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Como os evangélicos veem o primeiro papa dos EUA

Embora Leão XIV seja de Chicago, sua eleição ao papado reflete o movimento do cristianismo em direção ao Sul Global.

Conclave Elects Pope Leo XIV

O Papa Leão XIV, Robert Prevost, recém-eleito, discursa para a multidão na Praça de São Pedro, em 8 de maio de 2025, na Cidade do Vaticano.

Christianity Today May 9, 2025
Vatican Media via Vatican Pool / Getty Images

Um papa de Chicago com cidadania peruana?

Em um subúrbio de Chicago, professores do Northern Seminary, todos evangélicos, ficaram entusiasmados com o fato de poderem dizer que Leão XIV é um cidadão de Chicago, segundo um professor de lá. Evangélicos latinos que vivem nos EUA disseram à Christianity Today que estavam felizes pelo Papa Leão XIV ter proferido parte de seu primeiro discurso como papa em espanhol. E, na Filadélfia, o líder evangélico Shane Claiborne destacou que o papa estudou na Universidade Villanova e, portanto, também tem raízes na Filadélfia. No Peru, a presidente celebrou o papa Leão como um cidadão do país.

Evangélicos de todas as Américas estavam curiosos a respeito do novo papa, e os católicos expressaram até certa dose de orgulho regional.

Embora não o vejam como líder da Igreja, muitos evangélicos buscam ver qual impacto o líder da Igreja Católica Romana terá no diálogo religioso, na política global e na compreensão mundial da doutrina cristã.

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Leão XIV, de 69 anos e anteriormente conhecido como Robert Prevost, nasceu em Chicago, mas passou a maior parte da vida adulta fora dos EUA, como frade agostiniano. Atuou como missionário no Peru e, depois, foi promovido a cargos importantes no Vaticano.

Há muita gente celebrando o fato de Leão XIVser o primeiro papa dos Estados Unidos; provavelmente, porém, faça mais sentido enfatizar sua experiência no contexto latino-americano, de acordo com David Kirkpatrick, historiador da religião da Universidade James Madison que é especializado em pesquisas sobre o evangelicalismo latino-americano.

“Embora Prevost tenha raízes nos Estados Unidos, sob uma perspectiva diferente, sua eleição também pode ser vista como uma continuidade — a eleição de outro papa do Sul Global, que sucederá Francisco”, disse Kirkpatrick. “Longe de um papado centrado nos EUA ou em posições de poder, espero que ele dê continuidade à ênfase que Francisco dava aos oprimidos e marginalizados do mundo.”

Na quinta-feira, à medida que a notícia da eleição do papa Leão XIV se espalhava e o mundo aprendia mais sobre sua vida e seu ministério, muitos expressaram aprovação pela escolha.

“Aprecio que haja um papa familiarizado com as realidades cristãs da América Latina e com as realidades dos imigrantes”, disse Gabriel Salguero, líder da Coalizão Nacional Evangélica Latina, com sede nos EUA. “Ele tem um histórico de ser pró-imigrantes, pró-família, pró-pobres, e todas são coisas pelas quais também lutamos em nossa comunidade evangélica.”

Salguero acrescentou que o nome de Leão XIV indica que ele seguirá o exemplo de Leão XIII, papa que ficou conhecido por defender os trabalhadores pobres, na sequência da Revolução Industrial. Leão XIII fundou a Universidade Católica da América.

 “Vivemos tempos muito instigantes”, acrescentou Salguero. “Precisamos de líderes religiosos que entendam a interconexão global.”

Francisco, que faleceu em 21 de abril, foi o primeiro papa que não era europeu, em mais de mil anos. Francisco escolheu Prevost, um frade agostiniano, como seu conselheiro para as nomeações episcopais, em 2023.

“Esta nomeação está alinhada com o que o papa Francisco fez: colocar um bispo da periferia, de uma Igreja periférica — como a do Peru —, no coração do Vaticano”, disse o historiador Juan Fonseca, professor da Universidade do Pacífico em Lima, Peru.

Antes de Prevost ser nomeado para o Vaticano, “ele nunca fez parte dos altos escalões da Igreja Católica”, disse Fonseca. “Os que pertencem aos altos escalões geralmente são peruanos da elite, que servem em prestigiosas sedes episcopais, como Lima e Arequipa.”

No Peru, país para o qual Prevost se naturalizou, seu trabalho também foi marginal.

A primeira vez que chegou ao Peru, em 1985, Prevost serviu por um breve período em Chulucanas, uma cidade no deserto que tem pouco mais de 40 mil habitantes, e que fica perto da fronteira com o Equador. Saiu de lá em 1986, para concluir sua tese de doutorado no Pontifício Colégio Santo Tomás de Aquino, em Roma. Entre 1988 e 1999, ocupou vários cargos na diocese de Trujillo, no norte do Peru. Em 1999, retornou à sua cidade natal, Chicago, e só voltou para a América do Sul em 2014.

Naquele ano, foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, uma cidade costeira de 600 mil habitantes, no norte do Peru; em 2015, foi nomeado bispo dessa mesma cidade pelo Papa Francisco. Em seu discurso inaugural como papa, diante da multidão reunida na Praça de São Pedro, Leão XIVfalou em espanhol, quando enviou saudações à sua “querida diocese de Chiclayo”.

“Ele tinha uma abordagem pastoral enraizada numa profunda conexão com os excluídos”, disse Rolando Perez Vela, vice-presidente da Associação Evangélica Paz e Esperança, no Peru. “Líderes — sejam eles padres católicos ou pastores evangélicos — que atuam na periferia são mais propensos a denunciar a injustiça, pois a veem em primeira mão, eles testemunham a dor das pessoas.”

