Culture

Depois de 30 anos, o rock do Skillet ainda está em alta

A banda veterana alcançou jovens alienados na década de 1990. Hoje, os filhos dos primeiros fãs também escutam suas músicas.

Skillet performing at Winter Jam

Skillet em um shoow no Winter Jam

Christianity Today February 28, 2025
Photography by Kurt Kryszak

Meghan Simmons lembra-se da música do Skillet tocando alto nos velhos alto-falantes do ônibus da igreja que levava ela e seus amigos do grupo de jovens para shows e acampamentos, em meados da década de 1990. Ela lembra que a banda — que tem um som hard rock influenciado pelo grunge, new metal e pop rock, com músicas como “Locked in a Cage” e “Dive Over In” — satisfazia a urgência de um desencanto adolescente relativamente domado.

“Eu não era uma adolescente particularmente rebelde, mas aquele som mais pesado meio que me fornecia um espaço para desaguar a minha rebeldia, disse Simmons. “Essa era a música que eu escutava para demonstrar ousadia e inconformismo”. Quando ela viu o Skillet no Winter Jam — uma turnê anual de música cristã que regularmente está entre as turnês de maior bilheteria nos EUA — foi “de longe o show mais intenso” que ela já tinha assistido. Ela viu a banda tocar “acompanhada do meu namorado do ensino médio [hoje meu marido]. Ele comprou um milkshake para mim.”

Fãs de longa data do Skillet sabem o que esperar quando vão a um show da banda: pirotecnia, amplificação de fazer tremer os ossos e uma performance teatral de uma variedade de músicas de seu extenso set-list, que inclui hinos intensos e estridentes e baladas inspiradoras. Depois de quase 30 anos na indústria, a banda continua sendo um dos grupos de música cristã mais bem-sucedidos em atividade atualmente. Em 2024, o Skillet foi o quarto artista cristão mais tocado, de acordo com a Luminate, atrás apenas de Elevation Worship, Lauren Daigle e Hillsong Worship.

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E seu sucesso não se limita aos círculos cristãos. De acordo com a empresa de relações públicas da banda, a maior parte das transmissões de rádio do Skillet na última década foi em estações de rock tradicionais. Eles têm 8,2 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Organizações como WWE [World Wrestling Entertainment], ESPN e NFL compraram direitos de sincronização para as músicas do Skillet. A banda fez turnês com artistas como Nickelback, Seether, Papa Roach e Korn.

Ao contrário da maioria das outras bandas cristãs que surgiram na cena da música cristã contemporânea (CCM) dos anos 90 (pense em DC Talk e Jars of Clay), o Skillet continuou a fazer algo que parecia impossível: atrair novos fãs jovens. Hoje, seu público-alvo principal é composto por homens de 18 a 24 anos.

Esse tipo de longevidade e alcance é raro, especialmente na música cristã, onde as músicas e álbuns produzidos são historicamente pouco valorizados (embora isso tenha mudado um pouco nos últimos anos) e poucos artistas conseguiram consolidar suas músicas como clássicos. No caso do Skillet, o sucesso de longo prazo parece fluir da reinvenção periódica e de um trabalho de marketing experiente e exitoso. A banda se mantém ocupada, com turnês quase constantes. Logo após sua primeira turnê pelo Oriente Médio, no segundo semestre do ano passado, o conjunto de quatro membros, que inclui John Cooper e sua esposa Korey Cooper, Jen Ledger e Seth Morrison, está liderando o Winter Jam mais uma vez. Um novo grupo de fãs deve aparecer na plateia para curtir o som pesado — talvez, eles até tomem milkshakes.

A ousadia, musical e retórica, faz parte da marca Skillet há muito tempo. Parece que, cada vez mais, essa ousadia tem se expressado através de posicionamentos políticos. O ativismo do vocalista John Cooper no palco, online e em seu podcast — com relação a questões de gênero, política e wokeness [palavra derivada do termo woke, que se tornou sinônimo de políticas liberais ou de esquerda] — tem atraído ouvintes que compartilham de sua visão conservadora. (O episódio mais recente do seu podcast é, em parte, uma resposta crítica a um artigo recente do editor-chefe da Christianity Today, Russell Moore.)

Cooper parece entender que os adolescentes e jovens adultos (especialmente os homens) de hoje estão vivenciando uma alienação de um tipo diferente da que ele viveu na juventude — uma alienação marcada por um sentimento de impotência coletiva e privação de direitos políticos. Mas e quanto à raiva, à solidão e à dor subjacentes? Esses são temas que Skillet sempre abordou.

