Quando descobri que estava grávida do nosso filho caçula, soube que precisávamos finalmente nos decidir por uma igreja.
Minha família havia se mudado para Pittsburgh há cerca de um ano, e demoramos mais do que esperávamos para encontrar uma igreja. Chegamos no verão de 2021, no período pós-pandemia, quando muitas congregações ainda não tinham voltado a funcionar com sua plena capacidade. A maioria já tinha voltado a ter cultos presenciais, mas nem todas já tinham retomado as atividades do ministério infantil. Com meninos gêmeos de 2 anos de idade, um ministério infantil estruturado era essencial, se quiséssemos prestar atenção no sermão.
Então, passamos seis meses tentando frequentar determinada igreja (uma congregação grande e mais antiga, onde é difícil conhecer pessoas), depois mais seis meses frequentando outra (essa era pequena, e os cultos eram na hora do jantar, o que era sinônimo de queijo e biscoitos por todo o banco da igreja). Então, visitamos uma terceira igreja — onde, finalmente, o ministério infantil havia sido retomado — e, dois meses depois, descobri que estava grávida.
Já estávamos inclinados a nos juntar a essa [terceira] igreja de qualquer maneira, mas, quando me deparei com aquele teste de gravidez, a decisão foi tomada. Eu me sentia como se estivesse correndo para um abrigo, enquanto via uma tempestade se aproximando no horizonte. Havia mesmo alguma opção? Nós tínhamos que nos comprometer [com uma comunidade]. Não poderíamos ter aquele bebê sem uma igreja.
É evidente que há pessoas que não contam com uma igreja, e só posso supor que elas são mais corajosas do que eu. Não consigo sequer imaginar passar por esses primeiros meses com um recém-nascido sem o apoio de uma congregação local. Não é só pelas marmitas que as irmãs trazem, embora certamente sejam uma bênção [pois garantem que você não terá que cozinhar por uns bons dias]. É por saber que há dezenas, senão centenas de pessoas fisicamente próximas que se importam que você teve um bebê — pessoas que vão ajudar nossa família, de forma tangível e espiritual, este ano e nos anos que virão.
Elas vão ajudar não porque sejam parentes ou mesmo boas amigas. Algumas delas você mal conhece. Elas vão ajudar nas grandes e nas pequenas coisas porque, juntas, elas e você são a igreja. Elas farão isso de maneira informal e de maneira institucional, mas também se comprometerão a ajudar — explicitamente, publicamente, diante de Deus e diante umas das outras — e treinarão umas às outras, de geração em geração, sobre como cumprir essa promessa.
Em algumas igrejas, esse compromisso acontece durante o batismo infantil. Em outras, os cristãos dedicam os bebês e só os batizam mais tarde. Em ambos os casos, a declaração da congregação tende a ser a mesma: prometemos apoiar essas crianças e suas famílias em suas vidas e na fé. Nós as acolhemos na comunidade e nos comprometemos ativamente a cuidar delas.
Isso pode não parecer lá grande coisa, se você é um cristão de berço. Isso não é apenas o que se pressupõe que todos façam? Não é o comportamento esperado? Deixa eu te contar uma coisa: isso é, sim, algo de extrema importância. Sempre foi algo importante, mas é particularmente significativo em uma cultura como a nossa, onde a criação de filhos em geral parece uma tarefa solitária e exaustiva, onde é socialmente admissível opinar para que crianças mais novas e com comportamento indesejável sejam banidas de muitos espaços públicos, onde cada vez mais se espera que o trabalho de criar os filhos recaia exclusivamente sobre os ombros dos pais.
Preciso fazer uma pausa aqui para destacar que o Ocidente atual é extremamente inconsistente em seu modo de pensar e de falar sobre crianças (antes mesmo de entrarmos na política por trás de tudo isso). Temos uma aversão a crianças ao lado de uma graciosidade pró-criança. Temos taxas de natalidade em queda e práticas parentais cada vez mais elaboradas e exigentes.
Alguns bolsões da cultura são mais pró-criança e pró-pais do que a média. Ainda assim, parece claro que a média se moveu em uma direção decididamente solitária e mais “hostil à família”. Como observou a colaboradora do The Atlantic, Stephanie Murray, a norma cada vez mais aceita é que seus filhos são problema seu, são um projeto pessoal que deve ser mantido fora do caminho de todos os demais, até que tenham idade suficiente para serem confiáveis, úteis e comportarem-se de modo apropriado.
O problema com essa visão é que não é assim que a criação de filhos ou o amadurecimento funcionam. Criar filhos é direito e responsabilidade principalmente dos pais. Mas também é “um esforço fundamentalmente social”, escreve Murray, no qual todos têm algum papel — um papel ao qual cada vez mais adultos estão “essencialmente renunciando”, em nossa sociedade em que a confiança anda cada vez menor, onde a criação de filhos é vista como um estilo de vida opcional, cujas consequências devem ser suportadas por aqueles que o escolhem.
Crescer e amadurecer também é um esforço social. As crianças fazem parte da sociedade e só aprendem a interagir com outras pessoas estando perto de outras pessoas, especialmente se forem outras pessoas que se importam o suficiente para corrigi-las e ajudá-las a levantar quando caem. Quando a “aldeia” renuncia ao seu papel, os pais não são os únicos que se sentem sozinhos e à deriva.
Na igreja, porém, você não pode renunciar a esse papel. Você o afirma verbalmente a cada novo bebê. Nas dedicações e nos batismos, nós, deliberadamente, acolhemos as crianças e acolhemos seus pais enquanto pais, juntos, na vida cristã. Ao nos comprometer a ajudar os pais a “instruir a criança no caminho em que deve andar” (Pv 22.6), nós também nos treinamos no que significa ser comunidade.
Muito tem sido escrito recentemente sobre o crescente interesse secular nos benefícios práticos do cristianismo: como a igreja pode encorajar o bom comportamento, promover amizades e estabilizar a sociedade. Com essa conversa vieram advertências contra a instrumentalização da nossa fé — isto é, vantagens sociais à parte, o que de fato importa é se o cristianismo é verdadeiro, se Jesus realmente é Deus, se ele realmente derrotou o pecado, a morte e o diabo (Hebreus 2.14-18), se realmente podemos esperar que ele voltará e completerá sua obra de redenção do mundo. Não vamos à igreja só para ter uma comunidade e ganhar marmitas (e, se fazemos isso, provavelmente não o faremos por muito tempo).
No entanto, nem a comunidade nem as marmitas são irrelevantes. Não “queremos que as pessoas se juntem às igrejas pelas vantagens sociais”, como escreveu recentemente para a CT o teólogo Brad East, mas o “Senhor e a sua família são unidos”. Não temos que desvencilhar nossa lealdade a Jesus do fato de desfrutarmos dos benefícios de sua igreja. Na verdade, não deveríamos nem ao menos tentar fazer isso. Ambos são inseparáveis. A igreja não é um prédio, como minha mãe sempre me disse; ela é um abrigo resistente em todos os tipos de tempestades.
Bonnie Kristian é a diretora editorial de ideias e livros da Christianity Today.