A violência doméstica é alarmante no Brasil. Como os pastores devem reagir a ela?

As estatísticas revelam que três em cada dez mulheres no país já sofreram abusos em algum momento da vida. Teólogos e líderes ponderam sobre como transformar as igrejas em lugares seguros para as vítimas.

Uma manifestação no Brasil contra o abuso sexual de mulheres em frente a fotos que mostram as vítimas de abuso.

Uma manifestação no Brasil contra o abuso sexual de mulheres em frente a fotos que mostram as vítimas de abuso.

Christianity Today April 6, 2024
NurPhoto / Getty / Edits by CT

Para muitas mulheres brasileiras que sofreram abusos nas mãos de seu cônjuge, a resposta de líderes da igreja para o seu sofrimento foi Efésios 5.22: “Esposas, cada uma de vocês deve se sujeitar ao seu marido”.

“É a frase mais cruel da Bíblia”, disse uma mulher à jornalista Marília de Camargo César, como lemos em seu livro O grito de Eva. “[Os líderes da igreja] ensinam isso de forma distorcida, sem levar em conta o contexto histórico, as tradições, a cultura”, explica essa mulher, que é identificada no livro apenas como professora Regina.

Três em cada dez mulheres brasileiras sofreram violência doméstica em algum momento da vida. O país registra altos índices de violência contra as mulheres, ocupando o quinto lugar no ranking mundial. No ano passado, uma linha direta de alcance nacional recebeu ligações de uma média de 245 mulheres por dia, que denunciavam algum tipo de violência. Tudo isso em uma nação em que as mulheres representam mais da metade (58%) dos evangélicos.

Acusações recentes de abuso em igrejas norte-americanas geraram discussões na igreja brasileira em torno da questão, mas as igrejas e as denominações têm procedimentos padronizados ou adotaram as melhores práticas para lidar com a violência doméstica. No entanto, em um ambiente no qual muitas vítimas não denunciam a violência por vergonha e medo de retaliação, as igrejas evangélicas têm a oportunidade de ser locais de abrigo e orientação para mulheres feridas.

Tendo em vista essa realidade, a CT convidou seis líderes evangélicos especialistas no assunto para responderem à seguinte pergunta: “O que os líderes devem fazer, quando uma mulher, que é membro de sua igreja, diz que foi vítima de abuso ou violência?”

As respostas foram editadas para fins estilísticos e de maior clareza.

Marília César, jornalista e autora do livro O grito de Eva, São Paulo

A liderança da igreja deve incentivar a pessoa a denunciar e, se possível, acompanhá-la até uma Delegacia da Mulher para fazer o boletim de ocorrência.

Em seguida, deve providenciar pessoas, de preferência mulheres da igreja com experiência nesse tipo de violência, para caminhar junto com a vítima do abuso, dando-lhe apoio emocional e, se necessário, encaminhamento aos profissionais de saúde ou saúde mental adequados.

O criminoso, caso seja membro da comunidade, deve ser exortado pelos pastores e chamado a responder pelos fatos. Há igrejas com trabalhos terapêuticos que reúnem homens para uma espécie de terapia em grupo, para tratar de comportamentos abusivos e relacionamentos tóxicos. Infelizmente ainda são poucas essas iniciativas.

As igrejas precisam promover esse debate mais abertamente e com maior frequência, até que se torne inaceitável para pastores e membros ter de conviver com situações de abuso sexual em suas congregações.

Alex Stahlhoefer, doutor em teologia e professor da Faculdade Luterana de Teologia, São Bento do Sul

A primeira atitude deve ser sempre de acolhimento da vítima. Jesus nos instrui a chorar com os que choram e a sermos consoladores e confortadores. Por isso, antes de lhes perguntar sobre detalhes do ocorrido, devemos oferecer suporte emocional para que ela consiga expressar sua dor, sua aflição e seus medos.

Após o acolhimento, é importante ocupar-se com a rede de apoio. Quem irá oferecer abrigo e segurança para essa mulher? Ela tem condições de voltar para sua casa? Quem irá acompanhar a vítima à delegacia para prestar queixa? É preciso tomar cuidado com o sigilo das informações, pois a vítima já se encontra fragilizada e podemos poupá-la de julgamentos desnecessários de pessoas que não precisam saber do que aconteceu.

Se o abusador for membro da congregação ou líder, a igreja também deve tomar o cuidado para que o acusado de abuso não utilize sua posição de liderança para coagir pessoas a testemunharem a seu favor ou para espalhar boatos sobre a imagem da vítima, a fim de diminuir sua responsabilidade.

Uma igreja séria deve ter um procedimento por escrito, aprovado pela liderança e divulgado entre todos os membros, sobre como a igreja deve proceder em casos de abuso e violência. Criar uma cultura onde a violência não é tolerada e onde as denúncias são levadas à sério ajuda a criar um ambiente saudável e seguro para as mulheres.

Jennifer Carvalho, coordenadora da Missão Imago Dei e do primeiro grupo de estudo de cosmovisão e sexualidade, Natal

Inicialmente, é preciso tomar cuidado para não revitimizar a pessoa fazendo perguntas inadequadas, questionando detalhes excessivos ou sugerindo que ela contribuiu para o abuso. É importante também identificar se o abusador é alguém próximo da vítima, para deixá-la a salvo dele — se possível, a mulher deve ser acolhida na casa de alguém confiável. Em caso de estupro, fazendo menos de 72h do crime, a vítima deve ser encaminhada para avaliação médica em hospital Por lei, se a vítima tiver menos de 18 anos, a condução hospitalar-policial é obrigatória.

Depois disso, é preciso orientá-la sobre a necessidade de denúncia na delegacia da mulher, acompanhamento psicológico e aconselhamento pastoral.

Se o abusador fizer parte da congregação, a liderança deve dar início ao processo disciplinar e de afastamento, e também deve haver um direcionamento para que ele entregue-se à polícia e inicie o tratamento psicológico. Somente após alguns anos, com acompanhamento psicológico e de liderança capacitada, poderá ser avaliado se houve arrependimento genuíno. Provavelmente, a reintrodução do abusador na igreja não será possível, e a liderança precisará, com muito discernimento e estudo, criar outra alternativa.

Se a pessoa que cometeu o abuso for um líder da igreja, aplica-se a orientação anterior concomitantemente a um realinhamento da igreja quanto ao ocorrido. Além disso, é preciso que haja extensa capacitação sobre o abuso e suas consequências, a publicação de sincero pedido de desculpa, o cuidado da vítima e uma investigação para descobrir se houve outros casos — para que outras possíveis vítimas sejam cuidadas.

As pessoas serão encorajadas a denunciar, se a igreja for um lugar acolhedor e consciente de que abusos existem, e se esse pecado for combatido do púlpito ao gabinete.

Yago Martins, pastor da Igreja Batista Maanaim, autor e YouTuber, Fortaleza

Infelizmente, muitos colegas pastores acreditam que só podem tomar alguma atitude depois de averiguar muito bem a história, entrevistar o marido, bater todas as narrativas em busca de qualquer contradição, em um esforço de descobrir se a denúncia da mulher é verdadeira ou não.

Por mais que o testemunho da esposa, sozinho, não sirva como uma prova de que o abuso realmente aconteceu, o simples testemunho já é o suficiente para a atitude de proteger a esposa de seu marido. Você protege primeiro e investiga depois. Eu pessoalmente já lidei com falsas denúncias de abuso em meu ministério pastoral, mas não me arrependo nem por um minuto de ter acolhido e protegido alguém que trouxe uma denúncia que com o tempo se revelou falsa. É melhor oferecer uma proteção que depois se mostra desnecessária do que correr o risco de descartar uma denúncia tão séria e deixar alguém à mercê de um agressor.

No processo de apuração também é importante comunicar o fato às autoridades civis, depor o líder (caso o abusador seja alguém que ocupe esta posição), aplicar a disciplina eclesiástica e cuidar da vítima.

Douglas Baptista, pastor da Assembleia de Deus de Missão e presidente do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB)

No ato criativo, a imagem divina foi distribuída sem distinção entre homens e mulheres (Gênesis 1.27). A Bíblia ensina a igualdade de importância de ambos (1Coríntios 11.11,12). O modelo de casamento cristão requer que o marido lidere o seu lar do mesmo modo como Cristo lidera a igreja, isto é, com vital interesse no bem-estar da sua esposa (Efésios 5.28-29). O marido deve amar a sua mulher assim como Cristo ama a igreja. Isso implica na prática de algum tipo de sacrifício (Efésios 5.25). A esposa deve ser tratada com amor e não com violência, ameaças ou autoritarismo. O marido deve cuidar de sua mulher do mesmo modo que se preocupa consigo mesmo (Efésios 5.28). Isso significa proteger a esposa e prover-lhe uma vida digna. Esse cuidado não se limita às provisões materiais, nele estão incluídos afeto, consideração e honra, dentre outras coisas. Tais ações devem ser sinceras e permanentes, tanto em público como no privado (Colossenses 3.19).

De acordo com o modelo bíblico, nenhuma mulher deve submeter-se a um relacionamento tóxico. Esse tipo de abuso acontece de diversas formas: verbal, física, emocional e até em tom de “brincadeira”. Por isso, a esposa deve estar atenta à agressividade de seu marido, e se ele fica mais agressivo quando é contrariado. Quando isso ocorrer, o primeiro passo consiste em imediatamente buscar ajuda , e denunciar quaisquer indícios de violência para seus líderes e para as autoridades civis.

Se o abusador for membro ou líder da Igreja, o caso deve ser tratado com firmeza, a fim de cessar o comportamento abusivo. Igualmente deve-se notar que, às vezes, as mulheres não enxergam ou negam a situação de abuso, ou ainda procuram justificar as ações violentas de seus maridos. Portanto, é imprescindível oferecer um sistema de apoio, deixando as mulheres confortáveis para se aproximarem e receberem ajuda.

Norma Braga, teóloga e consultora de imagem, São Paulo

Os cristãos devem perceber que o abusador é mestre na arte do engano e que o abusador pode ser um marido, um pai, um pastor, um líder de jovens. Líderes saudáveis agirão como protetores de mulheres e crianças, que são justamente os grupos mais visados por abusadores.

A melhor prevenção contra o abuso é o fomento de uma cultura centrada em Cristo na igreja. Não basta que a teologia seja boa. Em muitos casos de abuso sexual, até mesmo infantil, o criminoso deixa de ser reportado à polícia porque “irmão não entra na justiça contra irmão” — claramente uma distorção da Palavra. Em caso de crime, a igreja precisa recuar para que o Estado se ocupe do caso; é esfera do Estado, não da igreja.

O abuso entre nós cristãos é ainda pior, pois geralmente é justificado com leituras abomináveis da Bíblia, o que deixa marcas profundas na alma. Precisamos voltar às origens, para a liderança verdadeiramente humilde do Senhor Jesus, que não usou as ovelhas para seu proveito, mas se sacrificou por elas.

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Vamos trazer a modéstia de volta para a Internet!

Sim, ganhamos um público, mas expusemos demais nossa alma.

Christianity Today April 6, 2024
Illustration by Mallory Rentsch Tlapek / Source Images: Getty

Há dez anos, publiquei meu primeiro livro. Como muitos de meus colegas, meu trabalho se baseia em experiências pessoais e usa elementos de minhas memórias. Afinal de contas, tornei-me escritora no auge dos blogs confessionais, quando Glennon Doyle e Jen Hatmaker escreviam da mesa de suas cozinhas sobre as lutas da vida doméstica e da feminilidade. O primeiro blog que li descrevia a dor do parto em todos os seus detalhes sangrentos.

Mas essa abertura para falar sobre assuntos pessoais não é nada, se comparada ao tipo de exposição pessoal que as plataformas atuais exigem.

À medida que os blogs deram lugar às mídias sociais, o conteúdo tornou-se mais performático [no sentido de algo encenado em um palco] e, ironicamente, mais íntimo. Em vez de escrever da mesa da cozinha, os influenciadores fazem transmissões ao vivo de suas cozinhas, de seus banheiros e quartos. Nada fica fora dos limites da Internet. O público é convidado a acompanhar o arco dramático de relacionamentos pessoais, experiências sexuais e de dúvidas religiosas. Juntos, comemoramos datas especiais da vida de crianças que sequer conhecemos.

No setor editorial, a pressão para expor a vida pessoal está enraizada na necessidade de o autor impulsionar as vendas de seus livros por meio da presença on-line e de plataformas — algo que tem sido considerado uma “marca pessoal”. A escritora Jen Pollock Michel, em cuja carreira me espelho, confessou recentemente que está pensando em se afastar, não da escrita, mas da publicação de livros, porque “há cada vez menos maneiras de divulgar um livro que não pareçam autopromoção”.

Tudo isso contribui para uma cultura editorial profundamente destituída de modéstia, na qual a exposição pessoal é considerada uma virtude.

Considerar a autopromoção de um autor como um problema de [falta de] modéstia pode lhe parecer descabido. É um jeito de atrair a atenção, com certeza, e talvez até mesmo um pouco cringe [vergonhoso], como dizem as crianças, mas será que é mesmo uma falta de modéstia? Parte do motivo pelo qual penso nisso em termos de modéstia é porque, para conquistar seguidores nesse espaço virtual ruidoso e superlotado, é preciso chamar a atenção dos leitores. E expor a si mesmo com certeza é uma fórmula garantida para alcançar esse resultado.

Esse cenário também é desafiador, pois muitas vezes entendemos mal o conceito de modéstia, especialmente em espaços moldados pela cultura da pureza. Na melhor das hipóteses, é uma espécie de autodepreciação humilde (da qual as mídias sociais poderiam fazer mais uso); na pior, é uma forma de envergonhar o corpo das mulheres. Mas quando definimos modéstia ou pudor nesses termos, deixamos escapar as maneiras pelas quais esse conceito poderia nos ajudar a impor e a manter limites saudáveis no universo on-line. Afinal, a questão central da modéstia não é o que está sendo escondido, mas sim de quem está sendo escondido.

Dessa forma, a modéstia está profundamente relacionada à intimidade, a qual, segundo sugere Luke Bretherton, especialista em ética cristã e professor da Duke Divinity, é o alicerce básico na construção da comunidade humana. Em A Primer in Christian Ethics [Cartilha sobre ética cristã], ele apresenta a intimidade como a capacidade de se aproximar do outro com vulnerabilidade e confiança. Embora a intimidade inclua o sexo, ela é mais do que isso. É o meio pelo qual nos abrimos para a possibilidade de nos ligarmos a outros e buscarmos a dependência mútua necessária para prosperar.

Mas isso também torna a intimidade algo arriscado — pois, da mesma forma que a intimidade nos permite criar laços, ela também nos abre à exploração. Quando nos expomos, confiamos que os outros não se aproveitarão de nós e honrarão o caráter sagrado daquilo que compartilhamos. Quando os outros baixam a guarda e se revelam para nós, não devemos abusar de sua confiança. Devemos ter fé uns nos outros.

Em termos ideais, as normas tácitas e os pactos comunitários protegem essa vulnerabilidade, mas esse ideal não é o que acontece na realidade. As normas tácitas não são mais sequer normas. O cumprimento dos pactos não é exigido e, ao mesmo tempo, as comunidades fazem vista grossa para abusos. A leste do Éden, precisamos avaliar quem é confiável e quem não é. Precisamos perceber com quem podemos nos tornar vulneráveis. A quem podemos voltar nosso lado mais frágil? Quem honrará o sagrado em nós?

A relação entre intimidade, vulnerabilidade e confiança está no coração da modéstia, e é por isso que é tão necessária para o engajamento on-line. A modéstia — seja ela física, emocional ou espiritual — reconhece o risco inerente da nudez em um mundo voltado para a profanação, e nos cobre, assim como Deus cobriu o homem e a mulher no jardim (Gênesis 3.21). Ainda temos a opção de nos revelar, mas a revelação depende, em parte, do contexto e do relacionamento.

Esse princípio explica por que a paixão sexual de Cantares é modesta e também por que o livro é escrito em forma de poesia — por que ele é velado. A vulnerabilidade dos amantes é sagrada por causa de seu caráter indefeso, por causa de sua liberdade. Como tal, ela deve ser honrada e protegida pela comunidade ao seu redor. Isso inclui protegê-la de voyeurs[indivíduos que sentem prazer sexual ao ver coisas que lhes provocam estímulos sexuais].

Em compensação, alguns lugares e relacionamentos impedem a intimidade — não pelo fato de que revelar-se seja inerentemente errado, mas por não se poder confiar que certos espaços ou pessoas vão nos honrar. Estes abusarão da sacralidade de nossa revelação ou a desprezarão. Certos espaços, como as mídias sociais, são inerentemente precários. A ansiedade e a incerteza que neles sentimos não têm a ver tanto com a ideia de nos abrirmos, mas sim com nossa percepção instintiva de que estamos profundamente inseguros quando fazemos isso.

A modéstia também é o motivo pelo qual os leitores nunca terão acesso a todos os detalhes da minha vida ou do meu processo — o motivo pelo qual me recuso a expor certas partes de mim on-line ou por escrito. Uma das primeiras resenhas do meu primeiro livro sugeriu que eu não estava contando tudo para o leitor. A crítica se resumia ao seguinte: certas percepções em meu texto sugeriam um certo grau de experiência de vida e até mesmo de sofrimento. Então, o crítico se perguntou: de onde vieram essas percepções? O que eu não estava compartilhando?

Ora, tudo. E nada.

Da mesma forma que visto meu corpo, também visto minhas palavras. O formato do meu coração ainda fica perceptível, mas mesmo que os leitores consigam traçar seus contornos, eu não vou expô-lo em carne viva. Da mesma forma que cubro as feridas em meu corpo para evitar que infeccionem, não exporei as feridas da minha alma, até que estejam curadas.

E não me desculpo por isso. Algumas coisas são sagradas demais para o consumo público, por mais que promovam a venda de livros. A dor, a tristeza e até mesmo a alegria que sentimos devem ser separadas e encaradas como algo sagrado, pois são demasiadamente vulneráveis. Às vezes, também, optamos por ocultar as partes mais belas de nós mesmos para preservá-las apenas para o olhar de quem consegue perceber seu valor.

Minha vida mudou muito em dez anos. Não estou mais correndo atrás de crianças pequenas. Não escrevo mais em blogs. Ainda moro no mesmo lugar, mas as pessoas que moram lá mudaram. Não cuido com tanta frequência do jardim, e minha casa está mais silenciosa do que nunca. Faço parte de uma igreja local, mas não estou na liderança. Voltei a estudar. Provavelmente preciso atualizar minha biografia.

