Bancos vazios nas igrejas são uma crise de saúde pública.

Os americanos estão desistindo da igreja com muita rapidez. Quem vai pagar o preço são nossas mentes e nossos corpos.

Christianity Today October 29, 2021
Illustration by Ryan Johnson

O reverendo William Glass é um sacerdote e teólogo anglicano, fluente em cinco idiomas, que possui um currículo impressionante em marketing. Sua história não é de privilégios, no entanto. Na visão de Glass, a igreja salvou sua vida.

Glass cresceu desesperadamente pobre em um estacionamento de trailers na Flórida. Sua família ia à igreja talvez uma vez por ano, mas sua formação religiosa era, em suas palavras, “alcoólatra do sul”. Seu pai ou não estava presente ou era abusivo, ele não tinha amigos íntimos, e quando ia à escola, era um tormento. Ainda na adolescência, ele começou a controlar o estresse com drogas e álcool.

Mas, certa vez, Glass visitou um grupo de jovens presbiterianos para “impressionar uma garota”. Isso não mudou tudo da noite para o dia: ele continuou a ter uma vida difícil, incluindo a convivência com sem-tetos. Mas Glass também tinha amigos em algumas igrejas que cuidavam dele durante as crises, ajudavam-no a se manter conectado [ao grupo] e lhe mostravam outra maneira de viver.

Na visão de Glass, a igreja acima de tudo ofereceu a ele “capital social e relacional” que era escasso nas outras comunidades fragmentadas de sua vida. “Os laços que formei na igreja”, diz ele, “significavam que, quando a situação piorava, havia outra coisa a fazer além da próxima coisa ruim”.

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O caso de Glass pode ser dramático, mas ilustra um padrão documentado em nossa sociedade: as pessoas descobrem que suas vidas social e pessoal melhoraram — e às vezes sua vida foi até salva fisicamente — quando vão à igreja com frequência.

Em 2019, o Instituto Gallup relatou que apenas 36% dos americanos veem a religião organizada com “grande confiança”, ante 68% em 1975. Os autores do estudo especulam que essa tendência foi impulsionada, em parte, pelas falhas morais e crimes cometidos por instituições e líderes religiosos que foram amplamente divulgados.

O declínio na confiança nas igrejas foi acompanhado por declínios acentuados tanto no número de membros quanto na frequência. O Grupo Barna descobriu que, há 10 anos, em 2011, 43% dos americanos disseram que iam à igreja toda semana. Em fevereiro de 2020, esse índice havia caído 14 pontos percentuais, para 29%.

Mas quando descrevem os motivos pelos quais raramente ou nunca vão à igreja, os escândalos não ganham destaque. Em vez disso, as pessoas que se consideram cristãs são mais propensas a dizer que praticam sua fé de outras maneiras (44%) ou que há algo de que não gostam no culto (38%).

Quer haja indignação ou não envolvida, a experiência mais comum dos cristãos que não vão à igreja parece ser menos uma escolha deliberada e mais uma troca de hábitos. Melhor dizendo, uma grande parte dos cristãos está optando por seguir sozinho, mudando sua fé para espaços tão privados que nem mesmo a igreja tem permissão de entrar.

Obviamente, essa tendência reduz a frequência e o número de membros que vão à igreja. Mas uma consequência menos óbvia até recentemente é que também está prejudicando o bem-estar daqueles que pararam de frequentar a igreja. Um corpo considerável de pesquisas desenvolvidas nas últimas décadas sugere que a história de Glass é um exemplo poderoso de uma realidade mais ampla: a participação religiosa promove intensamente a saúde e o bem-estar.

Isso significa que o crescente descontentamento dos americanos com a religião organizada não é apenas uma má notícia para as igrejas; também representa uma crise de saúde pública, que tem sido amplamente ignorada, mas cujos efeitos devem aumentar nos próximos anos.

Claro, o objetivo do evangelho não é baixar sua pressão arterial, mas sim conhecer e amar a Deus, conforme você é conhecido e amado por ele. Temos de distinguir entre o florescer imperfeito que é possível nesta vida e a felicidade e alegria perfeitas que se tornarão plenas na vida futura.

Infelizmente, é difícil encontrar grandes conjuntos de dados sobre a vida no céu. Mas podemos estudar a forma imperfeita de felicidade, ou seja, os aspectos de saúde, bem-estar e integridade que pertencem a esta vida, e as maneiras pelas quais as comunidades religiosas contribuem para eles. E eles também são preciosos para Deus.

Mas, afinal, quais são os benefícios que a frequência à igreja traz para a saúde pública? Considere de que modo isso parece afetar os profissionais de saúde. Algumas de minhas pesquisas (isto é, algumas pesquisas feitas por Tyler) examinaram o comportamento desses profissionais ao longo de mais de uma década e meia, usando dados de um Estudo da saúde dos enfermeiros, que acompanhou mais de 70 mil participantes.

Os médicos que disseram frequentar cultos religiosos com regularidade (e, dada a composição religiosa da América, esses cultos foram, em grande parte, em igrejas cristãs de um ou outro tipo) tinham 29% menos probabilidade de ficarem deprimidos, cerca de 50% menos probabilidade de se divorciarem e cinco vezes menos probabilidade de cometerem suicídio do que aqueles que nunca frequentavam.

Talvez a descoberta mais surpreendente de todas foi que os profissionais de saúde que frequentavam cultos semanalmente tinham 33% menos probabilidade de morrer durante um período de acompanhamento de 16 anos do que as pessoas que nunca frequentavam. Esses efeitos são de magnitude grande o suficiente para fazer uma diferença prática e não apenas uma diferença estatística.

A educação religiosa também afeta profundamente a saúde e o bem-estar ao longo da vida das pessoas. Descobrimos que a frequência regular ao culto ajuda a proteger as crianças dos “três grandes” perigos da adolescência: depressão, abuso de substâncias e atividade sexual prematura. As pessoas que frequentaram a igreja quando crianças também têm maior probabilidade de crescerem felizes, perdoarem, terem um senso de missão e propósito e serem voluntárias.

Um dos meus estudos mais recentes (feito por Tyler) com profissionais de saúde indica que os que frequentam cultos religiosos tiveram muito menos “mortes por desespero” — mortes por suicídio, overdose de drogas ou álcool — do que pessoas que nunca compareceram a cultos, o que reduziu essas mortes em 68% para mulheres e 33% para homens no estudo.

Nossas descobertas não são únicas. Uma série de estudos feitos por pesquisas grandes e bem planejadas descobriu que a frequência a cultos religiosos está associada a maior longevidade, menos depressão, menos suicídio, menos tabagismo, menos abuso de substâncias, maior sobrevida ao câncer e a doenças cardiovasculares, menos divórcio, maior apoio social, vida com maior significado, maior satisfação com a vida, mais participação no voluntariado e maior engajamento cívico.

As descobertas são extensas e crescentes. Importantes estudos recentes foram conduzidos por clínicos e cientistas sociais como Harold Koenig, Byron Johnson, Ellen Idler, David Williams, Robert Putnam, David Campbell e W. Bradford Wilcox, juntamente com nossa equipe de pesquisadores do Programa de Prosperidade Humana na Universidade de Harvard.

Embora alguns dos primeiros estudos sobre este tópico tenham sido metodologicamente fracos, o estudo e a pesquisa tornaram-se cada vez mais fortes, e muitas dessas descobertas são agora consideradas bem estabelecidas. A frequência a cultos religiosos melhora de forma impactante a saúde e o bem-estar das pessoas.

Todas as religiões são complexas, consistindo em crenças doutrinárias, devoções pessoais e vários tipos de observância comunitária. Será que certos aspectos específicos da prática religiosa influenciam esses impactos na saúde de forma mais intensa do que outros?

Nossa pesquisa sugere que especificamente a frequência a cultos religiosos tem bem mais poder na previsão da saúde do que práticas religiosas privadas ou uma religiosidade ou espiritualidade autoacessada. É evidente que a identidade religiosa e a espiritualidade privada podem ainda ser muito importantes e significativas no contexto da vida religiosa, mas seus efeitos sobre a saúde e o bem-estar não parecem ser tão fortes quanto aqueles decorrentes dos encontros regulares com outros fiéis.

A observância religiosa parece diminuir a depressão e aumentar a satisfação com a vida, particularmente ao expandir as redes de apoio social dos participantes, bem como ao promover o otimismo ou a esperança e um sentido para a vida.

Apenas cerca de um quarto do efeito da frequência a cultos religiosos sobre a expectativa de vida parece decorrer diretamente dessa rede maior de apoio social; o efeito em parte parece depender da maneira como a observância religiosa diminui a depressão e o tabagismo e aumenta o otimismo, a esperança e o senso de propósito.

A razão para a queda de cinco vezes na taxa de suicídios entre os frequentadores de culto não está inteiramente clara, mas pode ter a ver com uma combinação de fatores de proteção, incluindo o que as igrejas ensinam sobre acabar com a própria vida, bem como o apoio social encontrado na comunidade e menores riscos de depressão e de abuso de álcool.

