Shanoah Bruner está entre a parcela de um quarto dos adultos americanos que integram a chamada “geração sanduíche”, composta por adultos que criam filhos menores de 18 anos e são responsáveis por cuidar dos pais idosos.
Em sua casa, nos subúrbios de Indianápolis, essa mãe de 40 e poucos anos vive com o marido, uma filha pré-adolescente e outra adolescente, a sogra e o pai biológico.
Bruner encara com naturalidade o papel de cuidadora. Ela foi criada em uma família que regularmente abria sua casa para as pessoas e servia sua igreja e a comunidade. Além disso, ela trabalhou em lares para idosos ou pessoas com deficiência; com assistência domiciliar para pessoas com Alzheimer e distúrbios de memória, bem como por mais de 20 anos com enfermagem especializada.
“Eu cresci em um lar cristão onde pessoas significavam mais do que bens materiais”, disse ela. “Então, é assim que eu vejo [essa questão], e é definitivamente gratificante para mim, embora não seja esse o caso para todo mundo.”
À medida que os baby boomers vão chegando ao crepúsculo da vida, eles vão morar com os filhos ou estes os ajudam e lhes prestam cuidados à distância. Sessenta e seis por cento das pessoas que cuidam de idosos são mulheres como Bruner, a maioria delas na faixa dos 45 a 50 anos, e que também trabalham fora de casa.
As demandas específicas desses cuidadores e de seus entes queridos representam para os crentes uma chance de oferecer apoio e a esperança do evangelho. Igrejas, organizações sem fins lucrativos e organizações governamentais e paraeclesiásticas entram com recursos, e indivíduos cristãos podem dar amor de forma pessoal e tangível.
Em 2022, foi publicado o primeiro estudo bíblico específico para cuidadores de pessoas com demência. Algumas igrejas estão implementando workshops para cuidadores. A Caregiving Support Network [Rede de Apoio ao Cuidador] hospeda um programa para “patrocinar um cuidador” e tem até mesmo uma “Oração do Cuidador”.
Richard Gentzler Jr., especialista em ministério para adultos idosos, parafraseou a ex-primeira-dama Rosalynn Carter, quando escreveu que existem apenas quatro tipos de pessoas no mundo: os que foram cuidadores, os que são cuidadores atualmente, os que serão cuidadores ou os que precisarão de cuidadores. Em outras palavras, nenhum cristão está isento de participar do papel de cuidar.
“Eu sinceramente acho que há muitas oportunidades para a igreja ministrar às necessidades emocionais desta comunidade, e isso pode significar apenas ser alguém com quem conversar”, disse Bruner. “Alguém que possa apenas ouvir, pois há muitas emoções envolvidas no processo de cuidar dos nossos pais.”
A maioria dos cuidadores são filhos adultos, mas, às vezes, um cônjuge idoso ou um parente distante se vê empurrado para essa posição. Estresse e sobrecarga caracterizam a vida de um cuidador, pois eles frequentemente conciliam trabalho, criação dos filhos e o trabalho extra como motorista dos pais, para levá-los a consultas médicas semanais. Eles também são babás para cuidados domiciliares ou a pessoa de contato (à disposição 24 horas por dia) para lares e clínicas para idosos.
“As estatísticas mostram que os cuidadores têm um índice de transtornos mentais e depressão maior até mesmo do que o dos entes queridos de quem cuidam”, disse Lauren Guynn, diretora-executiva do Shepherd's Center [Centro do Pastor], uma organização sem fins lucrativos para idosos independentes [com capacidade de fazer suas atividades diárias sem precisar da ajuda de terceiros] no Condado de Hamilton, Indiana. “Eles [os cuidadores] têm uma taxa maior de problemas de saúde física […] e estão morrendo mais cedo."
São vários os fatores que levam a uma piora na saúde do cuidador, entre eles a renda menor, ser o único provedor, morar na mesma residência do idoso, intensificação dos problemas de saúde e raça. Cuidadores afro-americanos e latinos são os mais propensos a relatar declínio em seu estado de saúde. Aqueles que cuidam de pais com Alzheimer relatam os maiores níveis de estresse.
