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Entidades cristãs criticam a evacuação desastrosa do Afeganistão

A World Relief se junta a cinco outros grupos de reassentamento de refugiados para lamentar o impacto “devastador” dos problemas com o processo de Visto Especial para Imigrante, de responsabilidade do Departamento de Estado.

Americanos foram evacuados da embaixada dos Estados Unidos em Kabul, capital do Afeganistão, enquanto insurgentes do Talibã rompiam com a linha de defesa da cidade no dia 15 de agosto.

Americanos foram evacuados da embaixada dos Estados Unidos em Kabul, capital do Afeganistão, enquanto insurgentes do Talibã rompiam com a linha de defesa da cidade no dia 15 de agosto.

Christianity Today August 17, 2021
Image: Rahmat Gul / AP

Enquanto a maioria dos americanos absorvia o choque da tomada total do Afeganistão pelo Talibã, no fim de semana, funcionários do Serviço Luterano de Imigração e Refugiados (LIRS) acompanhavam resignados a rápida deterioração da situação, sabendo que poderia ter sido diferente.

Em maio, líderes do LIRS, uma das várias agências religiosas contratadas pelo governo dos EUA para reassentar refugiados nos Estados Unidos, enviaram uma carta ao governo Biden solicitando a remoção de civis afegãos (e suas famílias) que trabalharam com os EUA, antes da retirada planejada de suas tropas.

Qualquer pessoa familiarizada com o “labirinto burocrático” que é o processo para o Visto Especial para Imigrante (SIV) dos Estados Unidos sabia que o Escritório de Vistos do Departamento de Estado não seria ágil o suficiente para atender à necessidade urgente de evacuações, disse Krish O’Mara Vignarajah, presidente e CEO do LIRS.

“Há meses estamos gritando a plenos pulmões que precisávamos levar esses aliados para Guam ou outro território dos Estados Unidos”, disse Vignarajah.

A Casa Branca não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários da nossa reportagem.

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Os Estados Unidos começaram a evacuar afegãos nos estágios finais do processo para o Visto Especial para Imigrante, cerca de um mês atrás, antes de cancelar voos adicionais saindo de Cabul, por causa de questões de segurança, de acordo com Jenny Yang, vice-presidente sênior de defesa e política da World Relief, outra das organizações religiosas que têm trabalhado em parceria com o governo dos EUA para o reassentamento de refugiados.

Em junho, a maioria dessas organizações — entre elas LIRS, World Relief, Church World Service (CWS), a Igreja Episcopal (que reassenta refugiados por meio dos Ministérios Episcopais de Migração) e HIAS (fundada como Sociedade de Ajuda ao Imigrante Hebraico) — pressionou o presidente Joe Biden para que implementasse planos para evacuar afegãos que trabalhavam como tradutores, soldados, consultores culturais, funcionários da embaixadas e outros que trabalharam com as forças armadas americanas, com a mídia ou em organizações sem fins lucrativos e aliados, autorizando tantos vistos para imigrante quantos necessários para tornar isso possível.

Mas, como o Talibã invadiu o palácio presidencial em Cabul, neste fim de semana, duas décadas depois de ter sido expulso da capital afegã por militares dos EUA, muitos dos que permanecem no país temem ser alvos do Talibã se descobrirem que cooperaram os Estados Unidos.

Não é apenas “devastador” testemunhar o que está acontecendo, disse Yang, mas também “decepcionante ver quantas pessoas foram deixadas em situação extremamente vulnerável, por causa da rápida tomada do controle do Afeganistão pelo Talibã e da capacidade limitada que temos, como governo, para conseguir evacuar nossos aliados”.

Ela disse que cerca de 18.000 afegãos ainda estão no meio do processo de visto para imigrantes.

Até agora, cerca de 2.000 afegãos qualificados para esses vistos e suas famílias foram evacuados por meio da Operação de Resgate dos Aliados dos Estados Unidos, disse Biden, na tarde de segunda-feira (16 de agosto).

Em seu discurso à nação, o presidente disse estar ciente das preocupações pelo fato de que os EUA não começaram a evacuar civis afegãos antes.

“Parte da resposta é que alguns dos afegãos não queriam partir mais cedo, pois ainda tinham esperanças em relação a seu país. E em parte foi porque o governo afegão e seus apoiadores nos desencorajaram a organizar um êxodo em massa, para evitar que desencadeássemos uma crise de confiança,” segundo eles disseram, explicou ele.

Posteriormente, em um e-mail enviado para a nossa reportagem, Vignarajah, do LIRS, classificou a alegação de que os afegãos não queriam deixar o país como “enganosa, na melhor das hipóteses”.

“Temos tido contato com inúmeros destinatários do visto para imigrantes que estavam desesperados para deixar o Afeganistão há meses, e não puderam, devido a recursos financeiros insuficientes e acesso inadequado a voos intermediados por organizações internacionais”, disse ela.

Mark Hetfield, presidente da HIAS, expressou frustração semelhante com a explicação de Biden.

“Ele está culpando a vítima”, disse Hetfield à nossa reportagem por mensagem de texto, na segunda-feira. “A maioria dos candidatos a vistos para imigrantes não conseguiu superar a corrida de obstáculos burocráticos de 14 etapas para o visto. O processo parece ter sido projetado para manter as pessoas fora dos Estados Unidos, não para resgatá-las. E o [governo dos EUA] teve muito tempo para implantar sistemas que facilitassem o reassentamento de refugiados sem provocar um êxodo. Eles não fizeram esse esforço e isso é imperdoável. ”

Em uma entrevista separada, Hetfield disse que estava “revoltado” com a situação em Cabul e sugeriu que havia muitos culpados.

“Isso deveria ter sido planejado há 20 anos”, disse ele. “Foram três administrações sucessivas — e depois uma quarta — que não conseguiram colocar em prática um plano para resgatar as pessoas que são vulneráveis devido a sua associação com as forças aliadas. Isso para mim é revoltante e doloroso”.

Mesmo assim, o presidente da HIAS ressaltou que não acha que a administração Biden deveria ter “se apressado” para a retirada das tropas, sem primeiro desenvolver um plano robusto de evacuação dos refugiados. Além disso, ele argumentou que mesmo com a Casa Branca tomando medidas para ajudar os refugiados afegãos nas últimas semanas, seus esforços foram atormentados por obstáculos.

Funcionários do Departamento de Estado anunciaram, no início de agosto, que a agência ampliaria o acesso dos afegãos aos EUA, para além das restrições do programa SIV, disse ele, criando uma designação de “prioridade 2” ou “P2” que poderia — ao menos no papel — incluir milhares de afegãos que trabalharam para projetos financiados pelos EUA, por organizações não governamentais e meios de comunicação baseados nos EUA. Mas o programa não oferece voos de evacuação: para acessá-lo, os candidatos devem deixar o Afeganistão por conta própria, antes de solicitar o status de refugiado nos EUA, um processo que pode levar de 12 a 14 meses.

Hetfield disse que sair do Afeganistão já era um desafio há duas semanas e, mesmo que os refugiados conseguissem, eles poderiam desembarcar no Irã — uma nação que recebeu muitos refugiados afegãos ao longo dos anos, mas onde os EUA não têm capacidade para processar os requerimentos de vistos.

“Era impraticável quando foi apresentado — e impraticável é uma palavra gentil para descrever isso — mas agora é impossível”, disse ele.

Erol Kekic, vice-presidente sênior do programa de imigração e refugiados do CWS, concorda. Ele equiparou o programa a “dizer a alguém que há outra saída, mas vai demorar uma eternidade para você chegar lá”.

Kekic acrescentou que é importante manter o programa P2 em funcionamento, mas que isso representa poucas “oportunidades realistas” para aqueles que buscam uma passagem para sair do Afeganistão e ir para os Estados Unidos.

Os desafios continuam para as comunidades religiosas que desejam ajudar também: alguns locais do CWS ficaram “sobrecarregados” com imigrantes que chegaram todos de uma vez, em parte porque o aparato de reassentamento de refugiados dos EUA foi dizimado sob a administração anterior de Trump, disse ele.

Ainda assim, o apoio aos refugiados entre essas comunidades é robusto, de acordo com Kekic.

Bill Canny, diretor executivo do escritório de Migração e Serviço aos Refugiados da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, disse que seu grupo já ajudou a reassentar cerca de 1.000 afegãos com visto nos Estados Unidos, este ano.

Além disso, representantes de seu grupo, e do LIRS, CWS, entre outros, passaram as últimas semanas ajudando refugiados afegãos em Fort Lee, na Virgínia, oferecendo assistências jurídica e médica. A World Relief tem intensificado seus esforços para receber os afegãos que chegam em seus escritórios em Sacramento, Seattle e em outros lugares.

E o Bethany Christian Services, que reassenta refugiados em todo o país em parceria com várias agências religiosas, disse em um comunicado por escrito que está “pronto e apto” para receber mais refugiados afegãos e destinatários de visto.

Enquanto isso, os aviões pararam abruptamente de chegar a Fort Lee no fim de semana e, embora parte do trabalho de processamento de vistos tenha sido transferido para Cabul, grupos de refugiados dizem não ter certeza de quando os voos para Fort Lee serão retomados.

Biden disse que a missão dos EUA agora é tirar seu povo e seus aliados do Afeganistão o mais rápido e seguro possível, concluindo a retirada militar do país e sua guerra mais longa.

Mas Canny disse: “Não está claro quem conseguirá sair — e com qual status, se conseguir — visto que a embaixada está fechada. Ainda estamos de plantão em Fort Lee para esperar, se Deus quiser, a chegada de mais voos”.

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