É verão, e para um professor de uma universidade cristã — apenas mais uma instituição evangélica no Sul dos Estados Unidos [região conhecida por ser o celeiro evangélico do país] — isso [claramente] significa que é temporada de casamentos. No meu campus, ainda são comuns as piadas sobre ficar “noivos até a primavera” [ideia de que os alunos, quando se formam, devem assumir esse compromisso até a chegada da primavera].
Não há exemplo melhor de contracultura. Poucas coisas estão menos em sintonia com o espírito da época. Os americanos estão se casando e tendo filhos mais tarde do que nunca. E, mesmo em contextos evangélicos, muitos pais, pastores e professores estão aconselhando os jovens a se casarem mais tarde: Concentre-se primeiro no diploma, em se firmar na carreira, em economizar algum dinheiro. Preocupe-se com um parceiro mais perto dos 30 do que dos 20 anos — e, claro, não engravide! Essas coisas se resolverão com o tempo.
Esse conselho é bem-intencionado, talvez até autobiográfico. Muitos cristãos das gerações mais velhas se lembram do velho estigma da solteirice aos 30 e poucos anos e o rejeitam. Eles próprios podem ter se casado jovens e depois se arrependido — ou podem se preocupar que os jovens, especialmente as jovens mulheres, acabem seguindo o roteiro do casamento e da maternidade precoces, e depois se lamentem por isso.
Há também uma certa sabedoria genuína aqui: não se case apenas porque parece ser o próximo passo em uma lista de tarefas. Além disso, não faça promessas que não pode cumprir. Leve o casamento a sério, mesmo que isso signifique esperar alguns anos.
O risco, no entanto, é que pode não haver um cônjuge à sua espera. Casar-se e ter filhos não são fatos que apenas estão acontecendo mais tarde; cada vez mais eles sequer chegam a acontecer. Do meu ponto de vista, o problema não é que muitos dos meus alunos queiram se casar muito jovens. É justamente o oposto. Eles já entenderam o recado de suas famílias, igrejas e da cultura secular em geral. Eles estão cientes das probabilidades e da dor de um divórcio. Também sabem que bebês exigem muita dedicação e custam caro. E que a cultura pop faz pouco caso da monogamia. Ninguém precisa lembrá-los dessas coisas.
Mas algo que poucos de nós podem cogitar fazer — e que eu certamente faço — é dizer a eles o quanto o casamento é bom. Como é maravilhoso ter filhos. Que começar a formar uma família aos 20 e poucos anos é algo perfeitamente razoável. E, como o dinheiro sempre será uma preocupação, então, por que não compartilhar esse fardo? E que orar e dar um passo de confiança não é loucura, embora certamente seja arriscado.
Na verdade, há uma parte da cultura mais ampla que não trabalha contra essa mensagem. E, no entanto, esse fenômeno também é, na minha experiência, alvo frequente de críticas e preocupações por parte dos cristãos. Estou falando da indústria do casamento.
Duvido que eu precise lhe esclarecer sobre esse assunto. Sobre os bilhões gastos anualmente. Os orçamentos exorbitantes. A influência do Pinterest e do Instagram. O casamento de conto de fadas que segue a trama da comédia romântica, desde o encontro fofo até o “felizes para sempre”.
Há muito o que criticar aqui, não nego. Já se foram os dias em que as pessoas optavam por uma cerimônia simples com a sua congregação, acompanhada de bolo, refrigerante e decorações arranjadas pelas mesmas senhoras da igreja que trocaram suas fraldas tantos anos atrás. Hoje, a expectativa é que a cerimônia seja pitoresca, fotografada e gravada por profissionais — que seja a festa do ano. (Afinal, os convidados têm expectativas, sabe?) Os pais se endividam. Um momento que já é estressante por si só desmorona sob o próprio peso. E o objetivo de tudo isso corre o risco de ser esquecido: isto é, o fato de duas pessoas estarem se unindo em santo matrimônio.
No entanto, mesmo que não possamos aplaudir a indústria do casamento, ainda posso lhe fazer um modesto brinde. Até onde posso perceber, ela é uma das poucas instituições culturais restantes que exerce algum tipo de pressão positiva sobre os jovens para que se casem.
Apesar de todos os seus defeitos, nosso elaborado ritual de casamentos apresenta o casamento, a família, as promessas e o próprio amor como algo belo. Desejável, até. A indústria do casamento oferece a permissão para as pessoas quererem se casar e começarem essa jornada em grande estilo.
Essa indústria também mantém uma conexão com a fé que a maior parte de nossa vida em sociedade já perdeu. Mesmo pessoas não religiosas querem ser casadas por um ministro religioso; as igrejas continuam sendo locais populares para cerimônias de casamento; Deus muitas vezes é mencionado mais do que nominalmente; as Escrituras ou a santa Ceia, ou ambas, são elementos da cerimônia. A tradição reina soberana. Como nos funerais, os casamentos são uma das poucas ocasiões restantes em que seguimos roteiros sapienciais, escritos muito antes de nascermos. E nos pegamos, às vezes para nossa própria surpresa, dispostos a seguir pelos caminhos que eles nos levarem.
Um desses caminhos por onde eles continuam a nos conduzir é o ritual em que fazemos uma promessa. Há três décadas, o teólogo Robert Jenson comentou que, em uma época em que nossa cultura perdeu a fé na manutenção das promessas feitas, a igreja poderia ser um lugar em que promessas são feitas e cumpridas. Jenson estava certo. A cada ano que passa, perdemos os motivos para confiar nas promessas que fazemos em público, incluindo as promessas do casamento.
No entanto, também persiste uma fome insaciável tanto de testemunhar essas promessas quanto de se vincular por meio delas. Continuo a me maravilhar com a sinceridade obstinada das cerimônias de casamento supostamente seculares, em que noivos e noivas simplesmente se recusam a deixar de fazer votos um ao outro. Eles fazem isso na frente de pessoas que não deixarão com que se esqueçam desses votos, e os noivos insistem em invocar o nome do Senhor.
Não sou tão tolo a ponto de pensar que essa insistência cerimonial reflita uma fé duradoura ou mitigue o escândalo dos divórcios, sejam eles de cristãos ou não. Mas também não sou tão cínico a ponto de ver nisso apenas fórmulas vazias e tradições rotineiras. E acho que devemos celebrar o fato de que, contra todas as probabilidades, as pessoas continuam a ver o casamento como uma festa sagrada que vale o dinheiro que se gasta, o tempo que lhe é dedicado e a dor de cabeça.
Neste verão, oficiei meu primeiro casamento, e tenho outro no próximo mês. Minha esposa me deu uma regra prática: se pessoas que amo ou alunos que ensinei me honrarem com esse convite, eu não posso recusá-lo. E ela está certa. Quero ver mais casamentos, não menos. Sim, eu sou o maluco do campus que fica dizendo a esses jovens loucos para irem em frente.
Se isso significa dar uma trégua para revistas e tradições de casamento, e até mesmo para o Instagram, que assim seja! O mundo pode não ter a melhor das intenções [para o casamento] , mas Deus tem. E, talvez, até a tradição de ficar “noivos até a primavera” não seja uma piada, afinal.
Brad East é professor associado de teologia na Abilene Christian University. Ele é autor de quatro livros, entre eles The Church: A Guide to the People of God [A Igreja: Um guia para o povo de Deus] e Letters to a Future Saint: Foundations of Faith for the Spiritually Hungry [Cartas para um futuro santo: Fundamentos da fé para quem tem fome espiritual].