Uma combinação semelhante de apoio e ensinamentos que desencorajam o divórcio e a infidelidade conjugal e encorajam o amor e o serviço mútuo provavelmente também ajuda a explicar as taxas mais baixas de divórcio entre os que frequentam cultos religiosos. No entanto, esses resultados positivos para o casamento provavelmente também dependem dos muitos programas, dentro das comunidades religiosas, que apoiam famílias e casamentos, e dos níveis maiores de satisfação com a vida e menores de depressão para os que praticam a religião no contexto da vida de casado.

Outra via importante pela qual o culto religioso leva à saúde e ao bem-estar pode passar pelo perdão. Muitas religiões conectam o perdão que Deus concede aos pecados humanos ao perdão que concedemos uns aos outros. Judeus religiosos buscam o perdão de Deus no Dia da Expiação (Yom Kippur), mas somente depois de terem buscado o perdão uns dos outros no dia anterior (Erev Yom Kippur). Para os cristãos, perdoar é uma parte inegociável de sua prática da fé. Muitos cristãos pedem a Deus diariamente que “perdoe nossas dívidas, assim como nós perdoamos nossos devedores” (Mt 6.12), muito embora, mesmo sem essa oração, a Bíblia ensina que os cristãos devem perdoar (Mt 6.15).

Experimentos para ajudar as pessoas a serem mais complacentes (assim como uma revisão da literatura que classificou as descobertas de muitos estudos) indicam que o perdão está relacionado a menos depressão e a mais esperança. O perdão parece atingir esses efeitos ao promover maior controle sobre as emoções da pessoa e ao oferecer uma alternativa para reprimir a raiva ou ruminar incessantemente a respeito dela.

Em síntese, existem várias maneiras pelas quais a frequência a cultos religiosos pode influenciar positivamente o bem-estar físico e mental de uma pessoa, entre as quais estão o fornecimento de uma rede de apoio social, a oferta de orientação moral clara e a criação de relações de prestação de contas para reforçar um comportamento positivo.

Se você estivesse tentando mapear os fatores que afetam o bem-estar dos fiéis, esse mapa se pareceria mais uma teia do que um fluxograma. As vias causais em cada um desses casos são numerosas, sobrepostas e provavelmente se reforçam mutuamente. Nas igrejas, cada fator que causa bem-estar é potencializado pela combinação com outros fatores.

Não nos surpreende, porém, o fato de que cada uma dessas causas — rede de apoio social, orientação moral e prestação de contas — seja apontada como o papel da igreja no Novo Testamento.

Por exemplo, no Evangelho de Mateus, Jesus prescreve um sistema de prestação de contas escalonado para seus seguidores, o tipo de estratégia que pode ajudar as pessoas a viverem bem umas com as outras (18.15,16). Os cristãos, como comunidade, são chamados a ajudarem uns aos outros a se arrepender, a mudar e a se reconciliar.

A carta aos Hebreus destaca a importância do ensino da igreja, especialmente quando vivido com os outros: “E consideremos como nos incentivarmos ao amor e às boas obras, sem deixar de nos reunir, como é hábito de alguns, mas encorajando uns aos outros, e ainda mais à medida que vemos o Dia se aproximando”(10.24,25, ESV).

Essa prática regular de incentivo e exortação pode explicar alguns dos efeitos da participação em cultos religiosos no apoio social, na redução do divórcio, nos maiores significado e propósito para a vida, na maior satisfação com a vida, em mais doações de caridade, em mais voluntariado e em maior engajamento cívico.

Muitos cristãos, entretanto, experimentam a frequência à igreja não como uma espécie de envolvimento particularmente cativante em um clube, mas como um encontro com o Deus que se fez carne. Na Bíblia, assim como na igreja, vemos o poder de Deus ao lado de forças que podemos estudar.

A metáfora que o apóstolo Paulo faz da igreja como um corpo também pode nos ajudar a entender parte do poder da vida religiosa em comunidade. Em sua primeira carta aos Coríntios, Paulo escreve: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. […] O olho não pode dizer à mão: ‘Não preciso de você!’ E a cabeça não pode dizer aos pés: ‘Não preciso de você!’ […] Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês é parte desse corpo”(12.12, 21, 27).

Por meio de seus diversos dons e da ajuda que proporcionam uns aos outros, os membros das igrejas são apoiados na fé religiosa e no crescimento espiritual, mas também em questões mais mundanas, desde cuidados durante uma doença até ajuda para encontrar trabalho após uma demissão.

As imagens ligadas ao corpo de que Paulo faz uso não são meramente uma metáfora, mas uma afirmação sobre a intensidade e a realidade da presença de Cristo na igreja e por meio dela. No livro de Atos, as experiências da igreja até parecem contar como as próprias experiências de Cristo: Quando, na estrada de Damasco, Jesus confronta o ainda incrédulo Saulo a respeito de seus ataques à igreja, ele pergunta: “Por que você me persegue?” (At 9.4).

