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As deportações em massa prometidas por Trump colocam igrejas de imigrantes em alerta

Algumas das propostas do presidente eleito parecem improváveis, mas ele ameaçou retirar do país milhões de imigrantes, ilegais e legais.

A man furls a flag after a US naturalization ceremony in Los Angeles for immigrants becoming citizens.

Em Los Angeles, no início deste ano, um homem enrola uma bandeira dos EUA, após uma cerimônia de naturalização para imigrantes que se tornam cidadãos.

Christianity Today November 11, 2024
Mario Tama / Getty Images

Jackson Voltaire, um pastor que lidera uma denominação com 255 igrejas batistas haitianas na Flórida, fez uma oração pedindo uma bênção pessoal para Donald Trump, no dia seguinte à eleição.

Mas Voltaire também se reuniu para orar com líderes das igrejas de sua denominação que estavam preocupados com o que pode vir a acontecer com o status legal dos haitianos no país.

“Podemos até dizer para as pessoas não se preocuparem, porém, para a maioria delas, há motivos para se preocupar”, disse Voltaire. “Mas quando fixamos nossos olhos em Jesus, a preocupação começa a se dissipar. A força e o consolo que encontramos nas promessas de Deus são mais fortes do que o medo.”

Trump, o presidente eleito, fez da deportação em massa uma parte central de sua campanha, prometendo retirar dos Estados Unidos milhões de imigrantes, entre eles, os haitianos. A plataforma oficial do Partido Republicano promete “realizar a maior operação de deportação da história americana”.

Em discursos de campanha, Trump falou de imigrantes sem visto que estariam cometendo crimes violentos, mas também indicou que acabaria com certos programas de imigração legal, como o que beneficia os haitianos.

Essas propostas podem afetar mais de 10 milhões de pessoas nos EUA e resultar na separação de milhões de famílias, já que a maioria dos imigrantes sem visto vive em lares com outros imigrantes legais.

Grande parte dos haitianos está legalmente nos Estados Unidos, através do Status de Proteção Temporária, um programa para quem foge de guerras ou de situações extremas, e que contempla o Haiti e outras nações, como Venezuela e Nicarágua. Trump tentou, sem sucesso, acabar com esse programa em seu primeiro mandato e, agora, vai tentar de novo.

O Haiti atualmente não tem um governo funcional, o que dificulta qualquer deportação, e os moradores vivem sob o controle de gangues em guerra.

Voltaire disse que orou não apenas para que Trump abençoasse os Estados Unidos, mas para que Deus encontrasse pessoas que mudassem o curso da nação do Haiti, para que os haitianos não tivessem que fugir do país. Voltaire ora para que o Haiti possa “voltar aos tempos gloriosos em que essa nação era considerada a pérola do Caribe”.

Trump fez promessas de deportar milhões, em sua campanha de 2016, mas os números de deportação em seu primeiro mandato parecem ser praticamente os mesmos do governo Biden. O governo Obama ainda detém o recorde do maior número de deportações em um ano.

Desta vez, Trump propôs um meio mais drástico de deportação: mobilizar a Guarda Nacional para prender imigrantes ilegais. Ele frequentemente cita a “Operação Wetback”, do governo Eisenhower, na qual autoridades policiais federais e locais fizeram amplas operações para deportar quase um milhão de pessoas, entre as quais havia cidadãos americanos.

Especialistas em imigração duvidam que o Congresso fornecerá financiamento para deportações em massa, e dizem que a infraestrutura necessária para a ação não é algo fácil de se ampliar. Um grupo ligado à imigração estimou o custo da deportação em US$ 315 bilhões.

Mesmo que não haja dinheiro para deportações em massa, “não quero dizer às pessoas que tudo vai ficar bem. Acho que veremos um aumento nas deportações de pessoas de bem”, disse Matthew Soerens, chefe de advocacy da World Relief, uma organização evangélica de reassentamento de refugiados. “Todos concordam em deportar criminosos violentos.”

