Eu tinha 26 anos, quando me apaixonei por uma moça que conheci na redação do jornal. Ali, da mesa em que eu trabalhava, em um jornal impresso de Curitiba, eu a vi entrar para a sua entrevista de emprego. E comecei a me perguntar quem era ela. Quando começou a atuar como repórter, a poucos passos de mim, fiquei radiante. Seu nome era Marli.
Pouco tempo depois, a melhor amiga de Marli começou a namorar um amigo meu. Os dois frequentemente nos convidavam, a mim e a Marli, para acompanhá-los em seus encontros. E foi assim que começamos a namorar também.
Marli era cristã e eu, ateu. A convite dela, comecei a frequentar a igreja batista de que ela fazia parte. Achava os cultos entediantes e me perguntava por que cantavam tanto — mas era um pequeno preço a pagar por algumas horas a mais com a minha namorada.
Eu pensava que os evangélicos eram pessoas de mentalidade estreita, manipuladas por televangelistas gananciosos. Por isso, fiquei surpreso com a gentileza com que as pessoas da igreja me tratavam e com a inteligência e a sabedoria dos pastores. Mas meu espanto não me levava muito além desse ponto. Para mim, a igreja era apenas mais um espaço puramente social.
Por volta da mesma época, comecei a trabalhar na revista Veja. De alguma forma, em um veículo que raramente cobria religião, eu era constantemente designado para escrever matérias positivas sobre o cristianismo evangélico no Brasil.
Primeiro, fui enviado para entrevistar um pastor que liderava um ministério prisional em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Depois, conheci um grupo de mulheres que fazia uma viagem de ônibus de duas horas, toda semana, para orar com os detentos em um presídio estadual. Cobri casas de recuperação para usuários de drogas, que eram administradas por igrejas pentecostais, e escrevi sobre cristãos que criaram uma escola de samba e desfilavam no Carnaval da capital paranaense.
Parecia que eu não conseguia escapar dos cristãos. Mesmo quando minhas viagens para a produção de reportagens não tinham nada a ver com religião, lá estavam os crentes. Certa vez, fui a uma feira agropecuária em Maringá, no Paraná, para escrever sobre rodeios, e um homem se aproximou de mim, apresentando-se como pastor. Cada encontro ia corroendo pouco a pouco a percepção negativa que eu antes tinha dos evangélicos. Reconheci que minha visão sobre os evangélicos estava errada, mas deixei por isso mesmo.
Enquanto isso, sem que eu soubesse, toda a família da Marli estava orando para que eu encontrasse Jesus.
Meu pai chegou ao Brasil em 1953, aos 9 anos de idade, como imigrante da Itália. O pai dele, Enea, ganhava a vida produzindo e vendendo imagens de gesso de santos católicos, uma tradição em Casabasciana, sua vila, que ficava nas montanhas da Toscana.
Por isso, fui criado na fé católica e passei grande parte da minha infância em escolas confessionais. Mas nunca tive um compromisso pleno com a minha fé. Na adolescência, decidi me distanciar da Igreja Católica e passei a me identificar como ateu.
Na universidade, o jornalismo se tornou a minha religião. Fui seduzido pela ideia de me tornar testemunha ocular da história, e pelo pensamento de que meu trabalho poderia de alguma forma, ajudar a consolidar a jovem democracia brasileira. Passei a enxergar tudo pelas lentes dos princípios essenciais do jornalismo: objetividade, imparcialidade e veracidade.
Então, quando meus encontros inesperados com Marli e com outros cristãos começaram a ofuscar meu mundo, em 1996, meu primeiro instinto foi analisar a igreja, distanciando-me do que acontecia ao meu redor, como um bom jornalista deve fazer.
Certa tarde, eu dirigia por Curitiba, acompanhado por Marli, quando li um adesivo que estava colado no para-choque do carro da frente: “Em caso de arrebatamento, este veículo ficará desgovernado”. A princípio, não entendi, e Marli riu da minha curiosidade. Eu sabia que era algum tipo de piada — e logo percebi que a piada era comigo. Naquele momento, foi como se Deus me dissesse: “Então você acredita em distanciamento e objetividade? Deixe-me te levar para um passeio e vou te mostrar o que estou fazendo”.
