Certa noite, enquanto eu corria atrás do meu sobrinho de cinco anos no jardim — controlando a minha velocidade para que ele pensasse que era mais rápido do que eu —, um galho se desprendeu de uma árvore e caiu no chão, bem ao lado dele.
Ele imediatamente se escondeu atrás de outra árvore e seu rosto assumiu uma expressão séria. Juntei-me a ele atrás da árvore e ficamos espiando pelo lado do tronco.
“Você ouviu aquilo?”, perguntou ele.
“O quê?”
“Ouvi um barulho.” Ele fez uma pausa. “Você tá vendo eles?”
“Vendo o quê?”
“Os dinossauros.”
Eu sorri e disse que sim. Passamos os próximos 30 minutos rastejando, nos escondendo e nos protegendo dos lagartos gigantes e furtivos que vagavam pelo nosso quintal, no Meio-Oeste estadunidense.
A crença automática do meu sobrinho de que algo fantasioso havia feito o galho daquela árvore cair não era um absurdo; era, na verdade, um subproduto do jeito como se espera que sua mente funcione.
Pesquisas do cientista cognitivo Justin Barrett mostram que os seres humanos já vêm ao mundo com esse pressuposto de que existe algum tipo de fonte sobrenatural por trás de todas as coisas. E muito embora os dinossauros possam levar o crédito vez ou outra, se você conversar mais extensamente sobre isso com uma criança, é bem mais provável que ela atribua as coisas que acontecem a uma fonte divina. Por isso, Barrett argumenta que boa parte de nós já “nasce crente”. E isso também tem muitas implicações para nós, adultos.
Você pode pensar: “Bem, claro, crianças tendem a acreditar em qualquer coisa. Acreditam em Papai Noel e na Fada do Dente, por exemplo”. Mas, apesar do quão facilmente impressionáveis achamos que as crianças sejam, elas não acreditam em tudo o que ouvem. Por mais que você tente convencê-las de que brócolis é gostoso, por exemplo, a probabilidade de que elas continuem céticas em relação a isso é altíssima.
Portanto, o que estou dizendo não é que as crianças são simplesmente ingênuas. Não, na verdade, elas são naturalmente predispostas a acreditar que as coisas acontecem por uma razão — e a razão que elas geralmente encontram está relacionada a algo divino. Esse é um dos motivos pelos quais as crianças sempre perguntam: “Por quê?”. Elas interpretam espontaneamente o que acontece como produto de uma inteligência divina. O “por que” delas as ajuda a montar o quebra-cabeça da realidade, que estão formando aos poucos, peça por peça.
Se você perguntar a crianças em idade pré-escolar se chover é o que uma nuvem “faz” ou se “a nuvem é criada para chover”, elas quase unanimemente dirão que sim, que a nuvem foi criada para chover. As crianças “enxergam os fenômenos naturais como algo intencionalmente projetado por um deus. Não é por mera coincidência, portanto, que elas também veem os objetos naturais como coisas que existem com um propósito.”
Em outras palavras, é como se as crianças presumissem que existe algum tipo de força externa, uma força que cria cada detalhe do nosso universo por uma razão específica. Deborah Keleman, especialista em psicologia do desenvolvimento, argumenta, portanto, que as crianças são “teístas por intuição”. Trata-se de um teísmo tão inato que até mesmo crianças criadas em lares declaradamente ateus ainda tendem a presumir que existe uma presença divina por trás de tudo, guiando o seu mundo.
Enquanto muitos cientistas cognitivos atribuem essa “consciência natural de Deus” aos processos evolutivos, teólogos como João Calvino insistiam que ela [essa consciência] provém do sensus divinitatis (“um senso de divindade”). Ele consiste na ideia de que todos os seres humanos possuem um senso persistente de que existe algum tipo de deus, e que esse radar divino se mantém surpreendentemente ativo em diferentes culturas, épocas e lugares. O ateísmo, portanto, na verdade, “não é uma batalha apenas contra a cultura, mas contra a própria natureza humana”, nas palavras do biólogo evolucionista Dominic Johnson.
Quanto mais eu aprendia sobre o teísmo intuitivo, mais percebia que me identificava com ele. Cresci presumindo que Deus era real e que Jesus era um candidato a Deus bastante plausível. Mas abandonei essas crenças quando completei 13 anos, principalmente porque músicos seculares me influenciaram a pensar que o cristianismo era algo fora de moda. Depois, quando finalmente aceitei Cristo, aos 18 anos, senti como se tivesse retornado àquele maravilhamento da infância — como se estivesse mergulhando em uma “segunda ingenuidade” serena, para usar a famosa expressão de Paul Ricœur.
Ora, nenhuma dessas pesquisas sugere que as crianças nasçam com uma compreensão salvífica do YHWH judaico-cristão, o Pai de Jesus, de quem procede o Espírito (João 15.26). Essas pesquisas simplesmente demonstram que não nascemos ateus — pelo menos, não ateus funcionais. Em vez disso, o ateísmo é algo para o qual as pessoas vão sendo gradualmente moldadas, graças à imersão em uma cultura onde a mentalidade de incredulidade típica de Tomé é tratada como padrão de intelectualidade.
