Quando nossa primeira filha nasceu, no outono de 2021, ela não conseguia mamar direito. Para minha esposa, alimentá-la era um exercício de pura dor que se repetia num intervalo de poucas horas. Consultamos especialistas em lactação, mas sem sucesso; uma microcirurgia para língua-presa, uma nova tendência para casos como esse, também não ajudou. Pensamos em trocar o leite materno por fórmula, mas minha esposa estava decidida a continuar amamentando.
Então, nós a alimentávamos em três etapas: ela amamentava o bebê com os dentes cerrados [de dor], pelo tempo que conseguisse suportar, enquanto eu fazia o meu melhor para distraí-la — cantava músicas, lia, ligava a TV. Então, eu pegava minha filha e terminava de alimentá-la com a mamadeira, enquanto minha esposa tirava leite. No fim das contas, o bebê só precisou crescer um pouco. Com oito semanas, a dor que a minha esposa sentia tinha sumido.
Quando nossa segunda filha nasceu, no ano passado, o processo parecia que ia se repetir — e então, na segunda semana, inesperadamente desapareceu. O maior desafio, como viemos a descobrir, foi controlar as emoções da minha outra filha, que, de súbito, não era mais o centro do universo que conhecia.
Após um período de protestos, ela se acostumou com o novo equilíbrio. Sim, a mãe tinha um novo bebê, mas ela ainda tinha o pai. Durante aquelas primeiras semanas, minha filha mais velha e eu éramos inseparáveis. (Eu também arranjei tempo para a mãe e o novo bebê!) Logo, ela passou a gostar da irmãzinha o suficiente para que todos nós nos reintegrássemos como uma família feliz.
Ambas as histórias têm um subtexto crucial: eu estava em licença-paternidade. Pela política heroicamente generosa e deliberadamente pró-família do meu empregador da época, eu tinha liberdade para tirar até 12 semanas de folga por filho, para ajudar minha esposa a se recuperar do parto e para criar vínculos com o bebê recém-chegado.
Tive sorte; esse tipo de arranjo é raro. A maioria dos pais americanos tira apenas um curto período de licença-paternidade, quando os filhos nascem, se é que tiram. Apesar de um número crescente de empresas e de estados oferecerem algum tipo de folga para os pais — Washington, por exemplo, implementou um padrão de 12 semanas para todos os funcionários federais, em 2022 — e apesar de pesquisas descobrirem que a maioria dos americanos apoia a prática, o pai americano em média ainda tira apenas uma semana de licença. Sete em cada dez tiram duas semanas ou menos.
Parte disso é simples política corporativa; muitos pais tirariam mais tempo de licença se seu local de trabalho aceitasse bem isso. Mas também há uma razão pela qual tantas empresas escapam [dessa demanda] sem oferecer muito: ainda há, além disso, uma boa dose de complicada resistência cultural a que os novos pais tirem sua licença, e aqui entram em jogo as ansiedades masculinas sobre serem vistos como indivíduos insuficientemente motivados para o trabalho. Mesmo nos países que têm uma licença-paternidade generosa financiada pelo governo — como a Coreia do Sul e o Japão, por exemplo — muitos pais não tiram essa licença.
Para os cristãos conservadores dos EUA, em particular, pode parecer que o conceito de licença-paternidade vai contra vários dos nossos próprios instintos políticos e culturais. Alguns podem revirar os olhos para os empregadores — sem mencionar os contribuintes — ao serem solicitados a pagar a conta para que um pai possa ficar em casa com seu bebê recém-nascido. Afinal, não é ele quem está se recuperando do parto, uma diferença biológica importante e essencial.
Outros podem ver, em uma sociedade que prioriza a licença-maternidade em particular, uma afirmação saudável dos papéis tradicionais de gênero. Isso vale tanto para filhos biológicos quanto para os adotados. As mães ficam em casa com seus filhos — brincando e cuidando deles, banhando-os e alimentando-os. Os pais saem para trabalhar.
Mas a maior fonte do ceticismo de muitos cristãos em relação à licença-paternidade é a mesma que alimenta a cultura em geral: a simples inércia. Argumenta-se que as pessoas não costumavam ter o luxo da licença-paternidade remunerada, e mesmo assim conseguiam se virar. Ter o pai em casa é uma extravagância da qual o bebê sequer vai se lembrar.
