Tenho 26 anos e, de forma geral, olho para o futuro com bastante entusiasmo. Mas quando penso nas ondas de calor, inundações e crises humanitárias que provavelmente enfrentarei ao longo da vida, sinto um certo pavor. Esse pavor é ainda maior quando penso no futuro dos meus filhos e dos meus netos. Imagino se eles poderão vivenciar toda a beleza da criação de Deus que tanto apreciei enquanto crescia.
Como jovem agricultora, sinto um aperto no peito ao observar que os padrões climáticos e as estações estão se tornando cada vez mais inconstantes. Preocupo-me se, com um clima mais quente, haverá guerras por comida e água, ou se as fontes de água serão poluídas e o solo sofrerá erosão.
Muitas pessoas, especialmente da minha faixa etária, também se sentem assim. Uma pesquisa recente perguntou a 10 mil jovens, em todo o mundo, sobre seus pensamentos e sentimentos em relação às mudanças climáticas. De acordo com os resultados, três em cada quatro jovens acham o futuro assustador. Mais da metade relatou ter sentimentos de tristeza, ansiedade, raiva e impotência, quando pensam nas mudanças climáticas. E cerca de 45% dos entrevistados disseram que seus sentimentos sobre as mudanças climáticas afetaram negativamente sua vida diária e sua performance.
Esses medos se tornaram tão predominantes em nossa geração que um novo termo foi cunhado: a ecoansiedade.
De certa forma, os jovens de hoje materializaram a provocação que a ativista ambiental Greta Thunberg fez aos líderes, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, em 2019: “Não quero que vocês tenham esperança, quero que entrem em pânico. Quero que sintam o medo que eu sinto todos os dias.”
Mas, embora eu respeite a contribuição de Thunberg, por ter colocado as mudanças climáticas na agenda mundial, discordo dela nesse ponto. Não acredito que o pânico nos ajudará. O que mais precisamos hoje é de esperança — uma esperança profunda, não aquele tipo de esperança ingênua, que fecha os olhos para a realidade.
A realidade ambiental de fato parece sombria. Basta lembrar o verão de 2023, que foi brutalmente quente. De acordo com climatologistas da NASA, foi o mais quente da Terra, desde o início dos registros globais, em 1880. Mas, apesar do calor recorde de 2023, ele provavelmente será um dos anos mais frescos da vida de muitos jovens. Muitos cientistas acreditam que nosso planeta está a caminho de um aquecimento global alarmante, de uma crise de biodiversidade e de sérias perturbações nos padrões climáticos.
Moradores da Oceania e das Maldivas, por exemplo, correm alto risco com a elevação do nível do mar. O reassentamento de algumas vilas e cidades já começou. E, no futuro, muitos outros “refugiados ambientais” provavelmente terão de deixar suas casas, por não poderem mais permanecer nelas — estima-se que serão 216 milhões de refugiados até 2050.
Os impactos das mudanças climáticas são mais sentidos pelos mais pobres, como agricultores de subsistência e comunidades com acesso limitado a financiamentos após desastres ambientais. Essas pessoas também são as que menos contribuíram para as mudanças climáticas.
Perda de biodiversidade, incêndios florestais, poluição, mudanças climáticas e eventos climáticos extremos certamente nos dão motivos para lamentar e nos preocupar. Podemos nos sentir impotentes, quando aqueles que tomam as decisões falham em proteger o meio ambiente e o nosso futuro. E o fluxo constante de más notícias a que somos expostos online também cobra seu custo emocional.
Como cristã, sei que Deus se importa com o mundo. E também acredito que Deus se entristeça com tudo que fazem de errado com a sua criação. Jesus nunca se esquivou dos sentimentos. Em vez disso, ele demonstrou abertamente emoções como tristeza, medo, ira e dor. A fé cristã nos equipa com ferramentas para lidar com o medo que podemos sentir pelo futuro da Terra. Aqui estão três práticas que me ajudaram a lidar com a minha própria ecoansiedade.
Dê pequenos passos para mudar.
Há décadas meu avô cultiva um pequeno pomar de macieiras nos fundos da casa. Em uma semana ensolarada de setembro, meu pai, minha prima, o marido dela, seu filho pequeno e eu colhemos as maçãs. Enquanto eu colhia as frutas doces dos galhos, notei pequenas joaninhas aninhadas na cavidade ao redor do caule da maçã, aparentemente dormindo.
Despertei com cuidado as joaninhas e as coloquei delicadamente em outro galho. Eu não queria que morressem na prensa de sidra ou na adega. Diante do atual declínio dos insetos, minha ação pode parecer algo completamente inútil, mas ela me deu esperança. E acho que Deus também ficou satisfeito (os pulgões provavelmente não ficaram tão felizes assim).
Quando as preocupações com o planeta nos paralisarem, podemos fazer algo para cuidar dele, não importa o quanto isso possa nos parecer pequeno e insignificante. Cozinhe em casa, em vez de comprar comida pronta e embalada em plástico. Vá de bicicleta para o trabalho ou para escola, em vez de ir de carro. Convide alguém para uma xícara de chá orgânico, que seja fruto de uma linha de produção e de comércio justa. Evite o feed do apocalipse e passe um tempo longe do seu smartphone. Plante hortaliças no parapeito da janela.
