“Como fui tratado na igreja como cientista? Puxa, essa é uma questão que mexe comigo. A resposta é simples: não muito bem. Infelizmente, meu longo histórico de experiências frequentes de rejeição ou de simplesmente ser ignorado me deixa desiludido.”
“Encontrei mais hostilidade como cientista no mundo dos cristãos do que como cristão no mundo dos cientistas.”
Dois cientistas, duas respostas sobre como são recebidos em nossas igrejas, e nenhuma delas reflete uma boa imagem do Corpo de Cristo. Não é de admirar que muitos cientistas mantenham-se de cabeça baixa e não chamem a atenção para seu trabalho diário. Mas isso não significa que eles não estejam presentes em nossas igrejas.
O Pew Research Center estima que quase 13% da força de trabalho americana se encontra em uma das 74 profissões STEM (sigla que designa as profissões ligadas a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Os sociólogos Elaine Howard Ecklund e Christopher Scheitle descobriram que cerca de 12,4% dos evangélicos e 11,9% dos protestantes de igrejas tradicionais afirmam que sua ocupação é relacionada à ciência.
O número de profissionais de áreas ligadas a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática na igreja pode crescer significativamente. O Instituto Barna descobriu que mais de 50% dos adolescentes do grupo de jovens “aspiram a carreiras ligadas à ciência”.
A questão, então, é: Como tratamos os cientistas atuais e aspirantes em nossas igrejas? E por que tantos deles relatam sofrer hostilidade ou rejeição?
O sacerdócio de todos os cientistas
Martinho Lutero lançou o fundamento para como muitas igrejas protestantes entendem o ministério. O que compõe o “sacerdócio de todos os santos” é o trabalho de todo o corpo de Cristo — não apenas o do clero profissional. Isso inclui o [trabalho] do fazendeiro e do barbeiro, bem como o do professor, do engenheiro e do neurocientista. Todos eles estão envolvidos no ministério, embora isso nem sempre seja óbvio. Pode ser preciso um pouco de imaginação para entender o trabalho sacerdotal dos profissionais de áreas ligadas a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática dentro de nossas igrejas.
Muitos deles procuram ler o livro da natureza, a outra obra que o Deus Criador escreveu para nós. Eles integram a linhagem de cristãos nas ciências, os quais buscaram entender Deus por meio das Escrituras e do mundo natural. Eles estudam a obra de Deus nos processos bioquímicos, e em como as estrelas se formam, e nas leis que governam as menores partículas imagináveis. Eles procuram entender como a vida funciona e como a natureza interage com a criação. Em uma paráfrase do astrônomo do século 17, Johannes Kepler, eles pensam os pensamentos de Deus após ele.
Outra parte desses profissionais de áreas ligadas a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática ensina o que essas investigações no livro da natureza revelaram. Eles inspiram nossos filhos (e a nós) com a magnificência da ordem criada, alimentam nossa curiosidade e abrem espaço para que mentes inquisidoras aprendam mais sobre o Deus que criou e continua a criar. Suas imagens e narrativas podem nos inspirar a adorar.
Provavelmente, o maior número deles busque glorificar a Deus aplicando a ciência para atender a necessidades reais. Eles desempenham um papel importante no esforço para curar os enfermos, fornecer comida para os famintos, construir abrigo para os desconhecidos e consertar o que está fragmentado. Eles criam tecnologias, soluções energéticas, materiais e medicamentos que ajudam a melhorar a qualidade de vida dos 7,8 bilhões de habitantes da Terra. Eles também ajudam a identificar pontos em que o progresso tecnológico está desalinhado com o bem-estar humano.
Portanto, vemos com isso que o ministério do cientista está em descobrir e ensinar sobre as glórias da obra das mãos de Deus, bem como nas maneiras como eles usam seus talentos, dados por Deus, para contribuir para o florescimento da humanidade.
E, no entanto, apesar deste ministério sacerdotal, muitos deles sofrem hostilidades ou se sentem ignorados dentro do corpo de Cristo.
Cientistas para a Igreja
Meu pai é um desses cientistas, um engenheiro de tráfego cujo trabalho é garantir que as pessoas possam entrar e sair dos estacionamentos dos shoppings. Minha mãe conta a história — eu era muito criança na época — da oferta que ele fez de seu tempo e talento. Nossa igreja estava reformando seu estacionamento. Papai não era muito atuante na igreja na época, mas se ofereceu de boa vontade para ajudar. Sua oferta foi recebida com silêncio. Não importava a intenção; o silêncio comunicava que sua vocação, sua oferta para o ministério, não importava para a igreja.
Como aquelas citações iniciais nos contam, esse tipo de experiência é bastante comum em nossas igrejas. Mas pode ter mudado para alguns. Como trabalhadores que estão na linha de frente, os profissionais da área médica (e em menor medida os professores) certamente alcançaram um perfil mais destacado desde o início da pandemia. Muitos se ofereceram para ajudar ingressando em forças-tarefa e comitês de coordenação que ajudaram a orientar nossas congregações no ano passado. Embora este trabalho tenha utilizado seu treinamento científico em benefício da igreja, eles também podem ter experimentado um aumento da hostilidade por parte daqueles que discordaram de suas recomendações, especialmente das que dizem respeito à limitação do culto presencial.
Mas não acho que a pandemia tenha mudado muito a forma que nossas igrejas tratam todos os outros cientistas que leem o livro da natureza e tentam aplicar esse conhecimento a cada aspecto da majestosa criação de Deus. No mínimo, a pandemia ocupou tanto de nossa atenção, que eles simplesmente foram ignorados.
O que é vergonhoso, pois esses profissionais de áreas ligadas a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática que temos entre nós trazem para a igreja uma infinidade de conhecimentos, habilidades e propósitos orientados para o reino. Eles procuram ser bons samaritanos com as habilidades que Deus lhes deu. Como podemos desfazer a hostilidade e a rejeição do passado? Como podemos mudar esse script e dizer a eles que são importantes para a igreja?
A congregação da minha primeira infância não transmitiu a meu pai a mensagem de que seus talentos na área da engenharia importavam. Ao longo de minha vida, ele nunca foi ativo na igreja. Não posso evitar de me perguntar o quanto as coisas poderiam ter sido diferentes, se a igreja tivesse pedido a ele que ajudasse na reforma do estacionamento.
Drew Rick-Miller é codiretor de Science for the Church (Ciência para a Igreja), um ministério que busca fortalecer a igreja engajando-a com a ciência. Antes dessa função, ele passou mais de uma década como responsável pela concessão de bolsas na Fundação John Templeton. Drew estudou literatura e física na Northwestern University, antes de estudar no Princeton Theological Seminary (M.Div.), onde conheceu sua esposa, uma pastora presbiteriana.
O ministério Science for the Church apresentará um workshop virtual com a organização Made to Flourish, a partir de 20 de abril de 2021, que abordará a ciência como vocação cristã e como as igrejas podem ministrar para os cientistas e por meio deles. Inscreva-se para esse workshop aqui.