“Tenho um amor eterno por jovens e adolescentes”, ele disse à CT. “Temos que falar sobre niilismo e raiva. Quero que eles saibam que é normal se sentir assim, mas também quero que saibam que há esperança.”

No início do Skillet, Cooper ostentava cabelos loiros descoloridos e repicados (um contraste marcante com sua aparência atual, com cabelo escuro e barba longa) e um guarda-roupa inspirado no punk (muito preto, regatas com recortes laterais e calças largas), fatores que conversavam com bandas dos anos 1990 que serviram de inspiração para o Skillet, como o Nirvana. Cooper disse que a angústia e a desilusão associadas a figuras como Kurt Cobain também fazem parte da história do Skillet. O grunge e o hard rock comoviam adolescentes isolados, como o próprio Cooper, que perdeu a mãe para o câncer quando tinha 15 anos.

“Comecei a discutir com meu pai. Eu estava com raiva e me sentia solitário”, disse Cooper. “Eu fantasiava sobre machucar as pessoas. Nada extremo, mas às vezes eu pensava: ‘essa pessoa está me machucando. Como posso machucá-la?’”.

Durante essa fase sombria, Cooper disse que Jesus o resgatou, e a música estava ao lado dele. “Era como se ‘Ninguém que eu conheço me entende, mas Metallica, Stryper e Trent Reznor me entendem’”, ele disse.

O primeiro álbum do Skillet (1996), que leva o nome da banda, prestou homenagem ao álbum Nevermind de 1991, do Nirvana; a faixa-título, “I Can”, pega emprestado a estrutura musical e sonora de “Smells Like Teen Spirit”. Esse som grunge atraiu os primeiros fãs do Skillet, principalmente adolescentes e jovens adultos cristãos que tentavam encontrar uma música que satisfizesse seu desejo por algo que fosse legal e que, ao mesmo, fosse considerado pelos pais como um conteúdo “seguro”.

O Skillet surgiu no auge da tentativa da música cristã contemporânea de oferecer uma alternativa cristã que atendesse a qualquer tipo de gosto musical: se você gosta de NSYNC, experimente o Plus One. Se você gosta de Alanis Morissette, experimente Rebecca St. James. Esses eram artistas para cristãos que queriam ter uma ideia de como seria estar conectado a subculturas musicais tradicionais — incluindo seus fandoms, frequência a shows e produtos — mas sem conteúdo sexual, referências a drogas ou linguagem explícita.

O Skillet adotou uma abordagem um pouco diferente. Josh Balogh, um escritor do fórum de música cristã Jesus Freak Hideout, disse que, embora a banda sempre tenha se posicionado como uma alternativa cristã para o grunge, ela também não se esquivou do conteúdo sombrio que definia o gênero: “Eles estavam mergulhando em assuntos como saúde mental, ideação suicida, temas realmente pesados”. Embora seus jovens ouvintes cristãos pudessem não ter permissão para ouvir rock secular, eles ainda desejavam algo atrelado à estética da desilusão e do desespero.

Andrew Czaplicki descobriu o Skillet em 1998, quando era pré-adolescente, no Creation Festival, um festival de música cristã que realizava-se na Pensilvânia, de 1979 a 2023, e que seus pais incluíram na programação de férias da família. Ele estava na sua fase “marginal”, e viu o Skillet tocar músicas do segundo álbum, como Hey You, I Love Your Soul. Outros cantores de sucesso cristãos, como Audio Adrenaline, também tocaram no mesmo dia. Mas Czaplicki se tornou um fã instantâneo do Skillet.

“Eu era um garoto angustiado, mas minha família só ouvia música cristã contemporânea e country”, ele disse. “Eu senti como se o mundo estivesse finalmente se revelando para mim, através daquela música nova que eu estava ouvindo.” Quando Czaplicki era um adolescente solitário — e seu pai era um militar da ativa, o que fazia sua família se mudar mais ou menos a cada dois anos —, ouvir Skillet dava às emoções complexas um lugar seguro para pousar.

Anos depois, durante uma crise familiar, Czaplicki voltou a ouvir a música da banda. Em 2018, ele e sua família estavam visitando os avós, no feriado de Ação de Graças e, numa certa manhã, o filho de 18 meses de Czaplicki não acordou. A morte inesperada de seu filho fez o mundo de Czaplicki e de sua esposa virar de cabeça para baixo. Depois disso, [ouvir] a música do Skillet era como estar na presença de um velho amigo.