Algumas dessas mudanças eu compartilhei com meus leitores, e outras — especialmente as que envolveram perda e luto — guardei para mim, optando por honrar seu caráter sagrado. Quando necessário, afastei-me das mídias sociais por longos períodos de isolamento, enquanto partes de mim se refaziam em privado.

Sempre me perguntei o que devemos uns aos outros nesta era sem limites. Sem os limites do espaço, do tempo e do relacionamento presencial, como posso saber a quem pertenço? Como sei em quem posso confiar? Às vezes, eu me revelei com inocência e apenas para ver minha sinceridade ser recebida com agressão. Mas, em vez de me proteger endurecendo o coração, estou escolhendo a modéstia. Estou optando por proteger ativamente as partes mais vulneráveis de mim mesma, para que permaneçam sensíveis, para que eu possa continuar sendo eu mesma.

O fato de nos expormos constantemente no universo on-line nos dessensibiliza, e torna difícil honrar a sacralidade de nossas vidas. A modéstia pode estar nadando contra a corrente da sabedoria predominante, mas acredito que ela atua para o bem da minha alma. Parafraseando Marcos 8.36-38, eu me pego perguntando: O que dará uma mulher em troca de sua alma? Se ela ganhar o mundo inteiro, vender todos os seus livros, ganhar todos os prêmios e aparecer no New York Times, que proveito isso lhe traria?

Nossas histórias e nossas almas são sagradas demais para serem vendidas pelo maior lance. Elas guardam em si sabedoria, sim, mas guardam também pessoas e realidades sagradas demais para serem mencionadas em lugares banais. Na medida em que pudermos compartilhar o que aprendemos com o mundo, devemos fazê-lo, mas todo o resto são meros detalhes — detalhes cuja revelação não mudaria a vida do leitor, mas definitivamente mudaria a minha.

Hannah Anderson é autora de Made for More [Feita para algo mais], All That's Good [Tudo o que é bom] e Humble Roots: How Humility Grounds and Nourishes Your Soul [Raízes humildes: como a humildade alicerça e alimenta a sua alma].

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Books

Nos lugares em que a fé dos Boomers está em baixa, a crença da Geração Z está em alta

O que quase 20 mil pessoas, em 26 países, acreditam sobre Deus, Satanás e o sobrenatural.

Christianity Today April 5, 2024
Illustration by Abigail Erickson / Source Images: Getty, Unsplash

Nos países com mais baby boomers que dizem crer no Deus que é descrito nas “Escrituras Sagradas” (termo que abrange a Bíblia, o Alcorão e a Torá) é menor a propensão de ter integrantes da Geração Z que creiam.

Entretanto, nos países com menos boomers que sustentam essa crença é maior a propensão de ter integrantes da Geração Z que a ela se apegam.

Na pesquisa recente “Global Religion 2023”, realizada pelo Ipsos Global Advisor com quase 20 mil adultos de 26 países diferentes, os pesquisadores descobriram que em nove países onde menos de um terço dos adultos crê no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas, a Geração Z era mais propensa a se apegar a essas convicções do que os boomers.

No norte e no oeste da Europa, a Geração Z mostrou-se mais propensa do que a geração dos baby boomers a afirmar que acredita no céu, em espíritos sobrenaturais, no inferno e no Diabo. Em lugares como África do Sul e Índia, no entanto, os baby boomers mostraram-se mais propensos do que os integrantes da Geração Z a acreditar nesses aspectos do reino espiritual.

Os baby boomers também se mostraram mais propensos do que os mais jovens a se identificarem como cristãos, em metade dos países.

Este estudo foi conduzido por meio de entrevistas presenciais e online. No entanto, apenas os números da Austrália, Argentina, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Hungria, Itália, Japão, Países Baixos, Polônia, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos podem ser considerados representativos de sua população adulta geral.

“Amostras [de respondentes] no Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, Singapura, África do Sul, Tailândia e Turquia são mais urbanas, com mais instrução e/ou mais abastadas do que a população em geral,” explica o Ipsos Global Advisor. “Os resultados da pesquisa para esses países devem ser vistos como algo que reflete as opiniões do segmento mais ‘conectado’ de sua população. A amostra da Índia representa um grande subconjunto de sua população urbana — as classes socioeconômicas A, B e C em metrópoles e classes de cidades de nível 1 a 3 em todas as quatro zonas.”

Entre os países pesquisados, os cristãos, como parcela da população, atingiram o pico de 76 por cento. No entanto, a maioria dos países tinha maioria cristã, e mais de dois terços das pessoas em países como Peru, África do Sul, México, Colômbia, Polônia, Brasil, Itália e Argentina se identificavam como cristãs.

Apesar disso, as crenças e práticas dos cristãos nesses países diferiam significativamente entre si.

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Bem mais da metade (64%) dos peruanos pesquisados disseram que oram fora de um local de culto uma vez por mês ou mais; contudo, menos da metade (37%) disse que vai a um local de culto com essa frequência. E a porcentagem de pessoas no Peru que acreditam que a religião faz mais mal do que bem caiu de 38 por cento em 2017 para 32 por cento.

A Colômbia seguiu um padrão semelhante, com mais pessoas orando fora de um local de culto (74%) do que frequentando um local de culto (44%).

As mesmas tendências também puderam ser vistas no Brasil, onde 70 por cento da população afirmou ser cristã. Os brasileiros entrevistados expressaram fortes associações positivas com o papel de Deus em suas vidas. A grande maioria afirmou que crer em Deus ou em forças superiores permite que eles superem crises (90%), dá sentido às suas vidas (89%) e os torna mais felizes em média (88%). A taxa de tolerância religiosa no país também aumentou de 70 por cento em 2017 para 81 por cento em 2023.

Dos 26 países pesquisados, a África do Sul expressou os níveis mais altos de tolerância (92%) para com outras religiões. Também teve a maior porcentagem de pessoas (78%) que oram fora de um local de culto, embora, assim como Brasil e Colômbia, apenas cerca de metade (51%) realmente comparece ao culto. O país teve as associações mais positivas com o papel de Deus na vida das pessoas, com mais de 80 por cento dos entrevistados afirmando que crer em Deus ou em forças superiores os ajuda a superar crises (89%), dá sentido à vida (93%) e os torna mais felizes (89%).

A tolerância religiosa no México aumentou de 66 por cento em 2017 para 73 por cento em 2023. E a crença de que a religião faz mais mal do que bem caiu de 43 por cento em 2017 para 37 por cento em 2023. O número de pessoas que afirmaram que a religião os define como indivíduos aumentou de 31 por cento em 2017 para 42 por cento em 2023.

Embora três quartos dos poloneses sejam cristãos (75%), apenas cerca da metade (52%) acredita no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas. E embora a tolerância religiosa tenha aumentado na Polônia, de 74 por cento em 2017 para 80 por cento em 2023, outras métricas religiosas caíram no mesmo período.

Por exemplo, houve diminuições no número de pessoas que disseram acreditar nas seguintes categorias: que as práticas religiosas são um fator importante na vida moral de um cidadão (de 62% para 48%), que a religião faz mais mal do que bem (de 49% para 44%), que a religião define uma pessoa (de 54% para 45%), e que pessoas com fé religiosa são melhores cidadãs (de 36% para 26%).

Uma maioria dos italianos se identifica como cristã (68%), no entanto, menos da metade ora fora de um local de culto pelo menos uma vez por mês (37%) e é menor ainda a quantidade deles que frequenta um local de culto pelo menos uma vez por mês (23%). Da mesma forma, uma minoria de pessoas na Itália acredita que a fé religiosa torne alguém um melhor cidadão (34%), que a religião defina uma pessoa (48%) e que pessoas com fé religiosa sejam mais felizes (47%).

Assim como os italianos, menos da metade dos argentinos afirmou que ora fora de um local de culto (42%) e menos de um quarto frequenta um local de culto (20%). Embora um pouco mais de dois terços da população se autodenomine cristã (68%), apenas cerca de metade disse acreditar no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas (53%).

A despeito de o cristianismo na Coreia do Sul historicamente ter sido mais robusto do que em outras partes da Ásia Oriental, entre os países pesquisados, a Coreia do Sul teve a maior porcentagem de pessoas que afirmam não ter religião (53%) e a maior porcentagem daqueles que disseram não acreditar em Deus ou em qualquer poder superior (44%). De 2017 a 2023, a tolerância religiosa na Coreia do Sul caiu de 65 por cento para 53 por cento.

O Japão também exibiu níveis mais baixos de interesse religioso. O país repetidamente apresentou uma porcentagem baixa, se não a mais baixa de todos. para qualquer afiliação religiosa, com apenas 2 por cento dos entrevistados afirmando serem cristãos. De 2017 a 2023, o Japão tornou-se 26 pontos percentuais mais propenso a acreditar que a religião faz mais mal do que bem, aumentando para 52 por cento.

Na Hungria, cujo primeiro-ministro, Viktor Orbán, tornou-se um defensor do nacionalismo cristão, os cristãos representam a maioria (58%) da população, embora 31 por cento declarem não ter religião alguma. Menos de um quarto dos entrevistados concordou que a religião os define como indivíduos (15%) e que pessoas com fé religiosa são melhores cidadãos (16%). Seis por cento disseram que perdem o respeito por pessoas, quando descobrem que elas não têm fé religiosa.

Entre os húngaros, algumas dessas categorias diminuíram significativamente desde a pesquisa de 2017, incluindo uma diminuição de 53 por cento naquele ano para 37 por cento em 2023 no número de pessoas que acreditam que a religião faz mais mal do que bem. Também houve uma queda de 29 por cento em 2017 para 15 por cento em 2023 no número daqueles que acreditam que a religião os define como indivíduos.

Metade dos 26 países pesquisados tinha maiorias que acreditavam no céu. Mas apenas 9 desses países tinham maiorias que acreditavam no inferno, 12 deles tinham maiorias que acreditavam em espíritos sobrenaturais e 9 tinham maiorias que acreditavam no Diabo.

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De todos os países pesquisados, o Peru teve a maior porcentagem de pessoas (79%) que disseram acreditar no céu. A maioria também disse acreditar no inferno (60%), embora esse número representasse uma queda de quase 20 pontos percentuais em relação aos que acreditam no céu.

Enquanto o Brasil (79%), África do Sul (78%) e Colômbia (78%) também tiveram altas porcentagens de pessoas que acreditam no céu, esses mesmos países apresentaram porcentagens mais baixas de pessoas que acreditam no inferno, com 66 por cento, 61 por cento e 58 por cento, respectivamente.

Quarenta e quatro por cento dos belgas se identificam como cristãos. Mas, de todos os países pesquisados, eles tiveram o menor número de pessoas que disseram acreditar no céu (22%), em espíritos sobrenaturais (26%), no inferno (16%) e no Diabo (18%).

Entre os países mais religiosos dessa pesquisa que não são cristãos estão Índia, Tailândia e Turquia, com quase 100 por cento das pessoas na Índia (99%) e na Tailândia (98%) afirmando serem religiosas.

Apesar de ter uma população religiosa tão grande, apenas 2 por cento da população da Índia afirmam ser cristãos. Uma maioria disse que acredita no céu (54%), mas menos da metade acredita no inferno (47%), em espíritos sobrenaturais (43%) e no Diabo (41%).

Da mesma forma, apenas 4 por cento dos tailandeses entrevistados disseram ser cristãos. No entanto, a Tailândia apresentou uma grande maioria de pessoas que têm associações positivas com o papel de Deus em suas vidas — mais de 80 por cento concordaram que acreditar em Deus ou em forças superiores as ajuda a superar crises (82%), dá sentido à vida (85%) e as torna mais felizes (88%).

Dos 26 países pesquisados, a Tailândia teve a menor porcentagem (27%) daqueles que acreditam que a religião faz mais mal do que bem. As pessoas na Tailândia disseram que acreditam no céu e no inferno igualmente, 63 por cento delas, mas menos da metade dos tailandeses entrevistados disseram acreditar no Diabo (40%).

Embora 87 por cento dos turcos entrevistados tenham dito que são religiosos, apenas 2 por cento são cristãos. A Turquia também teve maiorias significativamente altas de pessoas que acreditam no céu (78%), em espíritos sobrenaturais (72%), no inferno (76%) e no Diabo (76%).

De 2017 a 2023, cinco países viram declínios nas porcentagens de pessoas que acreditam que sua religião as define como indivíduos e que acreditam que as práticas religiosas são um fator importante na vida moral dos cidadãos de seu país. Hungria, Alemanha, Coreia do Sul, Polônia e Estados Unidos foram os países que experimentaram isso.

No geral, a maioria das pessoas em todos os países pesquisados se sente à vontade na presença de outras com diferentes crenças religiosas. A tolerância religiosa aumentou em nove países, de 2017 a 2023, com a França registrando a maior alta: de 63 por cento para 79 por cento. A tolerância caiu em apenas quatro países, sendo a Coreia do Sul a que teve a queda mais significativa: de 65 por cento em 2017 para 53 por cento em 2023.

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Books

Quem restringe mais a religião, os políticos ou o povo? Pesquisa analisou dados globais

O relatório anual avaliou 198 nações e territórios, dos quais nove em cada dez assediam comunidades cristãs. A China e a Nigéria têm a pior pontuação.

Jovens cristãos iraquianos entram em um culto de domingo.

Jovens cristãos iraquianos entram em um culto de domingo.

Christianity Today April 2, 2024
Spencer Platt/Getty /Edição feita por CT

As restrições governamentais impostas à religião estão em alta globalmente.

A hostilidade social em relação à religião, entretanto, está diminuindo.

É o que conclui o Pew Research Center, em sua 14ª análise anual da extensão das restrições que 198 nações e territórios — e seus cidadãos — impõem à crença e à prática religiosa.

Com exceção de apenas oito países, algum tipo de assédio a grupos religiosos foi registrado em todos os demais.

O relatório de 2024, divulgado no início do mês de março, baseia-se principalmente em mais de uma dúzia de fontes da ONU, dos EUA, da Europa e da sociedade civil, e reflete as condições de 2021, o último ano com dados totalmente disponibilizados.

Na escala de restrições governamentais de 10 pontos, elaborada pelo Pew, a média global atingiu 3,0 pontos pela primeira vez, dando continuidade a um aumento constante desde a pontuação inicial de 1,8 pontos, em 2007. No geral, 55 nações (28%) registraram níveis considerados “muito altos” ou “altos”, apenas duas nações a menos do que o total do ano passado (57).

A Nicarágua destacou-se pelo assédio ao clero católico.

As diferenças regionais são evidentes: o Oriente Médio e o Norte da África (MENA, conforme a sigla em inglês) obtiveram 5,9 pontos, superando sua pontuação inicial de 4,7. A região Ásia-Pacífico obteve 4,2 pontos, crescendo a partir dos 3,2 iniciais. A Europa obteve 3,1 pontos, batendo os 1,7 iniciais. A África Subsaariana obteve 2,6 pontos, ante os 1,7 anteriores. E as Américas obtiveram 2,1 pontos; antes, tinham uma pontuação de 1,0.

Entre as 20 medidas de restrições governamentais elencadas pelo Pew estão esforços para “banir determinadas religiões, proibir a conversão, limitar a pregação ou dar tratamento preferencial a um ou mais grupos religiosos”.

Algumas delas são da época da COVID-19, como as multas no Canadá contra a abertura de igrejas.

Outras 13 medidas adicionais para atos de hostilidade religiosa cometidos por indivíduos ou grupos incluíram “conflitos armados ou terrorismo relacionados à religião, violência sectária ou de multidões, assédio a respeito de trajes usados por motivos religiosos e outras formas de intimidação ou de abuso relacionados à religião”.

As hostilidades sociais em relação à religião continuaram a apresentar uma tendência de queda desde a alta de 2,0 em 2018, diminuindo para 1,6, a pontuação mais baixa desde 1,2 ponto registrado em 2009. Mas 43 nações (22%) ainda registraram níveis considerados “muito altos” ou “altos”, embora em número significativamente menor do que as 65 nações infratoras em 2012.

A Nigéria foi citada por confrontos entre pastores muçulmanos e agricultores cristãos.

A ordem das diferenças regionais no quesito hostilidade social equivale à das restrições governamentais. A região do Oriente Médio e do Norte da África obteve uma pontuação de 3,6, voltando a se aproximar de sua pontuação inicial de 3,7, após o pico dos anos de 2012 a 2014. A região Ásia-Pacífico obteve uma pontuação de 1,9, acima da pontuação inicial de 1,7. A Europa marcou 1,9, ponto, superando a pontuação inicial de 1,2. A África Subsaariana obteve 1,3 ponto, antes tinha 0,4. E as Américas obtiveram 0,8 ponto, antes tinham 0,3.

Apenas quatro nações registraram o status “muito alto” em ambas as categorias: Afeganistão, Egito, Paquistão e Síria.

Juntaram-se a estas nações, como infratores reincidentes por restrições governamentais, a Argélia, o Azerbaijão, a China (com 9,1, a pontuação mais alta), a Indonésia, o Irã, o Cazaquistão, a Malásia, as Maldivas, Mianmar, a Rússia, a Arábia Saudita, Singapura, o Tajiquistão e o Uzbequistão. O Paquistão e o Turcomenistão entraram na lista este ano, enquanto Brunei e Eritreia saíram.

Menos nações foram classificadas com um índice “muito alto” no quesito hostilidades sociais, mas os infratores reincidentes também incluíram Índia, Israel e Nigéria — esta última, com uma pontuação de 8,9, a mais alta. Nenhuma nação nova entrou na lista este ano, enquanto Iraque, Líbia, Mali e Somália saíram.

A classificação foi feita com uma escala. Os primeiros 5% das nações em cada quesito foram classificados com nível “muito alto”, enquanto os 15% seguintes foram classificados como “alto”. Os 20% seguintes foram classificados como “moderado”, enquanto os 60% restantes foram classificados como “baixo”. (Embora o Pew reconheça a Coreia do Norte como uma nação claramente infratora, ela não foi incluída no relatório, devido à impossibilidade de acesso regular por parte de observadores independentes).

Em ambos os índices, a maioria das nações apresentou pouca ou nenhuma alteração em sua classificação. Apenas 16 delas registraram um aumento moderado de 1 para 1,9 ou mais em sua pontuação combinada, enquanto apenas nove nações tiveram uma redução semelhante. E apenas um país, o Sudão, registrou um declínio de 2 pontos ou mais nas restrições governamentais, pois uma nova constituição, agora no limbo em meio a uma guerra civil, descriminalizou a apostasia.

Com relação às hostilidades sociais, apenas a Turquia e a Bolívia registraram declínio semelhante, sendo a última pela ausência de registros — como nos anos anteriores — de missionários protestantes expulsos de áreas indígenas. Em contrapartida, Uganda e Montenegro testemunharam aumentos de 2 pontos em suas avaliações, este último devido à vandalização de mesquitas e ao assédio ao proselitismo cristão.