Pais que tiram a licença-paternidade frequentemente se deparam com essa inclinação até mesmo por parte de amigos e conhecidos bem-intencionados: Como está indo seu tempo livre? Conseguindo matar as horas? Aposto que você está louco para voltar ao trabalho, não é?
Já passou da hora de os cristãos revisitarem essa atitude. Sabemos que a paternidade não é um chamado de pouca importância, nem um papel secundário. A principla tarefa dos pais não é pagar a alimentação e a educação universitária dos filhos — ainda que isso também seja bom —, mas sim criar seus filhos “na disciplina e na instrução do Senhor” (Efésios 6.4, ESV). O livro de Provérbios é uma longa instrução paterna em retidão: “Ouçam, meus filhos, a instrução de um pai; estejam atentos e obterão discernimento. O ensino que ofereço a vocês é bom; por isso, não abandonem a minha instrução” (4.1-2).
As Escrituras nos mostram bons pais, que estão sempre prontos, e são íntimos, sábios e compassivos — que recebem de braços abertos um filho pródigo com um banquete (Lucas 15.20-24), que estão prontos para morrer em paz, após ver o rosto de um filho amado pela última vez (Gênesis 46.29). Em última análise, é claro, a paternidade é um dever que nos é modelado por Deus, nosso pai — não por um provedor ausente, mas por um pai que calorosamente nos convida a nos aproximarmos dele em amor.
Os pais precisam de licença-paternidade para cumprir esse chamado? Claro que não. Mas obrigar um pai a voltar logo para o trabalho, apenas uma ou duas semanas após o nascimento do filho, joga contra esse chamado de todas as maneiras possíveis, mesmo que, de início, haja mais troca de fraldas do que “disciplina e instrução”. De repente, esse esforço conjunto se torna um projeto solo, a cargo apenas da mãe, no sentido de descobrir os vários desafios do começo da maternidade, transitar por eles e superá-los — e são esses justamente os desafios por meio dos quais se aprende o que é ser pai e mãe.
Quase automaticamente, o pai se torna um espectador desse processo. Longe de desempenhar o papel de liderança espiritual de sua família, ele pode ver-se recuando para um papel secundário como pai, alguém que fica feliz em deixar todas as partes difíceis do trabalho [de criar um filho] para a mãe, especialista forjada nas batalhas, que sabe onde está a pomada para assaduras e como tirar um bebê escorregadio do banho.
Tenho certeza de que, no final das contas, teríamos superado os pequenos desafios que mencionei no início, mesmo sem a bênção da licença-paternidade. Alimentar nossa primeira filha em três etapas não teria sido uma opção; então, teríamos apenas trocado para alimentá-la com mamadeira e fórmula. E não há nada de errado com as fórmulas!
Ainda assim, se tivéssemos desistido da amamentação com a primeira filha, provavelmente teríamos feito o mesmo com a segunda — e depois de dois fracassos desse tipo, por que nos preocuparíamos em tentar novamente no futuro, se fôssemos abençoados com mais filhos?
Nossa filha mais velha teria encontrado outras maneiras de lidar com o fato de ter uma irmã tão cedo, assim como minha esposa também teria encontrado maneiras de lidar com as milhares de pequenas lutas do início da maternidade.
Mas sou grato a Deus e ao meu antigo empregador porque, naqueles primeiros meses formativos, minha família não foi obrigada a entender [sozinha] os meandros de uma nova vida na qual eu seria apenas uma presença ocasional já de início. Sou grato por ter tido a oportunidade de dar uma pausa na vida como eu a conhecia, por algumas semanas, para que nos adaptássemos a nossa nova vida — e também sou grato porque, em vez de aprender como encaixar a paternidade em quaisquer espaços que encontrasse no meu trabalho, eu pude fazer um curso intensivo de paternidade básica e, só então, descobrir como meu trabalho se encaixaria nisso.
Portanto, empresas: ofereçam a licença-paternidade a seus funcionários! E cristãos: abracem-na! Papais: tirem sua licença-paternidade — e depois espalhem a notícia!
Andrew Egger é o correspondente da Casa Branca no The Bulwark.
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