Embora os evangélicos tenham apoiado Trump na eleição, historicamente, eles também têm visões mais compassivas sobre imigração. Eles apoiam o status legal para os “Dreamers” (imigrantes ilegais trazidos para os EUA quando crianças), se opõem à separação de famílias e sentem que os EUA têm uma obrigação moral de acolher refugiados. Uma visão que mudou recentemente, no entanto, é que eles veem os imigrantes como um dreno econômico.

Grupos religiosos esperam poder argumentar com Trump que os imigrantes têm valor.

“Vamos implorar a ele, apelar ao seu compromisso de apoiar a igreja perseguida, às suas declarações de que ele acredita na imigração legal”, disse Soerens.

“Nós […] acreditamos na possibilidade de progredir e pedimos à nova administração que considere o imenso valor que os imigrantes e refugiados trazem para nossa nação”, afirmou Krish O’Mara Vignarajah, chefe da Global Refuge, uma agência religiosa de reassentamento de refugiados.

Separar famílias é a política de imigração mais impopular entre os cristãos evangélicos brancos. “Não está claro o que Trump, o presidente eleito, fará”, disse Soerens.

As deportações atingiriam a comunidade latina de forma desproporcional. Os evangélicos latinos apoiam a extensão do status legal aos Dreamers e a outros imigrantes sem visto que vivem nos EUA há muito tempo. Contudo, a maioria desses evangélicos (60%) votou em Trump na última eleição, em grande parte com base em questões sociais, entre elas o aborto, que podem ter tido origem em países com regimes comunistas ou de esquerda.

“Embora os evangélicos latinos não sejam um bloco monolítico nem sejam eleitores que votam com base em uma única questão, quando o assunto é imigração, muitas congregações latinas expressaram profundas preocupações em torno do discurso da deportação em massa e de seu impacto no ministério em relação à igreja latina”, disse Gabriel Salguero, presidente da National Latino Evangelical Coalition [Coalizão Nacional de Evangélicos Latinos], em uma declaração à CT.

“Nós nos perguntamos como as igrejas podem aceitar os dízimos e as ofertas de membros imigrantes e, ao mesmo tempo, permanecem caladas sobre políticas que defendem sua deportação em massa”, disse ele. “Nossa oração sincera é que finalmente haja uma solução para a questão da imigração que contemple os dois lados, que respeite o estado de direito e honre a dignidade de todas as pessoas.”

A pressão política há muito tempo impede o Congresso de promulgar a reforma da imigração; um projeto de lei bipartidário sobre segurança nas fronteiras, proposto em fevereiro com o intuito de restringir migrantes na fronteira e tratar do processo de asilo fracassou, quando Trump se opôs a ele.

Outros programas legais de imigração estão sendo questionados. A liberdade condicional humanitária permite que afegãos, ucranianos, haitianos, cubanos, nicaraguenses e venezuelanos encontrem abrigo legal nos EUA, mas Trump prometeu deportar pessoas desse programa.

“Preparem-se para ir em embora”, disse Trump.

Muitos ucranianos vieram para os EUA sob o status de liberdade condicional humanitária, fugindo da guerra em seu país. Paul Oliferchik é filho de refugiados da União Soviética e foi, até recentemente, pastor de uma igreja ucraniana das Assembleias de Deus em Nova York, a cidade que abriga a maior população ucraniana dos EUA. Ele agora serve em uma igreja chinesa na cidade.

Sua esposa é filha de refugiados ucranianos que receberam ajuda de uma organização luterana para se reinstalarem nos EUA, lembra ele. “Nós nos mudamos [para cá] como refugiados e fomos tremendamente abençoados”, disse ele.

Mas muitos dos imigrantes evangélicos ucranianos que ele conhece são apoiadores de Trump — eles não tomam decisões políticas com base na questão da imigração, mas sim com base em questões socialmente conservadoras.

Oliferchik acha que eles provavelmente não sabem sobre o possível fim do programa de liberdade condicional humanitária. De qualquer forma, espera que eles fiquem no país, assim como outros refugiados.

