Mike Bickle, fundador da Casa Internacional de Oração de Kansas City (IHOPKC), enfrenta acusações de abuso sexual e espiritual que abrangem décadas e envolvem várias mulheres.
Bickle, 68, foi acusado de má conduta sexual “na qual a aliança do casamento não foi honrada”, de acordo com um comunicado divulgado no sábado, por um grupo de ex-líderes da IHOPKC que investigou as alegações.
Eles disseram que, embora inicialmente tenham ficado chocados, consideraram as alegações críveis com base no “testemunho coletivo e corroborador” de “várias vítimas”.
A megaigreja carismática de Bickle — que oferece oração e adoração 24 horas por dia, desde a sua fundação em 1999 — foi informada das acusações na sexta-feira, de acordo com The Kansas City Star, que obteve uma cópia do comunicado.
Stuart Greaves, diretor executivo da IHOPKC, disse à equipe que a liderança está “levando a situação muito a sério”.
Os líderes que divulgaram o comunicado — Dwane Roberts e Brian Kim, que fizeram parte da antiga equipe de liderança executiva e foram membros do conselho, bem como Wes Martin, ex-pastor da Forerunner Christian Fellowship — disseram que primeiro tentaram levar as acusações diretamente a Bickle, como a Bíblia instrui a fazer em Mateus 18. Mas eles disseram que Bickle se recusou a se encontrar com eles e depois tentou intimidar e desacreditar as vítimas.
O jornal The Kansas City Star informou que Bickle pregou a respeito das falsas acusações no último domingo.
No sermão, ele discutiu como, de acordo com Apocalipse 12.10, “a arma mais eficaz de Satanás no fim dos tempos é a acusação” e que Satanás transforma “insinuações sussurradas em acusações hostis que destroem vidas e relacionamentos”, de acordo com notas do sermão fornecidas em um link por The Roys Report.
Bickle também disse que “a igreja está se aproximando da hora mais gloriosa e desafiadora da história com o dragão (o cavalo preto) soprando sobre muitas pessoas para que acusem e traíam umas às outras”.
Greaves fez referência à frase desse sermão durante o anúncio feito à equipe, dizendo: “Pedimos que não façam referência ao ‘cavalo preto’ nesta situação, como forma de minimizar a dor das pessoas afetadas. Nossa principal preocupação é com aqueles que estão sofrendo dor e trauma, com nossa família espiritual, Mike e Diane, bem como com a família Bickle.”
Bickle concordou em fazer uma pausa na pregação e no ensino, enquanto a igreja envolve “partes externas para avaliar e arbitrar as alegações”, anunciaram os líderes da IHOPKC durante o culto de domingo e nas redes sociais.
Os líderes que investigaram as alegações contra Bickle disseram acreditar que as ações dele “estão aquém dos padrões bíblicos para líderes da igreja” e acrescentam que houve uso de autoridade espiritual por parte de Bickle para manipular as vítimas. O comunicado diz que as mulheres que apresentaram as acusações “nada tinham a ganhar partilhando a sua experiência, exceto buscar verdade, arrependimento, misericórdia e graça”.
Eles disseram que Bickle, que não respondeu publicamente às declarações recentes, negou todas as acusações.
Bickle começou seu ministério como pastor em Kansas City nas décadas de 1980 e 1990; sua igreja deixou a denominação Vineyard em meados dos anos 90, à medida que Bickle se tornava mais carismático e começava a ter pontos de vista diferentes sobre profecia e intercessão. Na época, Bickle tinha vínculos com “profetas” locais, entre eles Paul Cain e Bob Jones. (Ambos terminaram envolvidos em escândalo: Jones — que não tem nenhuma relação com a Bob Jones University — passou a admitir má conduta sexual e abuso espiritual, e Cain foi disciplinado por comportamento homossexual e alcoolismo.)
Na IHOPKC, Bickle enfatiza o jejum, a profecia, o reino espiritual e o fim dos tempos. Alguns consideram o seu ministério como parte dos carismáticos independentes, embora ele tenha rejeitado o rótulo de “Nova Reforma Apostólica”. Ele apareceu no Strang Report da revista Charisma, no início deste mês, para compartilhar uma palavra profética sobre a guerra em Israel, e no início deste ano promoveu um jejum pela “salvação de Israel”, que, segundo Bickle, trará a Segunda Vinda.
A equipe da IHOPKC chega a ter cerca de 2 mil obreiros, todos missionários de tempo integral que levantam o próprio sustento, de acordo com o site do ministério. Durante o anúncio feito pela liderança da IHOPKC, alguns pediram mais transparência, dizendo que “há mais para ser compartilhado”, segundo relatou o The Kansas City Star.
Roberts, um dos autores do comunicado, já atuou como líder da Casa de Oração de Florianópolis, no Brasil. A igreja anunciou que está se distanciando de Bickle por ora.
“Nosso clamor e nossa oração é para que sejamos fortes e não permitamos que esses acontecimentos abalem nossa fé, nem desencorajem nossos corações, nesta jornada de levantar uma igreja que ora e espera a volta do Noivo”, escreveu a igreja. “Estamos comprometidos com a total transparência e a Verdade e compartilharemos mais informações à medida que os fatos forem esclarecidos.”
Alguns ex-membros da IHOPKC disseram que a igreja exercia coerção e tinha características semelhantes a um culto; a igreja declarou que é liderada por presbíteros, faz verificações dos líderes e está comprometida em garantir a segurança contra abuso sexual, emocional, físico e espiritual.
Há mais de uma década, a IHOP foi alvo de investigação depois de terem ocorrido agressões sexuais e assassinato entre um grupo de estudantes que formaram a sua própria “comunidade religiosa”. A IHOP (International House of Prayer) também foi processada pela IHOP (International House of Pancakes) por violação de marca registrada.
–