Se duvidar é a regra, isso facilita ainda mais que o nosso senso de encantamento infantil se insensibilize, à medida que envelhecemos. Muitos de nós vão pouco a pouco substituindo o encantamento e o mistério por meras conclusões lógicas ligadas a causas sem sentido. Não se trata necessariamente de uma evolução natural; o estudioso David Kling afirma que é mais como ir pouco a pouco desaprendendo, substituindo e suprimindo nossa “configuração padrão”, esse nosso instinto.
Mesmo que consigamos atenuar bastante esse instinto, ele não desaparece por completo. Surpreendentemente, o psicólogo Jesse Bering descobriu que até mesmo adultos ateus, quando se deparam com acontecimentos da vida ligados a enorme ventura ou desventura, admitem implicitamente que “tudo acontece por uma razão”.
Confesso que fiquei cético diante dessas descobertas, quando as ouvi pela primeira vez — provavelmente porque eu mesmo fui ligeiramente condicionado, talvez até demais, pela mentalidade de incredulidade típica de Tomé. Mas quanto mais refletia sobre tudo isso, mais essas descobertas faziam sentido. Quando somos confrontados com algo desastroso ou extraordinariamente fortuito, imprevisto, isso diminui nossas crenças instintivas em um universo frio e aleatório, mesmo que seja apenas momentaneamente. Essa surpresa, esse assombro — seja ele positivo ou negativo —, consegue abalar nossas opiniões arraigadas, permitindo-nos um breve retorno à ingenuidade infantil.
E toda essa pesquisa me fez lembrar, evidentemente, da maneira como Jesus elogiou as crianças ao longo dos Evangelhos.
Alguns traziam crianças para que Jesus lhes impusesse as mãos, mas os discípulos os repreendiam. Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: ― Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam, pois o reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Em verdade lhes digo que quem não receber o reino de Deus como uma criança nunca entrará nele. Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs‑lhes as mãos e as abençoou. (Marcos 10.13-16).
Tenho certeza de que Jesus não estava elogiando as crianças por causa da irrepreensível sensibilidade ética delas (passar uma tarde com uma criança de dois anos revelará essa verdade teológica). Em vez disso, como observa o estudioso do Novo Testamento William L. Lane, Jesus elogia as crianças simplesmente porque elas aceitam a realidade de Jesus sem reservas.
Jesus abençoa as crianças não por causa de “suas virtudes, mas pelo que lhes falta”, argumenta o estudioso James R. Edwards. As crianças pequenas têm uma falta de sofisticação, de autoconsciência e de ansiedade no que diz respeito a se encaixar ou a se alinhar com a opinião da maioria. Elas ainda não desenvolveram um senso de autoimportância, nem o desejo de se sentirem as mais inteligentes do grupo, nem mesmo a ilusão de controle sobre um universo imprevisível.
Em suma, o elogio de Jesus pode ter sido, em parte, direcionado à maneira como o cérebro de uma criança se mostra perfeitamente preparado para se maravilhar com o reino de Deus.
Embora a vida adulta, o racionalismo e o método científico possam nos levar a ver o mundo como algo menos projetado teisticamente, enquanto seguidores de Jesus sabemos que esses métodos não conseguem revelar a realidade em sua plenitude, como ela realmente é. O convite que Jesus faz às crianças também é para os adultos. É um convite para removermos as barreiras que impedem nossa mente de perceber Deus por trás de tudo — até mesmo por trás da queda de um galho.
É tentador presumir uma perda de espiritualidade entre as gerações mais jovens de hoje. Mas um estudo recente do International Journal for the Psychology of Religion [Jornal Internacional de Psicologia da Religião] descobriu que os “sem religião” (aqueles que não se identificam com nenhuma religião) não têm menos anseios espirituais do que quem frequenta uma igreja. Eles apenas tendem a canalizar esses anseios para outras vias, e preferem “meios personalizados de descoberta em vez dos meios oferecidos pelas religiões tradicionais”.
Em outras palavras, nos dias de hoje, essa consciência de Deus, o sensus divinitatis, está vivo e vai muito bem, obrigado. Talvez, o que as gerações mais jovens precisem seja apenas de alguma ajuda para apontar esse senso na direção certa.
E mesmo quem frequenta a igreja fielmente há anos sempre precisa resgatar esse maravilhamento da segunda ingenuidade — sempre precisa se tornar como uma criança, e ver o mundo a partir dessa perspectiva novamente, lembrando-se da beleza da vida com Deus de maneira renovada.
Algumas semanas atrás, recebemos uns amigos em casa; eles vieram nos visitar com seus filhos. A família deles havia sofrido um acidente de carro (relativamente leve) recentemente. Então, perguntei à filha deles de quatro anos sobre o acidente. “Deus nos protegeu”, foi tudo o que ela disse, antes de voltar a brincar.
Admiro muito essa resposta. Eu provavelmente teria parado um instante para reconhecer que outros fatores, como cinto de segurança e airbag, garantiram a segurança deles, antes de anunciar essa conclusão sobre Deus. Talvez eu tenha muito a aprender com essa criança.
Griffin Gooch é escritor, palestrante e professor. Ele atualmente cursa doutorado na Universidade de Aberdeen e escreve com mais frequência no Substack.