Prevost foi membro da Comissão Episcopal de Ação Social, o braço dos bispos peruanos dedicado à defesa dos direitos humanos e fundamentado na doutrina social católica.

Ele assumiu uma posição crítica e difícil em prol dos direitos humanos, quando se opôs ao perdão concedido ao líder peruano Alberto Fujimori, eleito em 1992 e que deu o chamado autogolpe no ano seguinte, permanecendo no poder até 2000.

Fujimori foi preso no Chile, em 2005, e extraditado para o Peru, onde foi condenado a 25 anos de prisão. Um presidente subsequente decidiu perdoá-lo, em 2018, embora a Suprema Corte tenha anulado a decisão, um ano depois.

O atual papa exigiu que Fujimori se desculpasse com o povo peruano, lembra Perez.

 “Na América Latina, onde os direitos humanos são frequentemente desrespeitados, as igrejas têm a responsabilidade de abraçar um ministério profético — um ministério que denuncie os crimes daqueles que estão no poder”, disse Perez. “As ugrejas devem desafiar o pecado estrutural, a impunidade e o abuso de poder.”

A eleição de Leão XIV diz algo importante sobre as mudanças em curso no cristianismo global, disse Gina Zurlo, professora visitante de cristianismo mundial na Harvard Divinity School.

Em 1900, 73% dos católicos viviam na Europa e na América do Norte. Agora, apenas 25% vivem ali; o restante está no Sul Global.

Zurlo disse que, nesse contexto, era de se esperar que alguém do Sul Global liderasse a Igreja Católica. Embora a maioria dos observadores não esperasse que o papa fosse alguém que tivesse conexões com os EUA, Zurlo disse que o cristianismo estadunidense também é fundamentalmente global, devido ao grande número de imigrantes cristãos nos EUA e ao número de cristãos que vão para o exterior, seja para trabalhar, estudar ou em missão religiosa.

Leão XIV fala inglês, espanhol, italiano, francês e português.

Leo normalmente se descreve como um missionário. “Sou um missionário; fui enviado”, disse ele aos católicos de Chiclayo, em 2003, quando foi designado para lá pelo Vaticano.

Em uma das poucas entrevistas que concedeu antes de se tornar papa, ele reiterou essa identidade, dizendo ao Vatican News, em 2023: “Ainda me considero um missionário”.

Em seu primeiro discurso como papa, Leão disse que a Igreja Católica deve ser “uma Igreja missionária”.

Líderes políticos de ambos os países falaram na quinta-feira sobre a honra de ter um homem de seu país eleito papa. A presidente peruana Dina Boluarte escreveu nas redes sociais que a eleição de Prevost “enche nossa nação de orgulho e esperança”, e acrescentou que ele “serviu nosso povo com amor e devoção”.

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que é uma “grande honra” ter um papa que é dos Estados Unidos.

Leão XIV tem um histórico de críticas às políticas de imigração de Trump, mas alguns evangélicos que são apoiadores de Trump ainda assim receberam bem seu papado. Samuel Rodriguez, chefe da Conferência Nacional de Liderança Cristã Hispânica, disse que a eleição de Leão foi um “divisor de águas” e “um lembrete de que a fé é para todos os povos, em todos os lugares, e que o evangelho é um convite a todos”.

O novo papa enfatizou a importância do convite. Em uma entrevista, ele o descreveu como a primeira tarefa de um líder cristão.

“Muitas vezes nos preocupamos com o ensino da doutrina”, disse ele. “Corremos o risco de esquecer que nossa primeira tarefa é ensinar o que significa conhecer a Jesus Cristo, e é dar testemunhar de nossa proximidade com o Senhor. Isso vem primeiro: comunicar a beleza da fé, a beleza e a alegria de conhecer a Jesus. Isso significa que nós mesmos estamos vivendo e compartilhando essa experiência.”

Esse desejo de compartilhar o evangelho comove alguns evangélicos americanos.

“Ainda teremos nossas divergências com Roma”, disse Matthew Bates, professor de Novo Testamento no Northern Seminary, nos subúrbios de Chicago. “Mas vemos isso como algo importante para o futuro de toda a Igreja, […] mesmo que não vejamos [Leão] como nosso cabeça.”

Católicos e evangélicos já trabalham juntos em questões sociais, como o cuidado com imigrantes e refugiados. Matthew Soerens, vice-presidente de advocacy e políticas da World Relief, disse que isso é um legado de longa data da Igreja Católica.

“Como cristãos evangélicos, é claro que temos algumas diferenças teológicas, mas nossa preocupação com o bem-estar dos imigrantes tem raízes na Bíblia e é um ponto em comum; estamos ansiosos para continuar essa parceria, com o início do papado de Leão XIV”, disse ele.

A maioria dos observadores vê Leão como uma continuação da direção estabelecida por Francisco e fala sobre Leão seguir o exemplo de Francisco.

Shane Claiborne, da Red Letter Christians, rejeitou gentilmente a ideia.

“Francisco era radical por causa de Jesus. Ele não concebeu a ideia do lava-pés, embora o tenha feito para pessoas na prisão”, disse Claiborne. “O Papa Leão tem o mesmo exemplo. A esperança é sempre que o papa seja uma flecha apontando para Jesus.[…] Jesus é a cura para muitas coisas que foram distorcidas dentro do cristianismo.”

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