“Você quase morreu, cara.”
Eu mal tinha registrado suas palavras, antes que meu irmão mais velho sentasse em uma cadeira, ao lado da minha cama de hospital. Eu havia ficado dias sem dormir, depois que uma cirurgia relativamente rotineira se transformou em uma angustiante infecção pós-operatória, e se alastrou por todo o meu corpo. Meu irmão, que era cirurgião geral, não era de medir as palavras. Sua postura cansada era prova suficiente de que ele não estava exagerando.
Meu irmão havia se debruçado sobre meus prontuários médicos por dias, pedindo uma infinidade de exames, em uma tentativa desesperada de diagnosticar a bactéria que estava tentando me matar. Embora seu humor estivesse decididamente picante, foi ele quem salvou minha vida por meio de uma última cirurgia corretiva. “Você vai ficar bem, meu irmão. Você vai ficar bem.”
Naquela noite, enquanto eu estava lá, deitado na minha cama de hospital, uma tempestade se abateu sobre a cidade. O som ritmado da chuva me atraiu para fora da cama, pela primeira vez em dias, e eu me arrastei como um velho homem até uma cadeira que estava ao lado da janela, e fiquei ouvindo as gotas de chuva caírem e depois escorrerem em cascatas irregulares até o parapeito da janela. Fechando os olhos, refleti sobre o mistério das provações, enquanto um versículo bíblico ecoava em minha mente:
“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma.” (Tiago 1.2-4).
Para mim, essa passagem muitas vezes soava como um desejo sádico por dor. Como alguém que viveu grande parte da vida determinado a superar o desconforto, a noção de sentir alegria nas dificuldades era um anátema. Ser um crente não era um convite à bênção? Como é possível que a dor e o sofrimento das provações pudessem ser considerados motivo de grande alegria?
Na década de 1980, um centro de pesquisa chamado Biosfera 2 construiu um ecossistema fechado, para testar o que seria necessário para colonizar o espaço. Tudo foi cuidadosamente selecionado e providenciado, e as árvores plantadas lá dentro brotaram e pareciam prosperar. Depois, começaram a cair.
Imagino que os botânicos devem ter olhado para tudo aquilo com desânimo, sem encontrar nenhuma evidência de doenças, ácaro ou pragas. Não havia nada que pudesse causar a queda das árvores; as condições eram perfeitas. E, então, eles perceberam o que estava faltando — algo tão simples, mas que estava ausente dentro dos limites da estrutura: o vento.
O ar ficava muito parado, muito sereno lá dentro — e essa calmaria fazia com que as árvores ficassem condenadas. São a pressão e a variação dos ventos na natureza que fazem com que as árvores se fortaleçam e suas raízes cresçam. Embora as árvores da Biosfera 2 tivessem todo o sol, o solo e a água de que precisavam, na ausência de ventos variáveis, elas não desenvolviam resistência, e acabavam caindo sob o peso de sua própria opulência.
Será que nossas dificuldades, mais do que nossos prazeres, são o que nos aproxima de Deus? Elas nos lembram de nosso desespero e nos levam de volta à única fonte de vida abundante. Romanos 5.3-5 nos encoraja:
“…também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.
Passei a maior parte da noite naquela janela, enquanto a chuva continuava a cair. Caí no sono e despertei de novo várias vezes, enquanto meu corpo continuava a se recuperar, e senti a paz de Deus como um abraço caloroso, lembrando-me de que ele esteve comigo em cada passo da minha jornada de quase morte, guiando as mãos do meu irmão, enquanto ele lutava para salvar a minha vida, e enchendo aquele quarto de hospital com seu Espírito.
Ao atravessarmos a Quaresma, esse período repleto de lutas, podemos começar a ver as tribulações e as tempestades de uma nova maneira. Embora ainda tenhamos uma forte aversão à dor, podemos ver a mão de Deus, quando os ventos das tribulações nos açoitarem, e podemos nos consolar com o fato de que nossas raízes estão se aprofundando.
Para refletir: Muitas vezes, é difícil perceber as provações sob uma luz positiva, enquanto as enfrentamos. Ao refletir sobre sua vida, como as experiências difíceis que enfrentou mudaram você para melhor? O que você aprendeu? Em seus momentos mais sombrios, o que Deus lhe ensinou a respeito dele mesmo? Como ele consolou e ajudou você? Há alguém em sua vida, seja um amigo, seja um familiar, que você poderia encorajar hoje, ao compartilhar sua história?
Robert é escritor e cineasta, reside em Waco, Texas, com sua esposa e três filhos adolescentes. Ele é o autor de um romance de ficção científica para crianças de 8 a 13 anos.
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