Sou o que alguns considerariam uma pessoa competitiva. Odeio perder mais do que gosto de ganhar. Como digo ao meu filho de 6 anos, antes dos jogos de futebol: “Divirta-se hoje. Mas lembre-se: ganhar é mais divertido”. Minha esposa não gosta, mas é verdade.
Gosto de buscar excelência e de cultivar disciplina. Quero ser o melhor — quero me superar nos treinos, nos exercícios e nas competições. Essa motivação e minha aversão à derrota têm sido úteis em quase todas as áreas da minha vida. Em geral, gosto dessa minha característica. Mas, na vida de fé, acho que aquilo que me faz querer ser o melhor pode, na verdade, tornar-me pior espiritualmente.
Ao navegar pelas redes sociais, notei uma nova geração de influenciadores, principalmente homens, que miram em homens como eu. Sou da geração Y [pessoas nascidas entre 1982 e 1994, também conhecidas como millennials ou nativos digitais] e tenho a impressão de que meu algoritmo procura captar e capitalizar minha atenção — me vendendo uma mentalidade do tipo “levante daí e vá à luta” que, a princípio, parece bastante atraente.
David Goggins, um SEAL [oficial da marinha estadunidense que integra uma força especial], hoje aposentado, conhecido por seus feitos ultra-atléticos, promove o 75 Hard Challenge [Desafio 75 Hard], que inclui dieta, exercícios diários, leitura e um registro fotográfico de todos os dias. É parte disciplina, parte autoajuda. O objetivo é se comprometer com algo que seja difícil e fazê-lo todos os dias.
Andrew Huberman, neurocientista e professor em Stanford, tem um podcast viral onde divulga pesquisas sobre desempenho humano e mindset growth [mentalidade com foco no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades]. Essas pesquisas estudam de tudo, desde questões ligadas a alimentação e exercícios físicos, até os benefícios do mergulho em águas congelantes. Também já vi Andy Elliott, um coach da área de vendas e negócios, desafiando homens a tirarem a camisa e se envergonharem da gordura acumulada. Ou, em outro vídeo com menos palavrões, Elliott pede às pessoas que orem: “Deus, me livre das minhas fraquezas”.
A lista de exemplos poderia continuar: Ryan Pineda, falando sobre comprar imóveis e ganhar muito dinheiro. Kris Krohn, acordando às 4 da manhã para ouvir um livro na velocidade 2.0, cultivar um palácio mental e sussurrar afirmações para a esposa, que se exercita ao lado dele na esteira. Alex Hormozi, que nos conta como respirar melhor com suas famosas tiras nasais — e também como ter sucesso com trabalhos paralelos. Muitas dessas pessoas também usam a fé ou o cristianismo para falar sobre o que fazem.
Parece que esses influenciadores estão ganhando muito dinheiro (pois cobram muito dinheiro das pessoas para ajudá-las). Eles prometem que a riqueza lhe dará a vida que você deseja. As pessoas estão pagando por isso e eles estão de olho nesse público-alvo — especialmente nos jovens.
Na melhor das hipóteses, essa nova safra de gurus reconhece as realidades corpóreas da vida. O caminho para uma vida mais saudável não pode acontecer só na nossa mente. Às vezes, os homens, especialmente os cristãos, precisam deixar o mundo idealizado da mente e se voltar para o mundo concreto ao seu redor.
Esses gurus ensinam que a luz do sol é boa para a saúde, portanto, saia de casa. Ensinam que ritmos são formativos, por isso, certifique-se de desenvolver bons ritmos. Que dinheiro é valioso, portanto, tente trabalhar duro para ganhá-lo. Eles podem chamar as pessoas a almejar um padrão mais elevado e infundir propósito e disciplina em jovens sem rumo.
Tais mensagens também estão presentes na fé cristã. “Exercite-se na piedade” (1Timóteo 4.7), escreve o apóstolo Paulo, usando a palavra grega que compartilha uma raiz comum com a palavra ginásio. E em outro lugar, ele ordena: “ponham em prática a salvação de vocês com temor e tremor” (Filipenses 2.12). Ele também usa uma linguagem de guerra, quando encoraja a igreja em Éfeso a vestir a armadura de Deus para se manter firme contra as ciladas do Diabo (Efésios 6). Vença! Seja disciplinado! Lute!
Contudo, por trás dessas mensagens modernas há também um desejo mais profundo e distorcido: sempre há mais a se fazer, mais para ler, mais dinheiro para ganhar, mais experiências para viver, mais pessoas para derrotar. Viver é lutar. É correr atrás do desempenho. É fazer sempre melhor. Dinheiro é poder, portanto, ganhe dinheiro. Mas o que os jovens ainda não sabem é que essa mentalidade os deixará exaustos.
No cristianismo, invocamos um padrão mais elevado, o padrão da graça, que não tem nada a ver com nosso esforço ou nosso empenho pessoal.
