Um poder que se tornou possível através do sacrifício

Mensagem para o Domingo de Ramos: o jumento, o leão e o cordeiro.

Christianity Today March 17, 2024
Óleo sobre papel: Hall, Claire Waterman., 2018.

Ao recebê‑lo, as quatro criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram‑se diante do Cordeiro. Cada um deles tinha uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. – Apocalipse 5.8

A fim de compreender melhor o forte contraste do Domingo de Ramos — com o Rei Jesus andando pelas ruas de Jerusalém, montado num humilde jumento — olhamos para o livro de Apocalipse. Em Apocalipse 5, João pinta uma cena dramática, na qual Deus apresenta um livro em forma de rolo que não pode ser aberto porque ninguém é considerado digno de abri-lo. O apóstolo fica emocionado diante da impossibilidade da situação e a incapacidade de abrir os sete selos. Então, um ancião diz a João que pare de chorar: “Eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu, para poder abrir o livro e os seus sete selos” (v. 5, ESV). Imagino o ancião fazendo essa declaração com voz estrondosa e um gesto amplo em direção ao trono — e todos os olhos no céu à espera de ver irromper um leão flamejante e rugindo, em uma demonstração de tremendo poder. Imagino olhos olhando de um lado a outro, brilhantes, cheios de expectativa, a princípio sem ter consciência da criatura em pé, no trono. Então, eles o veem, aquele que é digno — não um leão, mas um cordeiro sacrificial, cuja garganta fora cortada, cujo sangue escorria pelo peito, manchando a lã branca e pura com um vermelho carmesim profundo.

Teria sido correto se Jesus tivesse se mostrado como o Leão da tribo de Judá, pois estaria de acordo com a forma como o ancião anunciou a sua vinda; porém, ele não o fez. Em vez disso, Jesus aparece como uma das criaturas menos ameaçadoras do planeta. Ele é acessível. Manso. Humilde.

Este tema do poder demonstrado através da contenção e do sacrifício permeia as páginas das Escrituras. Jesus Cristo continuamente revela a majestade em humildade: o Rei dos Reis vem ao mundo não num palácio, mas num celeiro que cheirava a excrementos de animais. Sua glória é primeiramente manifestada não a Herodes, o Grande, mas a humildes pastores. Ele não escolhe ser o mentor de uma elite acadêmica, mas sim do cidadão do povo. Ele não se junta aos escalões superiores da sociedade, mas aos sem-teto, à medida que demonstra, aos seus discípulos perplexos, a natureza de um reino de cabeça para baixo, invertido.

Este é o Messias que entra em Jerusalém montado num jumento e vê ramos de árvores sendo espalhados diante de si. Ele não se dirige aos corredores do poder para derrubar Roma e satisfazer a expectativa nutrida pela multidão de uma vitória militar; antes, dirige-se ao centro do culto judaico para confrontar noções equivocadas sobre o que significa servir a Deus. Jesus não sucumbiu à aclamação da multidão nem buscou um trono na Terra. Em vez disso, ele foi entronizado em um instrumento romano de tortura e execução, em obediência ao Pai, para que pudéssemos ser perdoados, purificados e reconciliados com Deus.

Jesus encarnou a intenção original de Deus, contida nos capítulos 1 e 2 de Gênesis: que a humanidade exercesse o domínio da mordomia sobre a terra, a fim de gerar vida, como um jardineiro se esforça para cultivar a fecundidade e a beleza através de seus esforços. Adão e Eva falharam nesta tarefa; por isso foi necessário que surgisse um novo tipo de ser humano — alguém que esmagasse a cabeça da Serpente, mas que também fosse ferido no processo. Jesus era um servo sofredor; um leão que também era um cordeiro. Ele é o Deus de autoridade incomparável, que vestiria as vestes de um servo e lavaria os pés daqueles que o abandonariam. Aquele que entraria em Jerusalém, na semana de sua execução, recebido pela aclamação de uma multidão, e que dias depois encararia outra multidão, que exigiria a sua crucificação. Nós o vemos chorando pelas multidões, imediatamente após a entrada triunfal, preocupado com aqueles que o rodeavam, mesmo à medida que a sua própria vida ficava envolta em perigo (Lucas 19.41). Jesus estava completamente seguro do carinho e da provisão do Pai. Ele enxergava para além do véu da morte, via a Ressurreição, e, por isso, foi capaz de suportar a traição, o sofrimento e o horror da cruz.

Como seres humanos imperfeitos, atraídos por aplausos e temerosos da dor, muitas vezes procuramos encarnar o poder do leão — contudo, seguimos um leão que se fez cordeiro. Que possamos seguir os passos do nosso Mestre, neste Domingo de Ramos, percorrendo o caminho sacrificial da cruz, para que outros possam encontrar a vida que está no sangue do nosso Salvador.

Para refletir:



Embora ele fosse poderoso, por que Jesus escolheu se rebaixar para servir aos outros?

Estou usando meus recursos, minhas habilidades e minha influência para servir aos outros? Se não estou, como posso dar um passo prático esta semana para usar o poder para servir?

Mick Murray serve no ministério pastoral há mais de 15 anos, na Antioch Community Church, em Waco, Texas.

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no Facebook, Twitter ou Instagram.

Our Latest

News

Onde estão as músicas cristãs brasileiras de natal?

A indústria da música gospel e cristã tem crescido no país mas, durante a época do natal, as igrejas seguem cantando os hinos antigos ou traduzindo músicas feitas lá fora.

A encarnação vai além do nascimento de Cristo

Como Atanásio, um antigo bispo africano, defendeu o arco redentor da encarnação.

Se as arenas digitais lhe fazem pecar, arranque-as e lance-as fora

Os cristãos devem exercer o domínio próprio, fruto do Espírito, para combater o uso viciante das redes sociais, nosso Coliseu moderno

Um conselho para enfrentar a ansiedade de fim de ano

Concentrar-se em ser fiel no pouco que está ao nosso alcance faz uma diferença tangível em nossa vida e em nossa comunidade local.

News

Cristãos protestantes da Geração Z querem ser famosos por seus hobbies e talentos

Para esses jovens a fé tem caráter individual, e Deus é essencial para impulsionar seu senso de propósito e bem-estar.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube