Como uma nerd em Bíblia assumida e amante da simetria, nenhuma descoberta me faria mais feliz quanto a do quiasma — uma estrutura literária apreciada pelos escritores do antigo Oriente Próximo.
Os quiasmas são um tipo de paralelismo em espelho que faz uso da repetição para traçar uma ideia. Eles estão por toda parte no Antigo e no Novo Testamento — e, uma vez que você começa a enxergá-los, não consegue mais deixar de vê-los.
Um exemplo atual de um quiasma conciso seria: Se você falha ao planejar, planeja para falhar. Jesus faz uma afirmação quiástica sucinta em Marcos 2.27: “O sábado foi feito por causa do homem, não o homem por causa do sábado.”
Mas a maioria das estruturas quiásticas é mais longa do que uma única linha, às vezes se estendendo por capítulos inteiros, com um ponto de inflexão bem no meio. Os ocidentais estão acostumados a encontrar a conclusão no final — como a moral da história ou o desfecho da piada —, mas a mentalidade do antigo Oriente Próximo preferia colocar a ideia principal bem no centro.
Se não reconhecermos essa estrutura, ao ler as Escrituras — dos Salmos às palavras de Jesus —, corremos o risco de colocar a ênfase no lugar errado. Como professora de Bíblia, vejo como os quiasmas confirmam o velho ditado de que a repetição é a mãe do aprendizado. Quiasmas são recursos mnemônicos — uma expressão da bondade de Deus tanto para as gerações passadas de adoradores, que provavelmente nunca seguraram uma Bíblia nas mãos, quanto para os cristãos de hoje, em nossa era de distrações. Eles existem para nos ajudar a lembrar.
Os leitores atuais podem se perguntar por que esse tipo específico de paralelismo era tão atraente para a mente do antigo Oriente Próximo. Eu certamente me perguntava isso — até que minha mãe faleceu.
“Sinto muito por você ter que me levar a essa consulta.” Olhei para a minha mãe, aquela figura pequenina, de 79 anos, sentada no banco do passageiro com um olhar de desculpas, mexendo nervosamente na bolsa.
Como muitos de sua geração, minha mãe achava difícil aceitar ajuda — mesmo que fosse uma ajuda fácil de oferecer. “Você é uma pessoa para ser amada, não um problema a ser resolvido” havia se tornado meu mantra para ela, sempre que expressava angústia por, de alguma forma, ter interrompido a minha rotina.
Antes que você comece a presumir que minha mãe e eu tínhamos um relacionamento invejável, deixe-me esclarecer que não tínhamos — mas, com muito esforço, encontramos uma ternura real em nossos últimos anos juntas. Em dezembro de 2021, os filhos e netos ajudaram minha mãe a se mudar para um apartamento que ficava a apenas cinco minutos da minha casa. Montamos seus móveis antigos, penduramos seus quadros preferidos e colocamos na decoração seu vaso favorito — um que tinha glicínias ao redor da borda. Eu estava animada com a ideia de poder visitá-la ou de resolver pequenas tarefas para ela com tanta facilidade.
Naquele mês de janeiro, planejei um jantar em família para seu aniversário de 80 anos. Três dias antes da comemoração, ela me mandou uma mensagem dizendo que estava passando mal do estômago, e não tinha certeza se conseguiria ir ao jantar. Ela garantiu que estava bem, e insistiu: “Por favor, não precisa vir aqui”. Mas ela estava mais doente do que imaginava.
Minha mãe passou o aniversário na UTI e, uma semana depois, foi colocada sob cuidados paliativos, vindo para minha casa para viver os últimos dias que lhe restavam. Sem monitores apitando e sem as luzes frias e impessoais do hospital. Sem máscaras e sem restrições a visitas. Em lugar disso, um quarto inundado pela luz do sol, aquecido por cores suaves, onde ela estava rodeada por seus entes queridos.
A esta altura, ela já não conseguia mais se comunicar. Mas eu sabia que, se pudesse falar, teria repetido as mesmas palavras que se esforçou para dizer tantas vezes, durante sua breve internação: “Sinto muito por ser um fardo.”
