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A igreja perseguida precisa de nós, mas nós também precisamos dela.

O presidente da Portas Abertas, Ryan Brown, fala sobre os desafios e mudanças no ministério para a igreja perseguida do século 21.

Junta soldier in Myanmar burnt church cross
Christianity Today September 29, 2025
Arun Sankar/AFP via Getty Images

O irmão André ficou famoso por ter pedido para Deus fechar os olhos de um guarda, a fim de que ele pudesse atravessar uma fronteira com Bíblias, pois isso era ilegal. Em seguida, ele passou décadas trabalhando para abrir os olhos da igreja para a realidade da perseguição aos cristãos no mundo moderno.

A CT conversou com o presidente da Portas Abertas nos Estados Unidos, Ryan Brown, sobre o que mudou e o que permaneceu inalterado nesse ministério que o irmão André iniciou no auge do conflito global entre o comunismo e o capitalismo.

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Esta entrevista foi editada para fins de maior clareza e concisão.

Cresci lendo o best-seller O Contrabandista de Deus, livro que conta a história do irmão André, e trago na mente a imagem vívida dele “contrabandeando” Bíblias em um fusca, ao atravessar um posto alfandegário, durante a Guerra Fria. Isso foi na década de 1950. Como é esse “contrabando de Bíblias” hoje em dia?

É difícil acreditar, mas há lugares no mundo em que a realidade que o irmão André enfrentava há 70 anos ainda é muito semelhante à realidade que alguns cristãos enfrentam hoje; são lugares onde possuir uma Bíblia é estritamente proibido por lei ou acarreta consequências terríveis para as pessoas. A distribuição da Bíblia continua sendo a base de grande parte do nosso trabalho.

Hoje em dia, os arquivos digitais podem ser bem pequenos, minúsculos e também podem ser agrupados com vários outros arquivos. A própria avalanche de informações digitais pode ser uma aliada para manter essas informações ocultas.

Mas, em muitos casos, o que fazemos hoje não é assim tão diferente do que o irmão André fazia: levar uma cópia impressa da Bíblia dentro de uma mala. Mas também podem ser pequenos cartões SD que atravessam fronteiras em malas, dispositivos para ouvir as Escrituras e coisas do gênero.

De que outras maneiras o ministério da Portas Abertas evoluiu nos últimos 70 anos?

A face da perseguição está em constante evolução, de modo que a nossa resposta a isso também precisa evoluir. Quando lembramos da Guerra Fria, pensamos em ditaduras que espionavam cristãos por meio de agentes secretos de sobretudo e chapéu, sentados no carro, fumando cigarro. Embora isso ainda aconteça em alguns lugares, agora também temos a espionagem digital. Por isso, na China, os cristãos estão preocupados com os mecanismos de rastreamento instalados em celulares e laptops.

Na América Central, a perseguição não vem de ditadores paranoicos, mas sim das gangues. Você tem esses senhores da guerra basicamente, criminosos que veem que Jesus transforma vidas e isso é ruim para os negócios deles. As igrejas tiram os jovens das gangues e é por isso que elas atacam as igrejas.

Apoiamos as igrejas perseguidas e atendemos às suas necessidades. Nos círculos de ajuda humanitária e desenvolvimento, fala-se sobre um modelo de missão que se baseia no conceito de design centrado no ser humano [uma técnica de resolução de problemas que coloca pessoas reais no centro do processo para se chegar a soluções que atendam às suas necessidades reais]. O que é muito interessante — pois era mais ou menos isso que o irmão André já fazia desde o início. Quando ele foi à Polônia pela primeira vez, foram as pessoas de lá que expressaram a necessidade que elas tinham da Palavra de Deus. Ele agiu em resposta ao que elas lhe disseram.

Só no último mês, no norte da Nigéria, cerca de 200 pessoas foram brutalmente assassinadas. Isso foi um grande trauma para aqueles que estavam nessas comunidades e viram tudo acontecer. Eles testemunharam essa tragédia que aconteceu com seus familiares e com sua comunidade.

E precisam de ajuda para superar o trauma e a dor — um trabalho árduo para tornar possível que as pessoas se abram para que o Espírito Santo traga a cura. A cura é desesperadamente necessária para que eles entrem na vida para a qual Cristo os chamou, para que sejam suas testemunhas e cumpram a Grande Comissão ali mesmo onde estão, em alguns dos lugares mais cercados pelas trevas em todo o planeta.