Pensar na igreja como corpo de Cristo estabelece um “dossel sagrado” (para usar uma expressão do sociólogo Peter Berger) sobre todos os aspectos da vida comunitária cristã. Neste contexto, as injunções morais não são apenas bons conselhos, mas repercutem o fogo e o trovejar do monte Sinai, enquanto o servir a pobres e presos não é simplesmente uma boa ação, mas um ministério que Cristo aceita como se fosse feito para ele (Mt 25.37-40). Não é de admirar que a participação em tal comunidade tenha efeitos transformadores em muitos aspectos da vida.

Desnecessário dizer que as pessoas geralmente não se tornam religiosas para acrescentar anos a suas vidas. Não são as tabelas atuariais que fazem os convertidos; é o testemunho dos santos, inclusive os testemunhos mais comuns; a beleza de uma cantata de Bach ou de um hino de Wesley ou mesmo de um sucesso de rádio; as experiências cotidianas de amor, bondade e perdão (para não mencionar a ação do Espírito Santo).

No entanto, está claro que a religião tem implicações importantes para a saúde pública.

Como demonstra a história de William Glass, as comunidades religiosas fornecem uma forte rede de segurança social que outras instituições não podem substituir facilmente. Isso tem implicações importantes, não apenas para as próprias comunidades religiosas, mas também para o aconselhamento e os cuidados de saúde, para políticas públicas e para indivíduos e famílias.

Em primeiro lugar, todos os crentes religiosos deveriam ficar contentes em saber que a frequência aos cultos em particular impacta intensamente a saúde e o bem-estar, e é natural que eles queiram espalhar a notícia.

Mas a promoção da frequência aos cultos não deve ser deixada apenas sob a responsabilidade de frequentadores da igreja e pastores. Por exemplo, podemos nos indagar se médicos não deveriam perguntar a seus pacientes religiosos sobre a frequência aos cultos, quando perguntam sobre tantos outros comportamentos.

Os resultados da pesquisa sobre religião e saúde não implicam que os médicos devam “prescrever” universalmente a frequência a cultos religiosos. Os agnósticos ficariam compreensivelmente relutantes em recitar o Credo apostólico, mesmo que pensassem que isso ajudaria em sua depressão. O devido cuidado também deve ser tomado para com aqueles que, no passado, tiveram experiências negativas ou mesmo sofreram algum abuso em comunidades religiosas; porém, algumas breves perguntas sobre a trajetória espiritual da pessoa já podem ajudar a orientar os profissionais.

Para a maioria dos cristãos, cuja fé lhes diz para se reunirem com outros fiéis, ouvir um médico perguntar se eles têm participado de cultos pode encorajá-los de uma forma que seu pastor ou um membro da família não pode.

Além do nível pessoal, nossas políticas públicas também devem assegurar que as instituições que oferecem esses benefícios possam continuar a fazê-lo.

Economizar dinheiro do governo não é o principal motivo pelo qual as instituições podem obter isenções fiscais. Ainda assim, sempre que reavaliarmos o status de isenção de impostos das igrejas vale a pena levar em conta o quanto de aumento na saúde e no bem-estar nossa nação obtém em decorrência dos cultos religiosos.

A participação religiosa não é simplesmente uma questão relacionada às liberdades civis, mas também uma importante preocupação de saúde pública. Como tal, deve figurar com mais destaque nas discussões de políticas públicas sobre suicídio e outras tendências sociais preocupantes, como o aumento da depressão entre adolescentes ou o declínio nas taxas de casamento.

Quando tentamos resolver problemas sociais, todos nós — e não apenas os cristãos — devemos nos lembrar do papel que a religião desempenha na vida das pessoas. Por exemplo, preocupados com o aumento das taxas de suicídio nos Estados Unidos, muitos pesquisadores e pareceristas se concentraram em fatores importantes, como a prescrição excessiva de opioides ou o declínio nos empregos da indústria.

Nossa própria pesquisa indica que o declínio da frequência a cultos religiosos é responsável por cerca de 40% do aumento nas taxas de suicídio nos últimos 15 anos. Se o declínio na frequência pudesse ter sido evitado, quantas vidas poderiam ter sido salvas?

Os benefícios da participação religiosa para a saúde pública ressaltam a importância de promover e proteger as instituições religiosas e a liberdade religiosa. Eles também sugerem a necessidade de mudanças significativas na forma como as contribuições das instituições religiosas são retratadas na mídia, na academia e além.