Os que tomam conta sozinhos de um idoso, sem nenhuma assistência, são os que se saem pior e, quanto maior o grau de necessidade, disse Guynn, maior o “esgotamento, o estresse e os problemas de saúde do cuidador”.
Estudos mostram que valores religiosos contribuem para a demografia dos cuidadores. A fé cristã de Guynn certamente orienta seu trabalho no Shepherd's Center, onde ela dirige programas que auxiliam cuidadores e idosos, oferecendo aconselhamento, transporte, visitas, jardinagem, atividades sociais e serviços de tutela.
“É colocar a mão na massa”, disse ela. “Se todos nós fizéssemos um esforço para ajudar as pessoas que cuidam de idosos, imagino que isso não impactaria somente a vida desses cuidadores, mas, do ponto de vista do reino, também teríamos um impacto enorme.”
Este trabalho é vital, especialmente porque, como Guynn diz, muitos idosos enfrentam grandes dificuldades pela má qualidade do cuidado que recebem ou pela falta da ajuda de um cuidador. O custo desse tipo de cuidado é uma questão primordial.
Envelhecer custa caro, pois os locais dedicados ao cuidado de pessoas com distúrbios de memória, por exemplo, cobram em média US$ 7.000 por mês [por volta de R$ 35 mil). O Medicaid [programa federal e estadual nos Estados Unidos que ajuda os cidadãos de baixa renda com os custos médicos] não cobre despesas com quarto e alimentação, embora possa ajudar com outros serviços de apoio necessários, como higiene, banho e cuidar dos medicamentos.
Por causa das despesas, muitas famílias não têm escolha a não ser se tornarem cuidadores de tempo integral em casa, ao passo que outras oferecem cuidados a parentes que vivem sozinhos ou em instituições de cuidado.
Bruner não cresceu com seu pai, ela morava com uma tia, que administrava um banco de alimentos, e com o tio, que era capelão na prisão local. Foi esse legado de serviço cristão e sacrifício dos tios que a inspirou a cuidar de seu pai biológico, à medida que ele está envelhecendo.
O pai de Bruner precisa ir a consultas regulares com um especialista em Alzheimer, um neurologista, um urologista, um podólogo e um médico especialista em cérebro e coluna. Cuidar dele e levá-lo às consultas é um trabalho de tempo integral; Bruner e seu marido puseram em oração a decisão de assumir esse cuidado, antes de concordar. Ela se sente afortunada por ter condições de contratar ajuda externa, pois muitos não podem fazer isso.
Durante suas experiências de trabalho como cuidadora profissional de idosos, Bruner disse que viu filhos adultos ficarem amargurados por causa da responsabilidade de cuidar de pais que foram negligentes no passado. Por causa dessa mentalidade e do pesado fardo de cuidar de alguém, o abuso cometido contra idosos é bastante alto.
Para Bruner, cuidar do pai que não a criou é “uma espécie de restauração”. Embora ela veja seu papel como um ministério, Bruner disse que seria bom ter mais programas de apoio a cuidadores na igreja.
Mesmo sem ter programas de apoio dedicados a idosos, Guynn acredita que as igrejas locais são “excepcionalmente qualificadas” para oferecer apoio aos cuidadores.
“Eles só precisam sentir que não estão sozinhos”, disse Guynn. “E eu sinto que a igreja tem uma oportunidade de alcançar pessoas, que teho a impressão de que o diabo está isolando.”
Guynn acha que os cuidadores têm resistência a aceitar o apoio de organizações, mas têm um grau de confiança intrínseca em relação a igrejas. Segundo ela, as pequenas igrejas estão se destacando e fazendo um trabalho exemplar nessa área.
“Essas igrejas podem ter apenas 100 membros, mas as pessoas lá se conhecem”, disse ela. “Quando alguém faz uma cirurgia, eles levam refeições para a pessoa e sabem se alguém precisa de ajuda para ir ao médico […] Esse senso de comunidade que brota numa igreja pequena naturalmente oferece mais apoio aos cuidadores.”
Esse tipo de ministério ainda costuma ficar a cargo de organizações paraeclesiásticas, que podem arrecadar dinheiro para cobrir os custos e implementar programas específicos para ajudar.