Há mais cristãos enfrentando perseguição hoje do que há 70 anos. Em termos gerais, quais são os principais fatores que causam o aumento ou a diminuição da perseguição ao longo do tempo?

Bem, um fator bem evidente é o crescimento da igreja, o crescimento do número de cristãos. A perseguição acabaria amanhã mesmo se a igreja simplesmente se rendesse. Se a igreja cessasse, a perseguição à igreja acabaria.

A perseguição surge em resposta ao crescimento e à movimentação da igreja, entende? O Inimigo não tem a menor disposição de se opor ao que está definhando ou ao que está morto.

Há um toque de esperança embutido por trás desse aumento da perseguição, pois esta é uma resposta ao crescimento da igreja.

Vamos pegar a Síria como exemplo. Não está claro o que o futuro reserva para os cristãos de lá. Podemos trabalhar e orar para que eles sejam fiéis diante de qualquer perseguição. Mas, para além disso, há algo mais que possamos fazer para diminuir a probabilidade de perseguição?

Eu sempre começo a responder esse tipo de pergunta fazendo outra pergunta: “O que as pessoas mais afetadas estão pedindo?”. E o que mais me impressiona, de longe, é o fato de que o que as pessoas mais pedem não é que as tiremos da perseguição, nem que diminuamos a perseguição, mas sim que elas saibam que estamos ao lado delas, que estamos orando por elas, que elas não foram esquecidas, mas fazem parte de um corpo global que é solidário a elas.

Mas você está certo. Há outro nível — o aspecto referente à justiça — que pode ser mais complicado, mas também é importante. Em muitos lugares onde os cristãos são perseguidos, existem leis que protegem a liberdade religiosa. Às vezes, podemos fazer parte de uma voz coletiva que ajude a responsabilizar as autoridades [desses locais] pelos próprios direitos que já estão previstos em sua Constituição e que elas devem fazer cumprir.

Na África, as igrejas se reuniram e nos perguntaram se poderíamos aumentar a conscientização, alavancando vozes na ONU, na União Europeia e mediante outros atores estatais, e essa foi a semente da iniciativa Arise Africa [Levante-se África]. Estamos tentando juntar um milhão de assinaturas globalmente, a fim de levar para a ONU, em 2026, uma petição de pessoas que estão dizendo: “Ei, o que está acontecendo aqui na África não está certo!” e “somos solidários com nossos irmãos e irmãs da África!”.

Como a Portas Abertas mudou administrativamente nos últimos 70 anos?

Acho que ninguém diria que o irmão André era um grande administrador. Ele tinha um coração voltado para missões e Deus estava trabalhando. Ele não estava limitado por nossas estruturas nem pela falta delas.

Desde os anos 70 e 80, porém, houve muito trabalho na estrutura organizacional, e acho que Deus utilizou isso para nos permitir crescer de maneiras que dificilmente acontecem quando tudo o que temos são apenas indivíduos dizendo “vou fazer isso!” ou “vou fazer aquilo!”.

Eu aplaudo a visão daqueles que nos precederam e sua intencionalidade em construir uma organização por meio da qual o Espírito de Cristo estava trabalhando. Queremos preservar todas as coisas que nos mantêm focados como seguidores de Jesus, queremos ser obedientes ao que ele nos chamou a fazer para servir à sua igreja, em especial em relação àquelas partes do mundo em que a igreja é mais perseguida por causa de sua fé.

Isso não é o tipo de coisa que a gente faz uma vez e pronto, está feita. Sabemos que o Inimigo adoraria nada mais do que nos ver sendo guiados por nossos próprios desejos e tendo o nome de Jesus apenas como uma placa. Mas, em vez de fazermos deste ministério uma reunião de nossos respectivos talentos e habilidades, queremos pegar todas essas coisas, colocá-las aos pés de Jesus e ver o que ele fará com elas. 

Você é presidente da Portas Abertas há cerca de dois anos. Qual é o maior desafio que o ministério enfrentará daqui para frente?

Quando entrei na Portas Abertas, a realidade do que nossos irmãos e irmãs tinham a nos oferecer me acertou em cheio. Isso chamou minha atenção de uma forma muito intensa. Precisamos caminhar com a igreja perseguida não só porque ela precisa de nós, o que é verdade, mas porque nós também precisamos dela.

Se nos permitirmos viver isolados e acomodados em nosso próprio isolamento, isso será prejudicial para nós mesmos. Oro para que, nos próximos anos, aqui, na Portas Abertas, possamos simplesmente difundir essa ideia para todos os cristãos ao redor do mundo.

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