O mais comum, de acordo com o Pew, é o assédio do governo. Mais de 9 em cada 10 nações (183 no total) registraram pelo menos um incidente. O assédio social ocorreu em mais de 8 em cada 10 nações (160 no total), sendo que 157 nações registraram ambos.

O Pew também registrou os tipos de força ou violência infligida ao redor do mundo. Os danos à propriedade foram os mais comuns em 105 nações infratoras, com a Europa registrando a maior ocorrência, 71%. A região do Oriente Médio e Norte da África liderou a porcentagem de ocorrências em todos os outros tipos, sendo agressões físicas registradas em um total global de 91 países, detenções em 77, deslocamento forçado em 38 e assassinatos em 45.

A Etiópia ganhou destaque pelas mortes de 78 sacerdotes durante sua guerra civil.

Cristãos e muçulmanos continuam sendo os grupos religiosos que mais sofrem assédio. O número de nações que assediam cristãos aumentou de 155 para 160, em comparação com um total de 107 registradas inicialmente. O número de nações que assediam muçulmanos diminuiu de 145 para 141, mas ainda está acima das 96 registradas inicialmente. O assédio a judeus também diminuiu de 94 para 91, mas só foi registrado em 51 países em 2007.

Na categoria “outras religiões”, Baha’is, Sikhs e adeptos do Zoroastrismo vieram na sequência, com seus seguidores sendo assediados em 64 países; logo depois vieram as formas de religiosidade popular, assediadas em 40 países. As violações contra budistas (em 28 países), hindus (em 24) e contra a categoria dos “sem filiação [religiosa]”— composta por ateus, agnósticos e humanistas — (registradas em 27 países) foram menos difundidas.

Uma nova categoria do relatório do Pew rastreou as nações que ofereciam benefícios a grupos religiosos. Do total dos 161 países enquadrados, 127 apoiaram a educação religiosa, 107 ofereceram fundos para construir ou conservar edifícios religiosos e 67 ofereceram compensações ao clero em algum grau. Desses últimos, mais da metade (36 nações) deu tratamento preferencial a determinadas religiões. Do total, 149 governos, no entanto, assediaram os fiéis ou interferiram em seus cultos.

A Arábia Saudita, segundo observou o Pew, oferece ajuda de custo aos imãs, mas restringe seus sermões.

Além da computar as nações, o Pew também organizou dados para medir o impacto das restrições e das hostilidades em um amplo escopo da humanidade. Entre as 25 maiores nações — que representam 5,8 bilhões dos 7,8 bilhões da população mundial em 2021 — Egito, Paquistão, Índia, Indonésia e Nigéria registraram os níveis gerais mais altos. O Japão, os Estados Unidos, a África do Sul, a Itália e o Brasil tiveram as classificações mais baixas.

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Culture

Por que o caráter não importa mais?

O “jovial puritanismo” de Ned Flanders [personagem de Os Simpsons] deu lugar à vulgaridade, à misoginia e ao partidarismo. O que isso significa para o nosso testemunho?

Christianity Today April 1, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Images: WikiMedia Commons / Getty

Este artigo foi adaptado da newsletter de Russell Moore. Inscreva-se aqui.

Acho que hoje Ned Flanders frequentaria casas noturnas de striptease.

Há muito tempo eu não pensava no caricato vizinho convertido ao cristianismo de Os Simpsons; esta semana, porém, lembrei-me dele. A repórter de religião do New York Times, Ruth Graham, mencionou Ned e e seu “jovial puritanismo” — bem como Billy Graham e George W. Bush — como exemplos dos que já foram as figuras cristãs evangélicas mais conhecidas do país. De fato, uma matéria de capa da Christianity Today de 2001 apelidou o personagem de “Saint Flanders” [Santo Flanders]. Os cristãos evangélicos sabiam que as palavras “Deus tá vendo!”, colocadas na boca de Ned, eram uma reação moral com a intenção de nos ridicularizar e que seus “valores da família tradicional” estavam fora de sintonia com uma cultura americana do lado de cá da revolução sexual.

Mas Ned não era um Elmer Gantry [personagem do filme Entre Deus e o Pecado]. Ele de fato aspirava ao tipo de devoção pessoal que os evangélicos supostamente desejam, voltada para a oração, a leitura da Bíblia, a castidade moral e ao amor ao próximo, ainda que o fizesse ao estilo piegas e ultrassuburbano da classe média norte-americana. Como Graham ressalta, se fosse nos dias de hoje, Flanders seria ridicularizado por seus escrúpulos morais — mas isso provavelmente se daria mais por parte de seus correligionários evangélicos brancos do que por seus vizinhos seculares bebedores de cerveja dos Simpsons.

Como diz Graham, um “ethos grosseiro e vulgar, como aquele que só fala de ‘cerveja e mulher’, abriu caminho até a classe de poder conservadora, acelerado pela ascensão de Donald J. Trump, pelo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais e por um cenário de mídia que está em mutação, cada vez mais dominado por padrões mais licenciosos da cultura on-line”. (Este artigo que você está lendo agora representa parte dessa mudança, pois passei mais de 15 minutos pensando em como citar o artigo de Graham sem usar a expressão “cerveja e mulher”)

A análise de Graham é importante para os cristãos americanos justamente porque a mudança de paradigma que ela descreve não é algo que esteja acontecendo “lá fora” na cultura, pelo contrário, é impulsionada especificamente pela mesmíssima subcultura evangélica branca que no passado insistia que o caráter pessoal — ou a virtude, para usar uma palavra que hoje soa como algo distante, mas que os pais fundadores conheciam bem — importa.

Sim, parte da vulgarização da direita se deve à secularização da base, trazida por Barstool Sports [blog de esportes e cultura pop] e Joe Rogan [conhecido apresentador do UFC], na qual Kid Rock [músico, cantor e compositor] é um símbolo mais icônico do que Lee Greenwood [artista country] ou Michael W. Smith [cantor cristão]. Porém, o que é muito mais alarmante é que o embrutecimento e a degradação do caráter estão acontecendo entre cristãos professos politizados. A congressista que brincou, em um café da manhã de oração, sobre ter se recusado a fazer sexo com seu noivo para comparecer ao evento, fora convidada para falar ali sobre sua fé e a importância que ela e os valores religiosos têm para os Estados Unidos. Outro membro do Congresso que disse a um repórter para “se f—” é alguém que se autodenomina um “nacionalista cristão”. Vimos a frase “Let's Go Brandon” [Vamos lá, Brandon] — um eufemismo usado no lugar do insulto “fo—-se Joe Biden”, e que antigamente resultaria em disciplina na igreja — ser entoada nas igrejas.

Douglas Wilson, pastor e aspirante a teocrata, usou publicamente um insulto contra as mulheres que não só eu não repetirei aqui, mas que quase nenhum meio de comunicação secular citaria — isso sem falar do romance assustadoramente grosseiro que ele escreveu sobre um robô sexual.

Wilson, evidentemente, cultiva uma vibe cartunesca do tipo “não sou um garoto travesso?” que não representa a maioria dos cristãos evangélicos. Mas o problema é a maneira como muitos outros cristãos reagem: “Bem, eu não diria as coisas da maneira como ele diz, mas…”. Da mesma forma, esses cristãos dizem que são meros “tuítes maldosos” os que Donald Trump posta atacando a aparência de pessoas que dizem ter sido agredidas sexualmente por ele, ou atacando heróis de guerra por terem sido capturados ou pessoas deficientes por suas deficiências, ou ainda tuítes elogiando pessoas que atacam policiais e saqueiam o Capitólio e chamando-as de “reféns”.

O pior é que os cristãos evangélicos — entre os quais encontram-se alguns que ouvi criticar incessantemente a imoralidade sexual de Bill Clinton (críticas com as quais concordei na época e ainda concordo hoje) — hoje ridicularizam aqueles que se recusam a fazer exatamente o que [os cristãos] antes condenavam nas ações dos defensores de Clinton, ou seja, os cristãos hoje chamam de moralistas os que se recusam a dar mais mais importância ao acordo político do que ao caráter pessoal.

Em meio ao escândalo de Clinton, no final da década de 1990, um grupo de acadêmicos emitiu uma “Declaração sobre Religião, Ética e a Crise na Presidência de Clinton”, que dizia:

Estamos cientes de que certas qualidades morais são fundamentais para a sobrevivência do nosso sistema político, entre elas estão a veracidade, a integridade, o respeito à lei, o respeito à dignidade do outro, a adesão ao processo constitucional e a disposição de evitar o abuso de poder. Rejeitamos a premissa de que as violações desses padrões éticos devam ser desculpadas, contanto que o líder permaneça leal a uma agenda política específica e a nação seja abençoada por uma economia forte.

Atualmente, essas palavras parecem muito mais distantes de nós do que uma citação de Tocqueville.

Nossa situação hoje seria compreensível, se vivêssemos em um mundo no qual as palavras que saem da boca de uma pessoa não representassem o que está em seu coração, ou em um mundo no qual a conduta externa pudesse ser separada do caráter interno. O problema é que esse mundo imaginário é um mundo em que a Palavra de Deus não existe. Afinal de contas, Jesus nos ensinou exatamente o oposto, de forma explícita e reiterada (Mateus 15.10-20; Lucas 6.43-45).

