Há uma boa razão para a igreja ser cautelosa com influenciadores de redes sociais — particularmente com aqueles que falam sobre assuntos espirituais. Não há nada de errado em ficarmos desconcertados com a ideia de cristãos serem liderados por celebridades do mundo online que podem ser mais carismáticas do que teologicamente sólidas, ou mais criativas do que confiáveis, especialmente quando esses influenciadores estão desconectados do discipulado e da disciplina de uma igreja. Algoritmos, monetização e viralizações criam tentações infinitas e incentivos adversos, os quais podem seduzir até mesmo os criadores mais bem-intencionados a servirem a si mesmos e ao que há de pior na cultura pop.
No entanto, também estou convencido de que, em meio a essa tensão, é possível os cristãos serem fiéis naquilo que falam. Estou convencido ainda de que não fazemos nenhum bem a nós mesmos quando fugimos da realidade dessa influência das redes sociais.
Lembrei-me disso ao participar da Black Christian Influencers Conference [BCI , Conferência de influenciadores cristãos negros) deste mês, cuja criadora, Jackie Horbrook, foi bem-sucedida em criar uma atmosfera que era, ao mesmo tempo, esteticamente incrível e substantivamente centrada no evangelho. Criadores cristãos das mais diversas áreas, como teologia, ativismo e moda, reuniram-se para discutir sobre como usar suas plataformas para glorificar a Deus — e sobre como lidar com os riscos que surgem, quando estamos na vanguarda da cultura e, ao mesmo tempo, colocamos Cristo no centro.
Esses riscos não são assim tão novos quanto parecem. Em João 7, os irmãos de Jesus essencialmente disseram a ele que não estava aproveitando ao máximo seu potencial como influenciador num mundo pré-digital. Argumentavam que Jesus precisava se voltar mais para fora e exibir ao público seus milagres com mais frequência, porque “Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo” (v. 4).
Esse conselho expôs a dificuldade que eles tinham de entender a verdadeira missão de Jesus. Embora ele tenha se tornado uma figura pública popular, seu propósito era muito mais importante do que uns meros “momentos de viralização”. Jesus não estava buscando a influência pela influência; sua mensagem e seu tempo de fazer as coisas tinham que estar alinhados com o plano de salvação do Pai. “O meu ensino não é de mim mesmo”, disse ele a seus ouvintes surpresos. “Vem daquele que me enviou.”(v. 16).
Esse texto deve orientar aqueles cristãos que têm algum ministério nas redes sociais e influenciam a vida de milhares ou milhões de pessoas. Nunca devemos estar mais preocupados em fazer crescer nossas plataformas do que em ser fiéis na gestão da nossa influência. Deus não nos colocou nessa posição em que estamos para nos exibirmos e nos deleitarmos com a admiração [voltada para nós]. A influência cristã vem com uma cruz. Seu propósito tem muito mais a ver com autossacrifício do que com autoindulgência.
Ou deveria ter, em todo caso. O design do meio [de comunicação que utilizamos para transmitir a mensagem] sempre tornará esse modelo de fidelidade contraintuitivo. Influenciadores bem-sucedidos são proficientes em proteger sua plataforma e em saber o que seu público quer, e isso os coloca sob constante risco de se tornarem reféns de sua audiência. Isso acontece quando bajulamos nosso público, dando a eles apenas o que esperam ver e o que querem ouvir de maneira sagaz — e [acabamos] seguindo sua liderança, talvez até mais do que eles seguem a nossa.
Um ministério fiel não pode fazer isso. Devemos dizer a verdade ao nosso público, em vez de agradar seus ouvidos (2Timóteo 4.3).
Isso pode ser ruim para os negócios. Atacar um oponente sempre atrairá mais curtidas do que críticas do seu público. Os conservadores querem ouvir sobre como os programas sobre diversidade, igualdade e inclusão estão arruinando a América, e a turma da justiça social quer uma avaliação interminável dos erros do evangelicalismo branco. Mas nenhum dos dois quer ouvir sobre como eles próprios falham em quesitos como a compaixão ou a verdade do evangelho.
Entretanto, se nosso testemunho público for ditado por recompensas no mundo digital, estamos muito longe de sermos semelhantes a Cristo. Um capítulo antes do conselho confuso que recebeu de seus irmãos, à medida que seu ministério estava atraindo grandes multidões, Jesus fez algo que seria impensável para alguns dos nossos influenciadores: ele pregou à multidão um ensinamento tão duro que fez com que muitos de seus seguidores o abandonassem (João 6.53-66). O propósito de seu ministério nunca foi pacificar ou bajular seu público, reafirmando todas as percepções que tinham de si mesmos e suas noções preconcebidas. Jesus estava lá para edificá-los e levá-los à cruz. Da mesma forma, um influenciador que não esteja disposto a perder seguidores por causa da verdade não pode estar fielmente envolvido [com o propósito de Jesus].
Muitos influenciadores também enfrentarão a tentação de imitar e endossar a cultura popular. Influenciadores engajados em justiça e ação social muitas vezes podem achar nossa teologia frágil e ambígua. Mensagens sobre a ética sexual cristã e a santidade da vida começam a desaparecer de nossas plataformas. Ninguém quer perder aliados políticos seculares, nem ofender os guardiões da cultura e muito menos viralizar por ter uma visão “retrógrada”. Eu mesmo me lembro de hesitar em criticar a alternativa à ética da família tradicional defendida pelo movimento Black Lives Matter [Vidas Negras Importam]. Eu apoiava a mensagem de justiça racial em princípio, mas sabia que muitos dos colegas do movimento interpretariam qualquer discordância como deslealdade.
Poucos de nós têm a ousadia de se envolver com ativistas e acadêmicos seculares e, ao mesmo tempo, defender a autoridade das Escrituras. Ficamos muito ocupados tentando nos encaixar [no grupo]. Alguns já ficam felizes só de terem sido convidados para sentar à mesa e estar associados a determinada pessoa ou instituição. Mas a verdade é que quem bajula e flerta com valores seculares não merece exercer influência sobre a igreja.
Essa não é uma descrição nem exagerada nem hipotética. Já vi influenciadores cristãos apagarem conteúdos que produziram com irmãs como Jackie Hill Perry, depois de saberem que muitos estavam achando “ofensivo” vê-los compartilhar a tela com Perry, enquanto ela falava a verdade do evangelho. Eles se parecem mais com o feiticeiro Simão do que com Jesus — estão usando a igreja para promover suas carreiras à custa do evangelho (Atos 8.9-25).
Um influenciador, para ser digno do nome cristão, deve ser um mestre com uma cruz. Devemos usar nossos talentos e o reconhecimento que conquistamos para levar as pessoas a Cristo, e não para levá-las a nós mesmos.
Este é um padrão alto, mas é um padrão que os cristãos podem alcançar, e de fato alcançam, como vi em primeira mão na Conferência de Influenciadores Cristãos Negros (BCI). Do comediante Matthew Hudson, que espalha o evangelho por meio da sátira, a Ekemini Uwan, que ama seu próximo por meio do ativismo, influenciadores cristãos estão usando as redes sociais para promover a Grande Comissão. Este é um novo meio de comunicação para a igreja — e para que haja transparência por parte da igreja —, mas é também uma oportunidade de seguir Jesus apontando aqueles que ficam maravilhados com nossos ensinamentos para Deus.
Justin Giboney é ministro ordenado, advogado e presidente da AND Campaign, uma organização cívica cristã. Ele é coautor de Compassion (&) Conviction: The AND Campaign’s Guide to Faithful Civic Engagement [Compaixão (&) Convicção: O Guia da Campanha AND para um Engajamento Cívico Fiel].