Nos países com mais baby boomers que dizem crer no Deus que é descrito nas “Escrituras Sagradas” (termo que abrange a Bíblia, o Alcorão e a Torá) é menor a propensão de ter integrantes da Geração Z que creiam.
Entretanto, nos países com menos boomers que sustentam essa crença é maior a propensão de ter integrantes da Geração Z que a ela se apegam.
Na pesquisa recente “Global Religion 2023”, realizada pelo Ipsos Global Advisor com quase 20 mil adultos de 26 países diferentes, os pesquisadores descobriram que em nove países onde menos de um terço dos adultos crê no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas, a Geração Z era mais propensa a se apegar a essas convicções do que os boomers.
No norte e no oeste da Europa, a Geração Z mostrou-se mais propensa do que a geração dos baby boomers a afirmar que acredita no céu, em espíritos sobrenaturais, no inferno e no Diabo. Em lugares como África do Sul e Índia, no entanto, os baby boomers mostraram-se mais propensos do que os integrantes da Geração Z a acreditar nesses aspectos do reino espiritual.
Os baby boomers também se mostraram mais propensos do que os mais jovens a se identificarem como cristãos, em metade dos países.
Este estudo foi conduzido por meio de entrevistas presenciais e online. No entanto, apenas os números da Austrália, Argentina, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Reino Unido, Hungria, Itália, Japão, Países Baixos, Polônia, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos podem ser considerados representativos de sua população adulta geral.
“Amostras [de respondentes] no Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru, Singapura, África do Sul, Tailândia e Turquia são mais urbanas, com mais instrução e/ou mais abastadas do que a população em geral,” explica o Ipsos Global Advisor. “Os resultados da pesquisa para esses países devem ser vistos como algo que reflete as opiniões do segmento mais ‘conectado’ de sua população. A amostra da Índia representa um grande subconjunto de sua população urbana — as classes socioeconômicas A, B e C em metrópoles e classes de cidades de nível 1 a 3 em todas as quatro zonas.”
Entre os países pesquisados, os cristãos, como parcela da população, atingiram o pico de 76 por cento. No entanto, a maioria dos países tinha maioria cristã, e mais de dois terços das pessoas em países como Peru, África do Sul, México, Colômbia, Polônia, Brasil, Itália e Argentina se identificavam como cristãs.
Apesar disso, as crenças e práticas dos cristãos nesses países diferiam significativamente entre si.
Bem mais da metade (64%) dos peruanos pesquisados disseram que oram fora de um local de culto uma vez por mês ou mais; contudo, menos da metade (37%) disse que vai a um local de culto com essa frequência. E a porcentagem de pessoas no Peru que acreditam que a religião faz mais mal do que bem caiu de 38 por cento em 2017 para 32 por cento.
A Colômbia seguiu um padrão semelhante, com mais pessoas orando fora de um local de culto (74%) do que frequentando um local de culto (44%).
As mesmas tendências também puderam ser vistas no Brasil, onde 70 por cento da população afirmou ser cristã. Os brasileiros entrevistados expressaram fortes associações positivas com o papel de Deus em suas vidas. A grande maioria afirmou que crer em Deus ou em forças superiores permite que eles superem crises (90%), dá sentido às suas vidas (89%) e os torna mais felizes em média (88%). A taxa de tolerância religiosa no país também aumentou de 70 por cento em 2017 para 81 por cento em 2023.
Dos 26 países pesquisados, a África do Sul expressou os níveis mais altos de tolerância (92%) para com outras religiões. Também teve a maior porcentagem de pessoas (78%) que oram fora de um local de culto, embora, assim como Brasil e Colômbia, apenas cerca de metade (51%) realmente comparece ao culto. O país teve as associações mais positivas com o papel de Deus na vida das pessoas, com mais de 80 por cento dos entrevistados afirmando que crer em Deus ou em forças superiores os ajuda a superar crises (89%), dá sentido à vida (93%) e os torna mais felizes (89%).
A tolerância religiosa no México aumentou de 66 por cento em 2017 para 73 por cento em 2023. E a crença de que a religião faz mais mal do que bem caiu de 43 por cento em 2017 para 37 por cento em 2023. O número de pessoas que afirmaram que a religião os define como indivíduos aumentou de 31 por cento em 2017 para 42 por cento em 2023.
Embora três quartos dos poloneses sejam cristãos (75%), apenas cerca da metade (52%) acredita no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas. E embora a tolerância religiosa tenha aumentado na Polônia, de 74 por cento em 2017 para 80 por cento em 2023, outras métricas religiosas caíram no mesmo período.
Por exemplo, houve diminuições no número de pessoas que disseram acreditar nas seguintes categorias: que as práticas religiosas são um fator importante na vida moral de um cidadão (de 62% para 48%), que a religião faz mais mal do que bem (de 49% para 44%), que a religião define uma pessoa (de 54% para 45%), e que pessoas com fé religiosa são melhores cidadãs (de 36% para 26%).
Uma maioria dos italianos se identifica como cristã (68%), no entanto, menos da metade ora fora de um local de culto pelo menos uma vez por mês (37%) e é menor ainda a quantidade deles que frequenta um local de culto pelo menos uma vez por mês (23%). Da mesma forma, uma minoria de pessoas na Itália acredita que a fé religiosa torne alguém um melhor cidadão (34%), que a religião defina uma pessoa (48%) e que pessoas com fé religiosa sejam mais felizes (47%).