Ironicamente, algumas das mesmas pessoas que promovem o mito de uma “América cristã”, no qual os pais fundadores são retratados como evangélicos conservadores, hoje adotam uma visão que tanto os cristãos ortodoxos quanto os unitaristas deístas da época da fundação condenariam, de pleno acordo. Desde os Artigos Federalistas até os debates em torno da Constituição e da Carta de Direitos, praticamente todos os pais fundadores — mesmo com todas as diferenças que tinham entre si sobre as especificidades do federalismo — defenderiam que os procedimentos e as políticas constitucionais por si só não eram suficientes para preservar uma república: Eram necessárias normas morais e expectativas de alguma dose de caráter pessoal.

Essas normas impedem que pessoas de mau caráter ascendam a altos cargos? De jeito nenhum. Sempre tivemos entre nós hipócritas e demagogos. No entanto, o que todas as gerações de americanos tinham reconhecido, até agora, é que há uma diferença marcante entre alguns líderes que não estão à altura do caráter que se espera deles e líderes que atuam em um espaço no qual não há expectativas de caráter pessoal. Você pode contratar um contador para cuidar de seu imposto e, mais tarde, descobrir que ele é um fraudador de impostos e um estelionatário. Isso é bem diferente de contratar um fraudador declarado porque você concluiu que só os idiotas obedecem às leis tributárias.

Isso ocorre porque líder nenhum, de nenhuma comunidade, associação ou nação, é um conjunto abstrato de políticas. Nós escolhemos líderes para tomar decisões sobre assuntos que ainda não aconteceram ou que talvez nem estejam sendo cogitados. Ora, um dentista que grita palavrões contra seus adversários e promete uma prática baseada em “vingança e retribuição” e a derrubada de todas as normas da odontologia moderna não é alguém a quem você deva confiar uma broca para tratar de seus dentes. E isso vale ainda mais quando se trata de confiar a uma pessoa os códigos para o uso de armas nucleares.

Além disso, os conservadores em geral, e os cristãos em particular, já sabiam que aquilo que é normalizado em uma cultura se torna uma parte esperada dessa cultura. Defender um presidente que usa seu poder para fazer sexo com a estagiária, com o argumento de que “todo mundo mente sobre sexo”, não se trata apenas de usar um argumento político; isso muda a maneira como as pessoas pensam sobre o que, na plenitude do tempo, elas devem esperar em relação a si mesmas. Isso é o que Daniel Patrick Moynihan chamou de “nivelar por baixo”.

Os habitantes da Louisiana defenderem seu apoio a alguém que faz propaganda nazista e é um ex-grande mago da Ku Klux Klan, por ele ser supostamente “pró-vida” não é uma mera transação política do tipo “dos males o menor”. As palavras nazista pró-vida — assim como as palavras abusador sexual pró-vida — mudam o significado de pró-vida na mente de toda uma geração.

Independentemente dos resultados políticos de curto prazo que se “ganhe” com isso, acaba-se com uma situação em que algumas pessoas acreditam que o autoritarismo e a agressão sexual podem ser compensados por uma “plataforma política” certa, enquanto outras acreditam que a oposição ao abuso de poder ou à anarquia sexual deve exigir a oposição à posição “pró-vida”. De qualquer forma, saímos perdendo.

O que acontece a longo prazo com suas políticas em uma cultura pós-caráter é importante. O que acontece com seu país é ainda mais importante. Mas considere também o que acontece com você. “Se os indivíduos vivem apenas setenta anos, então, um Estado, uma nação ou uma civilização, que pode durar mil anos, é mais importante do que um indivíduo”, escreveu C. S. Lewis. “Mas se o cristianismo for verdadeiro, então, o indivíduo não só é mais importante, mas é incomparavelmente mais importante, pois ele tem a vida eterna e a vida de um Estado ou de uma civilização, comparada com a dele, não passa de um momento.”

A Bíblia não só nos adverte sobre o que a degradação do caráter — que vai da imoralidade à jactância, da insensibilidade à crueldade — pode fazer com a alma dos que praticam essas coisas, mas também nos adverte sobre seu efeito nocivo sobre aqueles que “aprovam as pessoas que praticam tais coisas” (Romanos 1.32).

Ned Flanders não é, nem nunca foi o ideal cristão. Piedade pessoal e uma moralidade íntegra não são suficientes. Mas devemos nos perguntar: se o roteiro dos Simpsons fosse escrito hoje e quisesse ridicularizar os cristãos evangélicos, será que a caricatura mostrada seria a de alguém excessivamente dedicado à família, à oração, à frequência à igreja, à bondade para com os vizinhos, à pureza incômoda de seu discurso? Ou será que Ned Flanders, hoje, seria um partidário aos gritos pelas ruas, um insurrecionista violento, um misógino que cobiça mulheres ou um abusador pervertido?

Será que essa mudança se deve ao fato de o mundo secular ter se tornado mais hostil para com os cristãos? Talvez. Ou seria por que, quando o mundo secular olha para a face pública do cristianismo, ele hoje não ousaria pensar em Ned Flanders como nada além do que mais um rosto com olhos cobiçosos em um clube de striptease?

Se formos odiados por tentarmos ser como Cristo, vamos considerar isso uma alegria. Mas se formos odiados por nossa crueldade, nossa hipocrisia sexual, nossa inclinação para brigas, nosso ódio e nossa vulgaridade, então, talvez devêssemos nos perguntar o que aconteceu com nosso testemunho.

O caráter importa. Não é a única coisa que importa. Mas, sem caráter, nada importa.

Russell Moore é o editor-chefe da Christianity Today e lidera o Projeto de Teologia Pública da revista.

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A resposta reflexiva da graça

Como Jesus recondiciona nossa vida, mesmo depois de falharmos com ele.

Christianity Today April 1, 2024
Acrílico sobre painel de madeira: Bedroom, Claire Waterman, 2022.

Nenhum dos discípulos tinha coragem de lhe perguntar: “Quem és tu?”, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou‑se, tomou o pão e o deu a eles, fazendo o mesmo com o peixe.

João 21.12-13

Na virada do século 20, um médico russo chamado Ivan Pavlov ganhou um Prêmio Nobel. Ao sentir o cheiro da comida, os cães salivam naturalmente, mas Pavlov queria ver se conseguia causar-lhes salivação com outro estímulo. Como você provavelmente deve se lembrar de alguma aula de biologia, no ensino médio, Pavlov tocava uma campainha, antes de alimentar os cães. Com o tempo, o toque da campainha fazia os cães salivarem. Pavlov referia-se a isso como um reflexo condicionado.

Em certo grau, todos nós somos pavlovianos. Ao longo dos anos, adquirimos um elaborado conjunto de reflexos condicionados. Se alguém nos dá um tapa no rosto, nosso reflexo condicionado é dar-lhe um tapa de volta. Ou isso só acontece comigo?

O evangelho gira em torno de Jesus recondicionando nossos reflexos por meio de sua graça. Sabe qual é o resultado? Amamos nossos inimigos, oramos por aqueles que nos perseguem e abençoamos aqueles que nos amaldiçoam. Oferecemos a outra face, andamos uma milha a mais e damos a roupa que tiramos do próprio corpo. Os teólogos chamam isso de as Seis Antíteses, mas gosto de pensar nelas como seis contra-hábitos que são contraculturais.

Ao menos seis vezes, no Sermão do Monte, Jesus diz: “Vocês ouviram o que foi dito, […] Mas eu lhes digo […]” (Mateus 5—7). Jesus estava remodelando a mentalidade do Antigo Testamento, como a da crença do “olho por olho e dente por dente” (Mateus 5.38). Ele estava desafiando a nossa ética, a começar pelo perdão.

Você se lembra de Mateus 18, quando Pedro perguntou a Jesus quantas vezes deveríamos perdoar? E Pedro pensou que estava sendo generoso, ao sugerir que deveríamos perdoar até sete vezes. Mas Jesus aumenta a aposta: até setenta vezes sete. E é em uma praia, junto ao mar da Galileia (João 21), que esta ideia de perdão é pessoalmente aplicada a Pedro. Esta é uma aparição posterior à ressurreição, o que significa que aconteceu depois de Pedro ter negado Jesus. Pedro negou conhecer Jesus não uma, nem duas, mas três vezes, e foi depois da terceira negação que o galo cantou, lembrando Pedro da profecia de Jesus (Mateus 26.75).

Posso fazer uma observação pavloviana? Eu me pergunto se, depois disso, Pedro sentia uma pontada de culpa toda vez que ouvia um galo cantar. Todo santo dia de manhã, aquele brusco despertar poderia ter feito Pedro se lembrar do seu grande fracasso, até a manhã em que Jesus recondicionou os seus reflexos.

Pedro estava pescando, quando Jesus gritou da praia: “Lancem a rede do lado direito do barco e vocês encontrarão.” A névoa matutina impossibilitava ver quem dissera isso, mas a pesca milagrosa tornou óbvio. João disse a Pedro: “É o Senhor!” (João 21.4-7).

Foi então que Pedro saltou do barco e nadou até a costa. Quando chegou lá, Jesus estava assando peixe na brasa. Façamos uma pausa aqui: como não amar um Deus que prepara o café da manhã na praia para seus discípulos?

Depois do café da manhã, Jesus faz uma pergunta a Pedro: “Você me ama mais do que estes?” (v. 15). Jesus não pergunta isso a Pedro uma nem duas vezes, mas sim três. Será que é mera coincidência? Eu acho que não. As três negações exigiam três reafirmações. E assim foram o modo, o momento e o lugar em que Jesus recondicionou os reflexos de Pedro.

