Church Life

Um conselho para enfrentar a ansiedade de fim de ano

Concentrar-se em ser fiel no pouco que está ao nosso alcance faz uma diferença tangível em nossa vida e em nossa comunidade local.

An Illustration of a group of friends enjoying each other's company beneath a tree.
Christianity Today December 2, 2024
Illustration by Keith Negley

O mundo está profundamente despedaçado, há um bom tempo — na verdade, desde o início dos tempos —; porém, sendo bem honesto, você não acha que recentemente ele tem parecido um lugar ainda mais despedaçado e sombrio?

As mídias sociais e as notícias 24 horas se encarregam de que nossa amígdala e nosso sistema nervoso tenham pouco alívio, antes que surja a próxima injustiça ou tragédia. Essas questões passageiras são sérias e reais, mas são como gravetos: queimam rapidamente e, antes que possamos fazer algo, viram cinzas, e a próxima injustiça ou a tragédia da vez começa o incêndio seguinte.

Agora, no final de 2024, nos encontramos na esteira de outra eleição divisiva e seu efeito colateral: estamos à beira de uma sobrecarga permanente. Guerras culturais e lutas internas desviam nossa atenção das questões complexas de longo prazo, como crianças que vivem na extrema pobreza, tráfico e a crise do acolhimento familiar, para citar apenas algumas.

Se não tomarmos cuidado, essa enxurrada de notícias pode se tornar uma companhia constante, mas errada. Davi nos lembra, no Salmo 139, que Deus está conosco independentemente de para onde vamos; porém, às vezes, a nossa condição caída e a sobrecarga se tornam um substituto acidental para a presença do Senhor. Pode ser que acabemos reescrevendo ao nosso modo as palavras de Davi:

Para onde posso ir para me livrar dos problemas? A que lugar posso ir para escapar dessas questões? Se eu for para as redes sociais, lá estás; se eu ligar o  noticiário da TV a cabo, lá estás. Se faço minha cama do outro lado do mar, mesmo ali tu me sustentarás.

Algumas pessoas resolvem essa sobrecarga de problemas adotando uma postura permanente de indignação. Mesmo que isso se justifique, estar constantemente nesse estado pode nos colocar em uma espiral de autojustiça. Parece bom, mas muitas vezes não muda coisa nenhuma. Isso nos dá alguém a quem culpar, alguém que sentimos que podemos tratar de forma simplista. Transforma os seres humanos em caricaturas bidimensionais.

Outras pessoas lidam com tudo isso por meio da ignorância. Elas mantêm uma postura de não se envolverem, como a do homem da Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.26–37), que perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?” e ​​não gostou da resposta dada. É a pessoa que está em necessidade [de ajuda]. Ambas as abordagens são o que chamamos na minha área de “tentativas de solução”. Elas podem não mudar nada ou piorar o problema.

Mas há outro caminho a seguir, e a temporada do Advento é um bom momento para percorrê-lo. Quando pensamos em Advento, a primeira coisa que nossa mente faz é ir direto para a antecipação, a expectativa. Antecipamos a esperança vindoura de Jesus — o já e o ainda não. Sempre apreciei e refleti sobre João 1.5, durante a temporada do Advento: “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.”

Mas o Advento fornece algo mais: um lembrete, naqueles dias sombrios e opressivos, de que o evangelho é local. Jesus nasceu em um lugar que tinha um endereço específico, e esse lugar estava impregnado de injustiça sistêmica e de estatísticas decadentes.

Herodes estava tão desequilibrado que o humor de toda a cidade se confundiu com o dele. “[Herodes] estava perturbado”, escreve Mateus, “e toda Jerusalém com ele” (2.3, ESV). O povo estava nervoso porque seu bem-estar estava ligado aos caprichos de Herodes. Roma não era fácil: ela empunhava sua espada ao mesmo tempo em que cobrava impostos excessivos; oferecia paz sob ameaça de morte; e conquistava e escravizava tanto quanto inovava e construía. O lugar em que Jesus nasceu era profundamente marginalizado, marcado pela pobreza e carregado de traumas.

