Em 21 de novembro de 1943, Dietrich Bonhoeffer escreveu uma carta da prisão de Tegel. “Uma cela de prisão como esta é uma boa analogia para o Advento”, disse ele. “Espera-se, confia-se, faz-se isto ou aquilo — em última análise, coisas insignificantes —, a porta fica trancada e só pode ser aberta pelo lado de fora”.
A comparação entre o Advento e uma cela de prisão pode parecer estranha. Evoca impotência, talvez até desesperança. No entanto, Bonhoeffer acredita ser esse tipo específico de espera a que melhor nos prepara para a vinda de Cristo.
Embora uma prisão nazista tenha lhe rendido essa metáfora, os sermões que ele escreveu durante seu período de ministério ativo também apresentam uma visão semelhante da espera do Advento. Nesses sermões, Bonhoeffer vê a época que antecede o Natal como uma expressão litúrgica aguçada da tensão que informa toda a nossa vida como cristãos. Celebrar isso nos prepara para viver como pessoas que romperam radicalmente com a presente era de pecado e morte, e que também estão se preparando para o futuro redimido que Deus já alcançou, em certo sentido. Por meio do Advento, aprendemos a viver nessas duas realidades simultâneas: já fomos libertos, embora nossa libertação ainda esteja por vir.
Os sermões de Natal e de Advento escritos por Bonhoeffer destacam três figuras que retratam a vida em meio a essa tensão e, por seu exemplo, podem nos guiar neste período. Aprender como esperar com essas figuras não será uma experiência calorosa nem aconchegante, mas sim profunda, perigosa e permeada de tristeza e dor.
A primeira figura é Moisés. Mas não o triunfante Moisés que conduz o povo de Israel a atravessar um Mar Vermelho que milagrosamente se divide ao meio; nem o Moisés das leis, que carregou as tábuas de pedra montanha abaixo. Em vez disso, o Moisés do Advento é aquele que encontramos em Deuteronômio 32.48-52. Ele sabe que a promessa de Deus será cumprida, mas também sabe que não se cumprirá em seu tempo de vida. Antes, ele morrerá no monte Nebo, contemplando a visão da terra do outro lado do rio. Este Moisés parece, a princípio, a própria antítese do Advento, pois é aquele para quem a promessa nunca se cumpre.
No entanto, Bonhoeffer encontra na experiência de Moisés uma expressão de nossa própria espera do Advento. Assim como Moisés, sabemos que a promessa foi cumprida — Jesus veio — mas ainda não plenamente. Por meio do castigo de Moisés — a sua morte, antes de entrar na Terra Prometida — também somos lembrados de que o Advento é tempo de morte, de julgamento e de arrependimento. Em uma inversão da ordem do mundo, passamos da morte para o nascimento e uma nova vida. Essa consciência de nossa própria morte e de nosso próprio julgamento é crucial para entendermos que só entramos na Terra Prometida devido à vitória de Deus, não pela nossa. Como Bonhoeffer coloca, “Deus está conosco e não somos mais um povo sem lar. Um fragmento do lar eterno é enxertado em nós.”
A segunda figura é José. Assim como Moisés, José, em certo sentido, viu o cumprimento da promessa de Deus. Ele confia em Deus e toma Maria, grávida, como sua esposa. Em resposta, Deus lhe promete o impossível: que “o que nela foi gerado procede do Espírito Santo” (Mateus 1.20) e que o filho que ela carrega “salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1.21). O nascimento da criança é acompanhado por anjos. No entanto, apesar da chegada do Salvador prometido, o anjo, então, ordena a José que corra de volta para o Egito, a terra da escravidão de seu povo. José, estão, espera no Egito. E mesmo quando Deus lhe diz para voltar, ele não o envia para Jerusalém, a terra da promessa, mas sim para o lugar mais insignificante da Judeia — a cidade de Nazaré. Como Bonhoeffer escreve: “Foi incompreensível para José, bem como para todos, que a tão pouco estimada Nazaré fosse o destino do Salvador do mundo”.
Toda a vida de José é marcada pela espera, e é por meio de sua fiel espera que as promessas de Deus são cumpridas de maneira mais plena. Quando deixa o Egito, Jesus incorpora a libertação do povo de Deus em sua própria vida e em seu próprio resgate salvífico final de todo o povo de Deus. Em sua vida entre os pobres, humildes e obscuros de Nazaré, Jesus vive as vidas de todos os que são humildes e obscuros, as vidas de todos aqueles que, assim como seu pai humano, esperam sem sequer saber que a consumação de Deus vem.