“Deus ajudou a trazer muitos de nós para cá, para viver nos Estados Unidos”, disse ele. “Deus disse a Israel, quando os estava tirando do Egito, para se lembrarem [daquilo que ele estava fazendo]. Se não nos lembrarmos de onde o próprio Deus nos tirou e de como ele nos redimiu, isso pode ter reflexos no modo como tratamos outros que também estão apenas tentando sobreviver e viver.”

No primeiro mandato de Trump, ele tentou acabar com o Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA) [Ação Diferida para Chegadas na Infância], um programa para aquelas pessoas conhecidas como Dreamers, mas se deparou com obstáculos legais. Especialistas em imigração disseram que os consultores jurídicos de Trump aprenderam com suas primeiras tentativas de derrubar alguns desses programas e podem ter mais sucesso desta vez.

Liderada por Stephen Miller, experiente consultor em matéria de imigração, a equipe de Trump está procurando outras maneiras de restringir a imigração legal, relatou o The Wall Street Journal, como, por exemplo, uma política que bloquearia a imigração de pessoas com deficiência ou de baixa renda.

Um programa que fica totalmente sob a alçada do presidente é o programa de refugiados; em seu último mandato, Trump suspendeu temporariamente o programa inteiro, e, assim, reduziu drasticamente o número de admissões de refugiados para um nível recorde.

Em 2020, quando ele completou seu mandato, as admissões de refugiados tinham caído da média histórica de 81 mil por ano para 12 mil. Trump, em sua campanha de 2024, criticou as admissões de refugiados de Biden e disse que traria “novas medidas repressivas”.

As medidas repressivas do governo Trump anterior, em alguns casos, prenderam imigrantes sem antecedentes criminais que estavam no país há décadas.

Em 2017, agentes do Immigration and Customs Enforcement [Imigração e Fiscalização Aduaneira] prenderam centenas de cristãos iraquianos em Detroit, alguns a caminho da igreja. Esses cristãos teriam que enfrentar perseguição e “até mesmo a morte” se tivessem sido deportados, escreveram líderes evangélicos ao governo Trump, na época.

Durante os embates legais em torna dessa deportação, muitos cristãos iraquianos foram mantidos em detenção nos EUA, por mais de um ano, antes de serem libertados, e alguns foram deportados. (Alguns dos indivíduos de fato tinham registros criminais que levaram à deportação; outros não tinham antecedentes criminais.) Muitos dos cristãos caldeus não acreditavam que seriam deportados, porque tinham apoiado Trump e acreditavam em suas declarações sobre proteger os cristãos perseguidos.

Seja qual for a escala da deportação na próxima administração, as promessas de Trump já causam ansiedade nas comunidades de imigrantes.

“Minha sensação é que, para a maioria dos meus amigos haitianos, a preocupação nem é tanto com a deportação, pois eles têm um status (ainda que temporário) que os protege da deportação”, disse Jeremy Hudson, pastor da Fellowship Church, uma das maiores igrejas em Springfield, Ohio, que tem uma grande população haitiana.

“A maior preocupação de que mais ouvi eles falarem é sobre como serão tratados e vistos pelos cidadãos locais.”

Trump falou que imigrantes sem visto estão “envenenando o sangue do nosso país” e prometeu socorrer “todas as cidades que foram invadidas e conquistadas” [por imigrantes]. Ele e seu vice-presidente, JD Vance, perseguiram haitianos reiteradamente, espalhando a história falsa de que eles estavam comendo os animais de estimação das pessoas em Springfield.

Voltaire, o pastor da Flórida, disse que suas igrejas haitianas ainda estão lidando com as consequências dessas declarações.

“O impacto dessa história falsa de Springfield chegou para ficar”, ele disse. “Mas os haitianos são um povo resiliente. Eles já passaram por muita coisa.”

Enquanto isso, os pastores haitianos devem continuar a servir os imigrantes que estão em suas igrejas.

“Nossa oração é que as pessoas encontrem forças e consolo no amor que mostramos por elas”, ele disse. “No final, oramos para que o nome de Deus seja glorificado na vida de todos os imigrantes, sejam eles haitianos ou de onde quer que sejam.”

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