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Ataques israelenses geram medo e esperança em cristãos iranianos

Muitos da diáspora iraniana querem ver uma mudança de regime, mas temem as consequências do conflito para a sua terra natal e para a igreja local.

Smoke rises after a reported Israeli strike on a building in Tehran, Iran on June 16, 2025.

A foto mostra fumaça tingindo o céu de Teerã, no Irã, após ataque israelense a um prédio, no dia 16 de junho de 2025.

Christianity Today June 25, 2025
Stringer / Getty Images

Desde o momento em que Israel atacou o Irã, no dia 13 de junho, Shahrokh Afshar tem se preocupado com os membros de sua igreja que vivem no Irã. O ex-muçulmano e fundador da Fellowship of Iranian Christians [Comunidade dos Cristãos Iranianos], a primeira organização iraniana cristã nos EUA, hoje pastoreia uma congregação que se reúne virtualmente e é formada por falantes de farsi de seis países.

Centenas de civis morreram com os ataques israelenses, e um dos membros de sua igreja decidiu ficar em Teerã, enquanto milhares fugiam da capital. O prédio onde essa pessoa mora já foi desocupado pelos moradores, mas ela permaneceu, e descreve para Afshar um cenário de medo e sofrimento.

O governo está grampeando telefones e prendendo pessoas nas ruas, disse ela. No domingo, as autoridades iranianas executaram um homem acusado de espionagem. A amiga de sua filha perdeu toda a família em um bombardeio israelense, e os cemitérios estão cheios de pessoas enterrando seus entes queridos.

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Ela pediu à igreja que “por favor, orem para que o Irã não faça uma retaliação contra os Estados Unidos, porque a guerra ficaria ainda pior do que já está”, disse Afshar. A crescente igreja no Irã, que se reúne secretamente, está “extremamente assustada”, acrescentou ele. Por vários dias, muitos iranianos ficaram sem energia, sem água ou sem acesso à internet.

Há 30 anos Afshar tem orado sobre o mapa do Irã, e reconhece a complexidade das emoções que os iranianos estão vivenciando. “Por um lado, você fica feliz porque alguém decidiu vir resgatá-lo deste ditador”, disse ele, referindo-se ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. “Por outro lado, é o seu país, seus vizinhos, pessoas próximas a você, seus entes queridos que estão sendo bombardeados. Como se espera que alguém se sinta diante disso?”

Por décadas, Israel observou com apreensão um regime iraniano movido por um ódio profundo à nação judaica. Os recentes avanços nucleares do Irã levaram o regime “à beira de uma verdadeira capacidade nuclear”, escreveu o especialista em política externa Walter Russell Mead, em um artigo de opinião publicado no Wall Street Journali, em outubro de 2024, prevendo que 2025 seria um “ano interessante”.

Oito meses depois, Israel lançou uma operação que, segundo esperava, impediria o Irã de atingir seu objetivo declarado de destruir Israel. Eliminou os comandantes-chave da Guarda Revolucionária Islâmica e os principais cientistas nucleares, e destruiu parte crucial da infraestrutura das instalações nucleares iranianas.

Depois que Israel iniciou seus ataques a Teerã, o medo aumentou e os moradores fugiram da cidade, congestionando as rodovias com o tráfego. A capital do Irã, densamente povoada, abriga mais de 10 milhões de pessoas — aproximadamente 10% da população do país.

No sábado, os Estados Unidos enviaram seus mísseis não detectáveis e bombas destruidoras de bunkers para atacar três instalações nucleares, incluindo Fordow, uma instalação enterrada nas profundezas de uma montanha e um alvo que Israel não poderia destruir sozinho.

A guerra também impactoua todos em Israel, disse Meno Kalisher, pastor da Assembleia Casa da Redenção de Jerusalém. Os ataques de retaliação do Irã teriam sido mais letais, se Israel não tivesse investido pesadamente em abrigos antiaéreos e sistemas de defesa antimísseis. Ainda assim, dezenas de israelenses morreram devido a disparos de mísseis contra populações civis. Os ataques iranianos também sobrecarregaram as defesas israelenses.

“Nós realmente confiamos no Senhor e oramos”, disse Kalisher. “Estamos orando pela igreja iraniana.”

A maioria das pessoas em sua congregação tem acesso a abrigos antiaéreos. No Irã, abrigos antiaéreos são escassos. Em compensação, o governo islâmico gastou mais de US$ 700 milhões por ano apoiando grupos como o Hamas e o Hezbollah.

Todos os cinco fiéis da diáspora iraniana com quem a Christianity Today conversou acreditam que, embora os iranianos temam os bombardeios, a maioria está relativamente aberta à ideia de ataques que possam provocar a derrubada do regime — uma estimativa baseada em conversas com amigos e familiares, bem como em informações coletadas em plataformas online.

“Eles [o povo do Irã] estão sofrendo com tudo isso, mas sabem que têm que pagar um preço por sua liberdade”, disse Hormoz Shariat, fundador do Ministério Iran Alive [Ministério Irã Vivo], uma plataforma de transmissão cristã. “Portanto, eles não estão ressentidos com Israel, e não estão ressentidos com os EUA. Na verdade, eles estão esperançosos.”

Shariat disse que muitos iranianos têm “implorado” a Israel para fazer uma operação contra o Irã parecida com a que foi feita contra o Líbano, no ano passado, a qual matou dezenas de membros do Hezbollah e feriu centenas.

Os iranianos não querem uma guerra longa, com muitas baixas, observou ele, mas são favoráveis aos ataques precisos israelenses, que removem líderes estratégicos “com a precisão de um laser”. Ele disse que os iranianos estão esperançosos de que uma mudança de regime esteja próxima.

Com o aumento do número de mortos, Afshar observou, na segunda-feira, que “algumas pessoas no Irã estão começando a questionar os ataques, pois pessoas próximas estão sendo mortas. Teerã se tornou uma cidade-fantasma”.

Após a criação do Estado de Israel, em 1948, os laços econômicos e militares entre Israel e Irã floresceram por várias décadas. Esses laços se deterioraram em 1979, quando revolucionários derrubaram a monarquia secular do Irã e estabeleceram uma república islâmica.

O aiatolá Ruhollah Khomeini substituiu o xá [o monarca], e o novo líder rompeu laços com Israel e o Ocidente, implementou códigos de vestimenta rigorosos e suprimiu os direitos humanos. Muçulmanos e cristãos (que representam menos de 1% da população) sofreram sob o governo de Khomeini e de seu sucessor, Khamenei.

De acordo com a Lista Mundial de Perseguição da organização Portas Abertas, o Irã ocupa o nono lugar na lista de países onde é mais perigoso ser cristão. Muçulmanos convertidos ao cristianismo frequentemente enfrentam detenções e longas penas de prisão, sob acusação de suposta influência ocidental.

O regime autoritário do Irã deu início a um período sombrio no país e desencadeou múltiplas ondas de protestos. O Movimento Verde, de 2009, começou com alegações generalizadas de fraude eleitoral e se expandiu para uma série de protestos contra a repressão às liberdades civis pela República Islâmica do Irã. Mais de 30 pessoas morreram.

De acordo com uma investigação da BBC, as autoridades iranianas mataram mais de 75 pessoas, após os protestos relacionados à morte de Mahsa Amini, em 2022. A jovem de 22 anos morreu sob custódia, após ser detida pela polícia da moralidade por supostamente não usar o véu islâmico.

Um judeu iraniano, que se converteu ao cristianismo após imigrar para os Estados Unidos, em 1975, disse que alguns iranianos da diáspora são menos críticos em relação a Teerã, porque imigraram antes da onda de repressão do regime. No entanto, aqueles que viveram seus dias mais sombrios ficaram desiludidos, observou ele. A CT concedeu-lhe o anonimato para proteger seus familiares no Irã.

Um de seus amigos, que é um muçulmano religioso no Irã, parou de frequentar a mesquita, após a morte de Amini e a repressão brutal do governo aos manifestantes.

“Pelo que me disseram, milhares e milhares de mesquitas foram fechadas no Irã”, disse ele. Alguns clérigos muçulmanos atribuem o fechamento das mesquitas à falta de financiamento, mas outros dizem que a causa mais provável é a baixa frequência.

Said Najafy, cristão iraniano e líder ministerial na Bélgica, disse que o regime quer destruir Israel desde 1979, e que o povo iraniano tem sofrido com isso. Ele cresceu em uma família muçulmana religiosa e viveu no Irã até 2000. Alguns de seus familiares fugiram de Teerã após os bombardeios.

“Queremos voltar aos velhos tempos, quando éramos amigos”, disse ele. “Estamos orando e torcendo para que o regime caia o mais rápido possível.”

Najafy participou de reuniões virtuais de oração, na semana passada, com cristãos que estão no Irã e com cristãos de quatro igrejas de língua farsi na Bélgica. Ele disse que os cristãos iranianos estão orando pela proteção de Deus sobre os civis e se regozijando porque “Israel é o ajudador, que está vindo e eliminando este regime maligno que está governando há quase cinco décadas”.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu abordou diretamente a questão da busca israelense por uma mudança de regime em Teerã. “Isso pode ser uma consequência [do ataque], mas cabe ao povo iraniano lutar por sua liberdade”, disse ele, observando que Israel “pode ​​criar condições que os ajudem a conseguir isso”.

Shirin Taber, uma cristã iraniana-americana e autora de Muslims Next Door [Muçulmanos ao Lado], acompanhou o movimento de resistência no Irã. Sua organização, Empower Women Media [Empodere as Mulheres na Mídia], concentra-se nas questões de igualdade de gênero e liberdade religiosa — direitos que ela espera que façam parte de uma mudança sistemática no Irã.

De acordo com Taber, o movimento de oposição no Irã é multifacetado. A Geração Z do Irã é ousada, maneja bem a tecnologia e está disposta a participar de protestos públicos, mas isso não é suficiente para promover mudanças. “Na verdade, isso coloca as pessoas em perigo, e muitas já foram mortas”, acrescentou Taber.

Taber disse que outra camada do movimento de oposição no Irã trabalha nos bastidores e inclui uma coalizão de pessoas dos setores de negócios, tecnologia, arte e jornalismo. Ela acredita que seja possível que o regime entre em colapso nas próximas semanas, abrindo caminho para a intervenção dos movimentos de oposição.

Shariat, fundador do Ministério Iran Alive [Ministério Irã Vivo], está menos otimista. Ele tem notado que há conflitos internos entre facções iranianas.

Ele se mantém focado nas transmissões do seu ministério no Irã, que acontecem diariamente, desde o início dos ataques israelenses. A igreja iraniana está cheia de “cristãos novos na fé”, que temem o que está por vir, observou ele.

“Nossa mensagem aos crentes é: vocês são diferentes. Não tenham medo”, disse Shariat. “Este é o momento de vocês fazerem a luz de Jesus brilhar na escuridão. Vão e levem consolo aos outros.” Ele tem ouvido histórias de cristãos de fora da capital que estão abrindo suas casas para acolher pessoas que fugiram de Teerã.

Enquanto isso, Afshar incentiva sua congregação virtual a se envolver em uma antiga prática da igreja chamada lectio divina, que envolve “contemplar Deus e sentar-se aos pés de Jesus” em um momento de oração silenciosa. A prática ajudou uma mulher cristã em Teerã a lutar contra o medo. Ela disse a Afshar: “Não tenho medo porque, na minha caminhada diária, tiro tempo para contemplar a Deus e estar na presença dele”.

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