Estudantes universitários cristãos que estão voltando às aulas neste outono esperam conversar com seus colegas não evangélicos sobre questões relativas a raça, racismo e justiça racial. De acordo com uma pesquisa recente da InterVarsity Christian Fellowship com 316 estudantes evangélicos matriculados em 127 faculdades e universidades seculares, eles estão prontos para isso.
Os estudantes cristãos classificam o racismo e a desigualdade racial como uma das principais preocupações sociais. Quando solicitados a citar as três questões mais importantes hoje, quase 40% dos estudantes falaram em justiça racial, cerca de 40% citaram a pobreza e outros 29% mencionaram o meio ambiente. Em seguida foram mencionadas questões como o cuidado de crianças carentes (28%) e a redução do aborto (26%).
Jessica Pafumi, diretora da InterVarsity na área metropolitana de Springfield, Massachusetts, disse que espera que as conversas sobre raça continuem de onde pararam na primavera.
“A questão da justiça racial se destacou muito no ano passado”, disse ela. “Acho que é predominante para o ambiente em que os estudantes se encontram, mas também acho que é predominante para sua experiência pessoal”.
Pafumi e outros líderes da InterVarsity dizem que isso é parte de uma mudança mais ampla que eles veem na próxima geração de evangélicos. Os cristãos da geração Z anseiam por ouvir, querem se conectar com as pessoas em nível pessoal e compartilham preocupações sociais com seus colegas.
“Os estudantes não traçam fronteiras rígidas — algo como linhas ou limites espessos entre si”, disse à CT Tom Lin, presidente e CEO da InterVarsity. “Eles estão dispostos a cruzá-las, a interagir uns com os outros, a fazer coisas juntos”.
Aneida Molina, uma estudante hispânica que está cursando o terceiro ano na American International College (AIC), disse que conversa regularmente sobre raça e racismo com amigos evangélicos na InterVarsity — alguns dos quais frequentam outras faculdades próximas — e também com amigos não evangélicos na AIC.
Muitas de suas conversas na AIC são com outras pessoas de cor — “Nós experimentamos esse quebrantamento, essa injustiça racial”, disse ela —, mas por meio da InterVarsity ela interage com um grupo mais diversificado de pessoas que falam sobre racismo, o que ela aprecia.
Molina disse que, com seus amigos da InterVarsity, ela também é capaz de explorar a intersecção de sua fé com a identidade racial.
De acordo com Molina, sua fé é fonte de consolo, embora ela pessoalmente tenha sofrido preconceito e veja outras pessoas sofrerem também. Molina disse: “Eu encontro muita plenitude em Jesus e no fato de ser capaz de saber que há esperança em algo que este mundo não pode oferecer”.
No entanto, por ser capaz de se conectar com amigos não evangélicos sobre suas experiências comuns como pessoas de cor, Molina disse: “isso de certa forma abre as portas para termos uma conversa sobre fé”.
Como Molina, outros estudantes que participaram da pesquisa da InterVarsity disseram que se sentem acolhidos por seus colegas.
Embora a maioria dos alunos pesquisados seja religiosa — 95% dizem que o envolvimento com a igreja é importante para eles — muitos não sentem muita tensão nem conflito com suas escolas seculares. Setenta e cinco por cento disseram que seu campus acolhe e apóia os evangélicos.
Ainda que grupos evangélicos às vezes tenham de lutar por seu direito de governar a si mesmos de acordo com suas próprias regras — a InterVarsity ganhou uma ação contra a Universidade de Iowa, em julho — os alunos não se sentem pessoalmente perseguidos.
Estudantes evangélicos em instituições não evangélicas sentem que “há muitas oportunidades de buscar juntos o bem comum”, disse Lin, “com os estudantes cristãos tendo sua fé como a base de sua convicção, embora também se sintam muito à vontade para trabalhar e servir com pessoas que vêm de uma formação diferente”.
Os diretores de área da InterVarsity dizem que isso tem sido especialmente verdade nas conversas em andamento sobre racismo. Jenn Krauss Salgado, que supervisiona o programa na San Diego State University, disse que os cristãos brancos, em particular, estão pensando sobre essas questões — refletindo sobre sua identidade racial e como eles devem se relacionar com questões como o movimento Black Lives Matter, a teoria crítica da raça e os debates sobre causas e soluções para o racismo.
“Estamos dispostos a processar tudo isso com eles, naqueles pontos em que eles podem não saber processar essas conversas”, disse ela.
Krauss Salgado realizou um evento para estudantes, via Zoom, no verão passado, tratando de questões de justiça e igualdade racial, sobre o qual ela fez uma postagem na página do Instagram para a seção local da InterVarsity. Depois de ver a postagem sobre o evento, um aluno entrou no Instagram e disse: “Nossa, eu nem sabia que os cristãos se importavam ou falavam sobre essas coisas. Eu estava tentando conciliar minha fé com todas essas tensões raciais e me perguntando como diabos eu posso me importar com meus amigos e com aqueles que estão sofrendo’”, lembra Krauss Salgado.
Krauss Salgado disse que a igualdade racial não é um diálogo inteiramente novo entre os evangélicos em idade universitária, mas os cristãos da geração Z estão especialmente ansiosos para tratar do assunto.
“Eles já foram preparados”, disse ela. “Muitos alunos que estão no ensino médio e entrando na faculdade já estão pensando nisso, e não só no início da faculdade.”
Mas a justiça racial não é a única questão social que surge nas conversas entre os alunos. Tanto Pafumi quanto Krauss Salgado disseram que outros dois temas que aparecem regularmente são as identidades LGBT e o aborto, e sobre ambos a InterVarsity tem uma posição tradicional.
Mas mesmo em relação a assuntos polêmicos da “guerra cultural”, os evangélicos mais jovens assumem um tom diferente que alguns que pertenciam a gerações anteriores possam ter assumido.
“Eles são bons em cuidar do próximo”, disse Krauss Salgado. “Vão se esforçar muito para não dizer nada que possa ofender as pessoas. E para ouvi-las bem”.
Os líderes da InterVarsity observam que a mudança pode preocupar alguns, que temem quanto à geração mais jovem estar pronta para lutar por questões importantes em praça pública. Mas há outra maneira de ver isso e também há algo no espírito dos cristãos da geração Z que deve ser celebrado.
“Esta deve ser uma notícia muito inspiradora e encorajadora para nós”, disse Lin. “Esta geração de cristãos não está apenas preocupada em amar a Deus, mas também em amar o próximo”.
Traduzido por: Mariana Albuquerque