Isso pode parecer ridículo diante da dimensão da crise. Mas a mordomia ambiental ajuda. Também podemos ter certeza de que todo ato de amor, por menor que seja, é valioso aos olhos de Deus.
Converse com o Bom Pastor.
Nada me acalma mais do que sentar nos pastos da fazenda e observar um rebanho de ovelhas. Ovelhas são animais muito medrosos. Elas só se deitam juntas e despreocupadas no pasto quando se sentem completamente seguras e saciadas. Enquanto as observo pastando e se deitando, minhas ansiedades diminuem. Não consigo deixar de pensar no Salmo 23:
O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta. Ele me faz repousar em pastagens verdejantes e me conduz a águas tranquilas; restaura‑me o vigor. Guia‑me pelas veredas da justiça. (v.1-3)
Começo a conversar com Jesus, o Bom Pastor. Com o Senhor de toda a criação, por meio de quem tudo foi criado (Colossenses 1.16), mas que, ao mesmo tempo, cuida de cada pardal (Lucas 12.6). Quando tudo à nossa volta parecer sombrio e formos atormentados por medo em relação ao futuro, podemos descansar nesta certeza: Deus é por nós, Ele está conosco. Jesus é o farol que traz esperança, ordem, sabedoria e luz ao nosso mundo.
Em um momento de incerteza, o texto de Salmos 90.14 falou particularmente comigo: “Satisfaz‑nos pela manhã com o teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes.”
Orações simples e curtas ao longo do dia podem ajudar — converse com o Bom Pastor. Por exemplo, quando lermos uma notícia e sentirmos ansiedade ou preocupação, podemos dizer em voz baixa: “Senhor, tem misericórdia” ou “Em tuas mãos entrego essa preocupação, meu Deus”. Ou podemos perguntar a Ele: “O que queres que eu faça [em relação a este problema]?”
Celebre.
Essa prática pode soar quase como uma ironia, diante do estado do nosso planeta. Mas acredito que celebrar é exatamente onde se encontra o segredo para a esperança. Embora o medo, a preocupação e a raiva sejam emoções legítimas, levando em conta as injustiças da crise ambiental, essas emoções também podem facilmente nos roubar a alegria ou nos tornar cínicos. Porém, uma vez que adotamos tal comportamento, torna-se extremamente difícil servir e desfrutar de um bom relacionamento com Deus, com nossos semelhantes e com o restante da criação.
Portanto, não fechemos os olhos e o coração para toda a beleza e a bondade que ainda nos restam. Em vez disso, celebremos e desfrutemos! “Provem e vejam como o Senhor é bom”, convida-nos o salmista (Salmos 34.8).
Em um período em que eu estava física e emocionalmente doente, de repente senti o desejo de celebrar a vida. Fui inspirada pelas muitas festas que os israelitas deveriam celebrar, ano após ano. Em meio à tristeza e à desesperança, eu queria celebrar o que é bom.
Comecei a pensar em como poderia fazer o bem a mim mesma, aos outros e à natureza. Somente quando podemos compartilhar nossa alegria com os outros é que experimentamos a felicidade completa. Então, sob o lema “Celebrar, Compartilhar e Renovar”, fiz uma lista de ideias para o mês seguinte.
Tomei café com bolo, acompanhada de um bom livro, em uma cafeteria encantadora. Distribuí bombons caseiros. Convidei meus melhores amigos para fazer pizza de fermento natural em casa. Fiz uma caminhada e conscientemente apreciei a majestosa criação de Deus. Fiz doações para uma organização cristã de conservação da natureza, que tem projetos como filtros de areia que fazem uma filtragem biológica da água, árvores frutíferas para escolas e comunidades de Uganda, colmeias para agricultores no Quênia e iniciativas de reflorestamento no Peru e no Líbano.
Quando meu mês festivo terminou, senti como se a nuvem finalmente tivesse se dissipado. Minha tristeza havia se transformado em alegria. Eu finalmente podia rir e escrever novamente com esperança, e essa esperança havia se materializado em atos concretos de amor.
E se, diante de todas as coisas ruins que estão acontecendo no mundo, nos sentássemos à mesa ricamente posta de Deus? Como seria, se convidássemos nossos amigos e vizinhos, jovens e idosos, para se juntarem a nós? E se, durante nosso trabalho de cuidar da criação de Deus, também desfrutássemos dela — apreciando as folhas coloridas no outono, fazendo caminhadas alegres e pratos deliciosos preparados com amor?
Como cristãos, não devemos encobrir a realidade nem viver com medo da desgraça. Em vez disso, podemos viver com esperança em meio a preocupações ambientais. Embora reconheçamos os desafios ecológicos de hoje, podemos enfrentar nossos sentimentos de ecoansiedade. E, então, podemos agir em favor do meio ambiente, por amor ao Criador, sabendo que um dia nos alegraremos com a criação renovada.
Naomi Bosch é autora, cientista agrícola e escritora freelancer com foco em sustentabilidade e cuidado com a criação. Ela vive e trabalha em uma fazenda em Zagreb, na Croácia.