemplar a glória de Deus?

Steve Woodrow tem atuado como professor e pastor direcional na Crossroads Church Aspen, no Colorado, nos últimos 23 anos.

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Um amor do tamanho do universo

O sentimento de esperança que surge em nossos corações no Advento

Christianity Today December 11, 2023

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele.

João 3.16-17

Adoro a interação entre Nicodemos e Jesus no Evangelho de João. O mestre da lei se encontra com Jesus à noite, para evitar ser julgado por seus colegas fariseus, pois quer ter tempo para fazer algumas perguntas honestas a Jesus. O guardião dos costumes judaicos quer explorar aquilo que o intriga naquele homem que falava com tamanha autoridade.

Jesus responde com paciência e bondade extremas à sinceridade de Nicodemos. Ele define sua missão ao mundo em termos de amor, algo que é interessante quando levamos em conta que Nicodemos era um mestre da lei. Com sua bondade, Jesus mostra a Nicodemos que, em seu amor do tamanho do universo, Deus entregou seu único Filho para que todo aquele que [nele] crê não seja condenado a viver uma eternidade sem Deus.

De que tipo de amor Jesus está falando aqui? Sei que usamos a palavra “amor” de forma um tanto genérica, para expressar que gostamos de alguma coisa: amo esse tipo de comida, amo meu trabalho, amo esse programa de TV, amo meu hobby. Este é um tipo de amor.

Através de Jesus, porém, Deus revelou o tipo de amor que ele tem por nós e qual efeito ele pretendia que esse amor tivesse sobre nós: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1João 3.1).

Sermos chamados filhos de Deus é a grande revelação de Jesus sobre o desígnio e a profundidade do amor de Deus. Mas este é um amor que teve um alto custo, o qual sempre acompanha o tipo de amor maior. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”, diz Jesus, em João 15.13. Isso não é mera afeição, nem um sentimento brando nem alguma espécie de carinho especial por nós. O amor de Deus por nós é ainda mais profundo e vasto do que o próprio universo, pois “Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele”, como João nos diz em 1João 4.16.

Embora tenhamos nascido em trevas que alcançam as profundezas da nossa alma, Deus enviou Jesus para romper a escuridão com uma luz que é suficientemente brilhante para iluminar até os confins do universo. Jesus não se limitou meramente a apresentar os planos da redenção de Deus; ele também incluiu a motivação de Deus: o amor.

Esse é o sentimento de esperança que surge em nossos corações todos os anos, no Advento, quando imaginamos a imensidão insondável do amor de Deus por nós, na pessoa e na obra de Jesus Cristo.

Para refletir



Nicodemos, mestre da lei, busca respostas em Jesus e encontra a profunda mensagem do amor de Deus. O modo que Jesus define sua missão em termos de amor desafia a nossa compreensão das noções culturais comuns do que é amor?

O Advento é uma época de antecipação e de celebração da imensidão insondável do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo. Como podemos cultivar um sentimento de admiração e de gratidão pelo amor incomensurável de Deus em nossas vidas?

Ronnie Martin é pastor principal da Substance Church, em Ashland, Ohio. Ele também atua como diretor de renovação de líderes da Harbour Network e é autor de sete livros.

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A boa notícia sobre as nossas más notícias

Às vezes, o sofrimento não pode ser espiritualizado.

Christianity Today December 10, 2023
Phil Schorr

"Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo".

João 16.33

Tenho boas notícias para você: haverá más notícias.

A encarnação de Cristo foi pontuada por más notícias. Sua chegada testemunhou o massacre de uma geração inteira nas mãos de um tirano. Seu ministério culminou com sua tortura e respectiva execução. Mesmo depois da vitória da Ressurreição e do nascimento da igreja, no Pentecostes, seus seguidores, cheios do Espírito Santo, foram perseguidos e exilados, “dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia” (1Pedro 1.1). Mais tarde, a igreja tornou o evangelho global, apenas para sofrer dor e divisão por causa de divergências teológicas tacanhas e cultos à personalidade. Imagino que esta não seja a história messiânica que Israel tanto esperava, nem era o sonho da igreja primitiva.

Vivemos em uma cultura obcecada em erradicar a dor — que inventa e vende tecnologias para afastá-la, pílulas para amenizá-la ou técnicas de autoajuda para evitá-la. Embora seja impopular dizer “a vida é difícil; esteja preparado para sofrer”, é a pura verdade.

Jesus disse de forma direta que “Neste mundo vocês terão aflições” (João 16.33) e, embora tenhamos ouvido isso, muitos de nós ficam chocados, irritados e são pegos despreparados quando de fato passam por um sofrimento mais profundo. À medida que a poeira vai baixando, percebemos que as nossas reações aos problemas da vida não correspondem às verdades teológicas que professamos.

Fui abalado por essa discrepância mais do que umas poucas vezes. O ensinamento de Jesus de que podemos esperar uma vida repleta de más notícias — e esperar também que ele nos conduza através delas — é, na verdade, uma notícia muito boa.

Saber que o sofrimento está chegando nos vacina contra uma espiritualidade superficial, que acredita que a dor pode ser evitada ou que atribui as dificuldades à infidelidade. Não sofremos excepcionalmente ou por alguma falha — sofrer é um fato incontestável da vida. Se acreditarmos que nossos esforços ou nosso pensamento positivo nos protegerá da dor, estaremos programados para passar por um choque existencial quando o sofrimento surgir. Cristo é muito franco sobre esta realidade e nos convida tanto a aceitar a inevitabilidade dos problemas da vida quanto a ter a certeza de que ele os superou. Esta é de fato uma realidade bastante libertadora.

Cristo venceu os sofrimentos e as tentações do mundo do mesmo modo que venceu a morte: não eliminando-a, mas passando por ela fielmente, permitindo que se tornasse o próprio veículo por meio do qual ele oferece salvação para todo o cosmo. Em João 16, Jesus nos convida a fazer a mesma coisa: ele espera que sejamos movidos pela paz do seu Espírito, e não pela ansiedade das nossas circunstâncias, que vejamos os problemas do mundo como uma aberração posta nas mãos de Cristo, como uma realidade esperada, a qual somos capacitados a atravessar.

O sofrimento virá, e às vezes será do tipo que você não consegue espiritualizar e que provavelmente pensa que não consegue enfrentar. Quando isso acontecer, não se surpreenda e não pense que cabe a você transformá-lo por milagre. Lembre-se de que é Cristo quem vence [o sofrimento] — confie e apoie-se nele, permita que ele faça a obra de salvar você e o mundo por meio disso. Esta é a realidade terrena da história do Advento. Aleluia!

Para refletir



Como você reage pessoalmente ao sofrimento e a circunstâncias difíceis?

Como você pode confiar no exemplo de Cristo e na paz do seu Espírito em tempos de sofrimento?

Strahan é escritor, músico e diretor espiritual. Vive em Aotearoa (Nova Zelândia). Ele é autor de três livros devocionais de oração, entre eles o recém-lançado Beholding.

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