A terceira figura é Maria. Bonhoeffer a descreve como a pessoa que “sabe melhor do que ninguém o que significa esperar por Cristo”. Como indivíduo, “ela experimenta em seu próprio corpo que Deus faz coisas maravilhosas com os filhos dos homens, que seus caminhos não são os nossos caminhos, que ele não pode ser objeto de previsão humana nem pode ser circunscrito por razões ou ideias humanas”. Nesse sentido, Maria encarna literalmente uma tensão teológica fundamental: grávida do Salvador, ela espera por sua vinda radical, mas, ao mesmo tempo, sente profundamente em seu próprio corpo como a promessa de Deus já foi cumprida.
Maria também exemplifica a espera coletiva da igreja pela redenção do povo de Deus e pela restauração de toda a criação. No Magnificat [cântico entoado por Maria em louvor à grandeza de Deus, utilizado na liturgia cristã], ela descreve como o bebê que ela dará à luz realizará a derrubada de todos os sistemas de poder opressores, a deposição dos poderosos de seus tronos e a vindicação dos pobres e esquecidos. Maria passa a vida antecipando essa conclusão redentora. Ela espera durante a gravidez, o ministério de Cristo, a crucificação, até o Pentecostes. Mesmo depois do Pentecostes, ela ainda espera na casa do apóstolo João, sabendo que a culminação que ela anteviu — na qual toda a criação é renovada — ainda está por vir.
Essas três figuras do “Advento” levantam questões difíceis sobre o estado de nossos corações, à medida que nos aproximamos desse período.
Primeiro, temos que reconhecer a ruptura radical da vinda de Cristo, enquanto também esperamos no “agora”. No entanto, não somos livres para trazer à completude a promessa de Deus por nossa própria força de vontade nem durante nossa própria linha do tempo. Na verdade, não somos livres sequer para esperar como deveríamos. Cristo “está vindo para nos resgatar das prisões de nossa existência, da ansiedade, da culpa e da solidão”, escreve Bonhoeffer, mas, para estarmos prontos para esse resgate, primeiro temos que ver o quanto somos escravizados. (Aqui, sua analogia da prisão volta à mente.) O Advento, portanto, é definido por um movimento duplo: primeiro, por saber que ainda somos escravizados e segundo, por saber que Cristo já nos libertou.
Em segundo lugar, por quem estamos esperando? Jesus vem no Natal como uma criança, mas, no final dos tempos, ele vem com terror e poder para trazer julgamento. Com Moisés, aprendemos que o Advento exige que morramos antes de podermos renascer. Da mesma forma, só podemos acolher a criança e estar sob seu reinado depois de aceitarmos o julgamento de Deus e, de certa forma, a nossa própria morte. No entanto, enquanto aguardamos o julgamento, também temos a certeza de que já fomos levados à paz de Deus. Sempre vemos a nós mesmos “no momento” e no horizonte escatológico de Cristo. No Advento, portanto, é importante lembrar o que significa esperar por uma criança, e não apenas por um rei.
Quando consideramos este segundo movimento duplo do Advento — a vinda do Senhor em julgamento e a vinda do menino Jesus — percebemos que Deus exige mais do que jamais poderíamos imaginar ou alcançar. Também percebemos que, ao se tornar um de nós na Encarnação, Cristo já realizou tudo.
Por fim, o que fazemos durante essa espera? Bonhoeffer identifica os cristãos com os servos em Lucas 12, que mantêm suas candeias acesas enquanto esperam pelo noivo. Por sabermos que o noivo virá, nossa espera não é passiva nem resignada. Pelo contrário, assim como José e os servos, aprendemos a esperar ativamente que as promessas de Deus sejam cumpridas.
Também aprendemos a viver a liberdade radical que vem do fato da promessa de Deus já se ter cumprido. Mais fundamentalmente, somos libertos do cativeiro que há dentro de nós mesmos. Essa liberdade, diz Bonhoeffer, nos liberta de “pensar apenas em mim mesmo, de ser o centro do meu mundo, e do ódio pelo qual desprezo a criação de Deus. Significa ser para o outro: [ser] pessoas para os outros. Somente a verdade de Deus pode me capacitar a ver o outro como ele realmente é”.
Bonhoeffer viveu este Advento esperando em sua própria cela de prisão. Embora a porta estivesse trancada e sua vida desmoronasse em escombros ao seu redor, ele ainda se agarrava ao conhecimento de sua liberdade em Cristo, e fez isso através da prática do Advento. Em uma carta enviada a seus pais, ele descreveu como uma pintura de Altdorfer, que retrata a cena do nascimento de Jesus, “na qual se vê a sagrada família e a manjedoura em meio aos escombros de uma casa em ruínas […] é particularmente atemporal”. Em meio a um mundo de pernas para o ar, ao medo da morte e ao reconhecimento de nossas próprias falhas e de nosso próprio cativeiro, “mesmo aqui podemos e devemos celebrar o Natal”.
Elisabeth Rain Kincaid é professora assistente de teologia moral no Aquinas Institute of Theology. Sua pesquisa se concentra em questões ligadas à formação moral, ao desenvolvimento da virtude e à interseção entre direito, negócios e teologia.
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