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Acreditamos em milagres; então, por que não em alienígenas?

É mais provável que os cristãos aceitem a possibilidade de vida extraterrestre, dados os nossos pressupostos prévios.

Christianity Today January 2, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Images: WikiMedia Commons

Histórias sobre fenômenos aéreos inexplicáveis (ou UAP, na sigla em inglês — que é como agora devemos chamar os OVNIs) costumavam ser reservadas para as partes mais extravagantes ou sensacionalistas da Internet ou para os tabloides que ocupam o último andar das prateleiras de revistas. Não é mais assim hoje, quando histórias que apontam para evidências de vida extraterrestre estão aparecendo em todos os principais meios de comunicação.

Destaca-se, como sempre, uma manchete que não vai desaparecer: que o governo dos EUA recuperou naves espaciais acidentadas com “produtos biológicos não humanos”. Há até um livro recém-lançado que detalha, como sugere a manchete de um artigo recente da Time, “A busca do governo por alienígenas e por que eles provavelmente existem”.

Talvez agora seja o momento ideal para os cristãos começarem a fazer algumas perguntas sérias como: “E se a primeira página do jornal de amanhã trouxer notícias de evidências de vida em outro planeta?” Esta pergunta me levou a alguns dos territórios teológicos mais fascinantes que já considerei — alguns dos quais exploro no meu livro recente, Astrobiology and Christian Doctrine: Exploring the Implications of Life in the Universe [Astrobiologia e doutrina cristã: explorando as implicações de vida no universo].

Também fui um entre as duas dúzias de teólogos que foram convidados a participar no projeto de pesquisa financiado pela NASA sobre as implicações sociais da astrobiologia, no Centro de Investigação Teológica de Princeton. E, na minha pesquisa, fiquei surpreso ao descobrir que os pensadores cristãos têm ponderado sobre a vida fora da Terra há muito tempo. Por quê? Uma das razões é que a cosmovisão cristã tem um conjunto único de pressupostos prévios que podem nos deixar mais dispostos (e não menos dispostos, como alguns poderiam supor) a acreditar na probabilidade de vida extraterrestre.

Vejamos, por exemplo, as reações a um UAP em particular, com o qual os principais cientistas parecem mais entusiasmados. O ‘Oumuamua (termo havaiano para “mensageiro de longe que chega primeiro”) entrou em nosso sistema solar e passou bem perto do Sol (e não tão longe da Terra) em 9 de setembro de 2017, viajando a quase 320.000 quilômetros por hora. Este foi o primeiro “objeto interestelar” já observado em nosso sistema solar ― isto é, um objeto que viajou entre estrelas, em contraste com um cometa, por exemplo, que é limitado pela influência gravitacional do nosso Sol.

Isso é bastante notável, mas o ‘Oumuamua tinha algumas outras propriedades incomuns. Embora não possamos ter certeza sobre sua forma, parece ter sido a de um objeto estranhamente longo e fino, como um charuto alongado, ou talvez um disco (ou mesmo um pires, como já se viu em tantos filmes de ficção científica). Também percorreu uma trajetória incomum quando se aproximou do sol.

O que devemos fazer com tudo isso? Será que essas propriedades incomuns sugerem que não se tratava de um objeto antigo, mas sim de um artefato de outra civilização?

Para Avi Loeb, astrofísico de Harvard, o ‘Oumuamua é tão estranho, que vê-lo como um artefato alienígena faz mais sentido. Em contrapartida, o filósofo Christopher Cowie argumentou que, mesmo que exista outra forma de vida na galáxia, os artefatos extraterrestres seriam demasiado raros para serem uma explicação plausível para o ‘Oumuamua.

O que distingue Loeb de seus críticos não é se ‘Oumuamua é estranho — nisso eles concordam ― mas sim se isso conta como evidência de que existem outras civilizações. Os críticos de Loeb acham que tais civilizações são tão improváveis que faz mais sentido dizer que, embora seja estranho para um objeto natural, ele é, no entanto, natural. Em contraste, Loeb pensa que tais civilizações estão provavelmente difundidas, de modo que é mais provável que o ‘Oumuamua seja uma obra alienígena do que seja algum objeto natural bizarro.

O astrofísico Charles H. Lineweaver examinou o ‘Oumuamua usando o teorema de Bayes: o que constitui uma explicação plausível para as evidências depende de nossos pressupostos prévios. Ou seja, se é ou não crível acreditar que se tratava de uma nave espacial alienígena depende do que mais tomamos como certo — como, por exemplo, qual é a probabilidade com que consideramos a existência de civilizações extraterrestres.

O pai da lógica bayesiana é Thomas Bayes, um ministro presbiteriano inglês dos anos 1700, cujo trabalho inovador foi provavelmente provocado pelo ataque aos milagres desferido pelo filósofo David Hume (na obra Investigação sobre o entendimento humano). Hume argumentou que não deveríamos aceitar histórias sobre milagres, uma vez que ― na opinião dele ― sempre haverá uma explicação mais provável e não miraculosa para qualquer acontecimento extraordinário. Nossa interpretação depende de nossos pressupostos, e os dele não iam muito longe na direção de Deus.

E, embora não saibamos ao certo se Bayes foi, de fato, motivado pelo livro de Hume, seu amigo Richard Price fez esta ligação. Price era doutor em divindade e trouxe à atenção do público o trabalho de Bayes sobre estatísticas, após sua morte. Seu tratado contra a abordagem cética de Hume aos milagres (Sobre a importância do cristianismo, a natureza da evidência histórica e os milagres) foi publicado alguns anos depois. Bayes percebeu que interpretamos os acontecimentos como prováveis ou improváveis dependendo dos nossos pressupostos, e Price aplicou essa lógica aos milagres — na primeira aplicação do pensamento “bayesiano”, até onde sabemos.

Como agnóstico convicto, Hume era cético em relação a Deus. Portanto, ele considerava menos provável uma explicação milagrosa para um acontecimento inesperado do que uma explicação natural, mesmo que não soubesse que explicação poderia ser essa. Mas um cristão, como Bayes ou Price, olha para a mesma história de uma perspectiva diferente. Se você acredita em Deus e em Jesus como Deus encarnado, não parece nada absurdo supor que Cristo pudesse transformar água em vinho ou acalmar uma tempestade.

Ou, no caso em questão, é mais provável que acreditemos na possibilidade de vida fora da Terra.

Passando do século 18 para o século 20, existe um pressuposto comum (embora errado) de que as religiões não têm imaginação, se comparadas à ciência, e que precisam de descobertas científicas para provocá-las a pensar sobre a vida fora da Terra. Carl Sagan, um renomado astrônomo, fez essa mesma acusação, quando perguntou:

Como é possível que quase nenhuma grande religião olhou para a ciência e concluiu: “Isto é melhor do que pensávamos! O Universo é muito maior do que disseram nossos profetas, mais grandioso, mais sutil, mais refinado. Deus deve ser ainda maior do que sonhamos”? Em vez disso, elas dizem: “Não, não, não! Meu deus é um deus diminuto e quero que ele continue assim.” Uma religião, seja ela antiga ou nova, que enfatizasse a magnificência do Universo tal como é revelada pela ciência moderna, poderia ser capaz de extrair reservas de reverência e de admiração que dificilmente são exploradas pelas fés convencionais.

No entanto, os teólogos cristãos têm pensado continuamente na questão de vida fora da Terra desde meados do século 15 (e os teólogos judeus e os islâmicos há ainda mais tempo). Se há algo frustrante na forma como as fontes cristãs abordam este tópico, é o fato de que não tendem a se estender muito ― o autor menciona a probabilidade com alegria, e depois segue em frente. A impressão que se tem é que esses pensadores não estavam preocupados o suficiente para escrever muito sobre o assunto.

No século 15, temos um frade franciscano, Guillaume de Vaurouillon, e Nicolau de Cusa, talvez o maior teólogo da sua época. No século 17, temos o dominicano Tommaso Campanella (escrevendo em defesa de Galileu). Poderíamos acrescentar o teólogo puritano inglês Richard Baxter e o anglicano John Ray, que escreveu sobre a possibilidade de outros sistemas solares com planetas que eram “com toda a probabilidade, equipados com uma variedade tão grande de criaturas corpóreas, animadas e inanimadas, quanto a Terra, e todos eles tão diferentes do [sistema] terrestre e uns dos outros em termos de natureza quanto o são em termos de lugar”.