Naquela mesma tarde, Marli me levou até sua irmã, que compartilhou comigo o plano de salvação. Jesus Cristo, o Deus encarnado, veio à Terra, por amor a toda a humanidade; morreu na cruz, para nos redimir de nossos pecados; e ressuscitou, para que aqueles que nele depositam sua fé possam ter a vida eterna. Então, as duas me fizeram a grande pergunta: O que eu faria com essa informação? Eu estava disposto a entregar minha vida a Jesus?
Fiel à minha natureza, recorri à lógica: se Deus não existisse, eu não ganharia nada se dissesse que acreditava em Jesus, e não perderia nada se dissesse “não” a ele. Contudo, se Deus existisse, minha resposta teria consequências. O sim significaria salvação; o não significaria condenação. Então, com relutância, eu disse sim.
“Se com a boca você confessar que Jesus é Senhor e crer no seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo”, diz Romanos 10.9-10. “Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa para a salvação”.
Para mim, dizer “eu creio” e repetir uma oração, naquele dia, pareceu algo sem muita importância. Foi uma resposta calculada, fruto de uma fé ínfima, certamente menor do que um grão de mostarda. Mas, a partir daquele momento, Deus tomou minha vida em suas mãos.
Alguns dias depois, parti para mais uma viagem de trabalho. Desta vez, era para escrever sobre a crescente população evangélica na Amazônia brasileira.
Deus havia dito que me mostraria o que estava fazendo, e foi exatamente o que aconteceu. No distrito de Calama, às margens do rio Madeira, em Rondônia, conheci missionários que haviam deixado a Holanda e a Noruega para trabalhar com os povos ribeirinhos espalhados pela floresta amazônica.
Os missionários haviam deixado suas vidas de lado para fazer algo que ninguém mais fazia, em uma região onde até mesmo as coisas mais simples, como tirar um documento de identidade, podiam exigir horas de viagem de barco. Eles realizavam exames de sangue para detectar doenças como a malária; ensinavam as pessoas a preparar refeições saudáveis e a evitar a contaminação da água; faziam exames de vista e distribuíam óculos para aqueles que não tinham condições de ir a um oftalmologista nas cidades da região, que ficavam a uma distância considerável. Acima de tudo, eles apresentavam a mensagem de Jesus, aquele para quem toda vida é preciosa.
Intimidado diante deles, hesitei em compartilhar sobre a minha recente conversão. Mencionei apenas ter frequentado alguns cultos com Marli, que a essa altura já era minha noiva. Certa noite, durante uma conversa, um dos missionários se virou para mim e disse que eu também seria missionário um dia. Até hoje não sei dizer se ele estava profetizando ou apenas tentando me provocar. Respondi com uma risada nervosa.
Pouco depois de voltar da Amazônia, Marli e eu nos casamos. Comecei a frequentar a igreja com mais regularidade, e estava curioso para conhecer mais sobre Jesus e sua Palavra. Em 2000, eu finalmente estava pronto para ser batizado.
Na época, morávamos em São Paulo e nos juntamos a um pequeno grupo da igreja, enquanto enfrentávamos o luto pelo trágico assassinato de uma amiga da Marli. Minha fé se aprofundou, à medida que eu sentia a presença de Deus em meio a tempos difíceis.
De volta a Curitiba, comecei a editar livros devocionais para campanhas na minha igreja local, o que despertou em mim um interesse maior por teologia e me levou a estudar em um seminário. Deus guiou minha família e eu para plantarmos uma igreja na região metropolitana de Curitiba, onde fui ordenado pastor, em 2014. Em 2021, nos tornamos missionários em Portugal, por um período de 15 meses, exatamente como aquele missionário na Amazônia havia previsto.
Mesmo com todas essas mudanças incríveis na minha vida, nunca deixei de ser jornalista. Minha profissão depende de expor a verdade e exercer a liberdade, e como cristão, sou chamado a compartilhar as Boas-Novas. Deus me fez testemunha ocular de sua obra no mundo e em minha própria vida e, por meio disso, aprendi minha verdadeira vocação: falar da verdade e da liberdade que encontro em meu Senhor e Salvador.
Marli e eu estamos casados há 28 anos anos e temos dois filhos, já casados. Durante esses anos, aprendi repetidamente que minha vida não pertence mais a mim, e sim a Deus.
Quando Jesus me convidou para segui-lo, ali, na casa da irmã de Marli, ele queria me ensinar a amá-lo com todo o meu ser.