Meus irmãos e eu nos revezávamos ao lado de sua cama, mantendo a vigília já conhecida por tantos que leem este texto. Ouvimos sua respiração tornar-se cada vez mais difícil, a cada dia que passava. Assistimos ao árduo esforço que é morrer.
No segundo dia, a enfermeira dos cuidados paliativos me disse: “Sabe, você pode incentivá-la. Diga que ela está indo bem, que está fazendo um bom trabalho.” Eu coloquei seus hinos favoritos para tocar. Segurei a mão dela. Ajudei a mantê-la limpa e confortável. E sussurrei, umas mil vezes: “Que bom que você está em casa, mãe. Você é uma pessoa para ser amada, não um problema a ser resolvido.”
Por fim, ela chegou ao final de sua jornada. Um último suspiro, profundo, seguido de um silêncio ensurdecedor.
E foi neste momento que eu percebi a maravilhosa — e dolorosa — simetria de uma vida longa.
Afinal, oitenta anos antes, minha mãe não tinha chegado a este mundo de forma semelhante — por meio de um grande esforço, com uma profunda inspiração e um choro estridente? E não tinha recebido, nas horas seguintes ao seu nascimento, cuidados muito parecidos com aqueles que lhe dispensamos nas horas que antecederam a sua morte?
Suspeito que os povos do antigo Oriente amavam o quiasma porque nele reconhecemos a forma do curso da vida. Talvez Deus, em sua bondade, tenha planejado que fosse assim. Extremidades que se correspondem. Repetição. Simetria.
Cheguei à conclusão de que as outras camadas concêntricas da vida humana também poderiam ser mapeadas. Cada vida é única, é claro — mas qual seria o padrão geral? Esbocei minhas ideias no papel.
O quiasma de uma vida humana. Essa ideia não é exclusivamente minha. Lembro-me de um antigo provérbio que diz: primeiro, somos filhos dos nossos pais; depois, somos pais dos nossos filhos; então, somos pais dos nossos pais; e, por fim, filhos dos nossos filhos.
Se a vida humana é um quiasma, e se os quiasmas nos ensinam, o que o quiasma da vida procura nos ensinar? Se nos dispusermos a aprender, acredito que ele possa nos ensinar “a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Salmos 90.12).
Lembrar que as estações da vida seguem uma ordem padronizada nos ajuda a viver a estação em que nos encontramos e a definir prioridades para usar o tempo que nos é dado. Desde que a morte anunciou sua presença, em Gênesis 3, nossos dias passaram a ser contados. Talvez Deus, em sua infinita bondade, tenha nos dado um quiasma — uma régua com medidas padronizadas — para contarmos nossos dias da forma correta.
Ter consciência de que envelhecer significa abrir mão de certas liberdades e habilidades nos ajuda a aceitar esse processo, em vez de nos agarrarmos à autossuficiência. Isso nos ajuda a antecipar a próxima estação, a desfrutar da que estamos vivendo e a ser gratos por aquelas que já deixamos para trás.
Reconhecer que, em algumas fases da vida, nós cuidamos e, em outras, somos cuidados nos ajuda a aceitar esse cuidado, quando chegar a nossa vez de recebê-lo. Não somos problemas a serem resolvidos na velhice, assim como não éramos na infância. Somos, simplesmente, pessoas a serem amadas, que estão em uma etapa da vida em que outros retribuem o cuidado que também já receberam um dia, em seu devido tempo.
A estrutura quiástica da vida ajuda a explicar por que a morte prematura nos deixa tão chocados. Intuitivamente, esperamos que a vida humana percorra o seu arco completo. A assimetria de alguém que morre jovem ou de forma prematura provoca dissonância. Falta o desfecho. Falta o paralelismo [com o começo da vida]. Falta completar o círculo. Minha mãe teve uma boa morte em muitos aspectos, e, talvez, um aspecto não menos importante tenha sido a sua abençoada simetria.
Mas, se o ponto central é o mais importante em um quiasma, o que torna os anos do meio da nossa vida tão significativos? A meia-idade oferece uma oportunidade única, um momento de perspectiva nas encruzilhadas da vida. Se tivermos prestado atenção em como entramos nesse quiasma, estaremos mais preparados para sair dele com graça e submissão. Olhar para a primeira metade da nossa vida pode nos ajudar a antecipar a segunda metade — com suas respectivas perdas e ganhos.
Se nos concentrarmos apenas em nossas habilidades e responsabilidades, enxergaremos somente ganhos na primeira metade do quiasma da nossa vida, e somente perdas paralelas na segunda metade dele. Em uma cultura que valoriza a juventude e o vigor, corremos o risco de perder de vista aquilo que aprendemos ao longo dos anos: a sabedoria. A sabedoria que vem com o envelhecimento nos mostra que, mesmo quando nosso corpo começa a falhar gradualmente, nossa vida interior se torna cada vez mais rica e mais equilibrada. Corpos entram em declínio, mas pessoas se desenvolvem.
Aos 55 anos, já consigo perceber declínio em minhas capacidades físicas. Ainda estou numa fase em que sou eu quem oferece ajuda aos outros; porém, se o Senhor me conceder longevidade, chegará o dia em que serei apenas alguém que recebe ajuda — e serei alimentada, vestida e cuidada por mãos e pés de outra pessoa.
Os dias em que meu corpo ainda pode servir aos outros estão contados, e quero contá-los com sabedoria. Meus pais me ajudaram com essa matemática. Acompanhá-los em sua passagem para a velhice me fez enxergar com mais clareza o valor dos anos que ainda tenho pela frente. Eles, que foram meus primeiros cuidadores, passaram a receber cuidados. Suas habilidades físicas diminuíam, mas seu discernimento das coisas, sua visão estavam se aprofundando.
Illustration by Danielle Del PlatoPara mim, eles são a prova de que, embora articulações, válvulas do coração, visão e audição possam se tornar cada vez mais instáveis [com a idade] e desequilibrar nosso corpo, a sabedoria cada vez mais nos equilibra a alma. Os corpos entram em declínio, mas pessoas se desenvolvem. A lâmpada da sabedoria brilha com mais intensidade à medida que aumenta o estoque do óleo da experiência.
Para aquele que crê, a velhice é um convite a uma luminosidade crescente.
No meu sótão está guardada uma relíquia dos velhos tempos: um toca-fitas que meu marido usava na adolescência. Na sala, há outra relíquia — o vaso com borda de glicínias, que foi da minha mãe e agora está comigo. O vaso não tem grande valor material, nem o toca-fitas; porém, ao contrário dos objetos eletrônicos que tenho no andar de cima, o valor deles só aumenta com o tempo.
É aqui que nos deparamos com o problema da forma como a nossa cultura enxerga não apenas o envelhecimento, mas também os idosos. Meu marido, Jeff, e eu somos carinhosamente chamados de “velhos” por nossos filhos, que, felizmente, ainda buscam nossos conselhos e nos veem como uma fonte de sabedoria adquirida ao longo dos anos. Mas nossos filhos estão se tornando, cada vez mais, uma exceção à regra.
Tantas mudanças culturais aconteceram em tão pouco tempo que muitos pais e filhos hoje se distanciaram, separados por visões de mundo cada vez mais divergentes. Se antes os mais velhos eram vistos como aqueles que acumulavam sabedoria com o passar dos anos, hoje tendem a ser vistos como cada vez mais obsoletos. São vistos cada vez menos como vasos preciosos, e mais como um toca-fitas ultrapassado.
Quando ouço os conselhos do meu pai, hoje com 84 anos, percebo que ele sempre espera pacientemente até que eu termine de fazer minha pergunta, para então me responder. Aos 55 anos, muitas vezes me sento com alguém mais jovem para ouvir sobre suas dificuldades no casamento, na criação dos filhos ou no ministério; reconheço um padrão familiar poucos minutos após o início da conversa e, no momento oportuno, ofereço o mesmo conselho que um dia já recebi em circunstâncias semelhantes.
Temos a tendência de esbarrar nos mesmos obstáculos ao longo da vida. Se eu, na meia-idade, já adquiri um modesto grau de sabedoria, quanto mais sábio não será meu pai, aos 84 anos? Existe a sabedoria que vem de Deus — um dom que ele nos concede —, mas também há a sabedoria que vem com a idade, conquistada simplesmente com o passar dos anos e pela atenção que dedicamos aos que nos cercam.