Charles Spurgeon, pregador do século 19, referiu-se a toda a criação como uma “grande orquestra” cujos “habitantes dos diversos mundos, que sejam talvez em multitude incontável, tomam seus lugares numa única canção harmoniosa”. Ele acreditava que “pode haver dezenas de milhares de raças de criaturas, todas sujeitas a ele e governadas pela mesma lei de direito e justiça imutáveis”.

No século 20, C. S. Lewis era fascinado pelo espaço sideral, tendo escrito um ensaio (“Religião e Foguetes”) e três romances (Trilogia Cósmica) sobre o tema. Lewis não acreditava que a descoberta de vida noutros planetas desafiasse o cristianismo, embora certamente viesse a gerar algumas questões teológicas intrigantes para considerarmos.

Um escritor proeminente, John Wilkins (bispo de Chester e fundador da Royal Society, a organização científica mais prestigiada da Inglaterra), pensava que ele tinha evidências de vida na Lua, mas a maioria dos teólogos especulava sem evidências. Dito isto, é impressionante como muitos teólogos acreditavam com forte convicção que existe vida fora da Terra com bases teológicas — e que encaravam isto como uma certeza, e não apenas como uma possibilidade.

Como disse antes, o que achamos plausível depende de nossos pressupostos prévios. Muitos teólogos cristãos têm operado com o pressuposto de que Deus só criaria lugares habitáveis para que pudessem ser habitados. E assim, longe de rejeitar a ideia de que o universo possa conter outras formas de vida, encontramos teólogos argumentando que a vida fora da Terra é difundida. Na verdade, eles assumiram que haverá vida em praticamente todos os lugares onde seja possível sobreviver.

Se o seu pressuposto é que a vida é o que importa, especialmente para Deus ― e que, portanto, a habitabilidade existe em prol da habitação — você achará implausível que lugares habitáveis permaneçam vazios. Historicamente, então, os teólogos cristãos com frequência provavelmente superestimaram a quantidade de vida que pode existir no universo. Isso decorreu de forma plausível do pressuposto de que Deus povoa os lugares e que os lugares são valiosos se hospedarem seres vivos.

Estou muito aberto ao universo cheio de vida, mas eu diria que alguns dos pressupostos mencionados no parágrafo anterior são falhos. Há esplendor em todos os tipos de lugares diferentes do universo, sendo que todos dão testemunho da glória de Deus à sua maneira, sejam eles habitados ou não.

Jean Guitton, teólogo católico romano francês do século 20, escreveu que um vasto universo, desabitado e além da Terra, era implausível porque isso essencialmente tornaria “o pedestal demasiado grande para a escultura”. Em outras palavras, o universo seria como uma moldura tão grande que dominaria a pintura em seu centro.

Acho que isso está errado duas vezes. Primeiro, mesmo que o universo tivesse vida apenas na Terra, um universo inimaginavelmente grande não seria um cenário, uma estrutura ou um pedestal demasiado esplêndido para a glória da vida na Terra ― especialmente para a vida humana, com a sua autoconsciência e a sua relação com Deus.

Mas, em segundo lugar, será mesmo útil pensar no restante do universo apenas como um palco para a vida? O universo tem glória e dignidade próprias, que não devem ser julgadas meramente em relação a nós. Afinal, não somos as únicas criaturas com vocação para louvar a Deus; os céus também são [vocacionados para isso] (Salmo 148.3-6). Os próprios céus são alienígenas e inescrutáveis — tanto assim que Deus os traz à tona, quando coloca Jó em seu devido lugar por questionar sua soberania (Jó 38.31-33).

Quando se tratar do lugar e da prevalência da vida no universo, deixarei que a ciência me informe, à medida que os dados surgirem. Não ficarei perturbado se encontrarmos muita vida ou nenhuma.

Dito isto, ficarei surpreso se a vida na Terra for a única existente. Afinal de contas, até ao final do século 20, não sabíamos se existiam planetas em torno de outras estrelas ― e descobrimos que eles estão por todo o lado. Encontrar evidências de vida extraterrestre pode ser uma façanha. No entanto, a nossa capacidade de detectar sinais de vida em torno de outros planetas deu um grande salto à frente com o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, em 2021: ele detecta luz infravermelha, que é ideal para medir o equilíbrio de gases na atmosfera de outros planetas e, portanto, averiguar alguns dos sinais reveladores de vida.

Os teólogos cristãos têm pensado muito sobre o que torna algo vivo e o que pode ser considerado como um ser vivo. Por exemplo, os seres angelicais são um exemplo de vida além da Terra que é mencionada na Bíblia e retratada no imaginário cristão — por mais diferentes que sejam de outras formas de vida biológica.

Faz diferença que na Bíblia não haja menção de vida extraterrestre no universo? Eu não diria isso, especialmente quando consideramos para que servem e para que não servem as Escrituras.

Na Bíblia, Deus fala conosco de uma maneira humana. Isso torna a nossa compreensão de Deus tão humana que outras criaturas não pensariam em Deus como nós? Muitos teólogos, como Calvino, falaram sobre a “acomodação” divina ― o fato de Deus falar às criaturas de uma forma que elas possam compreender. O conhecimento de Deus e a revelação vinda de Deus certamente seriam questões “acomodadas” de maneira diferente para diferentes criaturas, para que pudessem entendê-lo, mas seria o mesmo Deus que é revelado e conhecido.

Assim, temos a ideia de que os seres humanos são feitos à imagem de Deus. Esta premissa seria prejudicada, se houver outras criaturas que também possam conhecer e amar e se tornar amigas de Deus? Eu acho que não. Não seríamos criados de maneira menos maravilhosa nem menos amados por Deus só porque outras coisas também são amadas e maravilhosas — e, provavelmente, maravilhosas de uma maneira diferente da nossa. Penso que quanto mais, melhor.

Mas e o pecado e a salvação? Se houver outra vida senciente, a queda é inevitável? E quanto à Encarnação e à redenção? Poderiam a morte e a ressurreição de Cristo redimir todo o cosmos? Sem dúvida; mas Deus se limitaria a uma Encarnação? Essa talvez seja a questão mais contestada na área. Como Aaron Earls apontou para a CT, até mesmo C. S. Lewis pensava que ao menos valia a pena considerar a possibilidade de que Jesus poderia ter “encarnado em outros mundos além da Terra e, assim, salvado outras raças além da nossa”.

Quanto a mim, acredito que uma Encarnação seja “suficiente”, mas quem disse que Deus deve fazer o que é minimamente necessário? Em Jesus, vemos Deus face a face como ser humano. Mas eu poderia ver beleza em outras criaturas também conhecerem Deus em sua própria carne e sangue.

No início do século 20, a poetisa inglesa Alice Meynell escreveu que só nós conhecemos a nossa história e que aquilo que Deus fez noutros lugares permanece noutros lugares:

Nenhum planeta sabe que isso
[que] Nosso planeta à margem do caminho, que carrega terra e ondas,
Amor e vida multiplicados, e dor e felicidade,
Traz, como tesouro principal, um sepulcro abandonado.

Nem que, em nosso diminuto dia,
Seus artifícios com os céus sejam adivinhados,
Sua peregrinação para percorrer a Via Láctea
Ou Suas dádivas sejam manifestas.

Mas ela terminou o poema, intitulado “Cristo no Universo”, com a ideia tentadora de que podemos esperar conhecer o resto da história do cosmos na vida do mundo vindouro:

Ó, esteja preparada, minha alma!
Para ler o inconcebível, para escanear
As inúmeras formas de Deus que essas estrelas desvendam
Quando, por nosso turno, lhes mostrarmos um Homem.

Em última análise, seja o que for que esteja além da Terra, disto podemos ter certeza: Deus será gracioso e fará algo glorioso.

Andrew Davison é o autor de Astrobiology and Christian Doctrine: Exploring the Implications of Life in the Universe [Astrobiologia e doutrina cristã: explorando as implicações da vida no universo]. Ele é grato a Cat Gillen, da Durham University, por discutir o 'Oumuamua do ponto de vista bayesiano.

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Como a geração de cristãos mais velhos pode apoiar melhor a geração Z?

A próxima geração valoriza uma mentalidade aberta e é altamente cética em relação a instituições religiosas. Mas não desistiu de Deus.

Christianity Today January 2, 2024
Illustration by Elizabeth Kaye / Source Images: Getty Images

Em 2021, o Springtide Research Institute publicou um relatório sobre o “Estado da Religião e dos Jovens”. A partir dos dados reunidos, o instituto identificou uma tendência que chamou de “fé desagregada”.

• 53% dos jovens disseram: “Concordo com algumas coisas, mas não com todas as coisas que a minha religião ensina”.

• 55% dos jovens disseram: “Não sinto que preciso estar ligado a uma religião específica”.

• 47% dos jovens disseram: “Sinto que poderia enquadrar-me em muitas religiões diferentes”.

Esses números não foram uma surpresa para mim. A Geração Z é ao mesmo tempo o grupo etário com maior diversidade racial e étnica e o menos religioso da história americana. Em 2019, o instituto de pesquisas Barna Group descobriu que, entre os cristãos praticantes, os millennials “informaram uma taxa (mediana) de quatro amigos próximos ou familiares que praticam uma fé diferente do cristianismo; a maioria dos pais e avós da geração Baby Boomers, em comparação, tinha apenas um.” Presumo que este número seja ainda maior entre os meus pares cristãos, à medida que nos encontramos em comunidades com pessoas de outras religiões e com os “sem igreja”.

Os dados também mostram que os membros da Geração Z olham com desconfiança os espaços religiosos tradicionais. Segundo o relatório do Instituto Springtide:

• 55% dos jovens disseram: “Não sinto que posso ser eu mesmo numa congregação religiosa.”

• 45% dos jovens disseram: “Não me sinto seguro dentro de instituições religiosas ou relacionadas a alguma fé”.

• 47% dos jovens disseram: “Não confio na religião, na fé ou em líderes religiosos deste tipo de organizações”.

• Quase 50% dos jovens disseram ao Instituto Springtide que não recorrem às comunidades religiosas devido à falta de confiança nas pessoas, nas crenças e nos sistemas da religião organizada.

Quando ouvem falar sobre as formas como a Geração Z está “desagregando” ou “desconstruindo” a sua fé, os cristãos mais velhos podem ficar temerosos. Talvez uma mentalidade aberta seja algo equivalente a relativismo moral. Talvez a confiança perdida não possa ser recuperada.

Como membro da Geração Z, não compartilho dessa preocupação. Muitas vezes, estar em diálogo com pessoas com outras perspectivas nos leva de volta à “Verdade” objetiva com V maiúsculo ― e não para longe dela. À medida que amadurecemos na fé, precisamos de cristãos mais velhos que nos apoiem nessa avaliação, em vez de cristãos que recuam diante das nossas questões e preocupações.

Este outono, como parte da nossa Iniciativa NextGen e em parceria com a TENx10, a CT organizou uma série de workshops de escrita, para cristãos no fim da adolescência e começo dos vinte anos. A nossa esperança era ver mais jovens em nossas páginas, refletindo a diversidade geracional da igreja e permitindo que os crentes mais velhos compreendessem melhor os pontos fortes e os desafios dos seus irmãos e irmãs mais jovens na fé.

Para começar, selecionamos algumas respostas enviadas pelos participantes do workshop, para a pergunta a seguir.

Claire Nelson, Coordenadora do Projeto Impacto, CT.

Como os crentes mais velhos podem apoiar melhor os cristãos da Geração Z?

Os crentes mais velhos podem apoiar melhor os cristãos da Geração Z abandonando a mentalidade do tipo “não pergunte, não fale” em relação a assuntos como sexo e intimidade, a qual prevaleceu nos círculos cristãos nas últimas décadas.

Durante os meus anos do ensino fundamental e do ensino médio, na década de 2010, sofri muitas das repercussões dessa cultura da pureza ― vergonha do corpo, sexualização de mulheres jovens e uso de táticas de medo para afastar os adolescentes do sexo antes do casamento. A minha experiência em grupos de jovens foi uma fusão bizarra de uma hiperfixação nos corpos das mulheres e da “ameaça” que representávamos aos nossos equivalentes masculinos, combinada com uma aversão (e muitas vezes com um medo) de temas como intimidade e sexualidade.

As narrativas que aprendi na igreja me levaram a acreditar que meu corpo era algo perigoso, que os homens eram monstros cheios de lascívia em quem não se podia confiar e que, contanto que eu esperasse até o casamento, minha vida sexual seria abençoada e gratificante. Cheguei aos vinte anos sem nenhum conhecimento prático sobre como tratar relacionamentos saudáveis ou questões sexuais ligadas à nossa condição caída. A única coisa de que eu tinha certeza era que as mulheres da minha igreja não se sentiam à vontade para discutir as coisas sobre as quais eu precisava conversar.

Recentemente, quando comecei a abordar timidamente tópicos sobre sexualidade com mulheres da minha idade, descobri que estamos todos desesperados por conselhos sábios sobre nossos corpos, sobre o casamento e sobre a feminilidade piedosa. Também descobri que a maioria de nós não acha que existam muitas mulheres na igreja com quem a gente se sente seguro para discutir esses tópicos.

Quando comecei a namorar, percebi que homens da minha idade também estão à procura de ajuda. Os homens da Geração Z estão em busca de ajuda para lidar com questões sexuais ligadas à nossa condição caída, e anseiam por orientação masculina quando pensam em casamento e paternidade.

Como Cristo disse: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mateus 9.37). A geração mais velha pode apoiar melhor a Geração Z preocupando-se o suficiente para superar o seu próprio constrangimento em relação a estes tópicos e promovendo conversas francas com a geração mais jovem. O mundo secular tem muito a dizer sobre o que significa ser homem ou mulher no mundo moderno. A cultura popular não é tímida quando se trata de sexo, portanto, a igreja também não deveria ser.

Os cristãos da Geração Z querem e precisam que os cristãos mais velhos sejam honestos sobre o que significa ser uma mulher de Deus. O que é preciso para superar o vício sexual. O que significa ter um casamento centrado em Cristo. Não é uma questão de saber se a geração mais jovem aprenderá ou não sobre casamento, sexo ou prazer. É uma questão de quem está ensinando isso. Meu apelo aos cristãos que vieram antes de mim é: por favor, que o professor seja você.

Olivia Voegtle é escritora, musicista e editora freelance que mora na cidade de Nova York. Ela fez seu bacharelado em Inglês no The King's College.

Não podemos permitir que diferenças entre gerações impeçam a nossa “irmandade espiritual”.

Os crentes mais velhos que tentam apoiar a Geração Z não deveriam estar pensando em como podem adaptar melhor os seus métodos de discipulado e suas estratégias de ministério à cultura jovem. Isso logo parece artificial e indulgente. Em vez disso, pensem: como os crentes mais velhos podem ser construtivos para a cultura da Geração Z?

Grande parte da conversa sobre as diferenças entre as gerações gira em torno de como o distanciamento é irreparável. E se os cristãos fossem um grupo demográfico que contrariasse essa tendência? O que tantos crentes da Geração Z procuram é não serem mais vistos como crianças, mas sim receberem uma dose de respeito. Não o tipo de honra conquistada por profissionais, professores ou políticos ― mas o respeito que naturalmente se atribui aos adultos.

Uma forma eficaz de respeitar alguém, mas muitas vezes esquecida, é considerá-lo digno de amizade. Muitas vezes, os cristãos mais velhos querem “discipular” os mais jovens sem ter qualquer tipo de relacionamento pré-existente. Os jovens cristãos não querem ser discipulados por qualquer cristão mais velho, mas sim por alguém que eles queiram imitar. Como eles podem saber se querem imitar alguém sem nem conhecer essa pessoa?

Se estivermos conscientes do fato de que somos todos irmãos e irmãs em Cristo, há espaço para que pessoas separadas por uma, duas ou até três gerações sejam verdadeiramente amigas. Quando as gerações mais velhas encaram uma ligação com alguém da Geração Z como uma oportunidade de serviço ou de evangelização, isso muitas vezes deixa a geração mais jovem na posição de alguém digno de pena, humilhado, e até mesmo igualado a um projeto (1Timóteo 4.12). Muito melhor seria se a geração mais velha de cristãos pudesse olhar para a Geração Z como seus irmãos e irmãs em Cristo; como sua própria família (1Timóteo 5.1-2; Efésios 3.19-22; Gálatas 6.10; Tito 2.1-8).