A Caregiving Support Network, fundada em 2022, oferece assistência financeira a cuidadores não remunerados por meio de um processo de inscrição. Rebecca Dowhy fundou a organização depois de ter passado muitos anos cuidando de sua mãe, que sofria de esclerose múltipla.
“Minha saúde física, mental e espiritual sofreu tremendamente nas fases em que passei por esgotamento e depressão”, ela escreveu. “A natureza implacável da deficiência nos forçava a continuar servindo, mesmo sem ter mais nada para dar e sem ter nenhuma maneira de recarregar nossas forças.”
As igrejas podem promover noites de confraternização ou eventos específicos para os cuidadores se reunirem. Em Dothan, no Alabama, a equipe do Respite Care Ministry [um ministério que fornece aos cuidadores serviços de cuidados temporários para idosos], da First United Methodist Church, abriu a Rosemary House [Casa Rosemary], um lugar onde cuidadores de pessoas com perda de memória podem descansar e recarregar as baterias.
“Às vezes, os cuidadores só precisam de alguém para ouvi-los”, disse Katie Holland, diretora do ministério. “Queremos apenas ser um refúgio para eles, onde possam obter apoio, instrução e treinamento.”
A American Heart Association [Associação Americana do Coração] é uma das muitas organizações que incentivam os cuidadores a pensarem no próprio bem-estar, mesmo enquanto cuidam de seus entes queridos. Em um de seus materiais educativos, eles lembram os cuidadores de que eles têm o direito de cuidar da própria saúde, aceitar ajuda, utilizar recursos da comunidade, expressar emoções e cuidar de outras áreas de sua vida.
A Family Caregiver Alliance [Aliança de Famílias de Cuidadores] ajuda os cuidadores a encontrar apoio externo, o qual inclui coisas como gerenciamento dos cuidados, assistência de transporte, grupos de apoio, aconselhamento jurídico e financeiro, ajuda com descanso, opções de creches para adultos e muito mais.
A Gospel Hope for Caregivers [Esperança do Evangelho para Cuidadores], um ministério criado por Marissa Bondurant, incentiva as pessoas a verem o cuidado principalmente como um ministério. Depois de cuidar de sua filha (hoje saudável) com câncer, Bondurant identificou uma lacuna no apoio aos cuidadores cristãos.
“Quando comecei a escrever sobre nossa experiência — sobre algumas das coisas que eram desafiadoras e as maneiras como Deus proveu para nós — nossa história começou a repercutir em ambas as pontas desse espectro do cuidado”, disse Bondurant, que passou de postagens no CaringBridge para um site público.
“Muito disso tinha a ver com a teologia do sofrimento. Acho que as pessoas precisavam ouvir algo que realmente abordasse as questões que tinham em seus corações, e que não fosse apenas esse Band-Aid que a igreja às vezes coloca, como um pequeno curativo com uma carinha feliz.”
Bruner destacou que as igrejas já têm gente que se dedica a orar e a apoiar pessoas com outros tipos de problema, como pobreza, monoparentalidade, vício e divórcio. Ela disse que se dispor a ajudar os cuidadores da mesma forma seria “como uma luz” na escuridão.
Quem já está familiarizado com o ambiente de cuidado diz que o apoio proativo e tangível, levado diretamente para a casa dessas pessoas é a maneira ideal para terceiros ajudarem, pois muitos cuidadores jamais pedirão nem aceitarão ajuda. Eles dizem que os voluntários devem simplesmente aparecer na casa desses cuidadores, levar comida, cuidar do jardim, levar um estudo bíblico para eles ou se oferecer para ficar um pouco com seus pais, para que possam cuidar de outras tarefas que também dependem deles.
“Naquelas situações realmente sombrias e difíceis, ter alguém que ofereça orientação espiritual pode ajudá-los a ver a graça e a encontrar cura”, disse Guynn. “Isso vai ajudá-los a começar a ver que Deus pode transformar essas situações em algo bom e a descobrir como eles podem realmente permitir que Deus trabalhe em suas vidas.”
Ericka Andersen é escritora freelancer e mora em Indianápolis. É autora de Leaving Cloud 9 [Saindo da Nuvem 9] e Reason to Return: Why Women Need the Church and the Church Needs Women [Razão para voltar: Por que as mulheres precisam da igreja e por que a igreja precisa das mulheres].
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