Obviamente, muita coisa mudou em meio à pandemia da COVID-19. Muitas comunidades religiosas tiveram de mudar, e decidir se iriam se reunir presencialmente e como iriam fazê-lo por um tempo, para evitar a propagação da doença. Muitas encontraram maneiras de compensar essa perda, pelo menos parcialmente, mudando para cultos virtuais e webcasting, criando grupos de discussão ou de estudo bíblico online, ou ainda encorajando maior devoção, oração e rituais nos contextos pessoal e familiar. Algumas comunidades até criaram a oração e a confissão “drive-through”.

Cada um dessas novas formas certamente é melhor do que nenhuma participação religiosa. No entanto, provavelmente nenhuma delas será um substituto totalmente adequado para os encontros presenciais e a comunidade.

Uma pesquisa recente do Barna Group descobriu que cerca de um terço dos “cristãos praticantes” deixaram de participar do culto comunitário durante a pandemia, e esse grupo relatou níveis mais altos de ansiedade e depressão do que aqueles que ainda adoram de alguma forma.

Quando a atual pandemia passar, será importante retomar as reuniões e os cultos presenciais, em vez de depender inteiramente de alternativas remotas. Além disso, precisamos de uma perspectiva sobre os custos reais para a saúde pública das medidas para mitigar a pandemia. Há um custo real no declínio temporário da frequência aos cultos, o que pode levar a mudanças permanentes nos hábitos de adoração.

Há um perigo aqui que os líderes religiosos devem considerar. Um grande número de igrejas em todo o mundo proclama um “evangelho da prosperidade”, dizendo que Jesus dará a seus seguidores saúde e riqueza, se eles tão-somente tiverem fé suficiente (e tiverem feito “investimentos” suficientes por meio de doações) para reivindicá-la.

Não há razão para pensar que Deus agirá dessa forma, seja com base na Bíblia ou nas descobertas de nossas pesquisas. Por um lado, muitos dos resultados positivos promovidos pela observância religiosa não são caminhos fáceis para a prosperidade, mas sim maneiras de cultivar um espírito de esperança, de perdão e de disciplina em face dos muitos desafios da vida. A conversão de Glass deu-lhe novos recursos para lidar com suas provações e seus problemas, mas dificilmente lhe ofereceu um bilhete de loteria premiado.

Por outro lado, não está claro até que ponto ingressar em uma comunidade religiosa realmente melhora a saúde e o bem-estar das pessoas que entram para uma comunidade apenas com o objetivo de melhorar sua saúde e seu bem-estar, mas há razões para suspeitar que os benefícios não serão tão incríveis neste caso.

Considere uma analogia: o casamento beneficia os cônjuges de muitas maneiras, mas o faz mais intensamente quando os cônjuges amam e desfrutam um do outro por quem são. Talvez, o mesmo aconteça com a religião: como C. S. Lewis sabiamente observou, “mire no céu e você terá a terra ‘por acréscimo’; mire na terra e você não obterá nenhuma das coisas”.

Finalmente, esta pesquisa tem implicações em nível mais individual. Para cerca de metade de todos os americanos que acreditam em Deus, mas não frequentam cultos regularmente, a relação entre frequência a cultos e saúde pode constituir um convite para voltar à vida religiosa comunitária.

Há algo sobre a experiência religiosa comunitária que parece importante. Algo poderoso acontece ali, que melhora a saúde e o bem-estar; e é muito diferente do que vem da espiritualidade solitária, isolada.

Essa pesquisa deve desafiar o número crescente de americanos que se identificam como “espirituais, mas não religiosos”, ou que nutrem dúvidas sobre a religião organizada, a considerar se suas próprias jornadas espirituais não poderiam ser mais bem realizadas em uma comunidade de adoradores com ideias semelhantes e sob a disciplina de uma tradição de fé e prática testada e comprovada.

Nossa pesquisa sugere que aqueles que deixam de se reunir (Hb 10.25) provavelmente perdem algo da experiência religiosa que é poderoso tanto para a saúde quanto para muitos outros aspectos. Os dados são claros: ir à igreja continua sendo fundamental para o verdadeiro florescimento do ser humano.

Tyler J. VanderWeele é professor de Epidemiologia da cátedra John L. Loeb e Frances Lehman Loeb, na T. H. Chan School of Public Health de Harvard, e diretor do Human Flourishing Program da Harvard University. Brendan Case é diretor associado de pesquisa do Human Flourishing Program da Universidade de Harvard e autor de The Accountable Animal: Justice, Justification, and Judgment (T&T Clark).

Traduzido por Mariana Albuquerque.

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