Assim como os italianos, menos da metade dos argentinos afirmou que ora fora de um local de culto (42%) e menos de um quarto frequenta um local de culto (20%). Embora um pouco mais de dois terços da população se autodenomine cristã (68%), apenas cerca de metade disse acreditar no Deus que é descrito nas Escrituras Sagradas (53%).
A despeito de o cristianismo na Coreia do Sul historicamente ter sido mais robusto do que em outras partes da Ásia Oriental, entre os países pesquisados, a Coreia do Sul teve a maior porcentagem de pessoas que afirmam não ter religião (53%) e a maior porcentagem daqueles que disseram não acreditar em Deus ou em qualquer poder superior (44%). De 2017 a 2023, a tolerância religiosa na Coreia do Sul caiu de 65 por cento para 53 por cento.
O Japão também exibiu níveis mais baixos de interesse religioso. O país repetidamente apresentou uma porcentagem baixa, se não a mais baixa de todos. para qualquer afiliação religiosa, com apenas 2 por cento dos entrevistados afirmando serem cristãos. De 2017 a 2023, o Japão tornou-se 26 pontos percentuais mais propenso a acreditar que a religião faz mais mal do que bem, aumentando para 52 por cento.
Na Hungria, cujo primeiro-ministro, Viktor Orbán, tornou-se um defensor do nacionalismo cristão, os cristãos representam a maioria (58%) da população, embora 31 por cento declarem não ter religião alguma. Menos de um quarto dos entrevistados concordou que a religião os define como indivíduos (15%) e que pessoas com fé religiosa são melhores cidadãos (16%). Seis por cento disseram que perdem o respeito por pessoas, quando descobrem que elas não têm fé religiosa.
Entre os húngaros, algumas dessas categorias diminuíram significativamente desde a pesquisa de 2017, incluindo uma diminuição de 53 por cento naquele ano para 37 por cento em 2023 no número de pessoas que acreditam que a religião faz mais mal do que bem. Também houve uma queda de 29 por cento em 2017 para 15 por cento em 2023 no número daqueles que acreditam que a religião os define como indivíduos.
Metade dos 26 países pesquisados tinha maiorias que acreditavam no céu. Mas apenas 9 desses países tinham maiorias que acreditavam no inferno, 12 deles tinham maiorias que acreditavam em espíritos sobrenaturais e 9 tinham maiorias que acreditavam no Diabo.
De todos os países pesquisados, o Peru teve a maior porcentagem de pessoas (79%) que disseram acreditar no céu. A maioria também disse acreditar no inferno (60%), embora esse número representasse uma queda de quase 20 pontos percentuais em relação aos que acreditam no céu.
Enquanto o Brasil (79%), África do Sul (78%) e Colômbia (78%) também tiveram altas porcentagens de pessoas que acreditam no céu, esses mesmos países apresentaram porcentagens mais baixas de pessoas que acreditam no inferno, com 66 por cento, 61 por cento e 58 por cento, respectivamente.
Quarenta e quatro por cento dos belgas se identificam como cristãos. Mas, de todos os países pesquisados, eles tiveram o menor número de pessoas que disseram acreditar no céu (22%), em espíritos sobrenaturais (26%), no inferno (16%) e no Diabo (18%).
Entre os países mais religiosos dessa pesquisa que não são cristãos estão Índia, Tailândia e Turquia, com quase 100 por cento das pessoas na Índia (99%) e na Tailândia (98%) afirmando serem religiosas.
Apesar de ter uma população religiosa tão grande, apenas 2 por cento da população da Índia afirmam ser cristãos. Uma maioria disse que acredita no céu (54%), mas menos da metade acredita no inferno (47%), em espíritos sobrenaturais (43%) e no Diabo (41%).
Da mesma forma, apenas 4 por cento dos tailandeses entrevistados disseram ser cristãos. No entanto, a Tailândia apresentou uma grande maioria de pessoas que têm associações positivas com o papel de Deus em suas vidas — mais de 80 por cento concordaram que acreditar em Deus ou em forças superiores as ajuda a superar crises (82%), dá sentido à vida (85%) e as torna mais felizes (88%).
Dos 26 países pesquisados, a Tailândia teve a menor porcentagem (27%) daqueles que acreditam que a religião faz mais mal do que bem. As pessoas na Tailândia disseram que acreditam no céu e no inferno igualmente, 63 por cento delas, mas menos da metade dos tailandeses entrevistados disseram acreditar no Diabo (40%).
Embora 87 por cento dos turcos entrevistados tenham dito que são religiosos, apenas 2 por cento são cristãos. A Turquia também teve maiorias significativamente altas de pessoas que acreditam no céu (78%), em espíritos sobrenaturais (72%), no inferno (76%) e no Diabo (76%).
De 2017 a 2023, cinco países viram declínios nas porcentagens de pessoas que acreditam que sua religião as define como indivíduos e que acreditam que as práticas religiosas são um fator importante na vida moral dos cidadãos de seu país. Hungria, Alemanha, Coreia do Sul, Polônia e Estados Unidos foram os países que experimentaram isso.
No geral, a maioria das pessoas em todos os países pesquisados se sente à vontade na presença de outras com diferentes crenças religiosas. A tolerância religiosa aumentou em nove países, de 2017 a 2023, com a França registrando a maior alta: de 63 por cento para 79 por cento. A tolerância caiu em apenas quatro países, sendo a Coreia do Sul a que teve a queda mais significativa: de 65 por cento em 2017 para 53 por cento em 2023.
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