O Antigo Testamento prevê a crucificação. Mas e quanto à ressurreição?

Mesmo antes da vinda de Cristo, o “terceiro dia” é um refrão que percorre as Escrituras.

Christianity Today March 21, 2024
Illustration by Christianity Today / Source Images: WikiArt / Getty

Se lhe pedissem para resumir o evangelho em uma frase, qual passagem você escolheria? Meu palpite é que qualquer lista de possíveis passagens teria de incluir 1Coríntios 15.3-5.

O evangelho, segundo as palavras de Paulo nesses versículos icônicos, é “que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e, mais tarde, aos Doze”. Fundamentalmente, o evangelho é a vida, a morte, o sepultamento e a ressurreição de Jesus Cristo, em cumprimento às Escrituras. É mais do que isso, é claro, mas não menos.

No entanto, é notório que há um problema. É relativamente fácil identificar passagens do Antigo Testamento que apontam para o sofrimento e a morte de Cristo pelos nossos pecados. Os quatro Evangelhos invocam muitas delas, como Salmos 22, Isaías 53 e Zacarias 12.10-14. Mas o que Paulo tem em mente, quando diz que Jesus “ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”? Há algum versículo escondido em algum canto da Bíblia Hebraica que preveja isso?

Até mesmo minha Bíblia de estudo fica perplexa. Ela normalmente é repleta de referências cruzadas; sobre esse assunto, porém, a única passagem do Antigo Testamento que ela sugere é Oseias 6.2 (“no terceiro dia ele nos restaurará”, cf. NIV), cujo texto parece estar falando de Israel como um todo. Há textos-prova claros sobre a crucificação, como Isaías 53, mas nenhum equivalente para a ressurreição, muito menos que trate da ressurreição no terceiro dia.

No entanto, isso não se deve ao fato de a ideia de ressuscitar para uma nova vida no terceiro dia não se encontrar em nenhum lugar das Escrituras. Na verdade, essa ideia está por toda parte nas Escrituras. Ver como e por que isso acontece pode nos ensinar a ler a Bíblia com mais atenção — o que, na maioria das vezes, significa ouvir os refrões e os ecos em sinfonia, em vez de pesquisar frases isoladas no Google em busca de uma correspondência exata.

O primeiro exemplo que as Escrituras trazem de vida que se levanta da terra no terceiro dia aparece no capítulo inicial de Gênesis. No terceiro dia, a terra produz plantas e árvores frutíferas, e elas dão sementes “de acordo com as suas espécies” (Gênesis 1.12), com uma capacidade de continuar produzindo vida pelas gerações seguintes.

Desse ponto em diante, a ressurreição da “semente” vivificante de Deus no terceiro dia se torna um padrão. Isaque, o filho destinado a morrer no monte Moriá, é ressuscitado no terceiro dia (Gênesis 22.1-14). O mesmo aconteceu com o rei Ezequias (2Reis 20.5). E também com Jonas (Jonas 1.17). Os irmãos de José são libertados da ameaça de morte no terceiro dia (Gênesis 42.18), assim como o copeiro do Faraó (40.20-21). Israel, que está morrendo de sede no deserto, encontra água que lhe dá vida no terceiro dia (Êxodo 15.22-25). E, ao chegar ao Sinai, o povo é instruído a “estar prontos ao terceiro dia, porque nesse dia o Senhor descerá” (Êxodo 19.11). A rainha Ester, quando o povo judeu estava sentenciado à morte, entra na presença do rei no terceiro dia, obtém o favor dele e traz sua nação da morte para a vida (Ester 5.1).

Portanto, quando Oseias fala sobre Israel ser restaurado no terceiro dia, ele não está tirando da cartola um número aleatório. Ele está ecoando um tema bem estabelecido, que se origina no primeiro capítulo da Bíblia. Como diz Oseias:

Venham, voltemos para o Senhor.
Ele nos despedaçou, mas nos trará cura;
ele nos feriu, mas enfaixará as nossas feridas.
Depois de dois dias, ele nos dará vida novamente;
ao terceiro dia, ele nos restaurará,
para que vivamos em sua presença.

Oseias 6.1-2

Foi exatamente isso que aconteceu no domingo de Páscoa. Cristo não ressuscitou simplesmente; ele ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Ele é a árvore que dá frutos e que tem a capacidade de trazer nova vida de acordo com a sua espécie. Ele é o Filho único, destinado à morte, que depois retornou ao Pai bem e verdadeiramente vivo, tendo provado quão profundo é o amor do Pai. Ele é o novo Jonas, vomitado das profundezas depois de três dias, para pregar o perdão aos gentios. Ele é a nova Ester, que reverteu a sorte de seu povo, ao interceder na sala do trono celestial, obtendo o favor do Rei, vencendo seus inimigos e, por fim, dando-lhes descanso.

No terceiro dia, como prometeu Oseias, Deus nos restaurará para que possamos viver em sua presença. Ele já fez essa obra. Portanto, podemos viver em sua presença.

Andrew Wilson é pastor responsável pelo ensino na King’s Church de Londres e autor de Remaking the World.

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