Não seria irracional nem inimaginável, mas, na cultura de hoje, esta amizade entre gerações certamente não seria convencional. Na prática, compartilhar um café, refeições e conversas autênticas são formas de promover esta “irmandade espiritual” (1Pedro 4.9). Imagine a influência que emanaria de uma igreja que pudesse promover com sucesso esse tipo de relacionamento. A vida não apenas com pares ou iguais, mas com irmãos, pais, primos, tias, tios espirituais — com uma família espiritual que seja um reflexo do reino.

Elijah O’Dell é pregador associado e líder de louvor; ele mora no Centro-Oeste dos EUA.

Em Tito 2, Paulo incentiva homens e mulheres de Deus não só a viverem de acordo com a Palavra de Deus, mas também a ensinarem, treinarem e encorajarem os crentes mais jovens a viverem a vida para a qual Deus os chamou.

Quando os crentes da Geração Z florescem espiritualmente, esse florescer não permanece em suas igrejas ou em seus ministérios universitários. Estende-se para além dos seus círculos cristãos, plantando sementes da Palavra de Deus entre as pessoas ao seu redor. A orientação espiritual não apenas fortalece um jovem cristão, mas também equipa o jovem crente a compartilhar amor e sabedoria com os incrédulos ao seu redor, fazendo com que sejam como faróis de luz e verdade para o evangelho.

Em Mateus 5.16, Jesus diz: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. Quando vivem o amor, a santidade e a justiça de Cristo, os crentes alcançam o mundo.

Se não houver companheirismo e amizade genuína entre os crentes mais velhos e a Geração Z, os crentes jovens perderão encorajadores exemplos do poder de Deus.

Hannah Davis está no último ano da faculdade, onde estuda língua inglesa. Ela passou o verão passado na África do Sul, em um estágio de jornalismo cristão.

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O escândalo da mente evangélica é feminino

A Sociedade Teológica Evangélica dos EUA elege sua primeira presidente mulher. Mas como anda a vida intelectual das mulheres sentadas nos bancos da igreja?

Christianity Today January 2, 2024
Illustration by Mallory Rentsch / Source Images: WikiMedia Commons

O escândalo da mente evangélica é rosa.

Ou, sendo menos dramática, há outro escândalo da mente evangélica que ainda não recebeu a atenção que requer ― além daquele amplamente reconhecido, que foi introduzido pelo livro histórico de Mark Noll e que tem sido, com toda justiça, tema de conversas durante os 30 anos desde então. Eu me refiro ao escândalo da vida intelectual das mulheres cristãs, algo que está apenas se tornando mais intenso, mesmo quando colocado ao lado de marcos históricos como a eleição da primeira mulher para o cargo de presidente da Sociedade Teológica Evangélica dos EUA (em inglês, ETS).

Afinal de contas, falar sobre as mulheres na ETS, embora seja algo importante, é assunto que diz respeito a muito poucas mulheres — ou seja, diz respeito àquelas que estão no meio acadêmico e que, portanto, participam deste tipo de contexto. Mas e quanto à grande maioria das mulheres cristãs, aquelas cuja vocação principal situa-se fora dessa torre de marfim?

Seria fácil transformar nossa conversa em um lamento pelas portas fechadas para acadêmicas talentosas, que teriam sido excelentes acadêmicas, se esse caminho estivesse aberto para elas. Podemos considerar Dorothy Sayers um exemplo particularmente famoso. Ela resolveu seu próprio escândalo da mente evangélica com uma brilhante carreira intelectual fora da academia. Ela também se viu em uma situação lamentável, na qual se sentiu forçada a escolher a carreira, em vez da maternidade.

Ainda assim, a história dela nos lembra que, em qualquer momento que seja da história mundial, apenas a mais minúscula fração de mulheres cristãs pôde ser acadêmica. As mulheres comuns tiveram que descobrir uma maneira diferente de amar a Deus com toda a sua mente.

Até hoje, há algo que não vi ser suficientemente reconhecido como uma importante realidade: as mulheres, casadas ou não, mães ou não, enfrentam um escândalo intelectual diferente daquele dos homens. Sim, Deus ordena que todos nós o amemos de todo o nosso entendimento, bem como de todo o nosso coração, de toda a nossa alma e de toda a nossa força (Lucas 10.27). Mas isto pode significar para as mulheres algo diferente do que significa para os homens.

As razões para essa diferença são particularmente óbvias e visíveis no caso das mães, que podem passar aproximadamente 1.800 horas amamentando um bebê, em seu primeiro ano de vida — uma programação que tem impactos enormes sobre as atividades intelectuais das mulheres, assim como sobre outras atividades também. Mas as mães que amamentam não são as únicas mulheres cuja vida intelectual cristã será quase que certamente diferente da dos homens, mesmo que em circunstâncias semelhantes. No entanto, as discussões sobre o “escândalo da mente evangélica” têm sido voltadas decididamente para o universo masculino, tal como as soluções sugeridas.

O trabalho intelectual tem tradicionalmente dependido de um amplo pessoal de apoio, que historicamente tem sido bastante influenciado pelo gênero. Quem sempre fez o trabalho intelectual foram os homens, enquanto quem sempre prestou o apoio necessário — com o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos, mas também secretariando e dando assistência à pesquisa — foram as mulheres. O teólogo Karl Barth, que tinha esposa e uma secretária que morava na mesma casa (e que, provavelmente, foi sua amante), é um exemplo extremo deste fenômeno em ação. Ele é, no entanto, um lembrete dos custos para o ser humano de uma produção intelectual impressionante.

Isto levanta a seguinte questão: Como podem as mulheres evangélicas de hoje, isto é, aquelas que não são acadêmicas pertencentes à ETS, perseguir uma vida intelectual frutífera e satisfatória que nos leve a conhecer Deus mais profundamente? Tenho três breves recomendações a fazer, cada uma delas voltada para um público-alvo diferente e que se movem em uma ordem de círculos concêntricos, que vão do nível pessoal para a igreja local e, então, para a cultura evangélica em geral.

Primeiro, para mulheres como eu, que anseiam por uma comunidade intelectual, mas não fazem parte da academia tradicional, talvez o conselho mais importante que eu possa dar seja este: Encontre uma rede de mulheres cristãs com ideias semelhantes, cujo cultivo da vida intelectual terá semelhanças com as suas práticas pessoais.

Há uma boa razão por que os Inklings, aquele famoso grupo de escritores que incluía C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, continuam a fascinar tantos de nós: esse grupo permitiu que gigantes da literatura influenciassem a escrita uns dos outros, lessem obras em andamento uns para os outros e, em geral, torcessem uns pelos outros. (Bem, esta última parte foi verdade na maior parte do tempo pelo menos — exceto quando Tolkien odiou os livros de Nárnia de Lewis.)

Claro, os Inklings eram um grupo de acadêmicos do sexo masculino que se reuniam em um pub local. (Sayers, notoriamente, não foi incluída no grupo, embora ela fosse contemporânea deles, além de escritora e amiga de Lewis.) Mas o sucesso dos membros desse grupo mostra até que ponto aqueles de nós que perseguem empreendimentos intelectuais criativos precisam de uma comunidade para florescer. Para a maioria das mulheres, especialmente para as mães, essa comunidade provavelmente não se parecerá com as reuniões promovidas pelos Inklings. Não consigo sequer marcar um encontro em uma cafeteria com ninguém por mais de 20 minutos. (Já escrever no Burger King, no entanto, é uma história diferente ― que eu altamente recomendo.)

No meu caso, não encontrei essa rede intelectual de forma local, mas ela me encontrou de forma orgânica, tanto quanto eu a encontrei, através do que, na época, chamava-se Twitter. Foi lá que me conectei com várias outras mães cristãs, que são adeptas da educação em casa, e que também são leitoras e escritoras nas horas vagas de seus dias.

Esta comunidade informal nos permitiu celebrar cada conquista com pleno conhecimento do quanto custa concluir um ensaio ou um livro tendo pouca ou nenhuma ajuda no cuidado com os filhos. Acabamos por descobrir que há algo particularmente encorajador em saber que você não está sozinha em suas metas intelectuais.