A sabedoria que vem com a idade é a base do quinto mandamento para honrar pai e mãe, um mandamento dirigido não a crianças, como muitas vezes supomos, mas a adultos. (Basta notar que os mandamentos que vêm depois dele tratam de pecados tipicamente adultos: assassinato, adultério, roubo, falso testemunho e cobiça.)
O quinto mandamento tem como propósito orientar filhos adultos a honrarem seus pais idosos. Os puritanos interpretaram corretamente suas implicações mais amplas no Catecismo de Westminster, ao afirmarem que ele abrange o dever de honrar todos aqueles que são nossos superiores em idade e experiência.
Em resumo: honre os mais velhos. Eles sabem de coisas que você ainda não sabe. Seus corpos podem estar em declínio, mas eles continuam a se desenvolver como pessoas. É fácil esquecermos disso. Certa vez, ouvi uma mulher na casa dos 30 anos lembrar com delicadeza a uma plateia de mulheres mais jovens que “as mulheres cristãs mais velhas ainda são valiosas na igreja.” À luz do quinto mandamento, eu sugeriria uma pequena correção nessa frase: a verdade não é que os mais velhos ainda são valiosos; de fato, eles são cada vez mais valiosos.
Em uma cultura que transforma a juventude em um fetiche, em algo a ser idolatrado, e enxerga o envelhecimento como uma trajetória rumo à irrelevância e à inutilidade, a família de Deus enxerga de outra forma: as pessoas têm um valor intrínseco, que se desenvolve constantemente — um valor que torna suas contribuições essenciais e indispensáveis.
Nossos anciãos têm muito a nos oferecer — até chegarem à etapa do quiasma da vida em que já não conseguirão mais fazê-lo. Em algum momento, a velhice lhes tirará até mesmo a capacidade de pensar ou de se comunicar. E, ainda assim, eles continuarão a nos ensinar algo. O envelhecimento exige uma força como nenhuma outra. Cuidar dos idosos traz bênçãos inesperadas à geração mais jovem. Aqueles que seguram a mão dos que partem aprendem segredos que os tornam sábios. Eles aprendem que os idosos não são um fardo, mas uma herança sagrada. Minha mãe foi uma luz em sua partida.
A grande simetria da vida humana pode nos oferecer sabedoria, se prestarmos atenção. Passamos da fragilidade do nascimento para fases de crescimento e potencialidades, sob o cuidado atento de nossos pais. Tornamo-nos cuidadores de nossos filhos e, depois, de nossos pais. Vemos, então, o crescimento e as potencialidades darem lugar ao declínio e a limitações em nossas capacidades, em nossa própria vida. E voltamos a ser completamente frágeis, vulneráveis. E deixamos esta vida de maneira semelhante àquela que aqui chegamos. Quanta bondade há no fato de o Senhor nos ter dado um roteiro para o envelhecimento, até que o último inimigo, a morte, seja vencido.
Não acredite na mentira de que devemos nos agarrar à primeira metade da vida. Quando enxergamos o arco da vida do início ao fim, aprendemos a valorizá-lo por inteiro. Aprendemos não apenas a contar nossos dias, mas a apreciá-los — os dias da nossa juventude, os dias do nosso crepúsculo e todos os dias intermediários, entre um e outro.
Não deixe que uma cultura obcecada pela juventude roube de você a noção do valor de todas as fases da vida. Precisamos do nosso rosto que envelhece e do nosso corpo que desacelera para nos lembrar da verdade: o tempo está passando, e ele é extraordinariamente precioso. Cada estação produz seu fruto único e especial. Não há por que se apegar ao que nunca foi feito para durar. Deus é fiel em todas as estações da vida.
Jen Wilkin é escritora, professora de Bíblia e coapresentadora do podcast Knowing Faith.
Este artigo foi publicado na edição de janeiro/fevereiro de 2025 da Christianity Today, sob o título “A Simetria Fiel de uma Vida”.
Tradução: Erica Neves