Você já reparou qual era a hora do dia? João é preciso: “Ao amanhecer” (v. 4). Em outras palavras, bem na hora em que os galos cantam. O som que fazia Pedro se lembrar de seu maior fracasso — o som que gerava nele um sentimento de culpa — agora passaria a gerar um sentimento de gratidão. Jesus fez mais do que recomissionar Pedro. Com sua graça, Jesus recondicionou os reflexos de seu discípulo.

Acaso já teve alguém que amou você, quando você menos esperava e menos merecia? É algo que muda a vida da gente, não é mesmo? E se amássemos as pessoas da mesma forma que Deus nos amou? O dom da Páscoa revela que o pecado sem a graça é igual a culpa, mas que o pecado somado à graça é igual a uma profunda gratidão que podemos carregar e expressar em todas as manhãs, tardes e noites.

Temos a tendência de desistir de Deus, mas Deus não desiste de nós. Ele é o Deus da segunda, da terceira, da milésima chance. Mesmo quando sentimos ter falhado com Deus, este é o Deus que vem atrás de nós, que nos chama da margem. Este é o Deus que faz café da manhã na praia. Este é o Deus que nos dá um novo sopro de vida.

Para refletir:



De que maneiras você percebe reflexos condicionados atuando em sua própria vida ou na vida das pessoas ao seu redor?

Discuta como a reintegração de Pedro por Jesus serve como um exemplo poderoso da graça de Deus, especialmente após um fracasso.

Mark é o pastor principal da National Community Church em Washington, D.C. Ele é o autor best-seller do New York Times, tendo escrito 23 livros.

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Encontrado no jardim do sepulcro

Jesus permanece conosco nas perdas, durante e depois da Páscoa.

Christianity Today March 31, 2024
Óleo sobre painel: Double Take, Cherith Lundin, 24x26” cada, 2017.

Nisso, ela se voltou e viu Jesus ali, em pé, mas não o reconheceu.
Ele disse:
― Mulher, por que está chorando? Quem você está procurando?

João 20.14-15

É uma eterna tensão, e uma questão da maior importância que os cristãos trazem consigo: Como podemos conservar a alegria, embora este mundo dê lugar à tristeza? Como crentes, baseamos nossa esperança na vitória de Cristo sobre a morte. Regozijamo-nos com a nossa salvação — o dom da vida eterna —, ainda que a dor cresça descontroladamente e corra desenfreada nesta vida.

Acordo a cada manhã com misericórdias que se renovam, apenas para me deparar com velhas feridas. Eu poderia ler para você minha ladainha de perdas, mas sei que também tem a sua: a filha distante. O casamento que precisa ser consertado. Um diagnóstico recente. O ente querido que você perdeu cedo demais. A casa que pegou fogo. O animal de estimação que morreu. Um amor que traiu você. A multidão que prejudicou sua vida.

Quando o Jesus ressurreto apareceu no jardim do sepulcro, mesmo ainda não sendo reconhecido por Maria, ele lhe perguntou: “Mulher, por que está chorando?” (João 20.15). Cristo, mesmo em seu momento de vitória, abriu espaço para a dor dela. Desta forma, não é a Ressurreição uma reminiscência da Encarnação? Aquele mistério insondável de Cristo ter vindo como um bebê, renunciando a todo poder em prol da propiciação, sim, mas também simplesmente para estar próximo de nós.

Jesus, com a singeleza dessa pergunta, abre espaço para a dor de Maria. No jardim do sepulcro — que abrigava ao mesmo tempo viçosas plantas e sepulturas, milagres e luto — o momento em que Cristo se compadece de Maria demonstra que somos escolhidos para conhecer Jesus e para sermos por ele conhecidos. Não somos apenas um povo a ser resgatado; somos um povo, sim, salvo e enviado (Marcos 3.13-14), mas também convidado para simplesmente estar com Jesus.

No Domingo de Páscoa, eu me lembro da primeira coisa que Jesus, fez depois de ter ressucitado. Embora o Deus-homem tivesse acabado de ressuscitar, ele continuou a se humilhar e a permanecer assim. É desse jeito que Jesus sempre foi. Ele é o Verbo que se fez carne, tendo assumido forma humana para habitar e cear conosco, para sofrer e celebrar conosco. Ele é o nosso Senhor ressurreto que inclina os ouvidos para Maria, demorando-se naqueles primeiros momentos de seu reencontro no jardim do sepulcro. Ele é o Deus que fica ao lado do homem no jardim, no princípio dos tempos.

Foi esta a alegria de Maria, quando ele pronunciou seu nome e ela finalmente o reconheceu, e se reuniu com seu Raboni (Mestre, veja João 20.16). É esta também a nossa alegria. O Jesus ressurreto traz a salvação, e traz a si mesmo. Sua vitória nos levará da sepultura para a glória, e ele veio para estar conosco agora, no jardim do sepulcro desta vida terrena. Ele nos encontra, mesmo quando a perda se entrelaça a tudo o que amamos e vivemos, tanto durante a época da Páscoa quanto para além dela e para sempre. Aleluia!

Para refletir:



Nesta época da Páscoa, como você está se apegando à alegria, embora este mundo dê lugar à tristeza?

O que você diria, se Jesus lhe perguntasse: “Por que você está chorando?”

Rachel é fundadora de The Fallow House e autora de dois livros.

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Peso de glória

Quando a vida está pesada demais para suportar, nossa necessidade de um Salvador torna-se clara.

Christianity Today March 30, 2024
Guache sobre papel: Kitchen, Claire Waterman, 2020.

Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.

2 Coríntios 12.9

Você já ouviu o ditado cristão que diz: “Deus não lhe dará mais do que você pode suportar”? Não digo que não haja alguma verdade neste aforismo. O texto de 1Coríntios 10.13 diz que “Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar”. Mas essa ideia é equivocada, na medida em que coloca ênfase naquilo que nós podemos conseguir — através da nossa própria força e suficiência —, em vez de enfatizar aquilo que Deus proverá, quando inevitavelmente falharmos.

Lembro-me das noites que passei no chão frio da cozinha — meu corpo enfraquecido por meses sem apetite, rios de lágrimas, as maçãs do rosto ardendo e a sensação de estar sozinha até altas horas da noite, todas as noites. Mesmo em um momento da vida cheio de rupturas inesperadas, Jesus veio ao meu encontro muitas e muitas vezes, naquele chão frio, enquanto eu clamava a ele por reconciliação, redenção e restauração. Ele ouviu cada oração falada e balbuciada [em que] minha fraqueza [foi] plenamente exposta. Cada minuto parecia uma maratona. Mas a cada vez que eu inspirava e expirava, Jesus me convidava para a sua graça suficiente, fortalecendo minha fraqueza com seu poder perfeito. O que o Senhor disse ao apóstolo Paulo, eu também senti em minha vida: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Coríntios 12.9).

Chegar ao fim das minhas forças foi exatamente o que criou dentro de mim um espaço para Deus entrar, e ele me lavou com sua misericórdia e me vestiu com sua força. Minha total fraqueza tornou-se morada para a glória dele residir. Sim, tal como Paulo declarou: “Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” (v. 9).

Como ser humano falível que passou por um sofrimento pelo qual muitos talvez não passem, sei, bem no fundo da minha alma, que não fomos feitos para lidar sozinhos com o peso das dificuldades da vida. Se Deus de fato nos desse somente aquilo com que pudéssemos lidar, não haveria necessidade de um salvador que não fosse nós mesmos, e a morte sangrenta de Jesus seria desnecessária. O peso deste mundo caído repousaria diretamente sobre nossos ombros, enquanto lutaríamos contra um relacionamento rompido que talvez nunca fosse restaurado, contra a contínua enfermidade que jamais imaginamos que teríamos de suportar e contra todo o desconhecido restante que se apresentasse diante de nós.

E, no entanto, se passarmos por dificuldades além do que podemos suportar, o sangue de Jesus é o maior presente imerecido que poderíamos receber. A nossa absoluta incapacidade de salvarmos a nós mesmos ilumina a realidade da nossa absoluta necessidade de um Salvador.

Tendo Jesus como nosso Salvador, podemos sentir grande consolo em saber que seu coração é terno para com a nossa dor, pois ele também suportou uma tristeza inimaginável. Sua inocência é prova de que ele é o único digno de ser o Cordeiro sacrificial pelos nossos pecados. É uma verdade importante o fato de que aquele que é inocente deve suportar o peso e o castigo de todo pecado; no entanto, esta é a própria razão pela qual devemos acreditar em Cristo, quando ele diz que a sua graça é suficiente. A glória de Deus brilha ainda mais, quando permitimos que nossas fraquezas sejam uma proclamação de sua graça, de seu poder e e de sua força infinitos.

Mesmo tendo sua força soberana, Cristo não reconciliou, não redimiu nem restaurou as circunstâncias pelas quais eu orei tão ansiosamente naquela época, no chão da cozinha. Em vez disso, o que eu pensava ser sólido acabou virando pó. E, ainda assim, me senti livre — livre da expectativa de uma vida nos meus termos, onde o sofrimento era contido e os relacionamentos eram protegidos. No outro lado da autossuficiência, encontrei descanso no relacionamento com Cristo — na reconciliação, na redenção e na restauração nele, e não em minhas circunstâncias.

Que a nossa fraqueza — na escuridão das noites passadas no chão da cozinha ou em todos os outros lugares onde a nossa falibilidade se torna inegável — seja um testemunho da força de Cristo, o nosso Salvador, que habita nas profundezas e nas alturas. Que possamos confiar na sua suficiência, pois, quando somos fracos é que somos fortes.

Para refletir:



Houve algum momento ou alguma época em sua vida em que você se sentiu esgotado (física, mental ou espiritualmente), mas Jesus, com sua graça, seu poder e sua força, veio ao seu encontro? Compartilhe um pouco sobre essa experiência e o que ela lhe ensinou sobre o caráter de Jesus.

À luz do evangelho, como você pode reagir ativamente e com alegria sincera, em meio às suas fraquezas e dificuldades?

Kaitlyn é pintora profissional de arte abstrata; vive na Colúmbia Britânica, Canadá, com o marido e o cachorro.

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À medida que a frieza toma conta dos corpos

Não há ressurreição sem morte.

Christianity Today March 29, 2024
Interior with Crucifix and Nothing Special, Joel Sheesley, 56 x 70”, 2001.

Do meio-dia até as três horas da tarde, houve trevas sobre toda a terra. Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz:

― Eloí, Eloí, lemá sabactâni? — que significa: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”

Marcos 15.33-34

Pode ser difícil ter esperança e crer, quando tudo em que você toca está frio. Tenho orado sobre uma determinada situação há mais de três anos. Recentemente, cheguei ao ponto em que sinto que preciso ver alguma movimentação. Mas não vejo.

Movimentar-se gera calor. Mantém a gente aquecido. Corra sem sair do lugar, por alguns minutos, e sentirá sua temperatura aumentar. O sangue começa a pulsar. Seu corpo é ativado. Mas como orar, quando as mãos ficam frias? Como manter a esperança, quando tudo ao seu redor está paralisado?

Não sei em que contextos você precisa ver movimento. Não sei o quão ansioso seu coração está. Não sei se você está acordando no meio da noite, pelo fato de seu corpo estar processando aquilo que não teve tempo de enfrentar durante o dia. Não sei se já se passaram três anos de espera ou dez. Mas vou compartilhar com você algo que sempre digo a mim mesma: renda-se à realidade da Páscoa.

Ao longo do ministério de Jesus, os discípulos viram muito movimento: viram cegos enxergarem, coxos andarem, enfermos serem curados. O ensino de Jesus atraiu multidões e fez convertidos. Tanta coisa aconteceu dentro deles e à sua volta, ao longo desses três anos, que eles devem ter sentido o calor dessa movimentação por todos os lugares. E então, não mais que repente, tudo ficou imóvel. Na sexta-feira santa, tudo esfriou.

Santa é um termo que significa “sagrada”. Na sexta-feira “santa”— o dia em que nos lembramos da santidade da morte de Cristo, que abriu caminho para a nossa salvação —, há admiração mesmo em meio à quietude. Deus trabalha, mesmo quando o sangue não está pulsando. Deus pode se mover, mesmo quando tudo parece estar mortalmente paralisado. Hoje, a sexta-feira santa é um símbolo de esperança para o mundo inteiro. Mas ela também foi o dia anterior àquele em que os discípulos souberam que haveria uma ressurreição. Às vezes nos esquecemos disto: quando eles viram Jesus pregado na cruz, olharam [a cena] sem compreender o propósito do Calvário.

A passagem de 1Pedro 1.24-25 diz: “Pois, ‘toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre’. Essa é a palavra que lhes foi anunciada”. Neste exato momento, se tudo o que você consegue enxergar é relva murcha, pergunte a si mesmo se há algum problema em se sentar e esperar, como os discípulos fizeram. Que tal se hoje não desviarmos os olhos do lamento do Cordeiro? Que tal se hoje nos submetermos ao silêncio do sábado? Que tal se hoje não passarmos direto para a alegria, a qual os seguidores de Deus sequer tinham ideia de que aconteceria no domingo de manhã? Que tal se hoje nos rendermos ao santo lamento da sexta-feira?

Não há ressurreição sem morte; não há manhã de domingo sem a noite da sexta-feira; não há redenção sem Aquele que redimiu. Confie nos métodos do céu.

Talvez, assim como eu, você também esteja observando os grãos de areia escoando pela ampulheta, grãos esparsos, que certamente não parecem encorajadores. Entregue suas emoções à verdade da Páscoa. Permita que a sexta-feira santa seja de fato sexta-feira santa. Permita que a morte pareça morte. Permita que o ar fique incomodamente frio.

E vamos nos encontrar [de novo] no domingo de manhã.

Para refletir:



Como manter a esperança, quando tudo ao redor está paralisado?

O simbolismo da Páscoa faz você se lembrar do quê? Como pode aplicar isso à sua própria vida?

Dra. Heather é palestrante interdenominacional, autora best-seller da ECPA e apresentadora de Viral Jesus, um podcast em parceria com a Christianity Today.

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Uma refeição da qual não esqueceremos tão cedo

A esperança e a ansiedade inerentes à última celebração de Páscoa de Jesus.

Christianity Today March 28, 2024
Óleo sobre linho: Come to the table, Kari Dunham, 56 x 83”, 2014.

Ao anoitecer, Jesus chegou com os Doze. Enquanto comiam, reclinados à mesa, Jesus disse: “Em verdade lhes digo que um de vocês, que está comendo comigo, me trairá”. – Marcos 14.17-18

Você consegue se lembrar do que comeu ontem? Talvez tenha comido um pão de queijo no café da manhã ou um burrito no almoço; seja lá o que foi, a comida provavelmente serviu como transição para a próxima atividade do seu dia. Embora a maioria das refeições seja meramente uma obrigação tediosa para encher nosso estômago, algumas delas nos fazem desacelerar e nos alimentam a alma. A lembrança de um jantar, em 20 de novembro de 1993, ainda alimenta a minha alma. Era uma noite fria e chuvosa, típica daquela época do ano em Vancouver. No final de um dia cuidadosamente orquestrado para otimizar minhas condições de sucesso, pedi a Toni em casamento. Depois que ela disse sim, comemoramos com um delicioso salmão. A refeição nos proporcionou a oportunidade de recordar por que e como nos apaixonamos. Foi um momento decisivo, um tempo de fazer promessas.

Na intimidade de uma noite com amigos queridos, Jesus ofereceu uma ceia de significado eterno. O relato de Marcos sobre a Ceia do Senhor situa o cenário “No primeiro dia da Festa dos Pães sem Fermento, quando se costumava sacrificar o cordeiro pascal” (Marcos 14.12). A refeição da Páscoa era uma comemoração da grande libertação de Israel, pelas mãos de Deus, da escravidão no Egito. À medida que o povo de Deus praticava a recordação, esta acabou se transformando em antecipação, aguçando-lhes o apetite para uma libertação da opressão romana. O ato de sacrificar o cordeiro pascal era realizado de novo todos os anos, no templo, e logo seu significado seria apresentado de novo na Ceia do Senhor.

A história, no entanto, passa dessa antecipação à ansiedade. Jesus interrompeu a conversa da ceia, dizendo: “Em verdade lhes digo que um de vocês, que está comendo comigo, me trairá.” (v. 18). Quaisquer gentilezas que tivessem sido compartilhadas à mesa teriam cessado. Esta proclamação grave subverteu a paz, simbolizada no ato de fazerem uma refeição juntos. As refeições partilhadas proporcionavam um momento e um local em que alianças podiam ser ratificadas, amizades se aprofundavam e até inimigos podiam deixar as armas de lado. Embora toda traição seja ruim, uma traição no contexto de uma hospitalidade como essa deve ter sido terrível.

Enquanto os discípulos digeriam essas palavras, “Jesus pegou o pão, deu graças, partiu‑o e o deu aos discípulos, dizendo: ‘Peguem; isto é o meu corpo’. Em seguida, pegou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, e todos beberam dele. Então, ele lhes disse: “Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos.” (v. 22-24).

Normalmente, a bênção e o partir do pão apenas dariam entrada ao próximo prato do jantar — o equivalente a dar graças e servir o pão árabe. Contudo, no contexto desta refeição pascal repleta de antecipação redentora e de ansiedade pessoal, as palavras de Cristo ritualizaram algo essencial sobre Deus, tanto para os discípulos que estavam à mesa quanto para todos os que se seguiram, desde então. O fruto da salvação veio de uma árvore feia, de uma velha e rude cruz, na qual o corpo torturado de Cristo seria pendurado. E assim, anunciamos “a morte do Senhor até que ele venha” (1Coríntios 11.26).

Sim, Jesus ordenou que o vento e as ondas parassem. Ele ressuscitou Lázaro da sepultura. Quando ele voltar, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor (Filipenses 2.10-11). Tais visões do poder divino inspiram admiração e adoração. Mas Jesus se oferece como um Salvador moído e espancado, homenageado na hospitalidade em torno da mesa e propenso a ser traído mesmo em meio à bênção. Podemos ir até ele com honestidade e sem medo de nossa própria condição caída. Pelas suas feridas fomos curados e pelo seu sangue fomos restaurados. Na Ceia do Senhor, sempre que tomamos o pão e bebemos do cálice, nós diminuímos o ritmo para saborear o dom divino da alegria, que veio por meio das tristezas do nosso Salvador.

Para refletir:



Conte sobre alguma refeição memorável de sua vida. O que a tornou significativa e como ela impactou você emocional ou espiritualmente?

Como a Ceia do Senhor simboliza os aspectos essenciais de Deus e a natureza redentora do sacrifício de Cristo?

Walter é o presidente da Associação Nacional de Evangélicos. Anteriormente, ele serviu como pastor e capelão universitário.

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