Se você for poeta ou escritora, encontre outras mulheres cristãs que escrevam sobre temas semelhantes. Se for uma artista, encontre outras artistas cristãs. Se for uma musicista, encontre outras mulheres cristãs que também sejam. Podemos lamentar a natureza desconectada das nossas vidas nesta era digital, mas uma fruta, mesmo em conserva, é melhor do que nada.

No entanto, as mulheres não devem ser as únicas responsáveis pelo cultivo dessas redes e estruturas necessárias para se perseguir uma vida intelectual teologicamente robusta. Por isso, meu segundo conselho aqui é uma exortação dirigida aos pastores: incentivem o florescimento da vida intelectual das mulheres em sua igreja.

Isso pode significar garantir que haja estudos bíblicos ou estudos de outros livros para mulheres, durante horários regulares de aula. Agende esses horários tendo em mente seu público-alvo específico: existe um horário em que as mães que fazem educação em casa possam comparecer? E as mulheres que trabalham das nove às cinco da tarde — ou que têm horas de trabalho menos previsíveis ou que trabalham na área médica? E as mães solteiras? Priorize oferecer alguém para tomar conta das crianças.

Estas aulas também podem ser menos focadas no estudo e abertas para mulheres de fora da igreja. Em seu livro de memórias, All My Knotted-Up Life, a famosa professora de estudos bíblicos, Beth Moore, descreve como usou suas aulas de aeróbica na igreja como um ministério, no início dos anos 1980. Podemos nos alegrar com o fato de a moda das aulas de aeróbica estar seguramente morta e enterrada, com toda a sua ignomínia em lycra, mas não devemos ignorar este ponto importante: Moore, em última análise, via todas as aulas que ela ministrava como uma forma de ensinar sobre Jesus, promovendo a vida intelectual das mulheres lado a lado com a saúde do corpo.

Uma advertência deve ser observada: existe o perigo de tais reuniões se tornarem principalmente encontros sociais. Há uns 6 anos, quando meu segundo filho era ainda bebê, eu quis me juntar a um grupo local de Mães de crianças em idade pré-escolar (em inglês, MOPS). Desisti, ao saber que uma parte significativa do tempo de cada reunião seria dedicada a artesanato. Odeio artesanato com todas as fibras do meu ser sem talento, e fiquei desapontada porque esse tempo reservado a cada semana, que poderia ter sido dedicado a algo intelectual, estava sendo gasto em algo que decididamente nada a tinha a ver com o intelecto.

Em retrospecto, eu deveria ter tido uma atitude melhor, pois, evidentemente, a socialização tem seu lugar. Ainda assim, ouvi muitas queixas de outras mulheres ao longo dos anos sobre a dieta intelectualmente anêmica que frequentemente é oferecida em grupos de mulheres — até mesmo em estudos bíblicos para mulheres. Suspeito que as mulheres cristãs desejam participar de estudos e de discussões muito mais rigorosos intelectualmente do que sugerem os estereótipos presentes nas igrejas.

Esta observação se conecta ao meu terceiro e último ponto, que é uma exortação em prol de uma mudança de cultura mais séria: os evangélicos, assim como o restante dos americanos nos dias de hoje, devem reconhecer que a maternidade em si é uma atividade intelectualmente rigorosa que se beneficia — e que, na verdade, requer — uma vida intelectual robusta.

Talvez a cultura evangélica esteja sofrendo com o peso residual do conselho dado pelo desonrado ministro Bill Gothard de que faculdade para as mulheres é um desperdício; ou, talvez, assim como os americanos em geral, estejamos sob a influência da atual profissionalização de todos os aspectos da vida, aqui incluindo a educação de filhos. Seja qual for a causa, parece que hoje em dia muitos americanos consideram que atividades tradicionais das mulheres, como a maternidade e o trabalho doméstico, são algo intelectualmente sem valor.

Num recente painel de discussão sobre maternidade e atividade criativa, a escritora e editora católica Haley Stewart lembrou de ter ouvido — nada menos do que pela boca de uma mulher acadêmica — que a maternidade não passava de uma escravidão intelectual, e que “um cachorro poderia cuidar” do bebê de um ano e meio de Stewart.

Como uma mãe que se dedica a educação em casa e que tem um doutorado, eu discordo. E não estou sozinha entre as mães que têm grau avançado de instrução e que veem a maternidade e, em alguns casos, a educação em casa como atividades maravilhosamente intelectuais. Não apenas ensinamos aos nossos filhos o que sabemos, mas também cultivamos diariamente a curiosidade [intelectual] aprendendo juntos.

Também não estou sozinha entre as mulheres cristãs — sejam mães ou não, sejam elas pessoas que trabalham ou não nessas atividades tradicionalmente femininas — que anseiam por mais discussões intelectuais e por mais instrução teológica do que a que temos prontamente disponível. Em última análise, somos todas teólogas, e hoje ainda somos chamadas a fazer o mesmo que as mulheres no sepulcro, em Marcos 16: Ide e proclamai o Messias ressuscitado a todos os que têm ouvidos para ouvir.

Nadya Williams é autora de Cultural Christians in the Early Church. Seu próximo livro, Priceless, será publicado pela IVP Academic. Ela é editora de resenhas de livros da Current , onde também edita o blog The Arena.

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Não, a oração não é uma conversa nos moldes tradicionais

Mesmo no Novo Testamento, conversar com Deus é algo acima de tudo unilateral. Mas ele responde.

Christianity Today January 2, 2024
Flickr

“Você não está me ouvindo!” Minha filha Emma e eu estávamos conversando sobre um assunto delicado: por que Deus ordenou a Israel que matasse os inimigos cananeus.

“Não diga que não estou ouvindo você, pai. Eu estou, sim. É você que fica repetindo a mesma coisa e não entendo o que está dizendo.”

Ela estava certa. Eu havia presumido que um modelo simples de comunicação — que aprendi na faculdade, quando estudava oratória — era suficiente. O modelo funciona da seguinte forma:

• Eu (o emissor) tenho uma ideia (algo que os gregos chamavam de logos);

• Utilizo palavras (rhemata) para expressar a minha ideia;

• Você (o receptor) ouve as minhas palavras (rhemata) e, agora, tem a mesma ideia (logos) que eu tenho.

Mas um diálogo não funciona assim. Não pode reduzir-se a um emissor que transmite ideias a um receptor. Existem muitas variáveis que geram interferências: a má dicção, a comunicação não verbal, ruídos do ambiente, histórias pessoais, diferenças culturais. Apenas ficar repetindo as mesmas palavras continuamente — e acreditar que a má compreensão é culpa exclusiva do receptor — é uma abordagem ingênua à comunicação. E também pode levar a uma conversa frustrante.

Tudo isso me levou a pensar na oração, algo que muitos evangélicos descrevem como uma conversa com Deus. Será que oração é isso mesmo?

Para ser bem honesto, em sua maioria, as minhas orações são monólogos. Digo a Deus o que estou pensando, e, então, meu tempo de oração termina. A comunicação flui em uma direção só. E, na maioria das vezes, sequer verbalizo minhas orações. Eu simplesmente lhe ofereço as palavras que estão em minha mente. Isso, evidentemente, não é um obstáculo para Deus. Ele já conhece meus pensamentos (Salmo 139.4). E se Deus pode ler minha mente, não preciso me preocupar com a possibilidade de ele me entender mal.

Mas, se o Deus da Bíblia que revela a si mesmo é um emissor, e não apenas um receptor, como ele nos “responde”? Alguns dizem que ele coloca pensamentos em nossa mente. Outros dizem que ele direciona nossa atenção para certas partes das Escrituras, onde, então, ele se comunicará conosco mais diretamente. Embora seja possível que Deus se comunique conosco dessas maneiras, não é assim que ele se comunica no Novo Testamento.

A comunicação verbal de Deus

A Bíblia não usa uma linguagem de conversação quando trata de oração. Em vez disso, na maioria das vezes, a Escritura descreve a oração como louvor, lamento, ação de graças, confissão e petição ―, ou seja, como ações unilaterais.

