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Crie seu filho para que sonhe em se tornar um herói

Os meninos precisam de modelos de valor, mas estamos pagando o preço por desacreditar o próprio conceito de heroísmo.

A boy wearing a red hero cape that is glitching and pixelated.
Christianity Today June 19, 2025
Illustration by Elizabeth Kaye / Source Images: Getty

A cada dia que passa está ficando mais claro que meninos e homens não estão nada bem. “Não é apenas impressão”, disse recentemente no The New York Times a jornalista Claire Cain Miller: “Os dados mostram que os meninos e os jovens estão ficando para trás”.

Com o intuito de ir além do diagnóstico e mirar em respostas construtivas, Miller convidou os leitores a sugerirem soluções na seção de comentários. Um dos leitores disse: meninos precisam de heróis. É comum meninos e homens sonharem em ser heróis, e esse instinto louvável precisa ser reafirmado e canalizado. É um desejo divino que devemos satisfazer, apresentando aos meninos modelos de valor, dignos de serem seguidos, e histórias de heroísmo.

Infelizmente, parece que a nossa cultura anda fazendo de tudo para sufocar e reprimir esse instinto heroico. Há algumas décadas, temos dedicado grande ênfase a desacreditar antigos heróis do passado.

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De fato, reconhecer verdades do passado também é algo valioso e necessário. Ninguém pode olhar para trás e fazer uma avaliação justa de Thomas Jefferson, sem levar em conta que ele foi proprietário de escravos e sem mencionar o tratamento que ele dispensou a Sally Hemings e a seus filhos [Sally Hemings foi uma escrava de Jefferson, com quem ele teve seis filhos, nascidos após a morte de sua esposa. Ela era meia-irmã da primeira-dama Martha Jefferson]. Nossa admiração por Jefferson é motivada pelo fato de ele ter articulado nobres princípios — os mesmos princípios que essas suas ações vergonhosas e pecaminosas refutaram.

No entanto, esse debate passou do reconhecimento necessário das falhas pessoais de figuras tidas como heróis para um desprezo pela categoria de “herói” em si. Essa atitude foi reforçada pelo que C. S. Lewis chamou de “esnobismo cronológico”: como os problemas muitas vezes se resolvem e se esclarecem com o tempo, condenamos presunçosamente todos do passado, por não pensarem e não se comportarem como nós. Deixamos de levar em conta que não teríamos nos saído melhor [do que eles] se tivéssemos vivido naquela época. E também deixamos de nos lembrar que, sem dúvida, nós também temos nossos pontos cegos que as pessoas no futuro acharão chocantes e indesculpáveis. Acharíamos justo e correto, se nossos descendentes não vissem nada de bom nem de admirável em nós ou em qualquer outra pessoa de nossa época?

Essa tendência tem afetado meninos de todas as idades. Se não nos mostramos dispostos a apontar pessoas do passado e reconhecer que viveram uma vida admirável, é razoável que nossos filhos cheguem à conclusão de que devem perder a esperança de viver uma vida admirável. Descartar heróis, em última análise, nos leva a desistir do heroísmo.

A Bíblia está sempre disposta a exaltar heróis. Hebreus 11 cita nominalmente uma série de heróis da fé. Algumas dessas pessoas cometeram atos altamente lamentáveis ​​e pecaminosos, mas nós os honramos da mesma forma que honramos todos os heróis, não por causa das coisas que fizeram e que merecem condenação, mas apesar delas. Honramos esses heróis por sua coragem, sua força, seu sacrifício e, acima de tudo, por sua fidelidade. A Bíblia nos ensina a valorizar a memória daqueles que viveram uma vida digna: “A memória deixada pelo justo é uma bênção, mas o nome dos ímpios apodrecerá” (Provérbios 10.7).

É claro que meninas e mulheres também anseiam por heroísmo. Mas destaco aqui os efeitos disso para os meninos em particular, porque o domínio da nossa cultura sobre a categoria do que é heróico não afeta os sexos igualmente.

Esse domínio tem uma exceção: você ainda pode ser um herói, se fizer parte de um grupo marginalizado e oprimido e realizar algo admirável, especialmente se o seu ato ajudar esse grupo a obter liberdade, direitos e maior respeito. Heróis que se enquadram nessa categoria costumam ser dignos de grande honra, e a categoria em si é justa e boa. Para citar apenas um exemplo bíblico, pense em Moisés: ele heroicamente liderou os israelitas em sua libertação da escravidão e da opressão no Egito.

Como as mulheres foram submetidas a restrições legais e sociais injustas, ao longo de grande parte da história, essa exceção significa que as meninas ainda têm muitas heroínas à disposição. Para os meninos que buscam modelos masculinos, porém, restam bem menos opções. A luta pelos direitos ou pela liberdade de outras pessoas que (ao contrário de nós) são marginalizadas ou oprimidas é encarada por muitos em nossa cultura com certo ceticismo, em vez de admiração — inclusive, isso muitas vezes nem é visto como heroísmo, mas sim como um “complexo de Messias”.

Sendo bem franco, acho que criamos um clima cultural no qual a única maneira de se tornar um herói é se tornando primeiro uma vítima. Há muitos incentivos em nossa cultura para nos imaginarmos como vítima, mas bem menos incentivos para nos imaginarmos como heróis. Além disso, meninos e homens têm sido amplamente descritos como algozes, e não como vítimas; como opressores, e não como libertadores; como vilões, em vez de heróis. Nenhuma dessas realidades envia mensagens saudáveis ​​para os meninos.

Voltar a ampliar a categoria do que significa ser um herói pode nos ajudar a encontrar uma solução. Há muitas maneiras de ser herói. Os meninos precisam ouvir isso e ser encorajados a se imaginarem como alguém que pode vir a se tornar um herói de alguma maneira que se encaixe com seus temperamentos, interesses, personalidades e vocações. Um herói pode ser um líder (como Winston Churchill), pode ser um cientista (como George Washington Carver), um explorador (como John Glenn), um reconciliador (como Nelson Mandela), um dissidente (como Lech Wałęsa), alguém que salva vidas (como Oskar Schindler), alguém com um testemunho impactante (como Jim Elliot), ou muitas outras coisas.

Talvez você queira discutir sobre a pertinência de identificar como heróis algumas das pessoas que acabamos de mencionar. Essa é uma discussão saudável e boa. No entanto, não se limite apenas a desacreditar os heróis dos outros. Devemos nos preocupar também em encontrar heróis, em citar heróis. Precisamos apresentar aos meninos exemplos concretos de vidas heroicas que valem a pena ser vividas. Deixe seus filhos sonharem que podem crescer e se tornar heróis.

Timothy Larsen leciona no Wheaton College. Seu próximo livro é The Fires of Moloch: Anglican Clergymen in the Furnace of World War One [O Fogo de Moloque: Clérigos Anglicanos na Fornalha da Primeira Guerra Mundial].

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