Books

Wayne Grudem muda de ideia sobre o divórcio em casos de abuso

Um importante teólogo complementarista diz que não acredita mais que a Bíblia oferece apenas duas razões justificáveis para terminar um casamento.

Christianity Today May 23, 2023
Courtesy of Wayne Grudem

Wayne Grudem, um importante teólogo calvinista e proeminente complementarista, mudou seu posicionamento e passou a afirmar que há base bíblica para o divórcio em casos de abuso, e compartilhou essa mudança em um grande encontro de estudiosos evangélicos, em novembro de 2019.

Depois de ouvir casos de casais da vida real, cujas crenças cristãs os levaram a suportar o abuso em vez de se separar, Grudem disse que olhou mais de perto as Escrituras e concluiu que o abuso pode ser motivo para o divórcio, desde que pastores e presbíteros busquem discernimento de Deus ao orientar um casal a se separar.

Isso é uma revisão da perspectiva que ele sustentou por longo tempo, publicada até pouco tempo antes, em 2018, em seu livro Christian Ethics: An Introduction to Biblical Moral Reasoning [Ética Cristã: Uma Introdução à Argumentação Moral Bíblica]. A visão histórica da maioria dos evangélicos fornece duas razões para o divórcio: adultério (Mateus 19.9) ou ser abandonado por conjuge descrente (1Coríntios 7.15).

“Minha esposa Margaret e eu tomamos conhecimento de alguns casos comoventes de questões como grave humilhação sexual e degradação, que se estenderam por décadas, e outro caso de espancamento físico praticado por décadas”, disse ele à CT. “Em todas essas situações, o cônjuge abusado permaneceu calado, acreditando que o dever de um cristão era preservar o casamento, a menos que houvesse adultério ou abandono, o que não havia acontecido.”

Grudem, cofundador do Conselho sobre Masculinidade e Feminilidade Bíblica, apresentou seu novo trabalho sobre o assunto na reunião anual da Sociedade Teológica Evangélica, em novembro de 2019, em uma palestra intitulada “Bases para o divórcio: por que agora acredito que há mais de duas.”

Os proponentes anteriores que eram favoráveis a aceitar o abuso como motivo para o divórcio apontavam para o uso que Paulo faz do verbo “separar” em 1Coríntios 7.15, argumentando que o versículo se aplica a um cônjuge que foge de casa em busca de proteção. Mas, anteriormente, Grudem não estava convencido.

O versículo diz: “Todavia, se o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz (1Coríntios 7.15, grifo nosso).

“A maioria dos comentários parte do pressuposto que ‘Em tais casos’ se refere apenas a casos de abandono por parte do cônjuge descrente”, disse Grudem. Mas, após um exame mais aprofundado, ele percebeu que a expressão não aparece em nenhum outro lugar da Bíblia. Grudem analisou 52 usos da expressão na literatura grega antiga e descobriu que “em tais casos” geralmente não se refere apenas ao cenário específico que o escritor já mencionou (ou seja, um cônjuge descrente), mas a cenários semelhantes a esse.

“Esses exemplos me levaram a concluir que, em 1Coríntios 7.15, a expressão “Em tais casos” deve ser entendida como algo que abrange quaisquer casos que, da mesma forma, destruam um casamento”, disse Grudem. Portanto, ele concluiu que o abuso é um caso desses.

No entanto, ele esclareceu que a restauração ainda é o primeiro objetivo, quando a questão do divórcio surge. Se o cônjuge agressor for cristão, então, devem-se buscar aconselhamento e disciplina na igreja; porém, se o abuso não parar, a liderança da igreja deve considerar que esse pode ser um caso em que a vítima está liberada para buscar o divórcio.

Pouco mais da metade dos pastores evangélicos (55%) acredita que o divórcio pode ser a melhor opção em casos de violência doméstica, enquanto apenas 4% dizem que um casal nunca deve se divorciar, mesmo quando a violência estiver presente, de acordo com uma pesquisa da LifeWay Reseach.

A resposta do público presente na reunião anual da Sociedade Teológica Evangélica foi “extremamente positiva e favorável”, disse Grudem, e ele recebeu poucas objeções. “Uma mulher, mais tarde, me disse que aconselha mulheres vítimas de abuso e que foi às lágrimas quando leu minha apresentação. Mais de uma pessoa me disse depois: ‘Vim preparado para discordar de você, mas você me persuadiu’”.

Ariel Bovat, conselheira clínica que trabalha em reabilitação de vítimas de violência doméstica, twittou que Grudem fez a melhor apresentação da reunião anual da Sociedade Teológica Evangélica. “Esta informação libertará tantas mulheres de seus agressores!”, escreveu ela.

A questão do divórcio em caso de abuso tem sido assunto de discussão entre os evangélicos na era do #MeToo e do #ChurchToo.

A controvérsia de 2018 em torno de Paige Patterson, líder da denominação Batista do Sul, começou quando uma gravação dele aconselhando uma mulher a se submeter ao marido abusivo circulou de novo on-line. A CT relatou, na época, que Patterson disse que havia aconselhado e ajudado mulheres a deixarem maridos abusivos, mas manteve seu compromisso de nunca recomendar o divórcio: “Como eu poderia [recomendar], como ministro do evangelho? A Bíblia deixa clara a maneira como Deus vê o divórcio”.

Alguns anos antes, Grudem e outros teólogos complementaristas participaram de um debate teológico em torno da natureza da Trindade, que teve implicações para seus ensinamentos sobre os papéis de gênero e a submissão feminina. Mulheres complementaristas, em particular, manifestaram-se contra uma ênfase exagerada na submissão, que levaria mulheres casadas a acreditarem que devem se submeter a maridos abusivos.

Para ser notificado de novas traduções em Português, assine nossa newsletter e siga-nos no Facebook, Twitter ou Instagram.

Our Latest

Esperança radical em uma era de apocalipse climático

A atual crise ambiental está avançando rápida e furiosamente. Como evitarmos o desespero?

O que é (e o que não é) perseguição de cristãos

Nove verdades que os crentes precisam entender para saber orar pelos que sofrem no corpo de Cristo.

News

As deportações em massa prometidas por Trump colocam igrejas de imigrantes em alerta

Algumas das propostas do presidente eleito parecem improváveis, mas ele ameaçou retirar do país milhões de imigrantes, ilegais e legais.

O que outra presidência de Trump significa para os evangélicos ao redor do mundo

Líderes cristãos, do Brasil à Turquia, recebem os resultados das eleições nos EUA com alegria, tristeza e indiferença.

Public Theology Project

A Bíblia é uma história, e não informação

Os algoritmos nos roubam o mistério. Os Evangelhos nos devolvem a capacidade de sermos surpreendidos pela verdade.

Não é fácil orar quando se tem TDAH

Cristãos com neurodivergência estão explorando outras opções para momentos devocionais e estudo da Bíblia.

Apple PodcastsDown ArrowDown ArrowDown Arrowarrow_left_altLeft ArrowLeft ArrowRight ArrowRight ArrowRight Arrowarrow_up_altUp ArrowUp ArrowAvailable at Amazoncaret-downCloseCloseEmailEmailExpandExpandExternalExternalFacebookfacebook-squareGiftGiftGooglegoogleGoogle KeephamburgerInstagraminstagram-squareLinkLinklinkedin-squareListenListenListenChristianity TodayCT Creative Studio Logologo_orgMegaphoneMenuMenupausePinterestPlayPlayPocketPodcastRSSRSSSaveSaveSaveSearchSearchsearchSpotifyStitcherTelegramTable of ContentsTable of Contentstwitter-squareWhatsAppXYouTubeYouTube