Mas nem sempre a comunicação é unilateral. Depois que Jesus orou para que o Pai glorificasse seu nome, “veio uma voz do céu” e disse: “Eu já o glorifiquei e o glorificarei novamente” (João 12.28). Alguns na multidão interpretaram o som como um trovão, enquanto outros disseram que era a voz de um anjo (v. 29). Jesus não identificou especificamente Deus como a fonte daquele som, e simplesmente se referiu a ele como “esta voz” (v. 30). Em outras ocasiões, no entanto, uma voz vinda do céu foi interpretada como algo que tinha vindo diretamente de Deus (Mateus 3.17; 17.5; Apocalipse 4.1).

Quando Paulo orou para que Deus lhe removesse o espinho da carne, o Senhor respondeu: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Coríntios 12.8-9). Se Paulo ouviu uma voz de fato audível ou simplesmente sentiu a resposta de Deus de alguma forma espiritual ou mental, não sabemos. Mas é possível que Deus tenha falado com ele verbalmente. Afinal, Paulo já tinha ouvido uma voz vinda do céu falar com ele, no caminho para Damasco (Atos 9.3-6). E, de todos os exemplos que temos no Novo Testamento em que Deus responde, a experiência de Paulo em Jerusalém é a que mais se aproxima da oração como um diálogo, uma conversa (Atos 22.17-22). Paulo estava orando e Jesus ordenou-lhe que saísse de Jerusalém para escapar da perseguição. Ao que Paulo basicamente respondeu que sair de Jerusalém não seria suficiente. Pois ele seria reconhecido pelas pessoas nas sinagogas de toda a região. Jesus, então, respondeu: “Vá, eu o enviarei para longe, aos gentios”.

Ocasiões deste tipo no Novo Testamento, no entanto, são raras — mesmo nos casos de Jesus e de Paulo.

Exemplos de pessoas que se voltam para a Bíblia durante a oração são ainda mais raros no Novo Testamento. Isso não significa, contudo, que as Escrituras não tenham informado as orações dos primeiros cristãos.

Depois que o Sinédrio prendeu, interrogou e libertou Pedro e João, os membros do “Caminho” levantaram a voz em oração e citaram os Salmos, enquanto conversavam com Deus (Atos 4.23-30). Mas o que Lucas descreve aqui difere da prática comum nos dias de hoje de orar a Deus com a Bíblia aberta e buscar passagens das Escrituras para ouvi-lo responder.

Na época do Novo Testamento, a maioria das pessoas não tinha seu próprio exemplar das Escrituras. As pessoas tinham de frequentar a sinagoga ou ir ao templo para ouvir alguém ler as Escrituras. E os adoradores faziam mais do que apenas ouvir; eles recitavam porções das Escrituras e cantavam Salmos. A Palavra de Deus estava escrita em seus corações. É por isso que os primeiros crentes eram capazes de recitar passagens das Escrituras quando oravam. Para eles, as Escrituras eram mais um auxílio para as palavras que dirigiam a Deus do que uma resposta específica de Deus ao seu pedido imediato.

E assim permanece para nós, nos dias de hoje. Recentemente, durante um procedimento cirúrgico de rotina pelo qual minha filha Grace passou, eu me vi orando e me lembrei dos versos de um cântico inspirado nas Escrituras: “Senhor, tu és mais precioso que prata. Senhor, tu é mais valioso que ouro. Senhor, tu és mais belo que diamantes, e nada do que desejo se compara a ti.” Foi como se o próprio Espírito estivesse “dizendo palavras de sabedoria” para voltar meu coração para ele e me consolar (Provérbios 3.14-15).

Respostas além das palavras

Se quisermos compreender até que ponto a oração é conversação, devemos contemplar a atividade do Espírito Santo. Como Paulo disse: “Não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26).

Não é incomum, no discurso social, que as pessoas respondam a notícias devastadoras com a expressão “Não tenho palavras para descrever… ”. Às vezes, a comunicação não verbal fala de maneira mais poderosa. Por exemplo, os lamentos de uma mãe cujo bebê morreu ou de um pai que perdeu um filho em um acidente de carro falam por si mesmos. E se você já tentou consolar um ente querido em uma situação dessas, descobriu que as palavras costumam causar mais dor. A comunicação não verbal ― um abraço ou simplesmente estar ali presente ― é o que realmente conforta.

Assim como nós, às vezes, não sabemos como responder aos outros, também não é sempre que sabemos como orar. Às vezes, quando não tenho energia ou fé para orar, tudo que posso fazer é gemer, sabendo que Deus entende minha frustração e minha dor. Segundo Paulo, este é o tipo de oração que o Espírito inspira em nós. A oração, portanto, não está vinculada a uma linguagem humana inteligível. Deus não só entende como também inspira a comunicação não verbal.

E talvez seja assim que Deus se comunica conosco com mais frequência. A oração respondida — quando as coisas saem de acordo com o que pedimos — é uma forma de comunicação divina não verbal. A oração de petição pressupõe que Deus ouve nossos apelos e atenderá às nossas respectivas necessidades. Ele pode não responder com palavras, mas ele responde.

O Novo Testamento está repleto de exemplos de comunicação divina não verbal. Quando os onze apóstolos perguntaram a Deus quem deveria substituir Judas Iscariotes, a sorte recaiu sobre Matias (Atos 1.24-26). Quando a igreja primitiva orou por coragem para enfrentar a perseguição, Deus fez tremer o lugar em que estavam reunidos e os encheu novamente com o seu Espírito (Atos 4.29-31). Quando, em resposta à oração, Deus enviou um anjo aos crentes para lhes dar instruções e prometer dons (Lucas 1.11-17; Atos 10.1-8).

Se encararmos a oração como um diálogo verbal, não resta dúvida de que ficaremos desapontados. Mas se percebermos que Deus responde as orações de forma não verbal, começaremos a ver o seu amor e a sua fidelidade de novas maneiras. Mesmo assim, muitas vezes entendemos mal suas pistas não verbais. Deus diz que nos ama, mas nem sempre sentimos o seu amor. Muitas pessoas oram: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, mas, ainda assim, continuam morrendo de fome. Jesus pregou: “O reino de Deus está próximo” (Marcos 1.15), mas onde está a justiça? E quando Jesus bradou na cruz: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Marcos 15.34), o céu ficou em silêncio. Então, escureceu e o chão tremeu. Deus parecia zangado.

A resposta divina, a resposta definitiva de Deus ao mal, à injustiça, ao pecado e à morte — a que poderíamos chamar de epítome da comunicação divina não verbal — é o Cristo ressuscitado. “Por seu poder, Deus não só ressuscitou o Senhor”, disse Paulo, “mas também nos ressuscitará” (1Coríntios 6.14). Podemos ser tentados a acreditar que o mal, o sofrimento e a morte provam o silêncio de Deus. Mas eles são meros ruídos ambientais que um dia serão silenciados de uma vez por todas. Deus terá a última palavra, quando nos ressuscitar dos mortos, quando formos a personificação de orações respondidas.

Até lá, oremos sem cessar: “Vem, Senhor Jesus” (1Coríntios 16.22; Apocalipse 22.20). Deus entende as nossas circunstâncias e nunca se cansa de conversar [conosco] (Lucas 18.1-5), pois foi ele próprio quem deu início a essa conversa (João 1.1-14).

Rodney Reeves, reitor do Courts Redford College of Theology and Ministry e professor de estudos bíblicos na Southwest Baptist University, é autor de Spirituality According to Paul: Imitating the Apostle of Christ (InterVarsity Press).

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Advento para corações desolados

A esperança da união que nos ajuda a perseverar hoje.

Christianity Today December 27, 2023
Phil Schorr

Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou". Aquele que estava assentado no trono disse: "Estou fazendo novas todas as coisas! " E acrescentou: "Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança".

Apocalipse 21.4-5

A época do Natal nem sempre é alegre e animada. Na verdade, ela pode vir carregada de mágoa, tristeza, lágrimas e dor. Eu entendo isso de perto. Desde 30 de junho de 2021, essa época do ano, para a minha família, tem sido marcada por lágrimas e tristeza. Naquele dia, nossa filha de 20 anos morreu em um trágico acidente de carro, enquanto voltávamos juntos das férias. Em questão de segundos, nossa primogênita nos foi tirada.