“Houve dias em que a música deles me ajudava a chegar até o fim do dia. Não me entenda mal — Deus me ajudou a passar por isso, mas a música era a trilha sonora”, disse Czaplicki.

O Skillet forneceu um lugar para sua solidão e sua tristeza na adolescência. Na idade adulta, as músicas cruas, emocionais e antológicas do álbum de 2016 da banda, Unleashed, repercutiram nele em meio ao luto.

Hoje, Czaplicki e seu filho de 10 anos ouvem Skillet juntos.

“Dei a ele um iPod antigo e carreguei músicas do Skillet, para que ele pudesse ouvir no ônibus, a caminho da escola. Ele tem as camisetas da banda. Nós vamos a shows. É algo que compartilhamos agora.”

O apelo do Skillet para jovens raivosos e angustiados continuou a conquistar novos fãs e a fazer com que os antigos voltassem. A banda sempre se adaptou rapidamente às mudanças de estilo na indústria, observou Balogh. E embora Cooper tenha insistido para que o Skillet não “persiga tendências”, ele reconheceu que estão sempre abertos a novos sons. Ao longo dos anos, eles foram influenciados por Linkin Park, Breaking Benjamin, Imagine Dragons, Eminem e Twenty-One Pilots.

Eles também são abertos a mudanças culturais e políticas. Fãs veteranos do Skillet sempre o viram com um grupo conscientemente contracultural. Nos anos 90, sua angústia refletia a cena grunge. Hoje, ela reflete o segmento mais online, “anti-woke” do conservadorismo americano, que alguns jovens veem como a nova contracultura.

Na última década, Cooper se tornou um crítico vocal do “movimento cristão de desconstrução”. Em 2023, ele publicou um livro intitulado Wimpy, Weak, and Woke: How Truth Can Save America from Utopian Destruction [Covarde, Fraco e Woke: Como a Verdade Pode Salvar a América de uma Desconstrução Utópica]. Em seu podcast, ele denuncia o “desvio para a esquerda das elites cristãs”. O videoclipe da música “All That Matters”, do álbum Revolution de 2024, apresenta imagens dele usando um chapéu de cowboy preto. Ele canta: “Estas [são as] três coisas pelas quais eu morreria: /minha fé, minha família, minha liberdade”. Cooper disse que os ouvintes reagiram positivamente.

“Todos esses fãs estão dizendo: ‘Estou feliz que alguém esteja dizendo que é ok amar a América’”, ele disse.

Essa estética anti-woke parece ter um apelo particular para homens jovens. De acordo com a plataforma de estatísticas musicais, Chartmetric, o público do Skillet é atualmente cerca de 55% masculino (algo incomum no mercado cristão), e quase 45% dos ouvintes têm entre 18 e 24 anos. (Por contraste, Elevation Worship, Lauren Daigle e Hillsong Worship têm aproximadamente 60%, ou mais, de seu público composto por mulheres, principalmente na faixa etária de 25 a 34 anos.)

O Skillet parece estar atraindo jovens, disse Cooper, porque eles estão à procura de “pessoas que falam a verdade”: “Eu imagino que muitas das mesmas pessoas que ouvem Joe Rogan e Bill Maher também são atraídas por nós. O Skillet é extremamente imparcial”.

Cooper também disse que ainda entende aqueles jovens que sentem alienados, fora do padrão evangélico, embora o que isso significa tenha mudado desde os anos 90. A música e a mensagem do Skillet têm repercussão. Ele acha que isso é uma confirmação de que a banda está fazendo algo certo.

E quanto a todos esses fãs não cristãos? Até certo ponto, as letras de algumas das músicas mais populares do Skillet (como “Monster”, tocada durante a transmissão do 25º aniversário da WrestleMania de 2009) são vagas o suficiente para que os ouvintes possam “criar seu próprio significado”, disse Balogh. Uma mensagem de fé genericamente edificante permeia a música — mas que não necessariamente seria identificada como cristã por um ouvinte casual.

Conforme a próxima geração de entusiastas do rock descobre o Skillet, pode ser que percebam, com o tempo, que a discografia da banda inclui muitas músicas com referências explícitas a Jesus e à cruz. E pode ser que eles não saibam o que fazer com essas coisas. Cooper disse que acolhe esses ouvintes mesmo assim.

“Eu encontro fãs o tempo todo que me dizem coisas do tipo: ‘Eu não entendo as partes que falam sobre Jesus, mas sua música me faz sentir melhor.’”

Kelsey Kramer McGinnis é correspondente de música da Christianity Today.

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