Nestes tempos de ansiedade, algo que me ajuda é lembrar que Jesus veio para salvar o mundo — é claro —, mas se concentrou em seu lugar específico. Seu ministério, que tinha um foco hiperlocal, deu início à surpreendente expansão de um reino que, em 2024, continua a se expandir.  O ministério de Jesus prosperou em um local esfacelado. As pessoas se achegavam à fé, eram curadas e enviadas para fazer a diferença.

Quando foco de forma local nas pessoas e nos eventos à minha volta, encontro muitas evidências da bondade de Deus. Na minha própria igreja, em vez de ficarmos assoberbados com várias questões, focamos em duas coisas: cuidados para crianças em situação de vulnerabilidade, que são levadas para lares temporários ou destinadas à adoção; e construção de moradias economicamente acessíveis. Ambas são necessidades complexas e que requerem trabalho de longo prazo. Nós nos deparamos com contratempos e desânimo consideráveis em nossos esforços, mas mantivemos nosso foco local e vimos um progresso notável. Outras congregações trabalham com detentos, pessoas sem-teto ou sobreviventes da violência doméstica. Ajudaremos qualquer um que entrar pela nossa porta — na verdade, somos conhecidos por isso em nossa cidade —, mas concentramos nossos esforços nas duas questões sistêmicas citadas. Não podemos dar um jeito em todas as injustiças do mundo, mas podemos mudar a situação de algumas pessoas de forma significativa.

E quanto aos problemas do outro lado do mundo? Devemos pensar apenas no lugar em que vivemos? De jeito nenhum! Se viajarmos pelo mundo para compartilhar o evangelho, sabemos que, quando chegarmos em algum país, nos concentraremos em um lugar específico e em pessoas específicas, do mesmo modo que fazemos em nosso país de origem. Colaboramos com aqueles que vivem naquele local e nos unimos à obra que Deus já vem fazendo ali, bem antes de chegarmos.

Concentrar-se em questões que geram indignação, ficar lendo estatísticas e reclamando nas redes sociais não alimentará uma criança com fome, nem resgatará uma pessoa das garras do tráfico, e também não ajudará um adolescente que, pela idade, já não pode mais partcipar do sistema de adoção. Mas esforços cujas raízes estão plantadas em um evangelho que é vivido localmente podem realizar tais façanhas, e Deus se deleita em usar sua igreja global, enquanto cuidamos daqueles poucos que se encontram diante de nós.

Madeleine L’Engle escreveu certa vez:

[Alguém] apaixonadamente interessado pela causa do […] leproso, mas que evita a todo custo falar com um leproso que atravessa o seu caminho, para poder dar continuidade à causa. Mas me ocorreu que Jesus não poderia ter se importado menos com a causa ou com os direitos do leproso […] Jesus parou. E curou. E amou. Não causas, mas sim pessoas.

Sou grato por aqueles que são chamados para o trabalho político e se concentram em questões sistêmicas mais amplas. Precisamos dessas pessoas. Mas, para a maioria de nós, a estratégia é local.

Nos Evangelhos, descobrimos que Jesus na realidade não falou sobre questões sistêmicas, e ele não abordou assuntos como Herodes ou Roma. Nascido em uma cultura altamente ansiosa e quebrada, Jesus se submeteu à sua própria criação. Ele manteve seu ministério focado em um local específico, para pessoas que estavam diante de seus olhos. Ao entrarmos na estação do Advento, vamos desviar nossos olhos das bandeiras genéricas que só despertam nossa indignação e, em vez disso, vamos nos concentrar naqueles poucos que estão ao nosso alcance, enquanto voltamos nosso olhar para aquele que está vindo ao nosso encontro.

Steve Cuss é o apresentador do podcast Being Human da CT.

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no Facebook, Twitter, Instagram ou Whatsapp.

Our Latest

Um conselho para enfrentar a ansiedade de fim de ano

Concentrar-se em ser fiel no pouco que está ao nosso alcance faz uma diferença tangível em nossa vida e em nossa comunidade local.

News

Cristãos protestantes da Geração Z querem ser famosos por seus hobbies e talentos

Para esses jovens a fé tem caráter individual, e Deus é essencial para impulsionar seu senso de propósito e bem-estar.

Review

A criação de filhos hoje é menos rígida, mas ainda deve levar o pecado a sério

Livro alinha abordagens modernas para criar filhos com a sabedoria ancestral da Palavra de Deus.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube