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Rina Seixas: Um pouco da vida e da obra do icônico pastor fundador da Bola de Neve

A igreja atraiu celebridades e fundou 500 congregações em seis continentes. Nos últimos tempos, Rina enfrentou acusações feitas por familiares e uma ex-funcionária.

Rina Seixas
Christianity Today November 21, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Image: Courtesy of Bola de Neve Church

Rinaldo Seixas Pereira, o polêmico fundador da Igreja Bola de Neve, que se tornou um movimento com 500 congregações ao redor do mundo, morreu em um acidente de moto em Campinas, no domingo, 17 de novembro. Ele tinha 52 anos.

O apóstolo Rina, como era conhecido por muitos cristãos, estava voltando para casa, na tarde de domingo, após ter falado no Pregadores do Asfalto, um estudo bíblico da sua igreja direcionado para motociclistas, quando caiu da moto e sofreu fraturas múltiplas. Ele morreu no hospital, horas mais tarde, na noite daquele mesmo dia.

Em 1999, a Igreja Bola de Neve começa sua trajetória em uma sala, que ficava no andar de cima de uma loja de surfe chamada Hawaiian Dreams, em São Paulo. Embora a igreja tenha tido um crescimento exponencial nos 25 anos seguintes, o apóstolo Rina era alvo de escândalos pessoais e de controvérsias. Recentemente, ele enfrentava na justiça acusações de violência doméstica, as quais levaram os anciãos da igreja a removê-lo do cargo de presidente do conselho, em junho. Após as denúncias, sua esposa, Denise Seixas, conseguiu na justiça uma medida protetiva contra ele, depois que ela e o filho (enteado de Rina) relataram que ele havia agido com violência contra eles.

No entanto, Rina é lembrado como “um revolucionário, que ganhou muitas vidas improváveis ​​para Jesus, que mobilizou a juventude cristã do Brasil”, escreveu no Threads Fred Arrais, um cantor cristão e pastor da igreja batista Igreja Angelim, no estado do Piauí.

“Você foi uma pessoa que transformava o mundo e, de muitas maneiras, você mudou nosso mundo e ajudou a tornar possível alcançarmos centenas de milhares de pessoas no Brasil”, escreveu Mark Mohr, vocalista da banda de reggae cristã Christafari, no Instagram. “Você foi um plantador de igrejas com centenas de congregações em mais de 30 países.”

Rina nasceu em São Paulo, em 15 de abril de 1972. Ele era o filho mais velho de um casal batista, Lídia Colomietz e Rinaldo Pereira. Ele nasceu após um parto complicado, e os médicos tiveram de retirá-lo com fórceps do útero da mãe. Rina tinha duas irmãs, Daniela e Priscila, que se tornaram pastoras na Bola de Neve.

Na infância, ele frequentou o Colégio Batista Brasileiro e, depois, estudou publicidade, acumulando aprendizados que um dia usaria como pastor de uma megaigreja. Na juventude, porém, Rina se afastou do cristianismo: aos 20 anos era dependente de drogas e tinha contraído hepatite. Ele se reconectou com a sua fé depois de um encontro que, mais tarde, ele descreveu como uma “sensação de morte”.

Logo após essa experiência, Rina começou a frequentar a Renascer em Cristo, em São Paulo, congregação ligada ao movimento neopentecostal que começou a se desenvolver na década de 1970, conhecida por pregar o evangelho da prosperidade e batalha espiritual, bem como por transmitir essas mensagens através de seus próprios meios de comunicação de massa.

Depois de servir por vários anos como líder do ministério de evangelismo dessa igreja, em 1999, Rina começou sua própria igreja com a bênção de Estevam Hernandes, o fundador da Renascer em Cristo. A nova comunidade seria fortemente influenciada pelo que Rina tinha visto em sua antiga igreja, mas, ao mesmo tempo, seria um ambiente acolhedor para os jovens.

Surfista de longa data, Rina perguntou a seus amigos, os donos da Hawaiian Dreams, se ele poderia começar uma igreja em sua loja. Quando eles concordaram, pelo menos 130 pessoas compareceram à primeira reunião. Em uma história que Rina contaria inúmeras vezes depois, o espaço não tinha um púlpito ou sequer uma mesa onde ele pudesse colocar a Bíblia. Ele, então, improvisou: tomou emprestado um longboard (uma prancha de surf) e colocou-o sobre duas cadeiras, numa disposição que se tornou uma característica marcante da comunidade.

A cultura do surf na igreja não era a única coisa que intrigava os novatos. A Renascer em Cristo foi uma das primeiras a abraçar a música contemporânea como forma de se envolver e se conectar com os jovens. A Bola de Neve foi mais longe, realizando cultos com música alta e luzes estroboscópicas, em bares e casas de shows. Nas paredes, painéis iluminados exibiam frases de efeito em inglês, como “In Jesus we trust” [Em Jesus nós confiamos].

O nome da igreja veio de uma visão sobre seu crescimento — “uma bola de neve que, começando pequena, virava uma avalanche”, como Rina descreveu no site da igreja. Em contraste com muitas igrejas evangélicas do início do século 21, a Bola de Neve atendia diretamente o público jovem por meio de sua ênfase em adoração contemporânea, uso de linguagem informal na pregação, aceitação de tatuagens e um código de vestimenta mais casual. (O sucesso da Bola de Neve, por sua vez, influenciou muitas congregações evangélicas a empregarem estratégias semelhantes para atrair os jovens).