A morte é nossa inimiga. Odeio a morte — estou cansado de lágrimas. E, no entanto, se aquele dia de junho é o dia da minha maior tristeza, então, Apocalipse 21 é a minha maior fonte de esperança e de consolo. E pode ser a sua também.

Em suas palavras, encontramos a certeza da vitória eterna que Jesus garantiu ao seu povo. O amoroso Pastor enxugará dos nossos olhos toda lágrima e erradicará o pecado, a morte e o diabo para sempre. Essa é a nossa recompensa futura e o destino de todos aqueles que são pessoas de fé.

O escopo do evangelho de Jesus Cristo não se limita à salvação de nossas almas. Inclui a restauração e a redenção de tudo o que foi perdido na queda do homem, em Gênesis 3. Essa restauração envolverá um novo céu, uma nova Jerusalém e corpos aperfeiçoados que serão ressuscitados para habitar em uma nova terra gloriosa. Aguardamos ansiosamente a transformação de todo o universo.

A visão do que está por vir, captada em Apocalipse 21, será nova em qualidade e superior em caráter àquela que temos agora. Assim como o texto prediz o fim do mundo que hoje conhecemos, imediatamente também fala da chegada de um novo e magnífico começo. Esta nova terra é o lugar em que o reino de Cristo será revelado em sua plenitude; onde o próprio Deus reinará como único Rei sobre tudo, e habitará em paz e poder entre o seu povo.

Esta é a essência da salvação: um relacionamento íntimo e pessoal com o próprio Deus, que não tem fim e que é para todo o sempre. Não haverá necessidade de partidos políticos opostos e de divisões denominacionais, pois todos seremos reunidos para adorá-lo e servi-lo, para governar e administrar com ele. Não haverá mais morte. Haverá um trabalho com propósito a realizar, família e amigos para desfrutar, sem medo de uma separação, e uma eternidade de aprendizado e e de descobertas. Será uma realização contínua do nosso anseio mais profundo de união com Deus e de uns com os outros.

A esperança desse grande dia me ajuda a perseverar hoje, mesmo quando a tragédia que aconteceu em nossa família e a tristeza na época do Natal parecem insuportáveis. Nosso Senhor chegou com grande humildade naquele primeiro Natal, mas retornará novamente em vitória absoluta. A poderosa visão dada ao apóstolo João, no livro de Apocalipse, termina com o Senhor dizendo: Sim, venho em breve! Ao que João responde, juntamente com todos os corações tristes: Amém. Vem, Senhor Jesus!

Para refletir



Como a promessa de Apocalipse 21.1-6 dá esperança aos que sofrem durante a época do Natal?

Como a antecipação do novo céu e da nova terra podem influenciar a nossa perspectiva sobre os desafios do presente?

Craig Smith é o pastor principal da The Vail Church.

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O que fez esta ‘Epifania’ se destacar?

A revelação única do Advento para todas as pessoas.

Christianity Today December 26, 2023
Phil Schorr

Quando tornaram a ver a estrela, encheram-se de júbilo. Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra.

Mateus 2.10-11

A história dos reis magos tem um sentido especial de mistério e alegria, e há muito tempo é celebrada pelos cristãos em um dia de festa especial chamado Epifania. A palavra grega epipháneia significa “brilhar” ou “revelar”. É claro que a Bíblia está repleta de grandes epifanias: a sarça ardente — que fez com que Moisés se voltasse e encontrasse a Deus — foi uma epifania; a visão de Isaías — no capítulo 6, do “Senhor exaltado” — foi uma epifania; os céus que se abriram no batismo de Jesus foram uma epifania. Então, como é que este momento específico do evangelho de Mateus passou a ser chamado de epifania? A resposta está na grande importância desse fato para nós, que somos descendentes de gentios — aqueles que não nasceram como parte do povo judeu, o povo escolhido original.

Às vezes, ler o Antigo Testamento é como ouvir a longa história da família de outra pessoa, e faz você se perguntar o que isso realmente tem a ver com você. Mas, de repente, você ouve seu próprio nome e percebe que esta é a sua história também. Isso é o que acontece no momento em que os reis magos encontram o menino Jesus. Até ali, a história da vinda do Messias estivera confinada a Israel, o povo da aliança; mas, então, de repente e de forma misteriosa, três gentios intuíram que o seu nascimento era uma boa-nova também para eles e, assim, trouxeram presentes ao menino Jesus. Temos aqui uma epifania, uma revelação de que o nascimento de Cristo não é um pequeno passo para uma religião local, mas sim um grande salto para toda a humanidade. Jesus veio para todos nós, gentios e judeus!

Adoro a forma como os três reis magos são tradicionalmente retratados como representantes das diferentes raças, culturas e línguas do mundo. Adoro a forma como o mundo, em toda a sua diversidade, é captado no caráter de diligência e alegria dos reis magos. Eles “buscam diligentemente”, mas se regozijam “com grande alegria” (KJV). Adoro a maneira como eles seguem a estrela, permitindo que ela os leve para algo além de si mesma. Aqui está um soneto que procura expressar um pouco do que essa história pode significar para nós:

Poderia ter sido apenas a história de outro alguém, De algum povo escolhido que ganha um rei especial. Nós os deixamos com a própria glória que lhes é peculiar, Nós não pertencemos [a essa história], não significa nada [para nós]. Mas quando chegam esses três, Eles nos levam com eles, São gentios como nós, e sua sabedoria pode ser a nossa; Passos firmes que encontram um ritmo interior, Um olhar de peregrino que enxerga além das estrelas. Eles não sabiam o nome dele mas ainda assim o buscaram, Vieram de outras paragens mas ainda assim eles encontraram; Nos templos, encontraram aqueles que o venderam e o compraram, Mas, no estábulo imundo, o solo sagrado. Sua coragem dá voz aos nossos corações que buscam [nos dá voz para] Buscar, encontrar, adorar, alegrar-se. Este soneto, “Epiphany”, foi extraído de Sounding the Seasons (Canterbury Press, 2012) e usado com a permissão do autor.

Para refletir



A combinação de diligência e alegria demonstrada pelos reis magos é notável. Refletindo sobre o exemplo deles, de que modo podemos cultivar um equilíbrio entre a busca diligente e a alegria jubilosa em nossa própria busca por Cristo?

Malcolm Guite é ex-capelão e membro emérito no Girton College, Cambridge. Ele dá aulas e palestras sobre teologia e literatura.

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Há uma luz que muda tudo

O verdadeiro presente de Natal

Christianity Today December 25, 2023
Phil Schorr

Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz.

Isaías 9.6

A época do Natal está chegando! Para meus filhos, isso significa a expectativa dos presentes. Acho que eles começam a fazer suas listas no dia 26 de dezembro do ano anterior. Eles ficam ansiosos e por meses e meses falam sobre os presentes do próximo Natal.

Quando os presentes finalmente chegam, são recebidos com diversas reações — algumas mais entusiasmadas do que outras. Mas a única coisa que nunca falha é esta: depois de cerca de uma hora, meus filhos estão fazendo algo completamente não relacionado aos presentes pelos quais esperaram durante o ano inteiro. Em última análise, os presentes deste mundo, ainda que maravilhosos, não nos satisfazem. Eles nos deixam querendo algo mais. Mas há um presente que verdadeiramente satisfaz. Um presente que continua sendo oferecido. Um presente que nunca nos decepcionará, que nos sustentará e que estará sempre disponível para nós. Esse presente é Jesus, a Luz do Mundo.

Isaías profetiza sobre um bebê que salvará o mundo. Este anúncio surpreendente foi feito a um povo rebelde, numa época de trevas. Havia guerra e apreensão. Não havia paz a ser encontrada. As trevas eram palpáveis e iam além até mesmo das circunstâncias em que Israel se encontrava. As trevas que experimentavam também eram de natureza espiritual; é a escuridão que todos experimentamos antes de conhecermos o Salvador.

Jesus cumpre as promessas do Antigo Testamento sobre a luz vindoura de Isaías 9.2: “O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz.”

Essa era a promessa das boas-novas tanto para Israel quanto para nós hoje. A Luz do Mundo veio e, se a seguirmos, também andaremos na luz — teremos a luz da vida (1João 1.7; João 8.12). Não precisamos temer a destruição, pois recebemos a luz e a verdade, e não andaremos mais nas trevas. Podemos ser honestos e vulneráveis. Não há necessidade de nos escondermos de Jesus — não conseguiríamos, mesmo que tentássemos —, pois ele veio para nos trazer luz e alegria. A profecia de Isaías vai além da luz, vai até a vitória. Haverá vida gloriosa, alegria e vitória para o povo de Deus (Is 9.3-5). E recebemos tudo isso porque “um menino nos nasceu, um filho nos foi dado” (v. 6).

Os problemas do antigo Israel são os mesmos que temos hoje: rebeldia, guerra, ira e conflito. A escuridão é a mesma. E, se entendermos isso, a dádiva e a beleza da luz ficarão muito mais brilhantes.

Todos nós precisamos da esperança do Natal — a esperança de um bebê que nasce para trazer uma grande luz. Todos nós precisamos de Jesus tanto quanto o antigo Israel precisava, tanto quanto toda a humanidade precisa. Igualmente. Cada um de nós. Você e eu precisamos de Jesus, hoje, amanhã e sempre. Podemos apreciá-lo e viver com ele na luz, aqui e agora.

Para refletir



Os presentes deste mundo podem nos deixar insatisfeitos e querendo mais; mas como você descreveria a satisfação e a realização que experimentou, que fluem de conhecer a Jesus?

Como você pode abraçar ativamente a esperança do Natal e a presença de Jesus em sua vida cotidiana?

Trillia Newbell é autora de vários livros, entre eles 52 Weeks in the Word. Ela apresenta o programa de rádio Living By Faith e é diretora de aquisições da Moody Publishers.

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A surpreendente estratégia do anúncio de Deus

Uma visão diferente de uma chegada gloriosa.

Christianity Today December 24, 2023
Phil Schorr

Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: "Não tenham medo. Estou lhes trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo…"

Lucas 2.8-10

O nascimento de Cristo nos surpreende.

E não apenas o nascimento em si, mas a forma como Deus decidiu apresentar ao mundo o nascimento do seu Filho. Sem um plano de marketing milionário, sem campanha nas redes sociais, sem anúncios na TV paga em horários nobres; o Senhor escolheu um grupo de ingênuos pastores para apresentar as boas-novas de grande alegria para todas as pessoas. Imagine quão impressionados esses pobres pastores devem ter ficado, quando uma multidão de anjos do outro mundo lhes apareceu na escuridão da noite, cantando: “Glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre aqueles de quem ele se agrada!” (ESV). Ficamos maravilhados quando consideramos a grandeza deste espetáculo que Deus organizou para tão poucas pessoas com tão pouca influência na cultura.

Mas, então, lembramo-nos de Maria e José, da manjedoura e de alguns animais. Uma cena que faria a maioria dos pais estremecer, se tivesse de contemplar um nascimento tão simples e obscuro. Ao tentarmos visualizar essas coisas, somos lembrados de que a ideia de Deus sobre o nascimento divino do seu Filho não incluía a extravagância e o excesso que teimamos em usar para aparentar influência e importância.

Na economia transcendente de Deus, a humildade é como ele quer que entendamos a piedade, que entendamos o seu Filho. Como descreve Filipenses: “Embora tivesse a forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus algo a que devia se apegar, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo” (2.6-7, ESV).

A surpreendente estratégia do anúncio de Deus provavelmente não será apresentada em livros de liderança, em seminários estratégicos nem em vídeos de influenciadores como sugestão para impulsionar sua marca, ganhar mais seguidores e fazer avançar sua plataforma. Deus faz algo muito mais desconcertante. Ele santifica a nossa compreensão e desvenda os nossos valores de uma forma muito particular, para que o nosso coração bata com uma pulsação cada vez menos sincronizada com os ritmos do mundo. Ele compartilha uma história de origem com acontecimentos peculiares como este, para que, milhares de anos depois, possamos valorizar e ponderar como Maria, e para que possamos voltar como esses pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que vimos e ouvimos.

Você se humilhará como Jesus? Você se deixará ser guiado como esses pastores? Você vai parar de ver sua vida como uma série de circunstâncias aleatórias, frutos do acaso, e abrir seus olhos para as maneiras surpreendentes como Deus age nos momentos banais de sua vida? Olhe ao seu redor, porque a glória do Senhor está brilhando sobre você, para enchê-lo de grande temor, a fim de que você possa experimentar sua grande paz.

Para refletir



O nascimento de Jesus foi anunciado a um grupo de pastores, uma audiência de pessoas marginalizadas e improváveis. Como essa estratégia de anúncio fora do convencional desafia as noções de importância, influência e poder da nosa sociedade?

O anúncio do nascimento de Jesus desafia a nossa percepção de sucesso e as formas como frequentemente buscamos reconhecimento e influência no mundo. Como podemos mudar a nossa perspectiva de modo a reconhecer e a ver momentos comuns da nossa vida como oportunidades para Deus trabalhar e revelar a sua glória?

Ronnie Martin é pastor principal da Substance Church, em Ashland, Ohio. Ele também atua como diretor de renovação de líderes da Harbour Network e é autor de sete livros.

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Uma sinfonia de salvação

A celebração dos anjos é uma antecipação do que está por vir.

Christianity Today December 23, 2023
Phil Schorr

De repente, uma grande multidão do exército celestial apareceu com o anjo, louvando a Deus e dizendo: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor".

Lucas 2.13-14

Em Lucas 2.13, testemunhamos um grupo de anjos suspensos no céu noturno, enquanto cantam uma declaração de louvor pela chegada de Cristo à terra como uma criança. Quão maravilhoso deve ter sido ouvir os brados de celebração que enchiam o ar de forma vibrante, em uma demonstração de honra pelo Deus que se fez carne. Embora possamos apenas imaginar quais sons celestiais encheram o céu daquela noite, uma conhecida peça musical procura nos oferecer um vislumbre [do que foi]: o famoso coro “Aleluia”, do Messias de Handel. Nele, um coro de anjos dá boas-vindas à presença e ao poder de Cristo, acompanhado por uma sinfonia que é apreciada há séculos; uma representação terrena do som daquela noite santa.

A celebração daquela noite, há mais de 2 mil anos, é uma antecipação do que está por vir: a celebração que irromperá quando o Cordeiro, alvo como a neve, sentar-se à cabeceira da mesa, esperando a chegada de sua convidada, a noiva. Em Apocalipse 19, podemos ver paralelos entre o anúncio dos anjos aos pastores, a música em crescendo do Messias de Handel, e a “voz de uma grande multidão” cantando louvores pela consumação de Cristo e da sua igreja:

Aleluia! Pois o Senhor nosso Deus o Todo-Poderoso reina. Vamos nos alegrar e exultar e dar-lhe glória, pois é chegada a hora das bodas do Cordeiro, e sua Noiva já se aprontou; foi-lhe dado para que vista linho fino, brilhante e puro (Apocalipse 19.6-8, ESV)

Nesta passagem, João testemunha o anúncio do casamento celestial definitivo e a chegada da noiva de Cristo, que se adornou com uma série de vestes luminosas, próprias para uma cerimónia celestial. A interseção de Lucas 2 e Apocalipse 19 nos apresenta imagens de Cristo exaltado: primeiro, como uma criança na terra, e, depois, sendo apaixonadamente louvado e aclamado como Rei dos Reis no céu. Ambas as cenas mostram a magnitude celestial pela qual Cristo é reconhecido como supremo e soberano, e cada uma revela uma multidão celestial de adoradores dedicados a dar-lhe glória. Em ambas as passagens, reconhecemos a mesma sinfonia da salvação que proclama a presença e o poder de Jesus. Ao celebrarmos o Advento, somos convidados a abrir espaço para uma santa observação e a reservar tempo para contemplar a maravilha da sua chegada, junto com a glória do seu reinado eterno, participando da mesma sinfonia da salvação.

Para refletir

De que modo a contemplação dessas cenas aprofunda a nossa admiração pela vinda de Cristo e sua união com a igreja?

Quando refletimos sobre o paralelo entre a chegada humilde de Cristo à terra e o seu reinado glorioso no céu, o que isso nos revela sobre a sua natureza e o seu propósito divinos?

Alexis Ragan é uma escritora criativa e instrutora de ESL (inglês para estrangeiros); também é apaixonada por missões globais.

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