Você não pode abrir caminho para a santidade com suas próprias forças, porque a santidade é trabalho lento — é uma “longa obediência, na mesma direção”, como disse Eugene Peterson. Formação [espiritual] tem menos a ver com produtividade e mais com aquietar-se. É um modo de vida que exige disciplina, mas é uma disciplina de ausência, não de desempenho. O grito de guerra da formação não é necessariamente “Lute pelo Senhor!”, mas “O Senhor lutará por vocês; vocês só precisam se aquietar” (Êxodo 14.14, NIV).
Essas palavras não motivam a minha sensibilidade ocidental. Quero fazer por merecer o que recebo.
Merecer é uma palavra muito poderosa para nós, ocidentais. É justa e imparcial. É o padrão de sucesso. É uma das razões pelas quais a tradição monástica recomenda não seguir uma vida contemplativa antes dos 40 anos. Antes disso, somos ambiciosos demais. Nosso desejo de sermos produtivos é intenso demais para buscarmos a face de Deus.
Um problema com esses mentores da Internet é que não sei se eles levam a morte em consideração. (Existe até um documentário popular na Netflix sobre um cara que acha que pode derrotar a morte). Eles idolatram a juventude porque amam a vida, e juventude é sinônimo de vida no mundo moderno. Mas aqui está a parte difícil: estamos todos caminhando para a morte. Estamos caminhando para envelhecimento, rugas e fragilidade. E se hoje não nos sentirmos confortáveis com essas mortes lentas [em que vamos morrendo pouco a pouco], teremos dificuldade em envelhecer mais tarde.
Em uma carta do monge católico Thomas Merton para a ativista social católica Dorothy Day, ele escreveu sobre as lutas, sobre não estar alinhado e o que fazer a respeito disso. E surge a palavra perseverança — atravessar todos os desafios da vida e seguir em frente. Aqui está o que Merton escreve sobre ela:
Perseverança — sim, cada vez mais percebemos que ela faz a diferença. Mas há algo que não deve ser ignorado. Perseverança não significa se apegar a um caminho que definimos em nossa mente e se recusar a abandoná-lo. Não se trata nem mesmo de nos apegarmos à fé com firmeza e não deixar que o diabo nos desvie dela — embora muitos santos tenham feito parecer que essa é sua definição.
Por causa da minha natureza competitiva, sempre quero me apegar. Quero lutar. Quero vencer. Quero ser um santo que não abre mão de agarrar firme as coisas. Na minha vida profissional, essa mentalidade é eficaz. Eu posso trilhar meu próprio caminho para o sucesso. Mas na vida da alma, essa força pode ser a minha fraqueza. Esforçar-se muito em geral não é o caminho para a santidade.
Merton continua:
Realmente, falta algo em uma esperança como essa. A esperança é um escândalo maior do que imaginamos. Estou começando a pensar que Deus… ama e ajuda mais aqueles que estão completamente exauridos e têm um nada tão grande que, quando morrem, é como se tivessem perseverado em nada, mas gradualmente tivessem perdido tudo, migalha por migalha, até que nada restasse além de Deus. Portanto, perseverança não é se agarrar às coisas, mas deixá-las ir. E isso, claro, é terrível.
O apóstolo Paulo disse algo semelhante em 2Coríntios 11–12. Em vez de se gabar de sua linhagem espiritual e sua experiência diante da igreja de Corinto, para dar provas de sua legitimidade, ele se gaba de suas falhas e fraquezas: de suas prisões, seus açoites, dos perigos, da fome e da sede que passou.
A razão para isso é que, desde que Deus disse a Paulo “A minha graça te basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, Paulo decidiu: “Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente nas minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” (2Coríntios 12.9).
Para Paulo, perseverança envolvia desapego. Formação era submissão. Sua fraqueza provava o poder de Deus, o que significa que o escândalo da perseverança é este: mesmo de mãos vazias, Deus nos ama.
“Não somos aquilo que fazemos. Não somos aquilo que temos. Não somos aquilo que os outros pensam de nós”, escreve Henri Nouwen. “Voltar para casa é reivindicar a verdade. Sou filho amado de um Criador amoroso.” Somos filhos amados de Deus, não importa o quão bem nos apeguemos à fé, não importa quais dicas de condicionamento físico pratiquemos, não importa qual seja o nosso nível de renda, nem mesmo quais rotinas estabelecemos.
Então, naqueles momentos em que você estiver cansado da correria e sentir que suas forças estão chegando ao fim, saiba que Deus está lá, e que você ainda é o amado ou a amada dele. Esta é uma verdade assustadora. Mas também é realmente a boa-nova.
Alexander Sosler é professor associado de Bíblia e ministério no Montreat College e pastor assistente na Igreja Anglicana Redeemer, em Asheville, Carolina do Norte. Ele é o autor de A Short Guide to Spiritual Formation: Finding Life in Truth, Goodness, Beauty, and Community [Um Breve Guia para a Formação Espiritual: Encontrando Vida na Verdade, Bondade, Beleza e Comunidade], o vencedor em 2024 do prêmio Livro de Vida Cristã do Ano, da Christianity Today.