Desde o início, a Bola de Neve atraiu artistas, atletas e outras celebridades, e manteve ao longo do tempo a reputação de igreja descolada. Gabriel Medina, Sasha Meneghel, e as atrizes Fernanda Vasconcellos e Danielle Winits estão entre seus frequentadores mais famosos. Muitas das igrejas locais da Bola de Neve também organizam um “ministério de lutas”, nos quais os congregantes frequentam aulas de jiu-jitsu e, às vezes, participam de competições patrocinadas pela igreja.

A pregação de Rina frequentemente invocava imagens da vida cotidiana e gírias. “Na casa de Deus não tem leite derramado, nem feijão queimado, nem arroz grudado, amém?”, foi o que o surfista-pastor certa vez pregou do púlpito, conforme relata Eduardo Maranhão, em seu livro A Grande Onda Vai te Pegar.

Por trás desse estilo coloquial estava uma tentativa de ajudar os cristãos a responderem com eficácia à cultura contemporânea. “Jesus usava uma linguagem peculiar e inovadora”, escreveu Rina. “Ao mesmo tempo em que pregava o conteúdo das escrituras com grande propriedade, expunha os ensinos bíblicos com uma roupagem nova e instigante, através de parábolas, comparações e metáforas.”

Para ele, o cristianismo contemporâneo havia se tornado morno e conformista. “Um dos maiores problemas da Igreja hoje é a perda de sua essência de contracultura”, escreveu ele em seu site. “Se não for baseada na confiança em Deus, a busca pelo Senhor pode nos levar a destinos estranhos e perigosos.”

Embora a igreja nunca tenha anunciado uma estratégia intencional de plantação de igrejas internacionais, a diáspora brasileira organizou e abriu igrejas Bola de Neve locais (com púlpitos de pranchas de surfe) em países tão diversos quanto Estados Unidos, Moçambique, Espanha, Índia, Japão e Austrália, o que lhe permitia alegar que tinha congregações em todos os continentes.

À medida que crescia, a Bola de Neve conseguiu se manter distante de grande parte da cobertura negativa da imprensa que caracterizava muitas congregações neopentecostais. Mas isso mudou este ano.

Em maio, ex-membros de uma congregação do estado de Santa Catarina acusaram a igreja de administrar mal as doações dos fiéis para um projeto destinado a apoiar mulheres empreendedoras. (Na justiça, a igreja negou quaisquer irregularidades).

Dias depois, o cantor cristão Rodolfo Abrantes divulgou um vídeo no qual disse que ele e sua esposa sofreram abuso ​​emocional, no tempo em que ambos foram membros da mesma congregação Bola de Neve, e que os líderes o acusaram de dever dinheiro à gravadora da igreja, a Bola Music.

Rina não comentou publicamente essas acusações.

As acusações começaram a chegar mais perto do líder-fundador. No mesmo mês, Nathan Gouvea, enteado de Rina, disse que fora espancado pelo padrasto e o citou como responsável direto pelas práticas de gestão abusivas que foram denunciadas em Santa Catarina. Ele também alegou que a Bola de Neve era uma seita. “Todo mundo morre de medo do apóstolo”, disse ele.

Em junho, a esposa de Rina, Denise Seixas, pastora da Bola de Neve e cantora cristã, obteve uma medida protetiva na justiça contra Rina, acusando-o de violência física e psicológica.

Em seu depoimento à polícia, ela disse que Rina havia lhe dado um soco no nariz. Gravações de áudio e vídeos vazados nas redes sociais na época mostravam Rina xingando e acusando a esposa de “ouvir demônios”.

Na mesma semana, os anciãos destituíram Rina e Denise da presidência e vice-presidência, respectivamente, da Bola de Neve. O conselho também anunciou a criação de um canal de ouvidoria (um endereço de e-mail para onde as pessoas poderiam enviar reclamações e denúncias) para tratar de “possíveis falhas e má conduta”, além da criação de um conselho de ética para investigar e deliberar sobre irregularidades.

Em junho, uma ex-funcionária da igreja foi à polícia para acusar Rina por importunação sexual. Em seu depoimento, ela relatou várias situações de comportamento inapropriado que ocorreram entre 2012 e 2017, que culminaram em uma tentativa de Rina de agarrá-la. Quando ela saiu do local, disse que tinha hematomas visíveis no braço resultantes do “embate”.

Após essas denúncias, em julho, um tribunal em São Paulo ordenou que Rina entregasse à polícia todas as armas que possuía, em um prazo de 48 horas. Ele informou que as armas estavam guardadas em um clube de tiro e permitiu que a polícia tivesse acesso a elas.

Com a morte de Rina, ainda não está claro como as autoridades e a liderança da igreja abordarão as acusações de má administração, abuso e agressão. Na declaração que anunciou seu falecimento, a Igreja Bola de Neve disse apenas que “Neste momento de grande tristeza, nos colocamos em oração por sua família, amigos e toda a igreja que foi tão abençoada por seu ministério, deixando um legado que jamais será esquecido”.

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